sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sinais dos tempos


SINAIS DOS TEMPOS, SINAIS DO REINO?             

                                                             Pe.José Marins

                                                             Julho de 2011

     

Os sinais dos tempos podem ser bons e ruins. Os sinais do Reino, são  os que nos surpreendem com a graça irrompendo e envolvendo-nos.

O Espírito de Deus está presente em todos os tempos, lugares e seres. Age a seu modo e sem descanso, no rumo do Reino de Deus. Identificar sua presença, decifrar seu código é tarefa indeclinável de cada geração e de cada pessoa.

Os companheiros do Ressuscitado ficaram com a responsabilidade e o dom de ser sinal, primícias e mediação privilegiada desse Reinado de Deus. No nosso tempo reconhecemos 10 dos seus sinais. [1]

A ordem em que são aqui apresentados não significa classificação da importância de cada sinal ou da prioridade com que tem sido captados.



1# SINAL DO REDESCOBRIMENTO DO UNIVERSO E DA CORRESPONSABILIDADE PELA CRIAÇÃO.

Vivemos extasiados pelo que dia a dia vamos desvendando no espaço sideral - novas Galácias, o buraco negro sideral... Conhecemos as placas tetônicas, vamos ao fundo dos mares. De outra parte, estamos assustados pelo deterioro do nosso planeta e sabemos que a tarefa ecológica não tem espera.



[2]@Os governos, os educadores, a informática, a família, as empresas... as igrejas darão as mãos num esforço imediato, coordenado para reverter o processo de depredação do planeta. Ao mercado interessam os desejo (ilusões), não tanto a aquisição dos objetos. O cartão de crédito permite criar e controlar a escravidão das multidões. A crise econômica precisa finalmente criar uma guerra...

TEMOS QUE FAZER O “SEGUNDO” GÊNESIS, OU SEJA, “SALVAR A CRIAÇÃO”, da qual Deus nos deixou responsáveis. As tarefas intra-eclesiais não podem desviar a atenção dos fieis: - é o mundo que está em perigo



2# SINAL DA INFORMÁTICA, DOS TRANSPORTES, DA ALDEIA GLOBAL.

 A qualquer hora nos podem chegar as noticias de qualquer parte do mundo. Acompanhamos encontros esportivos das mais distantes regiões, casamentos reais, visita papal... na mesma hora em que se realizam. Numa única noite é possível chegar do outro lado do globo. Do alto dos satélites já vimos varias vezes, de noite e de dia, a nossa terra azul. Os canais culturais da TV nos revelam culturas, civilizações, povos, costumes, animais, que ou não conhecíamos ou dos quais só tínhamos informações superficiais, mas agora já nos visitam virtualmente no interior de nossas casas. Nossos avós não usaram computadores. Nossos pais nem conheceram o Facebook ou outras formas de comunicação virtual em cadeia. Nem precisamos mencionar as extraordinárias conquistas na área da saúde, da cibernética e em tantos outros campos.



@ Este sinal do Reino nos  urge ser católico. As alegrias e sofrimentos de qualquer povo, são também desafios para o nosso modo de viver. Socializar as boas experiências, as esperanças e as conquistas válidas em todos os setores da vida, devem ser uma bênção para a humanidade.



3# SINAL DA NOVA ÉPOCA

A consciência moderna vive uma profunda mudança cultural. Só neste ano recebemos mais informações do que nos últimos 5 mil anos. Em 10 anos teremos computadores mais completos que o cérebro humano. As fibras óticas da 3ª geração conduzem 30 trilhões de “bites” por segundo, num único fio, o que corresponde a 150 milhões de ligações telefônicas por segundo. Enquanto o contexto cultural muda radicalmente[3], a fé continua a ser anunciada e compreendida de acordo com a letra dos velhos textos teológicos.



@Que caminhos humanos estão levando ao coração do Evangelho?

- O que se está desmoronando não é o Reinado de Deus, sua Revelação, enfim, a fé... senão algumas das mediações que privilegiávamos. Jesus é um presente de Deus para toda a humanidade, não é exclusividade dos cristãos. Deve chegar a todo ser que vem a este mundo, embora não seja do modo que chegou a nós cristãos. Toda ação que ajuda a humanizar-se é evangelizadora. Manifesta e socializa o Reino.



4# SINAL DO ENCONTRO COM NOVOS ALIADOS – TERCERIZAÇÃO.

No mundo de hoje ninguém pode fazer tudo o tempo todo. É importante decentralizar, identificar aliados. Aprender a trabalhar em equipo, com uma meta comum. Nem sequer o específico da nossa própria tradição religiosa podemos alcança-lo sozinhos, necessitamos dos demais – Magistério, teólogos, testemunho dos santos...

@Na Igreja deve acabar a concentração do poder, da palavra, da disciplina. Ninguém é dono de Deus.[4] Temos que aprender a dar e pedir ajudas. Surgiu um agente político novo – o conservadorismo religioso na política em nome do Evangelho.



5# SINAL DAS MINORIAS ABRAHAMICAS, ARTICULADAS.

Na igreja, como na vida, certamente a chave do sucesso não está em ser maioria numérica, mas sim a de ser fermento. Minorias desarticuladas não vão a lugar nenhum. Os pequenos, os desconsiderados, os pobres, quando se tornam sujeitos comunitários, articulados, com metas viáveis e passos sustentáveis,  provocam grandes mudanças na sua realidade e no mundo[5]. Entre estas, vale a pena mencionar as MINORIAS CULTURAIS e ÉTNICAS: afro e indígenas buscando sua autonomia e participação qualitativa no novo mundo que se vai construindo.



@Nessa perspectiva as CEBs acontecem. Elas não só são o futuro da Igreja, mas sem elas a Igreja não vai ter futuro mesmo onde ela ainda não é maioria numérica. A comunidade permite à religião interiorizar-se e acontecer na vida fora da estrutura eclesial.  É um espacio de tolerância e acolohda.Costuma ser resistente e persistente



6# SINAL DO ECUMENISMO E DO DIÁLOGO RELIGIOSO

O escândalo da divisão entre cristãos desacredita a mensagem que damos. Todos os povos e todas as épocas à sua maneira e no limite de suas possibilidades, louvam o Criador e Pai. Os que são sinceros, que pensam estar na verdade, que agem de acordo com sua própria consciência e estão dispostos, no limite da fraqueza humana, a fazer tudo aquilo que Deus determina e quer, conhecerão a salvação.



@O vizinho que é de outra religião, a casa de oração dos que não são católicos, não nos afastem de Deus...nem da responsabilidade de criar um mundo mais humano para todos. As diferentes religiões não significam necessariamente um vazio de Deus. Ainda a proliferação de “igrejas” eletrônicas no circuito do mercado, como refluxo da materialidade das condições de sobrevivência, desenvolvendo uma religiosidade difusa[6] nos despertam  a aspirações profundas: - que a Fe seja vida em plenitude já agora; que a religião seja um elo que ligue a pessoa com Deus e o mundo; que a experiência do sagrado seja menos racional e mais afetiva;  que a salvação venha ligada à libertação histórica; e que esta redunde em libertação pessoal.



7# SINAL DA SOLIDARIEDADE UNIVERSAL

A vulnerabilidade de milhões de seres contemporâneos, as desigualdades que humilham e diminuem o tempo e a qualidade da vida, os desastres ecológicos despertam generosidades heroicas em milhares de nossos contemporâneos.

- Consideração especial seja feita à JUVENTUDE tentada pelas drogas, pelas quadrilhas ou formas de violência, buscando o SENTIDO DE VIVER, reclamando seu lugar na sociedade e na religião.

@As Igrejas devem usar o seu prestigio moral para convocar à solidariedade em função da vida e para promover mudanças estruturais nas sociedades. Estamos olhando ingenuamente (e as vezes com certo ufanismo) o mundo que vai buscar agua em marte. Inverte milhões na indústria do esporte, uma indústria capitalista como qualquer outra[7], que nos mantém agarrado às telas dos computadores, das TV, dos cinemas, docilmente aprendendo a ser idiotas eletrônicos.



8# SINAL DA VENERAÇÃO PELA PALAVRA REVELADA

Todas as religiões revelam o fascínio pelo sagrado que sempre inclui a responsabilidade pelos mais necessitados.



@ O movimento bíblico (entre cristãos), o apreço pelos textos considerados inspirados e as tradições das muitas religiões, podem ser um grande ponto de encontro para construir uma nova sociedade de paz, comunhão e serviço recíproco.



 9# SINAL DOS MÁRTIRES e DOS “SANTOS INOCENTES” DO REINO

Milhares de leigos, dezenas de sacerdotes, religiosas e mesmo bispos, comprometidos pelos valores do reino (justiça, paz, fidelidade, verdade, honestidade) terminaram sendo torturados e martirizados nas últimas décadas.



@ No sangue dos nossos mártires fundamentamos os valores do Reino. O mártir é o que vive como Jesus, passa pela vida como Cristo, se enfrenta com os inimigos dos valores de Deus, como Cristo e afinal o matam como a Cristo. Estes são os mártires ativos. Há também os santos inocentes. Milhões: indefesos, inocentes e trucidados. A eles, nem a humanidade, nem as Igrejas chegaram a dar-lhes nome, apesar de durante toda a vida terem carregado a cruz e muitas vezes morreram crucificados.  Para eles não temos ainda lugar de respeito e veneração. Não são veneráveis, menos ainda beatos e santos.[8]





10# A MISTICA COMO SINAL

A santidade primordial é a de milhões de pessoas que vivem e fazem possível que outros vivam (aí estão as mães de família, os educadores, a vida heroica das grandes maiorias do mundo, do povo crucificado).

@ O futuro da humanidade vai depender se teremos mais místicos, o que não significa  piedosos, senão de profundas convicções.

A energia que move a vida não é só a que recorda os horrores, mas principalmente a que recupera o que de bom houve. Recordar contagia.





[1] Temos que dizer que esses sinais, nem esgotam a caracterização do Reino, nem brilham sempre com igual intensidade.
[2] O sinal “@” indica as tarefas que nos cabem, em cada um dos sinais do Reino apontados
[3] O mundo está mudando de maneira incrivelmente veloz. Nesta hora nasceram 244 bebes na China e 351 na India. 20% da humanidade está na China e 17% na India. Na China há mais gente que fala inglês do que em todo o mundo. Hoje existem 540 mil palavras inglesas novas, cinco vezes mais do que no tempo de Shakespeare.
[4] O cardeal Walter Kasper, colega de José Ratzinger diz: - Não temos na igreja nunca a formulação da fé de modo quimicamente puro. Só temos o fundamental da Igreja e da fé a través da mediação histórica do momento.
As vezes apresenta-se algo como parte dos ensinamentos da Igreja, quando  aquilo foi por muito tempo até negado...
.Na Bíblia, os mitos eram o meio normal de procurar entender os grandes mistérios do mundo e da existência.
[5] Basta um olhar do que vem acontecendo no mundo muçulmano: Egito, Argélia, Líbia... olhe-se o que o MST, apesar de suas ambiguidades, tem mostrado como possibilidade de ação a nível nacional.
[6] Como diz Agenor Brighenti, movendo “do profético para o terapêutico, do ético para o estético...  reinado do individualismo cultural, busca do bem-estar imediato, religião a serviço do individualismo... pragmática, ligada à magia, cura, milagres, exorcismos, bênçãos... Pouco exigente do ponto de vista ético, eficiente no nível místico como degustação do sagrado, êxtase, catarse, emoção” (Jornal O VALE, San José dos Campos, sp, “Os grandes desafios da fé no século XXI, 14 abril 2011, pag. 5
[7] Os ídolos continuam existindo e pedindo sangue. Não são realidades de povos primitivos, senão realidades históricas que configuram uma sociedade, exigem um culto, uma ortodoxia e produzem vítimas.  Um contemporâneo nosso dizia: “Gostaria de morrer sem ter tido tanta vergonha de passar por este plantea.
[8] Dom Romero já é figura universal de santo. Já cumpriu todas as normas de Deus. Embora, ao que parece ainda não cumpriu as normas da Igreja.

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