segunda-feira, 2 de maio de 2011

VELHICE. JOSE COMBLIN




       Jesus não chegou a ser velho.

       De outra parte, colocou as crianças como exemplo, não pelas qualidades que teriam[1]. O privilegio das crianças está na sua carência total de poder. O Reino de Deus não é dado aos velhos, pela sua sabedoria e méritos. Nem às crianças por sua inocência. Tudo é dom gratuito da parte de Deus.

       SER VELHO.

       Pouco a pouco a pessoa sente que se tornou velha. Está perdendo suas capacidades... memoria, sensibilidade, resistência física, acuidade dos sentidos... já não  se é como antes. Quando melhora de um problema de saúde, aparece outro.

       Há uma sensível perda de autoridade social e dentro da própria família. O poder passa às seguintes gerações. Agir como se tivesse todo o vigor de antes é um triste enganar-se a si mesmo. E de nada servem as mentiras piedosas dos familiares mais jovens, dizendo-lhes que nada mudou.

      É como se os anciãos voltassem à infância: tornam mais dependentes, até para as coisas mais simples precisam de ajuda. Para muitos isto é uma humilhação. Tornam-se amargurados por não aceitar o que está acontecendo. Outros reagem com mal humor. Tornam-se desagradáveis para as próprias pessoas que lhes estão dando ajuda.  

     Os velhos regressam às condições de fragilidade, humildade, pequenez, sem recuperação.

     A velhice, porém não é definitiva. É uma etapa no caminho da plenitude final. É também um momento privilegiado porque une mais intimamente a Jesus.

Ele disse que é necessário esperar o Reino nas condições de crianças que tudo esperam daqueles que as amam. Esta é a disposição para o Reino – viver na esperança, na medida em que se faz a experiência das próprias limitações.

       Cada um dos velhos/as mencionados pelo Novo Testamento, tem sua história de esperar ou de não querer esperar: Simeão e Ana (L 2,25), esperavam a consolação de Israel (Nisso foram modelo digno de ser citado no Evangelho); Zacarias (Lc 1,6) não tanto. Estava apegado à sua tarefa sagrada no Templo e não tinha ouvidos para integrar o que o Arcanjo Gabriel lhe anunciava como caminho do Reino...Os anciões que condenaram a Jesus, não viviam na espera do Reino – não creram, nunca se arrependeram (Mt 26,57; Mc 14,64).

       Jesus não escolheu um conselho de anciãos, para coloca-los diante das Doze Tribos de Israel. Para começar uma nova obra, queria gente nova. Paulo também foi nessa e avisou que ninguém desprezasse a Timóteo, por causa da sua idade jovem (1Tm 4,12). Na verdade os velhos tendem a administrar o passado, têm menos ousadia e menos criatividade[2].

  A MISSÃO DOS VELHOS.

       Ao perder seus poderes, os velhos se tornam semelhantes às crianças. Se não aceitam essa condição, perdem a oportunidade de salvar sua vida.  Livres de poderes, podem dedicar-se a esperar o Reino de Deus. Têm a oportunidade de viver num estado de esperança. Deixam toda arrogância, todo prestigio, toda segurança. Abandonam-se nas mãos de Deus que está realizando seu Reino. Já não podem fazer o que querem. Vão ficando livre de toda ambição, de toda preocupação. (Flp 3,7-11 Todas essas coisas, já aceitei perde-las...). Nisto são fonte de vida para todos.

    O velho não vai ficar olhando só para o passado (que afinal era bem pouco) mas principalmente se dispõe inteiramente para a esperança do futuro,































 



[1] O tema da inocência das crianças ficou desmentido por todos os estudos científicos objetivos.
[2] O costume de eleger bispos entre os mais velhos provocou inercia e a Igreja católica se foi transformando em uma gerontocracia, com passividade diante dos desafios do mundo a ser evangelizado. O clero parece estar mais apegado ao poder do que outras categorias sociais.

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