sexta-feira, 24 de maio de 2013
Uruguay - Noticiario em portugues
17de Maio de 2013
Cada vez que a gente tem que sair para uma viagem missionaria é difícil, mesmo depois de quatro décadas que começamos. Deixar o lugar onde a gente se encontra e enfrentar o diferente é mesmo um desafio: outra língua, outros horários, outra comida, diferentes estilos de vida.
O táxi estava me esperando. Seis e meia da manhã, dois graus centígrados. Ainda não amanheceu, é inverno.
Ônibus cheio. Serão três dias feriados, começando hoje que é aniversario da cidade. Amanhã: sábado (ninguém é de ferro) e depois, logicamente, Domingo.
A neblina persistiu nas duas primeiras horas da viagem. Paisagem gaúcha singular: pequenos lagos, campo de gado, ilhas de eucaliptos que não combinam com o campo aberto da planície. Foram plantados para que o gado se defenda do sol e dos ventos invernais.
Até agora ninguém está usando o celular. Neste horário não colocam filmes para distrair (ou atormentar?) os passageiros. Que paz!
Concentrei-me imaginando em que Deus estaria ocupado nesta manhã: Cracolândia, Igrejas e mosteiros em plena liturgia matinal, a Síria retorcendo-se com bombardeios, crianças-soldados nos países asiáticos, operários chineses ou do Afaganistão, saindo de um dia de trabalho (para eles o horário está 12 horas na nossa frente). Peço ao bom Pai Nosso que abençoe os passageiros, o motoristas, minha equipe, meus parentes e amigos. O meu ministério.
Tres rápidas paradas: Camobi, Canoas, já na periferia de Porto Alegre, estão rodoviária. Nove passageiros continuamos até o aeroporto Salgado Filho.
Meu sonho foi sempre trabalhar em equipe e agora tenho que continuar sozinho o meu ministério. Sinto que é limitado, mas dou o que tenho.
Um sanduiche que havia trazido e embarcamos no Boeing 737 da Gol, rumo Montevideo.
- Vamos encontrar ventos de 260 quilômetros horários. Mantenham afiveladas as cintas de segurança, disse o comandante.
Mas, para nosso gozo, o voo de hora e meia foi sereno. A 10 mil metros de altura o panorama da terra gaúcha, seja no Rio Grande do Sul, como no Uruguai, é de uma extenção verde com sinais de rios e pouca vegetação. O 17 de Maio foi um dia frio e sem sol, com nuvens pesadas agachadas no horizonte.
URUGUAI
É agradável chegar no moderno aeroporto de Montevideo. Espaços amplos. Não é, como em Congonhas ou Guarulhos, entrar num “mercado persa”. Limpeza, respeito pelos viajantes. Tudo está bem indicado. Revisão dos documentos, recepção das malas, alfândega, serviços rápidos e educados. E já estava saindo do terminal internacional, acolhido por um sorriso de orelha a orelha, tanto da Miriam como do P. Frederico.
Antes de tudo queriam saber da Teo, lamentando-se de que ela não havia podido vir. Procurei consolá-los sugerindo que mesmo sem a “esperada”, eu tinha vindo e talvez poderia corresponder às expectativas.
Na garrafa térmica que um uruguaio normal costuma carregar junto com a cuia de chimarrão, estava escrito: “40 Anos – opção compartida e um andar que não esmorece”. Isso define a “garra” das CEBs no Uruguai. Elas começaram com a minha equipe, no ano 1973. Os bispos que haviam estado no Vaticano II, e depois na Assembleia de Medellín, atendiam ao clamor de justiça que subia do povo latino americano: Proaño, no Equador; Geraldo Valencia Cano, na Colombia; De Nevarez, Devoto, Angelelli, na Argentina; Maricevich, Bogarin, Benitez, no Paraguay; Mendiarat, Baccini, no Uruguai; Mendes Arceo, Samuel Ruiz, no México; Romero, em El Salvador; Helder câmara, Evaristo Arns, José Maria Pires, no Brasil; Landazuri, no Peru... e tantos outros.
Aqui em Montevideo, o Arcebispo Partelli acompanhou todos nossos cursos, sentado no mesmo salão em que estamos. Este lugar, ao longo de todas estas décadas, há sido o “Cenáculo”, o espaço privilegiado para encontros, cursos, sessões especiais de planejamento, estudo, espiritualidade, que foram alimentando e aprofundado o processo das CEBs no pais.
Sentado no fundo do salão, fumador impenitente,, gaúcho com o seu poncho cor de café com leite, escutava muito e falava pouco. Era o centro dos grupos que se formavam ao seu redor, nos momentos de descanso entre uma conferência e grupos de trabalho.
O fato era, nele mesmo eloquente: Nosso arcebispo está conosco! Vamos a um novo modo de ser Igreja, com este povo de Deus.
Hoje está dando uma apresentação o P. Pablo Bonavia, teólogo e pároco, um dos dirigentes de Amerindia. Escutá-lo e dialogar com ele sobre a situação da Igreja é uma preciosidade. Deu-nos ânimo e ajudou a esclarecer meandros vaticanos de resistência ao modelo de Igreja que se está manifestando com o papa Francisco.
Neste encontro muitas são as mulheres de cabelos brancos (as outras os têm pintados); media dúzia de presbíteros, outro tanto de jovens e cerca de 30 varões.
A advogada Maria Josefina, que está desde os primeiros tempos das CEBs neste pais, faz uma apresentação do que aconteceu no seu pais ao longo das quatro décadas passadas, sublinhando especificamente o processo das CEBs: a ditadura militar, as perigosas “visitas” dos militares às paróquias, casas religiosas... o esforço de assumir as referências do Vaticano II, de Medellín, o surgimento da Igr4eja de pobres com operários, mestres, advogados.
Estão representando no presente encontro: Salto, Maldonado, Taquarembó -Ribera, São José, Montevideo, Buenos Aires.
O dominicano Frei Fernando Solá, espanhol, que conhecemos primeiro no Panamá, depois já no cone sul, veio com sua gente. Sentado na primeira fila, discreto, apesar das suas muitas décadas de presbítero, está aqui para aprender e compartir; assim também o P. João Inácio, passionista; Juani, o provincial; P. Alexandre; o oblato P. Mario e outros que eu nem conhecia.
Na sessão plenária, nas informações dos grupos, algumas frases que não se podem esquecer:
- Cada vez que repetimos nossos caminhos, descobrimos algo novo e isso nos mantem o entusiasmo do começo;
- Sentir que outra gente também veio para reunir-se conosco, confirma ainda mais que vale a pena continuar caminhando;
- Temos as melhores possibilidades porque cometemos os maiores erros;
- Estamos num caminhar de quem não se entrega. Continuamos sonhando;
- Nosso processo é de raiz, parte da vida às estruturas e não o contrário;
- Se o Vaticano II já comemora 50 anos, somos jovens ainda, porque só temos 40;
- Queremos paroquias “de “ comunidades e não “com” CEBs
- As comunidades estão enraizadas, ligadas entre si, como os dedos da mão (diferentes, mas unidos)
- Assim como o Papa criou o seu grupo dos oito, G8, nos temos que criar em cada CEB e no nível nacional, uma equipe de articulação;
- Seguimos em frente com propostas, não com lamentações
- Não fiquemos ao redor da paróquia, mas temos que cruzar fronteiras e vamos onde estão as pessoas que já não estão vindo aos nosso edifícios de culto.
A Eucaristia conclusiva não foi um espetáculo mas sim um forte momento de oração comunitária. O Evangelho chegou nas mãos de um grande grupo de crianças, das famílias das CEBs, bailando festivamente. A Palavra de Deus, os comentários e preces compartidas, revelaram uma comunidade profundamente unida e com sabor missionário.
Não faltaram no final, bolos, vinho e cânticos: “Parabéns a vocês...CEBs”
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