quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

de Massimo Faggioli, "Privacidade" nova clave

O último discurso do Papa Bento XVI, realizado na Praça de São Pedro na última audiência geral da quarta-feira, 27 de fevereiro, não é talvez o mais importante do seu pontificado, do ponto de vista teológico e político, mas certamente é o mais importante e o melhor proferido por Joseph Ratzinger como bispo.

Em certo sentido, esse discurso poderia moldar a sua herança e percepção, e fazer de Bento XVI um papa emérito muito mais "popular" do que foi como papa na cátedra de Pedro nesses difíceis oito anos. No discurso, o papa não escondeu as dificuldades atravessadas pelo pontificado, e não escondeu – coisa notável para um papa – a sensação de abandono por parte de Deus, a mesma sensação que muitos outros cristãos sentem em muitos momentos da sua vida.

O discurso não foi isento de acentos típicos dos discursos de João XXIII, destinados a redimensionar a "mística papal" – aquela aura de sacralidade criada ao longo dos séculos em todo do papado, não só como ofício na Igreja, mas também em torno da pessoa. Mas, ao mesmo tempo, o redimensionamento da mística papal tem um contrapasso, ou seja, o seu papel universal, e não só para a Igreja ou para os católicos: "O coração de um papa se alarga ao mundo inteiro". Esse é um dos maiores e mais difíceis custos para o papa e para o catolicismo contemporâneo, mas que fazem da Igreja Católica uma antena muito sensível para compreender o mundo global.

Esse discurso representa uma chave de leitura importante para compreender o papel desse pontificado na Igreja contemporânea. Se, em alguns aspectos, o pontificado de Bento XVI deve ser lido em continuidade cultural e teológica com o de João Paulo II, esse discurso, ao invés, sublinha as suas diversidades: em primeiro lugar, pela capacidade de despersonalizar o papado ou, melhor, de vivê-lo de modo pessoal, sem aprisioná-lo dentro de um atletismo místico que não convém a Joseph Ratzinger.

Em uma chave típica das "humildades institucionais" que há na teologia do papado desde o Concílio Vaticano II, Bento XVI enfatizou a dimensão pastoral do ministério: "Eu recebo também muitíssimas cartas de pessoas simples que me escrevem simplesmente a partir do seu coração e me fazem sentir o seu afeto, que nasce do estar juntos com Cristo Jesus, na Igreja. Essas pessoas não me escrevem como se escreve, por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não se conhece. Escrevem-me como irmãos e irmãs, ou como filhos e filhas, com o sentido de um vínculo familiar muito afetuoso. Aqui se pode tocar com a mão o que é a Igreja – não uma organização, não uma associação de fins religiosos ou humanitários, mas sim um corpo vivo, uma comunidade de irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que nos une a todos".

Morrer em público, como João Paulo II, ou admitir em público a dificuldade, até mesmo para o Papa Bento XVI, de renunciar a qualquer "privacidade" (termo que hoje talvez entre pela primeira vez no vocabulário dos pontífices romanos): "o papa pertence a todos, não pertence mais a si mesmo". São dois modos diferentes, ambos contraculturais de testemunhar a mensagem cristã ao mundo contemporâneo.

Assistimos nestes dias a uma excepcional redefinição do papel do papa na Igreja e no mundo. Sobre aquela extraordinária cena do sagrado no Ocidente que é a praça de São Pedro, em Roma, o papa se despede do público, mas não da Igreja

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

No tanto el papa, sino el Papado



LA RENUNCIA DE BENEDICTO XVI Y EL PAPADO
JOSÉ AROCENA, jarocena@ucu.edu.uy

URUGUAY.
ECLESALIA, 26/02/13.- La renuncia de Benedicto XVI fue sin duda un hecho importante. No parece sin embargo que lo más destacable de este suceso sea la danza de nombres con que la prensa se ha entretenido durante los días siguientes al anuncio. Un artículo de José María Castillo publicado en su blog “Teología sin censuras” el pasado 12 de febrero lleva por título “El problema no es el Papa… el problema es el papado”. De alguna manera, lo que José María Castillo quiere destacar es que si bien el nombre del futuro Papa puede tener importancia, lo que la Iglesia debe examinar es ese conjunto de tradiciones y formalismos que hacen del Papa una figura extraña y lejana del hombre y la mujer contemporáneos. Su carácter de obispo de Roma “primus inter pares” (el primero entre iguales) queda desfigurado tras esa imagen de “sumo pontífice” a lo que se agrega ese apelativo de “santo padre”. Dice Castillo:
“Lo mejor de esta renuncia, a mi entender, es que nos desvela -quita el velo- a una mal entendida tradición en la Iglesia, centrada en costumbres y atavismos formales que han llegado a tener una importancia absolutamente desproporcionada e incluso contraria al espíritu y a las prácticas auspiciadas por el Maestro”.
En estas pocas palabras, se expresa con acierto lo que el papado es actualmente, señalando incluso que ese conjunto de “tradiciones” son contrarias al espíritu y a las prácticas que caracterizaron la vida de Jesús y que los evangelios nos han trasmitido.
Entiendo por ese conjunto de costumbres y atavismos formales, tanto lo relacionado al boato del Vaticano completamente fuera de época, como a las formas de administrar la Iglesia marcadas por un férreo centralismo basado en una interpretación al menos abusiva, de la pretendida infalibilidad papal.
El centralismo romano no resiste hoy al cambio de época. Como dijo el Cardenal Martini pocos días antes de morir: la Iglesia está al menos dos siglos atrasada. No puede relacionarse con el mundo una Iglesia que se está encerrando en sí misma, que está repitiendo fórmulas y proponiendo prácticas que poco tienen que ver con el gigantesco cambio de época al que estamos asistiendo.
Las voces de la Iglesia en los distintos continentes temen expresarse ante los desbordes autoritarios del centralismo romano. ¡Esa es la cuestión del papado! Sin ir más lejos, el reciente Congreso de Teología llevado a cabo en la sede de la Universidad jesuita de Unisinos (Porto Alegre) que reunió a más de 700 cristianos laicos, sacerdotes, religiosos y obispos, tuvo que vencer oposiciones originadas en el Vaticano. Esa tentativa de impedir la expresión de sectores relevantes de la Iglesia latinoamericana, es una forma más del característico “disciplinamiento” que pretende la cúpula vaticana, sobre el conjunto de la Iglesia.
¿Qué esperanzas se pueden alimentar entonces ante el nuevo Cónclave? El Superior General de los jesuitas, P. Adolfo Nicolás sj, analizando el último Sínodo, señaló la ausencia de la voz del Pueblo de Dios:“La voz del Pueblo de Dios no tiene ocasión de expresarse. Es un Sínodo de Obispos y, por eso, no se cuenta con la participación activa del Laicado aun cuando un número de expertos y "observadores" (auditores) asisten como invitados… Por eso era difícil evitar el sentimiento de que se trataba de una reunión de "Hombres de Iglesia afirmando la Iglesia", lo cual es ciertamente bueno pero no precisamente lo que necesitamos cuando estamos a la búsqueda de una Nueva Evangelización. Podemos caer en el peligro de buscar "más de lo mismo" (Servicio digital de información SJ, vol. XVI, nº17, 29 de octubre de 2012).
Sin duda, este es uno de los puntos principales para que una renovación de la Iglesia haga posible su acercamiento a un mundo en profunda transformación. [...]

10 razões para que seja diferente

esta versão é diferente
Se começarmos a contagem em 1295, quando o Papa Bonifácio VIII exigiu pela primeira vez que os cardeais, para eleger um papa, fossem trancados em um quarto, a iminente edição de 2013 será o 75º conclave da história da Igreja Católica. Em certo nível, portanto, é possível dizer que já vimos isso antes, mais recentemente há oito anos.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 22-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

De muitas maneiras, o conclave de 2013 parecerá idêntico aos que vieram antes: a mesma procissão até a Capela Sistina, a mesma fumaça preta e branca, o mesmo momento Habemus Papam em que o novo papa foi escolhido. (Curiosidade: segundo a tradição, o anúncio é feito pelo protodiácono, ou seja, o cardeal sênior na ordem dos diáconos, que desta vez é o cardeal francês Jean-Louis Tauran. Ele deve ser o homem que irá sair até a varanda para dar a notícia – a menos, é claro, que ele mesmo seja eleito).

Apesar dos ecos do passado, há diversas características únicas sobre este conclave que alteram a política e, talvez, sugerem um processo mais longo e mais difícil. Com isso, eis as 10 principais diferenças da edição de 2013 da eleição papal.

1. Renúncia, não morte

A diferença mais óbvia é que, pela primeira vez em 600 anos, os cardeais irão eleger um papa após uma renúncia, em vez da morte. Processualmente, isso não muda nada; é a mesma sede vacante, as mesmas regras para cada rodada de votação (conhecidas como "escrutínio"), e assim por diante. Psicologicamente, no entanto, o contraste é enorme.

Quando qualquer grande líder mundial morre, ainda mais o papa, o ar geralmente fica repleto de homenagens e desabafos de pesar e carinho. A simples decência humana implica em não falar mal dos mortos, especialmente enquanto a perda ainda é recente. Como resultado, é mais difícil que os cardeais critiquem o papado que recém-acabou – certamente em público e às vezes até mesmo entre si.

Ao separar o fim do seu papado do fim da sua vida, Bento XVI poupou aos cardeais essa pressão, permitindo-lhes expressar tanto os pontos fortes deste pontificado, mas também as suas fraquezas. Isso pode ajudá-los a chegar a uma avaliação mais equilibrada, mas também poderia complicar as deliberações e dificultar mais a identificação dos candidatos.

Outra grande consequência é que não haverá nenhuma missa fúnebre, o que significa que não haverá nenhuma plataforma para que um dos cardeais se destaque ao proferir uma homilia memorável prestando homenagem ao papa falecido. Da última vez, muitos cardeais citaram a performance de Joseph Ratzinger na liturgia fúnebre de João Paulo II, e mais amplamente a liderança de Ratzinger durante o interregno, como um fator decisivo para consolidar o apoio a ele dentro do Colégio dos Cardeais.

2. Nenhum claro favorito

Apesar do que você possa ter lido, ouvindo a maioria dos cardeais, a eleição de Joseph Ratzinger em 2005 não foi um "acordo fechado" quando eles entraram na Capela Sistina para começar a votação. Os cardeais insistem que ainda estavam considerando uma grande variedade de nomes, e vários cardeais me disseram depois do fato que eles não tinham se decidido quando o show começou.

Por outro lado, todos eles relatam que todo mundo sabia que Ratzinger seria um forte candidato, e as suas deliberações pré-conclave, portanto, tinham um foco evidente. Eles sabiam que tinham que decidir se iriam apoiar o czar doutrinal de João Paulo II ou não, porque ninguém com olhos para ver poderia ter perdido os sinais do forte apoio que Ratzinger gozava.

Por consenso, não há nenhum desses pontos de referência claros, nenhum favorito óbvio desta vez. Há um certo número de candidatos que parecem plausíveis, mas nenhum que domine sobre o resto. Como resultado, as discussões pré-conclave podem não ter o mesmo foco, e pode demorar mais para que um consenso se construa.

3. O fator surpresa

Com a sua renúncia, Bento XVI provocou um choque maciço no sistema, rompendo com aquela que era uma espécie de convicção quase-dogmática em alguns setores segundo a qual, embora um papa tecnicamente pudesse renunciar, eles realmente não deveriam fazer isso. Como dizia o ditado, "você não pode renunciar à paternidade".

(Eu conversei com um cardeal nessa semana que estava no consistório do dia 11 de fevereiro, quando Bento XVI fez o seu anúncio histórico, e, mesmo que ele entendesse latim perfeitamente bem, ele disse que sua primeira reação foi: "Isso não pode estar acontecendo.")

Depois de já terem recebido uma enorme surpresa, talvez os cardeais vão estar mais dispostos a outras. Por exemplo, eles poderiam olhar para fora do Colégio de Cardeais em busca do próximo papa. (A última vez que isso aconteceu foi em 1378, apenas 50 anos antes do último papa a renunciar.) Nesse clima, todos os cenários-curinga parecem ser um pouco mais pensáveis.

4. Os veteranos

Em abril de 2005, havia apenas dois cardeais que já haviam participado de um conclave antes, Ratzinger e William Baum, dos Estados Unidos, enquanto que desta vez há 50 veteranos.

Esse contraste pode funcionar de duas maneiras: ou ele significará que os cardeais estarão mais bem organizados e serão mais eficientes porque mais deles sabem o que é preciso; ou as deliberações serão mais prolongadas e fracionadas porque menos cardeais estão dispostos simplesmente a brincar de "siga o líder".

5. O lapso de tempo

Em 2005, 16 dias se passaram entre a morte de João Paulo II no dia 2 de abril e a abertura do conclave no dia 18 de abril. É claro, estava claro que João Paulo II estava em declínio muito antes, mas, como ele passara muitas vezes por sustos de saúde antes e de alguma forma conseguia seguir em frente firmemente, muitos cardeais não pensavam seriamente na transição até que ele realmente morreu.

Muitos deles também não estavam em Roma quando o papa morreu, por isso alguns desses 16 dias foram necessários para as viagens.

Desta vez, porém, o anúncio da renúncia de Bento XVI ocorreu no dia 11 de fevereiro, ou seja, os cardeais poderiam começar a pensar sobre o que viria depois a partir daquele momento. Praticamente todos eles estão planejando estar em Roma para a audiência final do papa no dia 27 de fevereiro e na sua despedida no dia 28, de modo que todo o Colégio pode começar a trabalhar imediatamente depois.

Até o momento, a data precisa para o início do conclave ainda está no ar. A data mais realista, no entanto, é provavelmente o dia 9 ou 10 de março.

A linha de fundo é que os cardeais têm muito mais tempo do que em 2005 para se preparar, para ponderar vários candidatos e para se consultarem para ver quem parece ter apoio. Mais uma vez, isso poderia significar um processo mais simplificado, com os erros trabalhados com antecedência; por outro lado, poderia significar um conclave mais prolongado, já que vários blocos têm tempo para se organizar, e a mídia tem mais tempo para desenterrar o perfil dos candidatos, potencialmente levantando pontos de interrogação que possam fazer os eleitores refletirem a respeito.

6. O efeito escândalo

A crise dos abusos sexuais de crianças já havia sido definido firmemente como uma questão definidora para os norte-americanos em 2005, mas ela realmente não entrou em erupção na Europa até 2010. Enquanto isso, o Vaticano também foi atingido por um grande número de outros episódios embaraçosos, como o escândalo Vatileaks e as persistentes alegações de corrupção financeira.

Nesse contexto, desta vez, uma parcela maior de cardeais provavelmente estará preocupada que o novo papa seja percebido como alguém de "mãos limpas".

Na prática, isso pode produzir uma espécie de fardo, em vez de benefício, da dúvida para qualquer candidato publicamente vinculado a algum tipo de escândalo. Na atmosfera de estufa do período pré-conclave, alguns cardeais provavelmente sentem que não têm tempo para separar a verdade da falsidade e podem concluir que o mais seguro a se fazer é se afastar de qualquer pessoa que pareça até mesmo potencialmente manchado.

Como um cardeal me disse outro dia com relação a um proeminente cardeal companheiro que foi identificado na imprensa italiana com negócios financeiros supostamente obscuros, "eu não sei o que realmente aconteceu, mas agora parece ser um risco grande demais".

7. Nenhum benefício para "peixes grandes"

As figuras mais importantes durante uma Sede Vacante geralmente são o decano do Colégio dos Cardeais, que preside as reuniões e lidera todas as funções públicas, e o camerlengo, que é encarregado dos assuntos eclesiais cotidianos que não podem esperar pelo próximo papa. Quando essas posições são detidas por sérios candidatos ao papado, isso pode oferecer um grande impulso para as suas perspectivas.

Como mencionado, a proeminência de Ratzinger da última vez como deão foi muitas vezes citada como um fator importante na sua eleição.

Desta vez, porém, nenhum dos "peixes grandes" realmente é considerado como um sério candidato. O cardeal Angelo Sodano, o deão, tem 85 anos e possivelmente está manchado pelas memórias da sua enérgica defesa do falecido padre mexicano Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo, que mais tarde foi considerado culpado de uma ampla gama de abuso sexual e má conduta. O camerlengo, o cardeal italiano Tarcisio Bertone, é criticado por muitos cardeais pela maioria das falhas gerenciais durante o papado de Bento XVI.

Como resultado, esses dois papéis não carregam uma vantagem política embutida desta vez, sugerindo mais uma vez um campo de jogo mais amplo e, possivelmente, mais complicado.

8. Dois terços dos votos

Quando João Paulo II emitiu suas regras para o conclave em 1996, com o documento Universi Dominici Gregis, ele incluiu uma cláusula permitindo que os cardeais elejam um papa por maioria simples dos votos, em vez dos tradicionais dois terços, se estiverem em um impasse depois de cerca de 30 votações, ou seja, mais ou menos sete dias.

Processualmente, o conclave de 2005 nunca chegou perto de invocar essa disposição, já que eles elegeram Bento XVI em apenas quatro votações. Psicologicamente, porém, alguns cardeais disseram depois que todos sabiam que aquela cláusula estava nos livros, de modo que, uma vez que o total de votos de Ratzinger ultrapassou o limiar de 50%, o resultado parecia tudo menos inevitável.

Em 2007, Bento XVI emitiu uma emenda ao documento de João Paulo II, eliminando a possibilidade de eleição por maioria simples. Desta vez, os cardeais sabem que quem quer que seja eleito deve obter o apoio de dois terços do Colégio sob quaisquer circunstâncias, o que pode significar que eles estão menos inclinados a simplesmente pular do vagão quando alguém receber metade dos votos em uma dada rodada.

9. Exercícios espirituais

Renunciando pouco antes do início da Quaresma, Bento XVI pode ter querido dar um tom penitencial ao conclave, convidando os cardeais à sobriedade espiritual e a um exame de consciência. Na prática, porém, o momento também ofereceu uma enorme plataforma para um possível sucessor: o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, que está pregando o retiro anual de Quaresma do Vaticano.

Tal cenário é realmente possível apenas com um papa renunciante. Os Exercícios Espirituais quaresmais são realizados para o papa e para a Cúria Romana. Se o papa tivesse morrido, ele obviamente não iria participar. E as autoridades da Cúria perdem seus cargos em uma Sede Vacante. A única maneira para que os Exercícios possam seguir para a frente é o papa ainda estar por aí, e os prefeitos e presidentes ainda estarem nos livros.

Segundo a maioria das análises, Ravasi está apresentando uma performance tipicamente brilhante. Ele está oferecendo três reflexões a cada dia, com base em sua experiência de biblista e de homem de profunda erudição. Um cardeal que está participando dos Exercícios me disse na última quarta-feira que, até agora, ele achou Ravasi "extremamente impressionante".

Esse veterano cardeal curial acrescentou, no entanto, que ele não sabe muito sobre Ravasi – uma declaração um tanto surpreendente, dado que Ravasi trabalha no Vaticano desde 2007. Ela reflete o perfil único de Ravasi como alguém que está no Vaticano, mas que realmente não faz parte dele, mais focado em se engajar com os mundos da arte, da ciência e da cultura do que em construir impérios eclesiásticos.

Essa reputação pode ajudar Ravasi no sentido de que ele é tudo menos um maquinador e certamente não carrega nenhuma bagagem pública relacionada a qualquer um dos recentes escândalos do Vaticano. No entanto, alguns podem se perguntar se ele seria outro papa mais interessado na vida da mente do que realmente em gerir a Igreja.

10. Mídias sociais

Este será o primeiro conclave a se desdobrar plena e verdadeiramente na era das mídias sociais, em meio ao Twitter, Facebook e a todas as outras novas ferramentas de comunicação existentes. As notícias e os comentários se movem muito mais rapidamente e através de muito mais canais do que ainda tão recentemente quanto 2005.

Nem todo cardeal passa o dia inteiro atualizando o seu status no Facebook e tuitando, é claro, mas eles e as pessoas ao seu redor certamente estão atentas ao que está sendo dito sobre o papa e os candidatos ao papado durante este período. Se, antigamente, os cardeais costumavam se queixar de que não sabiam o suficiente uns sobre os outros, desta vez eles provavelmente irão reclamar da sobrecarga de informações.

Além disso, as mídias sociais também criam oportunidades totalmente novas para que outros se injetem no processo – senão na votação real, certamente na fase anterior. Ativistas, especialistas, pessoas que têm interesses teológicos, políticos e até mesmo litúrgicos estão ocupando as ondas de rádio e TV e a blogosfera com força, ajudando a estabelecer o tom e a moldar o conteúdo da conversação pública.

Por mais que tentem insistir que não são influenciados por nada disso, a maioria dos cardeais, em seus momentos honestos, admitem que é difícil não sê-lo, e só isso já significa que eles terão mais do que o normal circulando pelas suas cabeças desta vez.

Morando no Vaticano...


DUPLO PODER PAPAL

Frei Betto





Bento XVI, ao renunciar, não perde o nome pontifício nem o direito de continuar no Vaticano, em cujas dependências já optou por permanecer após a eleição de seu sucessor, em março próximo.
Como papa renunciante, Joseph Ratzinger poderia escolher, como sua nova residência, qualquer domicílio da Igreja Católica em um dos cinco continentes.
Alguns arcebispos aposentados recolhem-se a mosteiros, como Dom Marcelo Carvalheira, arcebispo emérito da Paraíba, que vive com os beneditinos de Olinda (PE); ou em casa própria, afastado do burburinho urbano, como é o caso do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, que mora em Taboão da Serra (SP).
Ao decidir permanecer no Vaticano, Bento XVI corre o risco de criar uma situação constrangedora. Ninguém duvida de que será ele o principal cabo eleitoral do futuro papa. Ratzinger nomeou 56% dos atuais membros do Colégio Cardinalício. E seu gesto de humildade, ao renunciar, o credencia a concorrer a um futuro processo de canonização.
Com certeza passa pela cabeça de Ratzinger um ou dois nomes, entre os 209 cardeais (dos quais apenas 118 são eleitores), que considere mais aptos a assumir a direção da Igreja. Só um ingênuo supõe que o papa renunciante fica isento frente a uma eleição tão delicada e importante. Dela depende o êxito da missão confiada por Jesus a Pedro e os apóstolos.
Os cardeais-eleitores não são obrigados a seguir possível sugestão de Bento XVI. Cada um tem o direito e o dever de votar de acordo com a própria consciência. Mas um bom número dos que dele receberam o chapéu cardinalício acredita ter com ele uma dívida de gratidão. Mesmo porque não gostariam de ver a barca de Pedro tomar rumos inesperados, como ousou João XXIII ao ser eleito, em 1958, para suceder Pio XII.
Penso que o pontificado do futuro papa terá duas etapas bem nítidas: a primeira, enquanto Bento XVI viver. A segunda, após a morte do pontífice renunciante.
Enquanto Bento XVI estiver vivo dificilmente o novo papa tocará em temas considerados, hoje, tabus (e proibitivos) por seu antecessor: fim do celibato obrigatório, acesso das mulheres ao sacerdócio, uso de preservativo, direito de relação sexual sem intenção de procriar, aplicação de células-troncos, união de homossexuais etc.
Nenhum debate sobre tais assuntos será permitido, ainda que prossiga entre os católicos a dupla moral: a defendida pela doutrina oficial e a praticada pelos fiéis.
Morto Bento XVI, e supondo que seu sucessor lhe sobreviva (o destino surpreende. Lembrem-se de João Paulo II, falecido 33 dias após ter sido eleito), então se iniciará a segunda etapa do novo pontificado.
Livre da sombra de Bento XVI (ou do superego, diria Freud), o novo papa se sentirá à vontade para imprimir aos rumos da Igreja a direção que lhe parecer conveniente.
Convém lembrar que o papado é a única monarquia absoluta que resta no Ocidente. Isso significa que o pontífice romano não está sujeito a nenhuma instância humana que o possa questionar, julgar ou admoestar.
Ao me perguntarem se prevejo candidaturas preferenciais, os chamados “papabiles”, fujo da questão regional, como a hipótese de se eleger um latino-americano, dado que o nosso continente abriga, atualmente, o maior número de católicos, 48,75 %.


É óbvio que os italianos gostariam de retomar o monopólio do papado, mantido em suas mãos ao longo de 456 anos (1522-1978). Nesse caso, arrisco o palpite de que a disputa será entre o atual carmelengo, o cardeal Tarciso Bertone, e o arcebispo de Milão, Ângelo Scola.



Bertone tem a seu favor ser homem de confiança de Bento XVI. Contra, a má administração da Santa Sé, cujas finanças pecam pela falta de transparência e frequentes casos de corrupção. Scola tem a seu favor ser renomado filósofo e teólogo, e também poliglota. Contra, tido como excessivamente conservador.


O único palpite que me parece viável é que o futuro papa provavelmente será um homem com menos de 70 anos. O que restringe consideravelmente a lista dos virtuais candidatos.
Roma já não suporta tantos conclaves em tão curto período de tempo. Eu mesmo me surpreendo ao constatar que, em quase sete décadas de existência, assisti à eleição de cinco papas e, agora, acompanharei a sexta.


O tempo urge, o mundo já ingressa na pós-modernidade e a Igreja Católica ainda reluta em efetivamente aplicar a decisões do Concilio Vaticano II e admitir que fora da Igreja também há salvação.


Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros, e assessor de movimentos sociais.

http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.

 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Homilia Segundo Dog Quaresma (2013)


Homilia Segundo domingo da Quaresma

 

       Pedro, Tiago, João, André, Felipe, Nata, Mateus... e os outros discípulos e discípulas já vinham acompanhando a Jesus por vários meses. Naquela manhã porem Jesus interrompeu o ritmo habitual da equipe e convocou pessoalmente ao Pedro, ao Tiago e ao João para subir com ele a montanha do Tabor..

       Era caminhada de varias horas e oportunidade para star a sós com Jesus. Os três que iam com Ele, podiam conversar mais à vontade, sem as multidões que constantemente envolviam a todos não lhes deixando nem tempo para comer. Os outros discípulos provavelmente tomaram a oportunidade para visitar os povoados vizinhos ou ir rapidamente às suas famílias, pois era de esperar-se que o roteiro do Tabor exigiria dois ou três dias entre ir e voltar, com uma permanência de comida e descanso.

      A escalada do Tabor foi um marco inesquecível. Os três evangelhos sinóticos a mencionam, com a particularidade de Lucas, que sublinha que iam até o topo da montanha, “para orar”. Na verdade terminou sendo para que conquistassem um novo conhecimento de Jesus. Transfiguração dupla: a de Jesus e a dos apóstolos.

       Assim foi que os três apóstolos viram o que ainda não haviam captado sobre a pessoa e missão do Mestre. E essa surpresa não foi maior do que a segunda, a que se referia a eles mesmos: -“Nunca mais deixemos este lugar !?

Como as multidões iam ao Jordão para encontrar-se com o Batista, agora vão subir o Tabor para ver a glória de Jesus, entre Moisés e Elias. E nós estaremos aqui como facilitadores deste novo espaço sagrado...”, em torno das três novas tendas que vamos erguer.

       Que haviam visto e captado?

Deus estava manifestando que em Jesus, todas as profecias chegavam à sua plena manifestação (Elias). Daí o entusiasmo, o dinamismo, a atração ... concentradas no Filho Bem-Amado. Um tempo de felicidade se abria para todo vivente e para sempre.

Com Moises a história de um povo- nação unido a Deus pela aliança, chegava, por meio de Jesus, à sua maturidade.

O que os três atônitos e entusiasmado (fora de si),  estavam  recebendo não era uma preleção sobre um plano operativo universal. Era sim a força, a atração, o magnífico de Deus. Agora tudo tinha sentido. Não havia nada mais importante do que aquilo que se lhes revelará – Moises e Elias haviam preparado os caminhos para a missão de Jesus.  Eram seus servidores.  O que o Pai tinha dito a Jesus nas aguas do Jordão, agora era dinamismo, compromisso, beatitude.

       Os três companheiros de Jesus não estavam pensando em nenhuma estratégia  a seguir. Nem por um momento se lhes passou pela cabeça qual seria o procedimento dos discípulos de Jesus e deles mesmos: – Ficar aqui no Tabor e agir daqui para o resto de Israel e do mundo? Esperar  a peregrinação escatológica de todos os povos da terra, não já a Jerusalém, mas ao Tabor?

      A etapa de um Jesus sem poder, nada resplandecente de gloria e majestade, já teria passado e estava sendo substituída pela que acabava de ser revelada pelas recentes aparições?

       Como que as luzes se apagaram. O Jesus de sempre. O que eles bem conheciam, pobre carpinteiro de Nazaré, sem os acompanhantes celestiais, desceu junto com eles pelos caminhos de volta.

       E o texto do Evangelho conclui: Ficaram calados e não contaram a ninguém nada do que tinham visto (Lc 9,36)

      

QUE SIGNIFICA PARA NOS ESSE ACONTECIMENTO?

       - Como sempre a Liturgia nos traz a Palavra revelada sobre o projeto de Deus em Jesus e para seus seguidores. O Jesus dos Evangelhos se transfigura. Não é somente quem nos faz conhecer o Pai, mas nos coloca dentro do seu Plano como sujeitos.

   Faz acontecer para nos a transfiguração. O que nos foi comunicado se transforma de historia em evento.

A transfiguração de Jesus é também a transfiguração de nos mesmos. Não como uma conquista intelectual que a gente vai guardar na memoria de um livro e na saudades das recordações, mas como algo que entrou dentro de nos e passou a ser parte da nossa própria vida (Como uma injeção endovenosa cujo líquido se integra no organismo. Como o pão e o vinho, que são assimilados e se tornam nosso próprio sangue, nossa própria vida).

    Saímos “outros”. Já não somos os mesmos que havíamos chegado. Fomos transfigurados, tanto como cristãos individuais, mas também como Igreja.

# A celebração litúrgica da transfiguração, como afeta a comunidade eclesial?

- A Igreja se identifica como a comunidade do Reino, desbordante de jubilo, dinamismo e profecia? Entusiasmada pelo que cre e ama e por isso o comunica?

Então:

1.  Não ficará mais esperando pelos que se decidem vir até Ela, mas irá descer do Tabor e procurar os sendeiros da historia que lhe permitam chegar até os confins da terra

2.  Não pretenderá que se comece onde chegaram seus heróis depois de anos e anos de fidelidade heroica, mas estará ao lado dos pecadores, indignos, caídos, desanimados... como o médico que vem para quem está enfermo.

3.  Não comunicará “verdades”, mas modo de ser individual e comunitário; local e universal. Não falará como quem dá informações, mas como testemunho, às vezes até martirial”, de quem esta procurando caminhar, apesar de tudo.

4.  Não será uma experiência paralela à vida comum e corrente, mas uma transfiguração do que existe que desenvolve todas suas capacidades. Não se trata de uma comunidade eclesial paralela à vida, mas dentro da mesma, como fermento do Espírito em função do Reino de Deus.

5.  Na conjuntura em que estamos não se trata de ver em primeiro lugar quem vai ser o novo papa, mas como vai ser o Papado; não um ministro da Igreja, mas a Igreja em relação ao mundo (Reinado de Deus).

6.  Quem já está na base (cEB), não sonhar como uma Igreja que se sente melhor fora disso.

7.  Quando Jesus e a pequena equipe desceu do Tabor, foi para encontrar-se outra vez com a dor humana (Lc 9,38 ss) e as limitações-incapacidades dos discípulos (Igreja). El texto es de Mt 17,19ss.

       . O extraordinário do Tabor não solucionou problemas, mas orientou a comunidade, os seguidores de Jesus

 

De D.Helder ao Papa Paulo VI

"Santo Padre, abandone seu título de rei e vamos reconstruir a Igreja como nosso Mestre, sendo pobres.


Deixe os palácios do Vaticano, vá morar numa casa na periferi
a de Roma. Pode até ter uma praça para saudar e abençoar as ovelhas.


Depois, Santo Padre, convide a todos os bispos a largarem tudo o que indica poder, majestade: báculos, solidéus, mitras, faixas peitorais, batinas roxas.


Vamos amontoar tudo na Praça de São Pedro e fazer uma grande fogueira, dizendo de peito aberto para o povo: “Vejam, não somos mais príncipes medievais. Não moramos mais em palácios. Todos somos pastores, somos pobres, somos irmãos”.


[Dom Helder Câmara]

Boff. Outros aspetos históricos

Que Papa esperar que não seja um Bento XVII?

por Adital

A Igreja precisa ser mais humana, humilde e ter mais fé, no sentido de não ter medo. O que se opõe à fé não é o ateísmo; mas, o medo. O medo paralisa e isola as pessoas das outras pessoas. A Igreja precisa caminhar junto com a humanidade, porque a humanidade é o verdadeiro Povo de Deus.


Confira a entrevista com Leonardo Boff.


1. Como o Sr. recebeu a renúncia de Bento XVI?

R: Eu desde o principio sentia muita pena dele, pois pelo que o conhecia, especialmente em sua timidez,imaginava o esforço que devia fazer para saudar o povo, abraçar pessoas, beijar crianças. Eu tinha certeza de que um dia ele, aproveitaria alguma ocasião sensata, como os limites físicos de sua saúde e menor vigor mental para renunciar. Embora mostrou-se um Papa autoritário, não era apegado ao cargo de Papa. Eu fiquei aliviado porque a Igreja está sem liderança espiritual que suscite esperança e ânimo. Precisamos de um outro perfil de Papa mais pastor que professor, não um homem da instituição-Igreja, mas um representante de Jesus que disse: "se alguém vem a mim eu não mandarei embora" (Evangelho de João 6,37), podia ser um homoafetivo, uma prostituta, um transexual.


2. Como é a personalidade de Bento XVI já que o Sr. privou de certa amizade com ele?

R: Conheci Bento XVI nos meus anos de estudo na Alemanha entre 1965-1970. Ouvi muitas conferências dele, mas não fui aluno dele. Ele leu minha tese doutoral: "O lugar da Igreja no mudo secularizado" e gostou muito a ponto de achar uma editora para publicá-la, um calhamaço de mais de 500 pp. Depois trabalhamos juntos na revista internacional Concilium, cujos diretores se reuniam todos os anos na semana de Pentecostes em algum lugar na Europa. Eu a editava em português. Isso entre 1975-1980. Enquanto os outros faziam sesta eu e ele passeávamos e conversávamos temas de teologia, sobre a fé na América Latina, especialmente sobre São Boaventura e Santo Agostinho, do quais é especialista e eu até hoje os frequento amiúde. Depois em 1984 nos encontramos num momento conflitivo: ele como meu julgador no processo do ex-Santo Ofício, movido contra meu livro "Igreja: carisma e poder" (Vozes 1981). Aí, tive que sentar na cadeirinha onde Galileo Galilei e Giordano Bruno entre outros sentaram. Submeteu-me a um tempo de "silêncio obsequioso"; tive que deixar a cátedra e proibido de publicar qualquer coisa. Depois disso nunca mais nos encontramos. Como pessoa é finíssimo, tímido e extremamente inteligente.


3. Ele como Cardeal foi o seu Inquisidor depois de ter sido seu amigo: como viu esta situação?

R: Quando foi nomeado Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Inquisição) fiquei sumamente feliz. Pensava com meus botões: finalmente teremos um teólogo à frente de uma instituição com a pior fama que se possa imaginar. Quinze dias após me respondeu, agradecendo e disse: vejo que há várias pendências suas aqui na Congregação e temos que resolvê-las logo. É que praticamente a cada livro que publicava vinham de Roma perguntas de esclarecimento que eu demorava em responder. Nada vem de Roma sem antes de ter sido enviado a Roma. Havia aqui bispos conservadores e perseguidores de teólogos da libertação que enviavam as queixas de sua ignorância teológica a Roma a pretexto de que minha teologia poderia fazer mal aos fiéis. Ai eu me dei conta: ele já foi contaminado pelo bacilo romano que faz com que todos os que aí trabalham no Vaticano rapidamente encontram mil razões para serem moderados e até conservadores. Então sim fiquei mais que surpreso, verdadeiramente decepcionado.


4. Como o Sr. recebeu a punição do "silêncio obsequioso"?

R: Após o interrogatório e a leitura de minha defesa escrita que está como adendo da nova edição de Igreja: carisma e poder (Record, 2008) são 13 cardeais que opinam e decidem. Ratzinger é um apenas entre eles. Depois submetem a decisão ao Papa. Creio que ele foi voto vencido porque conhecia outros livros meus de teologia, traduzidos para alemão e me havia dito que tinha gostado deles, até, uma vez, diante do Papa numa audiência em Roma fez uma referência elogiosa. Eu recebi o "silêncio obsequioso" como um cristão ligado à Igreja o faria: calmamente o acolhi. Lembro que disse: "é melhor caminhar com a Igreja que sozinho com minha teologia". Para mim foi relativamente fácil aceitar a imposição porque a Presidência da CNBB me havia sempre apoiado e dois Cardeais Dom Aloysio Lorscheider e Dom Paulo Evaristo Arns me acompanharam a Roma e depois participaram, numa segunda parte, do diálogo com o Card. Ratzinger e comigo. Aí, éramos três contra um. Colocamos algumas vezes o Cardeal Ratzinger em certo constrangimento, pois os cardeais brasileiros lhe asseguravam que as críticas contra a teologia da libertação que ele fizera num documento saído recentemente eram eco dos detratores e não uma análise objetiva. E pediram um novo documento positivo; ele acolheu a ideia e realmente o fez dois anos após. E até pediram a mim e ao meu irmão teólogo Clodovis que estava em Roma que escrevêssemos um esquema e o entregássemos na Sagrada Congregação. E num dia e numa noite o fizemos e o entregamos.


5. O Sr deixou a Igreja em 1992. Guardou alguma mágoa de todo o affaire no Vaticano?

R: Eu nunca deixei a Igreja. Deixei uma função dentro dela que é de padre. Continuei como teólogo e professor de teologia em várias cátedras aqui e fora do país. Quem entende a lógica de um sistema autoritário e fechado, que pouco se abre ao mundo, não cultiva o diálogo e a troca (os sistemas vivos vivem na medida em que se abrem e trocam) sabe que, se alguém, como eu, não se alinhar totalmente a tal sistema, será vigiado, controlado e eventualmente punido. É semelhante ao regime de segurança nacional que temos conhecido na América Latina sob os regimes militares no Brasil, na Argentina, no Chile e no Uruguai. Dentro desta lógica o então Presidente da Congregação da Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício, ex-Inquisição), o Cardeal J. Ratzinger condenou, silenciou, depôs de cátedra ou transferiu mais de cem teólogos. Do Brasil fomos dois: a teóloga Ivone Gebara e eu. Em razão de entender a referida lógica, e lamentá-la, sei que eles estão condenados fazer o que fazem na maior das boas vontades. Mas, como dizia Blaise Pascal: "Nunca se faz tão perfeitamente o mal como quando se faz de boa vontade". Só que esta boa-vontade não é boa, pois cria vítimas. Não guardo nenhuma mágoa ou ressentimento, pois exerci compaixão e misericórdia por aqueles que se movem dentro daquela lógica que, a meu ver, está a quilômetros luz da prática de Jesus. Aliás, é coisa do século passado, já passado. E evito voltar a isso.


6. Como o Sr. avalia o pontificado de Bento XVI? Soube gerenciar as crises internas e externas da Igreja?

R: Bento XVI foi um eminente teólogo; mas, um Papa frustrado. Não tinha o carisma de direção e de animação da comunidade, como tinha João Paulo II. Infelizmente ele será estigmatizado, de forma reducionista como o Papa onde grassaram os pedófilos, onde os homoafetivos não tiveram reconhecimento e as mulheres foram humilhadas como nos USA negando o direito de cidadania a uma teologia feita a partir do gênero. E também entrará na história como o Papa que censurou pesadamente a Teologia da Libertação, interpretada à luz de seus detratores, e não à luz das práticas pastorais e libertadoras de bispos, padres, teólogos, religiosos/as e leigos que fizeram uma séria opção pelos pobres contra a pobreza e a favor da vida e da liberdade. Por esta causa justa e nobre foram incompreendidos por seus irmãos de fé, e muitos deles presos, torturados e mortos pelos órgãos de segurança do Estado militar. Entre eles estavam bispos como Dom Angelelli, da Argentina e Dom Oscar Romero, de El Salvador. Dom Helder foi o mártir que não mataram. Mas, a Igreja é maior que seus papas e ela continuará, entre sombras e luzes, a prestar um serviço à humanidade, no sentido de manter viva a memória de Jesus, de oferecer uma fonte possível de sentido de vida que vai para além desta vida. Hoje sabemos pelo VatiLeaks que dentro da Cúria romana se trava uma feroz disputa de poder, especialmente entre o atual Secretário de Estado Bertone e o ex-secretário Sodano já emérito. Ambos têm seus aliados. Bertone, aproveitando as limitações do Papa, construiu praticamente um governo paralelo. Os escândalos de vazamento de documentos secretos da mesa do Papa e do Banco do Vaticano, usado pelos milionários italianos, alguns da máfia, para lavar dinheiro e mandá-lo para fora, abalaram muito o Papa. Ele foi se isolando cada vez mais. Sua renúncia se deve aos limites da idade e das enfermidades; mas, agravadas por estas crises internas que o enfraqueceram e que ele não soube ou não pode atalhar a tempo.


7. O Papa João XXIII disse que a Igreja não pode virar um museu; mas, uma casa com janelas e portas abertas. O Sr. acha que Bento XVI não tentou transfomar a Igreja novamente em algo como um museu?

R: Bento XVI é um nostálgico da síntese medieval. Ele reintroduziu o latim na missa; escolheu vestimentas de papas renascentistas e de outros tempos passados; manteve os hábitos e os cerimoniais palacianos; para quem iria comungar, oferecia primeiro o anel papal para ser beijado e depois dava a hóstia, coisa que nunca mais se fazia. Sua visão era restauracionista e saudosista de uma síntese entre cultura e fé que existe muito visível em sua terra natal, a Baviera, coisa que ele explicitamente comentava. Quando na Universidade onde ele estudou e eu também, em Munique, viu um cartaz me anunciando como professor visitante para dar aulas sobre as novas fronteiras da Teologia da Libertação, pediu o reitor que protelasse “sine dia” o convite já acertado. Seus ídolos teológicos são Santo Agostinho e São Boaventura, que mantiveram sempre uma desconfiança de tudo o que vinha do mundo, contaminado pelo pecado e necessitado de ser resgatado pela Igreja. É uma das razões que explicam sua oposição à modernidade é que a vê sob a ótica do secularismo e do relativismo e fora do campo de influência do cristianismo que ajudou a formar a Europa.


8. A igreja vai mudar, em sua opinião, a doutrina sobre o uso de preservativos e em geral a moral sexual?

R: A Igreja deverá manter as suas convicções; algumas que estima irrenunciáveis, como a questão do aborto e da não manipulação da vida. Mas, deveria renunciar ao status de exclusividade, como se fora a única portadora da verdade. Ele deve se entender dentro do espaço democrático, no qual sua voz se faz ouvir junto com outras vozes. E as respeita e até se dispõe a aprender delas. E quando derrotada em seus pontos de vista, deveria oferecer sua experiência e tradição para melhorar onde puder melhorar e tornar mais leve o peso da existência. No fundo, ela precisa ser mais humana, humilde e ter mais fé, no sentido de não ter medo. O que se opõe à fé não é o ateísmo; mas, o medo. O medo paralisa e isola as pessoas das outras pessoas. A Igreja precisa caminhar junto com a humanidade, porque a humanidade é o verdadeiro Povo de Deus. Ela o mostra mais conscientemente; mas, não se apropria com exclusividade desta realidade.


9. O que um futuro Papa deveria fazer para evitar a emigração de tantos fiéis para outras igrejas, e especialmente pentecostais?

R: Bento XVI freou a renovação da Igreja incentivada pelo Concílio Vaticano II. Ele não aceita que na Igreja haja rupturas. Assim que preferiu uma visão linear, reforçando a tradição. Ocorre que a tradição, a partir dos séculos XVIII e XIX, se opôs a todas as conquistas modernas, da democracia, da liberdade religiosa e outros direitos. Ele tentou reduzir a Igreja a uma fortaleza contra estas modernidades. E via no Vaticano II o ‘Cavalo de Tróia' por onde elas poderiam entrar. Não negou o Vaticano II; mas, o interpretou à luz do Vaticano I, que é todo centrado na figura do Papa com poder monárquico, absolutista e infalível. Assim, se produziu uma grande centralização de tudo em Roma sob a direção do Papa que, coitado, tem que dirigir uma população católica do tamanho da China. Tal opção trouxe grande conflito na Igreja até entre inteiros episcopados como o alemão e francês e contaminou a atmosfera interna da Igreja com suspeitas, criação de grupos, emigração de muitos católicos da comunidade e acusações de relativismo e magistério paralelo. Em outras palavras, na Igreja não se vivia mais a fraternidade franca e aberta, um lar espiritual comum a todos. O perfil do próximo Papa, no meu entender, não deveria ser o de um homem do poder e da instituição. Onde há poder inexiste amor e desaparece a misericórdia. Deveria ser um pastor, próximo dos fiéis e de todos os seres humanos, pouco importa a sua situação moral, étnica e política. Deveria tomar como lema a frase de Jesus que já citei anteriormente: "Se alguém vem a mim, eu não o mandarei embora", pois acolhia a todos, desde uma prostituta como Madalena até um teólogo como Nicodemos. Não deveria ser um homem do Ocidente que já é visto como um acidente na história. Mas um homem do vasto mundo globalizado sentindo a paixão dos sofredores e o grito da Terra devastada pela voracidade consumista. Não deveria ser um homem de certezas; mas, alguém que estimulasse a todos a buscarem os melhores caminhos. Logicamente se orientaria pelo Evangelho; mas, sem espírito proselitista, com a consciência de que o Espírito chega sempre antes do missionário e o Verbo ilumina a todos que vêm a este mundo, como diz o evangelista São João. Deveria ser um homem profundamente espiritual e aberto a todos os caminhos religiosos para juntos manterem viva a chama sagrada que existe em cada pessoa: a misteriosa presença de Deus. E, por fim, um homem de profunda bondade, no estilo do Papa João XXIII, com ternura para com os humildes e com firmeza profética para denunciar quem promove a exploração e faz da violência e da guerra instrumentos de dominação dos outros e do mundo. Que nas negociações que os cardeais fazem no conclave e nas tensões das tendências, prevaleça um nome com semelhante perfil. Como age o Espírito Santo aí é mistério. Ele não tem outra voz e outra cabeça do que aquela dos cardeais. Que o Espírito não lhes falte.
Enviado por
Agenor Brighenti

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Novo Papa


ideal do próximo Papa, na minha opinião:

1. Um homem que tenha desperto. Quer dizer, um homem de Deus, de oração e, na medida do possível, de experiência mística. Entendo por “despertar” alcançar uma luz interior que lhe permita, acima da norma e do constrangimento canônico, olhar além da cúria, dos dogmas, do Direito e das convenções para abrir-se ao Espírito, que “sopra onde quer”.

2. Um homem de mundo. Ser um homem de mundo não significa “ser do mundo”, mas estar no mundo com conhecimento do mesmo. Não um papa de gabinete, fechado em seu santuário e isolado da vida. Tampouco um papa de viagens preparadas nos quais não acaba de sair da bolha e falar com as pessoas reais. Um papa que não só fale, mas que também saiba escutar e, sobretudo, que dialogue com a cultura atual.

3. Um homem que saiba sorrir. Lembro que durante a eleição de João Paulo I e João Paulo II um comitê americano para a eleição de um papa colocou como condição que soubesse rir. Ambos, e também Bento XVI, souberam rir. Mas para além de uma experiência do rosto, o mundo necessita de otimismo e esperança diante de tantos catastrofismos.

4. Um homem corajoso, que não tenha medo das reformas. Foi dito que Bento XVI não pôde fazer as mudanças que pretendia na cúria e, segundo expressão do diretor do L’Osservatore Romano, que estava “rodeado de lobos”. Necessita-se de vigor espiritual e físico para empreender as reformas de que a Igreja necessita.

5. Um homem do Vaticano II. Aos 50 anos do Concílio todos os especialistas sérios afirmam que há questões pendentes em sua realização. Diante da involução atual e uma atitude defensiva de proteger-se nos castelos de inverno diante de uma sociedade considerada inimiga da Igreja, é preciso voltar à praça pública e retomar o conceito de Povo de Deus, de Ecumenismo, de Liberdade, de independência dos poderes públicos, de não pretender batizar as instituições civis, de oferecer a mensagem de Jesus sem impô-la. E que não tenha medo, se for necessário, de convocar um novo concílio.

6. Um homem livre. Deduz-se desse despertar interior do primeiro ponto. Mas o ofício de papa está cheio de condicionamentos para quem se senta na Sé Apostólica. É preciso olhar sobretudo para a sua consciência e diante de Deus tomar decisões. O último ato de Bento XVI foi, neste sentido, um maravilhoso exemplo.

7. Um homem com boa saúde. Nem muito idoso nem muito jovem. Psicológica e fisicamente maduro com capacidade física e espiritual para enfrentar os desafios de um tempo difícil. De 65 a 75 anos, diria e em forma para durar como papa ao menos uma década, não mais.

8. Um homem universal. Seria bom se não pertencesse a nenhuma família ou movimento religioso, para que fosse de todos. Me inclinaria, se é que existe o candidato com as demais qualidades, que pertencesse ao Terceiro Mundo, particularmente à América Latina onde vive quase a metade dos católicos.

9. Um homem humilde. Embora esteja incluído no pacote de santo, especifico a humildade e a simplicidade, porque cargo tão importante pode provocar orgulho, segurança e prepotência e só a humildade, o desaparecimento do eu, permitirá que Deus atue através dele.

10. Um homem amigo dos mais pobres. Todas as bem-aventuranças podem ser resumidas na seguinte: “os pobres são evangelizados”. O novo papa deve ter no coração, sobretudo, o lado obscuro do mundo, aquele que não conta, o da fome e da injustiça. Talvez seja prematuro, mas quando virá o tempo em que os palácios vaticanos se converterão em museus e o papa se mude para uma residência simples, deixe de viajar como chefe de Estado e embaixador em todo o mundo? Mas ao menos não seria pouco se, ao final de seu pontificado, se pudesse chamá-lo de “o papa dos pobres”.  Não custa sonhar!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Papa Ratzinger sobre o futuro da Igreja


 

Em 1971, o teólogo Joseph Ratzinger, escreveu sua obra Fé e Futuro, e fez a seguinte pergunta: Como será a Igreja no 2.000? Assim afirma:

“Da crise de hoje, também desta vez surgirá no futuro uma Igreja que terá mudado muito. Ela será pequena e, em grande parte, deverá começar a partir do inicio. Ela não terá tantos fiéis para ocupar os espaços de muitas das construções que foram feitas no período de grande esplendor, devido ao número pequeno de seus adeptos. Ela perderá muito de seus privilégios que havia conquistado na sociedade. Ao contrário do ocorrido até agora ela se apresentará muito mais fortificada como comunidade de voluntários, que somente se faz acessível pela decisão livre e pessoal de seus membros. Como comunidade pequena, ela pedirá muito mais da iniciativa de seus membros e conhecerá também, certamente, novas maneiras dos ministérios ordenados e elevará os leigos profissionais ao sacerdócio ministerial. Em muitas comunidades pequenas, e em outros grupos sociais semelhantes, a evangelização será feita dessa maneira. Claro é que o sacerdócio oficial será indispensável!

            Más não obstante, em todas estas mudanças que podemos supor que hão de acontecer na Igreja, eu penso que ela encontrará nova e decididamente seu lugar essencial no que sempre tem sido seu núcleo central: a fé em Deus Uno e Trino, em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, e na assistência do Espírito que chega até o fim. Na fé e na oração ela reencontrará seu próprio núcleo central vivendo os sacramentos como culto divino e não como problema de configuração litúrgica.

 

            Emergirá uma Igreja interiorizada que não prevalece de mandato político e tão pouco se compromete com a esquerda ou a direita. Ela conseguirá isto com muito esforço, porque o processo de cristalização e de esclerosamento vão lhe custar também muitas forças. Ela se fará uma Igreja dos pobres e dos pequenos. O processo será muito difícil devido aos enredos da estupidez sectária daqueles que conservam sua arrogância.

           

É claro que tudo isso demanda tempo. O processo será longo e penoso, como muito difícil tem sido o caminho feito pela Igreja desde os falsos progressismos às vésperas da Revolução Francesa, nos quais, também muitos dos bispos falavam elegante sobre dogmas e talvez deixando transparecer que até mesmo a existência de Deus não era dada por certa, isto somente terminou com a renovação da Igreja no século dezenove.

           

Ademais, depois disto, terá que sair do seio de uma igreja interiorizada e simplificada uma grande força. Pois as pessoas, vivendo em um mundo inteiramente planificado, estarão inevitavelmente na solidão. Quando, para elas, Deus estiver completamente desaparecido, elas experimentarão sua pobreza completa e horrível em suas frustrações. E encontrarão na pequena comunidade dos que creem algo inteiramente novo, como uma esperança que será uma resposta a todo aquilo que ocultamente sempre perguntaram.

           

Desse modo, me parece certo que, para a Igreja estes tempos iminentes são muito difíceis. Sua crise verdadeira está apenas começando, teremos que contar com grandes abalos. Porém, é também certo aquilo que afinal vai permanecer: não uma Igreja do culto político,... , mas a igreja da fé. Certamente ela não será a força dominante da sociedade, como foi até agora, porém, dela ressurgirá e florescerá a humanidade como pátria que oferece vida e esperança a quem queira até para além da morte.

 

 

O segundo texto ao qual me refiro é o do Cardeal Joseph Ratzinger, em entrevista publicada em 1997, O sal da terra: o cristianismo e a Igreja católica no limiar do terceiro milênio. Assim se expressa sobre a leitura popular da bíblia, que, ao meu ver, é um dos melhores caminhos que o Espírito apontou neste último século como o lugar de edificação da Igreja. Isso está tão claro que foi assumido pelo conjunto do episcopado brasileiro como uma das urgências pastorais, a animação bíblica de toda a ação pastoral. Vamos ao texto:

Às vezes parece ser tão complicado (ler a Bíblia) que se julga que só os estudiosos podem ter uma visão de conjunto. A exegese deu-nos muitos elementos positivos, mas também fez com que surgisse a impressão de que uma pessoa normal não é capaz de ler a Bíblia, porque tudo é tão complicado. Temos de voltar a aprender que a Bíblia diz alguma coisa a cada um e que é oferecida precisamente aos simples. Nesse caso dou razão a um movimento que surgiu no seio da teologia da libertação que fala da interpretação popular. De acordo com essa interpretação, o povo é o verdadeiro proprietário da Bíblia e, por isso, o seu verdadeiro intérprete. Não precisam conhecer todas as nuances críticas; compreendem o essencial. A teologia, com os seus grandes conhecimentos, não se tornará supérflua, até se tornará mais necessária no diálogo mundial das culturas. Mas não pode obscurecer a suprema simplicidade da fé que nos põe simplesmente diante de Deus, e diante de um Deus que se tornou próximo de mim ao fazer-se homem[1].



[1]  RATZINGER, Cardeal Joseph, O sal da terra: o cristianismo e a Igreja católica no limiar do terceiro milênio. Rio de Janeiro, Imago, 1997, p210-211.