terça-feira, 30 de agosto de 2011

AS CEBS HOJE - ESPERANÇA OU FRUSTRAÇÕES?


   AS CEBS HOJE – ESPERANÇA OU FRUSTRAÇÃO?

(VER)         # DESINTERESSE, HOSTILIDADES E AMBIGUIDADES  
A imagem das CEBs sofreu uma considerável mudança nas últimas décadas. A maioria das dioceses e das paróquias, dos sacerdotes e religiosas, assim como os seminaristas, já não se interessam por elas. Alguns nunca tiveram tempo ou disposição de informar-se seriamente sobre o assunto e ficaram com os preconceitos divulgados pela Media ou pelos ambientes eclesiásticos opositores. O fato é que uma espécie de “alergia”,  em relação às CEBs, tornou-se endêmica. 
O documento votado pelos Bispos na Assembléia Geral da Aparecida, sofreu uma intervenção destoante da nossa tradição Eclesial . Aprovado oficialmente pelo Episcopado da América Latina e Caribe, o documento foi  corrigido pela instância romana [1] sem dar explicações da sua intervenção, o que causou perplexidade em muitos analistas, uma vez que não se tratava de um documento sinodal[2], mas de um texto votado por maioria pela assembléia geral dos Bispos latino americanos e caribenhos.
O que eclodiu no nível mais alto da Igreja, não destoa porem, do que muitos, dentro da Igreja, pensam hoje a respeito da Opção oficial pelas CEBs, feita pela Assembléia de Medellín (15,10):
+ “Quando vocês falam de CEBs, tenho a sensação de estar escutando sobre um troglodita. Elas já desapareceram ou estão a caminho de extinção”[3].
+ “ O movimento” das CEBs se perverteu, transformando-se no braço religioso das instancias políticas de esquerda; são a Teologia da Libertação disfarçada ou pastoralmente militante...”, é uma opinião bastante freqüente entre bispos, sacerdotes e diáconos, assim como entre os participantes de movimentos eclesiais[4].
- DE ONDE VEM ESSA  REAÇÃO ÀS CEBs?
Num primeiro momento houve muita curiosidade e  até entusiasmo pelo que se entendeu que seriam as CEBs, lançadas pela assembléia de Medellin.
A imprensa capitalista e as ditaduras militares, que então detinham o poder na maioria dos países latino americanos e caribenhos, se aliaram imediatamente e começaram uma campanha frontal contra as linhas da II Assembléia Geral do Episcopado (Medellín).
Ao tempo de Puebla já se multiplicavam os “mártires” – prisão, tortura, morte – em países como Guatemala, El Salvador, Nicaragua, Honduras, Panama, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil, Bolívia...
Depois de Santo Domingo, os Movimentos, Sodalícios e congêneres, ganharam importância e apoio,  do nível Pontifício Vaticano até às instâncias diocesanas e paroquiais.
 Aparecida deixou grandes ambigüidades no que se refere às CEBs: - reafirmou a linha de Medellin e ao mesmo tempo introduziu a expressão das “pequenas comunidades eclesiais” que -  ou não se sabe exatamente o que são; ou, ao contrario, diluem o conceito da Igreja de raiz (célula eclesial), ao transformar em CEBs, qualquer expressão de pastoral,  que  seja pequena (poucos membros) e que represente algo comunitário[5].
Além disso, ainda aparece a imagem distorcida de CEB, como sendo uma realidade eclesial exclusiva de leigos (geralmente leigas, quer dizer, mulheres e no caso, não muito jovens), pobres, rurais ou habitantes das periferias urbanas, confundindo-as com movimentos sócio-políticos, ou, em versões mais benignas, com grupos bíblicos ou de oração [6]

(DISCERNIR).
- Como discernir objetivamente para orientar-se nesse torvelinho de ambigüidades, agressões e condenações generalizadas? Qual é a identidade e a potencialidade das CEBs, independente de suas possíveis equivocações circunstanciais?
Um discernimento honesto levará a distinguir:
# - entre o que constitui o modelo e o que é a natureza constitutiva  das CEBs. O que pertence a uma conjuntura histórica e o que é essencialmente bíblico. O que se manifesta em diferentes estilos desde as primeiras comunidades do Novo Testamento até as CEBs atuais.
Por isso, o que apareceu no modelo histórico das CEBs, foram possivelmente respostas justificadas pelas  conjunturas das décadas dos 70, dos 80 ou 90. Não foram, nem poderiam ser, a expressão cabal e permanente (dogmática) do que é ser a instância de raiz eclesial, comprometendo a natureza constitutiva e teologicamente normativa[7] das CEBs como primeiro nível de Igreja local.
# - entre o que é o conteúdo sacramental da Igreja (diocese, paróquia, CEB) e o que está na área dos carismas (Movimentos, congregações, associações...). O sacramental além de normativo, é permanente, global, sinal e primicia do Reino... o carismático está em função do sacramental é transitório, optativo, específico e complemento da ação eclesial.
# - entre o que é evento transitório e de curto alcance -  um programa, grupo, atividade circunstancial - área de serviços ou de organizações necessárias à vida eclesiástica...daquilo  que é, como as CEBs, instância de raiz na Igreja. As CEBs, com efeito, contêm em semente, tudo o que é ser Igreja... dimensões e aspectos que não se reduzem a um programa ou técnicas, mas que serão oportuna e progressivamente desenvolvidos: Palavra, Culto, Serviço, Comunidade e Missão.
# - entre o  que é nomenclatura-rótulo (“de base”), do que é o  próprio ser das CEBs. O primeiro pode ser mudado, o segundo é intocável. Entretanto, uma estratégia lúcida pode, em circunstâncias concretas, aconselhar que não se mude uma terminologia que foi consagrada por varias Encíclicas Pontifícias e quatro Conferências Gerais do Episcopado latino americano e caribenho (Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida)
+ DE FATO,
1.     A CEB tornou-se indigesta por vários aspectos que lhe são próprios e profundamente eclesiais, configurando modelo pastoral-teológico diferente daquele para o qual os presbíteros são formados e onde têm que gastar suas energias e toda a sua vida útil:
@ Elas tem como horizonte, mística fundamental e referência operativa a perspectiva do Reino de Deus e do novo povo de Deus, do qual são sinal y primicia privilegiada;
@ - estão vitalmente insertas no ambiente onde se encontram e se preocupam por levar identificar e acolher as sementes do Reino, onde quer que se encontrem... elas estão onde está o povo. Sua preocupação primordial, como ponto de partida, não é de levar as pessoas ao Templo ou aos sacramentos, mas de ajudar a que cada ser humano encontre e se relacione com o Deus vivo, com a vida de Deus, com os que estão presentes na sua vida e que entram nas suas relações. Na verdade crêem que o amor a Deus e ao próximo, segundo pregava Jesus, resume toda a Lei e os Profetas; dá a vida eterna (Mt 25,41).
Em meio dos batizados, as CEBs se preocupam primeiro em formar missionários, mais do que ministros extraordinários da administração paroquial.
@ - desenvolvem uma metodologia de inserção, formação e ação bem consistente, que significa: ver, julgar, agir, avaliar, celebrar, , COMUNITARIAMENTE, como Igreja .
@ -  colocam sua mística e capacidade operativa, no binômio: COMUNIDADE E MISSÃO, como dois movimentos vitais do ser Igreja,  comunidade missionária e missão comunitária.
@ - transformam os leigos em protagonistas da comunidade eclesial, em comunhão com os pastores, mas não como peões meramente executivos das programações dos ministros ordenados. Os leigos são sujeitos da missão  e não apenas objetos do apostolado hierárquico.
@ -  entendem a si mesmas, unidas às paróquias e dioceses, não como sucursais de uma estrutura pastoral internacional, mas como Igrejas locais, com a graça de Deus para ser fermento, sal, luz, na sua realidade. Apreciam particularmente o magistério local dos seus pastores e com eles, acolhem de maneira orante e operativa as Escrituras Sagradas.
@ - preocupam-se por sua ação profética, ditada pela caridade do Evangelho, como anuncio, denuncia e convocação, tendo como meta colaborador na construção de um mundo de acordo com a proposta de Deus em Jesus.

( AGIR)       -    PERSPECTIVAS OPERATIVAS
Diante da responsabilidade eclesial de entender e acolher o acontecimento e processo das CEBs, algumas convicções, atitudes e gestos são inadiáveis:
PRIMEIRA REFERÊNCIA:
As CEBs são um acontecimento qualitativo, da ordem da graça, mais Cristológico que eclesiológico. (Simplicidade, desproporção, pobreza, discreção, profetismo, fermento, cruz, Ressurreição, Pentecostes). São um entendimento e acontecimento original da Igreja local.
Por isso, elas se identificam:
+ Pela  META  de ser a Comunidade que é imagem e dinamismo do crucificado que ressuscitou e da sentido (orienta) a vida (hoje) por causa de um sonho que começa acontecer. O Reino continua deslumbrando-as,  principalmente onde menos esperavam encontrá-lo e nos lugares mais remotos, encontram seus vestígios.
+ Pelo  ponto de partida – “LOCUS” ,  O lugar, a realidade onde a Providência de Deus as colocou, onde o povo está expondo a própria vida.  A preocupação primordial não é a do prédio,  da  falta numérica de ministros ordenados para dar os sacramentos, dos problemas próprios da Instituição eclesiástica, mas constantemente estão se perguntando: Onde está o povo? Onde está Deus? Onde estamos nós? Onde deveríamos estar como Igreja?
+ Pelo método, de partir da realidade, analisá-la à luz da Fe e transformá-la segundo a proposta do Reino apresentada por Jesus.
+ Pelos AGENTES da missão eclesial, que não podem reduzir-se a indivíduos especiais, mas que deve ser  uma comunidade de Jesus, formada por santos e pecadores em caminho de conversão.
SEGUNDA REFERÊNCIA:
As crises que hoje aparecem em relação às CEBs, são, na verdade, crises referentes ao modelo teológico-pastoral do Vaticano II, crise da Igreja institucional no mundo contemporâneo, crise do mundo que perdeu o seu centro de referência vital. Seus “progressos” terminam despedaçando pessoas e nações. Vai acontecendo a crise geral de desconfiança e o medo começará a ditar atitudes primeiro bizarras, depois sumamente perigosas – defender-se e a seguir, atacar para não ser surpreendidos pelos inimigos que estão em toda parte.
TERCEIRA REFERÊNCIA
É urgente uma nova reflexão de Fe, que não se despegue das conjunturas, para poder interpretá-las e orientá-las.  No que se refere à Igreja Católica, a teologia não pode contentar-se em repetir uma reflexão da fé tipicamente medieval ou restritamente Tridentina. Elas, na verdade,  foram importantes elaborações da Revelação, num mundo absolutamente diferente do que hoje nos envolve. Responderam a outras perguntas e urgências. A reflexão teológica não é apanágio dos especialistas mas do povo fiel, importante voltar a valorizar o sensus fidelium (o sentido da fé que os fieis cristãos guardam sempre, por obra do Espírito de Deus).
+ É tarefa urgente do cristianismo, dês-ocidentalizar a fé, a Igreja, a salvação... decididamente não fazê-la coincidir com Europa e menos ainda com o Mediterrâneo norte. A filosofia grega, a capacidade latina de organização não têm o monopólio da fé que professamos. A sua tradição continua sendo importante, mas não é normativa como o Novo Testamento. A conversão ao cristianismo, evidentemente não é adesão ao modelo da parte do mundo que tem nas suas mãos o poder eclesiástico universal.
+ Os pobres, excluídos, perseguidos, injustiçados e as grandes multidões migrantes... recebem, ocasionalmente, o apoio material e espiritual dos cristãos, mas não contam com células eclesiais que nascidas no meio delas, transformam os indivíduos em sujeitos de libertação e artífices de uma nova humanidade. A Igreja tem sido maternalista e defensora, poucas vezes educadora a partir das bases humanas ou desumanas onde se encontram.
+ Desclericalizar - A Igreja de CEBS (não só “com CEBs”), tem que comprometer-se decididamente no esforço de tornar seus leigos aptos para assumir o processo das CEBs e não deixá-los à mercê do interesse ou desinteresse dos ministros ordenados e das autoridades eclesiásticas de turno, tanto no nível diocesano como paroquial.
+ As comunidades eclesiais contemporâneas, segundo o modelo paroquial em que se encontram, são muito mais orientadas às devoções, sacramentos e atividades intra eclesiais. Os movimentos católicos estão mais próximos do modelo clerical (querem os presbíteros principalmente como capelães, não como coordenadores-presidentes da missão eclesial na qual os movimentos devem integrar-se). + A linha pentecostal está mais próxima da religião popular, animada por emoções espirituais, eventos extraordinários, respostas imediatas às grandes necessidades de saúde, trabalho, êxito na vida...
+ A vida eclesial precisa descobrir que a Casa (Igreja da casa) é mais legítima na tradição cristão que o próprio templo (sem excluí-lo, evidentemente).  A Igreja de base não se reduz à uma aglomeração feminina ou meramente de adultos. Ela, por sua própria índole é de todos: homens, mulheres, jovens, crianças, adultos e idosos, doentes e outros, de toda cultura, raça e nação. E a CEB, sendo a pequena Igreja não é só um grupo de oração, de denúncia social  ou de militância política (como comunidade, nunca será partidista). É uma comunidade de leigos ( limitados, pecadores mas  com  potencial evangelizador)
QUARTA REFERÊNCIA
# REVISAR RESPOSTAS INADEQUADAS E ESPERANÇAS FRUSTRADAS.
Diante do desinteresse que as vezes se transforma em hostilidade manifesta, pode haver uma reação incoerente, a de então querer impressionar pelo número, pelos documentos produzidos, pela organização, pobreza, ou querendo comprar a simpatia daqueles que estruturalmente nunca irão sentir sintonia com as CEBs.
+Salvar a paróquia – repensar o papel da paroquia
+ Remediar a falta de ministros ordenados – rever o papel do ministro ord.
+ Recuperar católicos que foram as seitas – sanar as causas pelas quais se foram
+ Ocupar o lugar da ação católica; fazer uma análise crítica do que teria sido o papel da Ação católica especializada e do seu legado.
# A REFERENCIA BÍBLICA ILUMINADORA, DE ANTIOQUIA NA SIRIA
A Igreja de Antioquia há sido um divisor de águas entre cristianismo e judaísmo.[8] Ha aspectos coincidentes com a presente situação das CEBs contemporâneas, que também estão sendo divisor de águas, entre o modelo eclesial Tridentino e o do Vaticano II.
Alguns aspectos podem especificar aquela situação e a atual:
1.     Em Antioquia da Síria, o processo da Igreja local não teve início mediante prévia consulta e aprovação da Igreja mãe de Jerusalém. Surgiu por uma ação do Espírito, quando tudo parecia tornar impossível o surgimento de uma célula eclesial local.
@  Com as CEBs aconteceu algo semelhante - muitas comunidades surgiram por iniciativa dos cristãos perdidos no imenso contexto das suas vidas, sem um prévio aval da paróquia. Só com o tempo puderam ser identificadas, reconhecidas, apoiadas (nem sempre). Nunca se separaram das instâncias eclesiais oficiais, mas poucas vezes foram aceitas na sua identidade original. Quase sempre se tentou transformar as CEBs em mini-paróquias, ou em grupos paroquiais agindo nas áreas menos atendidas pelas estruturas pastorais existentes, com a intenção de que elas ajudariam a encaminhar os batizados às suas respectivas paróquias.
2.     Os sujeitos iniciadores da “aventura” cristã,  foram os helenistas (não valorizados pela “sólida” tradição religiosa da comunidade hebraica de Jerusalém). Nenhum deles era escriba, rabino ou doutor da lei.
@ Os militantes das CEBs não costumam ser os lideres oficiais das paróquias. Esses já estão muito ocupados na manutenção das estruturas e serviços existentes, que lhes falta visão, tempo e disponibilidade para entender e desenvolver um novo modelo de base eclesial.
3.     Os pioneiros fundadores da Igreja antioquenha eram todos estrangeiros, evidentemente com pouco conhecimento da língua e costumes locais da Síria... Haviam sido educados no judaísmo. Ser cristão, para eles não havia significado um rompimento com a sua Fe fundamental no Deus dos antepassados. Jesus era a plenitude de tudo que haviam amado e vivido. Por isso, em grande parte era ainda portadores de um “judaísmo” que orientava a moral, a vida familiar, as esperanças messiânicas, etc  (como se deduzia do quadro de referência que revelavam, fundamentado basicamente nas Escrituras Sagradas e tradições hebraicas).
@ As Comunidades da base tiveram que contar com “estrangeiros”, da  vida ordinária das paróquias. Elas, às vezes surgiram entre os migrantes dos países do nosso imenso mundo de tradição latina.
4.     Os entusiastas propagadores daquela nova experiência religiosa, não tinham o prestígio de “títulos acadêmicos” – não haviam sido discípulos dos reconhecidos mestres do judaísmo. Não eram das elites ligadas ao Templo e às Sinagogas. Além de tudo, precisamente por razões religiosas haviam sido perseguidos e tiveram que deixar o seu próprio pais. Eram de certo modo “excomungados”.
@ As CEBs são, em geral, espaços onde se encontram os cristãos  menos importantes e menos intelectuais. Não dominam esquemas acadêmicos ou uma teologia sistemática. São pessoas profundamente tocadas pela experiência de Deus e com pouco experiência eclesial tradicional.
5.     Os próprios seguidores da Lei de Moisés e das tradições do Povo de Deus, entenderam logo, assim como também muitos judeus que viviam em Antioquia, que se tratava de gente que era mais bem seguidora de um tal Jesus, que segundo eles seria o Ungido (Cristo, em grego) de Deus. Por isso, passaram foram, pela primeira vez chamados de “cristãos”.
@ Nas CEBs, a primeira atração tem sido a do Jesus Histórico e a sua proposta do Reino. Alguns membros tiveram uma experiência pastoral mais significativa, mas a maioria do que participam de uma CEB, vivem no mundo da religiosidade popular, com suas ambigüidades e valores.
6.     Para os judeus era estranho e obviamente equivocado, pensar numa prática religiosa que não estava ligada ao Templo e à Sinagoga. Os recém chegados “cristãos”, mesmo respeitando as Escrituras, iam mais longe e até contradiziam o que tinha sido dito aos antigos[9]
@As CEBs não tem templo, nem capela... geralmente se reúnem em casas e em lugares pouco “sagrados”. Continuam freqüentando os templos e principalmente os líderes das CEBs, mantêm uma prática religiosa fiel à missa dominical (nas cidades). Nas áreas rurais, a chegada de um sacerdote à CEBs, é sempre um motivo de grande júbilo.
7.     Para os próprios judeus-cristãos de Jerusalém (Judaizantes), aquilo que acontecia em Antioquia era estranho e se perguntavam: - Que ligação tinham com os fieis da Igreja Mãe? Quem os havia aprovado? Quem lhes dava assessoria na prática da fé, si entre eles não havia nenhum rabino, Doutor da Lei, Sacerdote ou levita, diácono ou do conselho presbiterial de Jerusalém... A qual dos 12 estavam ligados?
@ O pessoal das CEBs não trabalha sempre na vida paroquial habitual como dar catecismo, ser ministro extraordinário de algo... Embora às vezes alguns possam pertencer ao coro ou ao conselho paroquial, para eles a missão é o que preenche suas vidas, o testemunho da Fe e da caridade num mundo violento e desumano,  é onde se estão jogando a vida.
8.     Em Antioquia, aceitaram na nova comunidade de salvação, aos pagãos, sem exigir-lhes  a pertença explícita ao Povo Escolhido por Deus pelo rito da circuncisão e a prática da dieta consagrada (Kosher).
@ É difícil identificar os membros das CEBs, pelas práticas paroquiais
9.     Na capital da Síria, os pagãos cristãos passaram a ser a maioria numérica da nova  comunidade de Jesus. Embora tendo a mesma fé dos de Jerusalém, eles privilegiavam exigências de pertença à comunidade e práticas missionárias  diversas .
@ Os pecadores e menos preparados, são a maioria das CEBs. Vivem as referências fundamentais da fé, mas nem sempre cumprem ainda todas as tradições mantidas pelos cristãos das paróquias e movimentos.
10.                         Sentindo necessidade de formação mais segura, em Antioquia apelaram para um rabino que fora aluno de Gamaliel (neto de Hilel). Pensaram que certamente o homem de Tarso garantiria a fidelidade às raízes hebraicas e ao mesmo tempo daria uma perspectiva aceitável do novo “Caminho”. E o convertido de Damasco, ao longo dos anos, nesse aspecto, foi mais conflitivo do que conciliador.
@ Há uma sede de formação constante nas CEBs. Seus membros encontram tempo e meios para participar de diferentes cursos de formação bíblica, pastoral, etc.
11.                         A nova comunidade de Antioquia criou uma equipe de coordenação colegiada, constituída completamente por estrangeiros: Barnabé de Chipre; Paulo de Tarso; Simão o Negro e Lucio de Cirene, claramente de raízes africanas; Manahén, colega de infância de Herodes, da Induméia.
@ As CEBs não se preocupam que no começo os seus coordenadores e animadores sejam nativos da área onde elas surgem... de fato, a maioria dos membros da comunidade são adventícios.
12.                         Antioquia começou  a tomar iniciativas que foram mais longe do que o atendimento pastoral local. Motivada pela pregação do profeta Agabo,  fez uma coleta, para ajudar aos pobres da Igreja de Jerusalém.
@ As CEBs têm um instinto evangélico muito aguçado para criar iniciativas em favor dos necessitados do seu  meio. Descobrem como fazer visitas aos doentes, prisioneiros, cuidam de crianças abandonadas, criam refeitórios populares para atender aos pobres das ruas, socorrem a mulheres oprimidas, idosos solitários... Fazem corajosas denúncias proféticas contra as injustiças e abusos de poder.
13.                         As grandes iniciativas missionárias aos gentios não foram tomadas a partir da Cidade Santa e do grupo claramente coordenado por alguém dos 12 (Pedro) e com a presença de outros tão importantes como João e Tiago, irmão do Senhor.
@ A CEB não cresce pela presença das pessoas que já estão em algum trabalho pastoral. Muito raro que elas tenham a presença de um presbítero ou diácono de modo constante e significativo.
14.                         Paulo e Barnabé, voltando da viagem missionária, comunicam a Antioquia as mudanças que introduziram na formação de novas comunidades locais dos seguidores de Jesus.
@ Tudo o que cada membro da CEB realiza ou é decidido em comunidade ou é logo a ela comunicado, pedindo seu apoio e aprovação.
15.                         A crise que já andava latente em Antioquia provocou uma reunião de esclarecimento e decisões em Jerusalém, com as colunas da Igreja: Pedro, João, Santiago.
@ Cedo ou tarde é necessário revelar à igreja mãe (paróquia) o que se esta fazendo nas bases. Algumas experiências necessitam discernimento e apoio do nível mais superior da paróquia.
16.                         A estratégia da equipe antioquenha foi falar da experiência e não só de teorias. O testemunho de Tito levado à reunião deJerusalém, significou uma simpatia especial pelo que se fazia a partir da comunidade que nascera na Síria.
@ O que sempre convence aos que não conhecem as CEBs é o testemunho e são as experiências dos membros, de suas atividades e iniciativas.
17.                         A decisão da reunião de Jerusalem (Atos 15,7-29) é de certo modo surpreendente: divide-se o mundo: Pedro e os da cidade Santa continuarão onde estavam, com os judeus; A nova comunidade irá assumir a maioria do mundo, os pagãos. Proclamou-se que a união entre ambas experiências cristãos, aconteceria  por intermédio da ajuda aos pobres  (Galatas 2,9-10).
@ Chega o momento em que a estrutura paroquial decide delegar as CEBs o imenso campo dos intocados e ela continuará cuidando das estruturas que devem permanecer
18.                         Mas o próprio Pedro, comprometeu o que se havia decido em Jerusalém, comportando-se com ambigüidades por ocasião da sua visita a Antioquia, permanecendo ao lado dos judeus conservadores. Barnabé também fez parte dessa duplicidade de comportamento. Paulo publicamente denunciou-os. A partir desse momento Paulo forma uma nova equipe missionária com Silas e Barnabé sai no rumo de Chipre, acompanhado por João Marcos (Gal 2,11-14).
 @ As CEBs conheceram e conhecem muitos que  “voltam atrás”. Escândalos de diversas infidelidades de alguns, têm sacudido as CEBs e colocado à prova a fidelidade e a perseverança dos demais.
19. De Antioquia saiu uma equipe de judaizantes que percorreu os mesmos caminhos de Paulo e Silas, para desautorizá-los, o que evidentemente provocou  a ira paulina e cartas contundentes aos Gálatas.
@ Tem havido condenações públicas e sistemáticas às CEBs. Sacerdotes que se dedicavam a acompanhá-las foram transferidos para outros setores da diocese... noutros lugares, as pessoas foram proibidas de reunir-se fora do recinto paroquial. Os pastores nem podiam acompanhá-las, nem permitiam que se reunissem.

PARA CONCLUIR
7 VACAS MAGRAS DISFARÇADAS DE GORDAS E SETE CORES DO ARCO-IRIS

Estamos dentro de uma considerável crise eclesial. Não a primeira e certamente não a última. Não daquelas crises episódicas como alergia de primavera, nem das endêmicas como da gripe suína. Talvez com alguma semelhança com a do “aquecimento global” que vai submergindo cidades, áreas em tantas áreas do mundo.
A Igreja não é um caso enfermo em um mundo 0K! Ao contrário, pode contaminar-se precisamente onde deveria ser fermento de vida em plenitude.
Há um mal-estar crescente, que vem do profundo da historia que fazemos. Aquele sonho do Faraó, Gen 41,2-6 pode servir de ilustração. Só que agora do Nilo que fertiliza e trazia vida, saem vacas doentes e magras, disfarçadas de robustas e promissoras. São 7 plagas segundo a classificação bíblica que amplia qualquer número matemático. Colocando a interpretação em termos eclesiásticos, pode-se interpretar que, 1ª)  A comunidade se dobra mais e mais sobre si mesma, sua organização e relações internas e a Igreja se faz ghetto – linguagem cabalística, cuidado minucioso dos ritos aprovados, historia da vida reduzida à historia da hierarquia, clientelismo, culto das próprias personalidades...
2ª) A Igreja se faz seita. Inspira-se mais num emirado árabe, no meio do deserto, gozando de abundância petrolífera, mas com os dias contados.
3ª) A graça de ser “católica”, se confunde com ocidentalismo europeu medieval. O que era ponto de partida,a prática religiosa interna, tornou-se meta de chegada.
 4ª) A interpretação da vontade do Deus transcendente e eterno ficou sendo prerrogativa das autoridades clericais ou personalidades carismáticas de turno. Os faraós do Egito e os Imperadores Romanos com promoção automática ao Olimpo na categoria divina como que servem de inspiração para uma Igreja que permite o culto de personalidades, quando elas só foram escolhidas por Jesus para serem nada mais que servidoras.
5ª) A missão acaba sendo confundida com o proselitismo. A característica de ser igreja missionária e missão comunitária, fica reduzida a eventos pirotécnicos, considerados, de tempos em tempos, no calendário pastoral
6ª)  A esperança dos diálogos vitais terminam sendo como pontes cujos lances de margens opostas  não chegarão a encontrar-se e assim permitir travessias.
7ª) A Igreja deixa de evangelizar a sociedade dominante porque deve agora ocupar-se de converter aos que foram batizados

II. ARCO IRIS (GEN. 9,14-17). “Ponho um arco-iris... sinal da minha aliança com toda a terra!”
A graça eficaz vem pela mediação do único salvador e sua comunidade. Tem cores diversas que formam o novo arco-iris.
1.  A graça dos últimos. Do pouco, dos pequenos, das minorias abraâmicas.
2.  A graça samaritana de uma comunidade desbordante de misericórdia ativa e efetiva, que se alinha ao lado das vítimas.
3.  A graça do encontro ecumênico e pluri-religioso que não é um evento, mas um processo, que nos converte, revigora e dá lucidez, perseverança e credibilidade ao projeto de Jesus na história.
4.  A graça da catolicidade, não do monopólio da tradição cristã romana, até os confins da terra, fermento transformador de um novo mundo possível, uma nova Igreja viável.
5.  A graça de libertar Jesus muitas vezes seqüestrado pela burocracia das instituições cristãs, apresentando um Jesus histórico que  não desaparece na magnificência do Cristo da fé.
6.  A graça da sensibilidade operativa para identificar, assumir,cultivar a presença seminal do Espírito na historia e não somente nas sacristias.
7.  A graça de rever e reverter a missão, para não ser entendida e exercida como Oasis de salvação num mundo corrompido pelos pecados, mas como acontecimento salvífico do Reino que nos inspira, transforma e desborda, até que Deus seja tudo em todos.

O Alberto Rosa, lá no sul da China, me dizia, em dezembro último:
- O Reino continua nos deslumbrando,  principalmente onde menos esperávamos encontrá-lo e nos lugares mais remotos, despontam os seus  seus vestígios.



[1]  Até o presente não se sabe por qual Dicastério.
[2] Os Sínodos episcopais convocados pelo Papa, funcionam como uma instância de assessoria ao Sumo Pontífice. Tudo o que é debatido pode ou não ser agregado  a um documento do Magistério  papal. A Assembleia Geral de um episcopado exerce pública e oficialmente o seu magistério. O gesto fraterno de comunhão com “Pedro,  primus inter pares” (primeiro entre iguais) criou a tradição de enviar-lhe o que foi votado, para o seu conhecimento e possíveis sugestões.   
[3] Assim comentava uma coordenadora de pastoral familiar da diocese de Foz do Iguaçu, Pr., Brasil, nos últimos dias do mês de maio de 2009. O triste é que essa frase não representa um fato isolado, nem uma opinião rara.

[4] Os seminaristas de teologia que visitamos em diferentes lugares do continente nos disseram que, “a partir de Medellín e por causa também das CEBs, se criou uma grande confusão e falta de espiritualidade dentro da Igreja, cujos estragos ainda permanecem”.
[5] A assembléia de Medellin lançou as cEBs a nível continental, como a primeira instancia, etc. 15,10
Puebla coloca como nível de base da estruturação eclesial, junto com a Paroquia e na mesma linha da sacramentalidade da Igreja Diocesana
Santo Domingo manifesta a campanha contra elas: saem de onde Puebla as havia colocada e são alinhadas junto com os movimentos
- Ecclesia in America retirou o que tinha sido votado pelos bispos no n.47 no qual se manifestava um apreço especial pelas CEBs. Como se tratava de um sínodo, essa exclusão não provocou maiores distúrbios eclesiástico. Não assim o que aconteceu com a 4ª. Redação da Aparecida, que foi votada pelos bispos, com maioria.
[6] E como movimento são até menos organizadas e menos atrativas, segundo o que se entende pela estrutura pastoral dominante, embora na verdade, elas manifestam uma extraordinária e efetiva organização, doutro gênero...
Na verdade,  a articulação das CEBs foi se estruturando no processo das CEBs e não segundo algo pré estabelecido teoricamente... foi a vida e as necessidades que geraram estruturas das CEBs para manter a sua continuidade, madures e eficácia da sua ação própria, na instancia que lhe corresponde (de base)

[7]  A expressão comunitária da Igreja é parte da Revelação do Novo Testamento (cf. Atos 2,42; 4,36 etc)
[8] Atos dos Apóstolos 11, 19-30;  13,1-3;  14,2628;  15, 1-4.30-40;  18, 22-23.
[9]  - “Foi dito aos antigos, Eu porém vos digo...” (como varias vezes Jesus havia proclamado)

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