Dia 8 de Agosto 09.
Ef 4,30 e 5,2
Mt 5,1-12
PESSOAS COMUNS
A ENERGIA POUCO EXPLORADA
ANDAMOS DECEPCIONADOS
Ha uma crescente frustração nacional: - Os traficantes de droga tornam mais poderosos que o Estado; a violência invade todos os espaços da vida; os senadores da República, durante mais de duas semanas, deram um espetáculo degradante para 90 milhões de telespectadores. Não parecem capazes de enfrentar e sanar uma crise de alegada corrupção, entre eles mesmos. Não faz muito tempo, os congressistas decidiram com uma rapidez inusitada aumentar generosamente seus próprios salários. A população se pergunta se tais pessoas serão capazes de dar leis éticas ao pais? E se voltarão a ser re-eleitos nas próximas eleições?
O espaço religioso vai sendo ocupado pela procura de saúde e sucesso para todas as instâncias da vida. Ou Deus se dedica a multiplicar milagres ou se lhe cobra amargamente:– Fui sempre pessoa de Igreja e os meus pedidos dão em nada. Estou perdido! - Onde estava Deus, quando o meu filho morreu naquele acidente? E os meus santos protetores falharam em ajudar-me, quando roubaram a nossa casa!
ESSA INCAPACIDADE DE VER E DISCERNIR OS CAMINHOS DE DEUS, NÃO É NOVA...
- Meus filhos e filhas, o certo é que nunca os deixei só. Enviei-lhes mensageiros meus. Mas você não os reconheceram, não correspondiam aos seus esquemas a respeito da ação divina protetora. Além disso, entre vocês mesmos não conseguem entender-se.
- Você Carlos, se lembra daquele porteiro trapalhão que aprontava confusão em cima de confusão na vida do edifício? E Noemi, que dizer da vizinha que falava sem parar, sem nunca escutar a quem tentava conversar com ela? E então Eduardo, como foi a história daquele jovem que sempre propunha o contrario do que você havia sugerido na assembleia dos moradores?
- Ninguém até agora resolveu qualquer desses problemas. Vão ter que conviver com eles, não é?
Sabe que já isso tinha acontecido desde o começo que procurei formar uma comunidade responsável e unida, era uma decepção:
- Se mencionava a possibilidade de que em Jerusalém iam me maltratar e possivelmente eliminar... Pedro me chamava a parte para admoestar-me: - Se você fica falando disso, quem vai querer segui-lo?
- O Tome, desafiou todos os companheiros de equipe, dizendo que não acreditava na minha Ressurreição e que “só queria ver, por ele mesmo, si o que estavam dizendo era verdade...”. Iria ter que tocar com suas mãos as chagas no corpo de um ressuscitado!
- a Maria Madalena, naquela manhã, só viu um jardineiro; Cleofás não me distinguiu de um viajante comum, no caminho de Emaús; lá no poço de Jacó, em plena canícula do meio dia, a mulher da Samaria foi me descartando como um judeu que se atrevia a dirigir-lhe a palavra e a pedir água.
Nunca deixei de ser o filho da dona Maria e do carpinteiro José. Não estudei no instituto Bíblico de Jerusalém, nem como aluno de Gamaliel. Em mim, o que viam era um homem comum e corrente. Todos sabem que os meus parentes foram até Cafarnaún para retirar-me de circulação, porque já estava sendo o vexame da família...
Mas a mensagem bíblica de hoje é outro “papo”. Em mim Deus dá à humanidade uma “energia” única e original que permite ver o que não se está vendo, entender o que se está escutando, chegar onde não se está chegando.
Eu sou o caminho, a verdade e a vida, sou “pão, luz, vida”. Tudo já havia sido prefigurado desde os tempos do profeta Elias (1Rs 19, 4-8); - “Levanta-te! Ainda tens um caminho longo a percorrer”.
Essa lucides e disponibilidade se denomina “mística”, ou seja espiritualidade, que não é só um dom para o indivíduo, mas para algo para o bem da humanidade, é fermento (semente) de um mundo diferente, como Deus sempre quis e que a missão de Jesus inaugura, e sobre o que sua comunidade manifesta como primeiro fruto e ao mesmo tempo ajuda para que venha acontecer.
A espiritualidade não é quantidade de orações, nem as práticas cultuais (novenas, velas , mandar celebrar missas...). Significa segundo Paulo, (Efésios 4,30 e 5,2), que se faça “ Desaparecer todo amargor, toda ira e toda espécie de maldade...Pelo contrario sejam bons e compreensivos uns com outros, animando-se e perdoando-se mutuamente, como o mesmo Deus nos perdoou. Vivei no amor”, quer dizer: respeito mútuo, integridade, dignidade individual e coletiva, justiça, misericórdia, construindo a paz.
É receber ao Deus que se manifesta em realidades e pessoas comuns: na professora que nos alfabetizou, na enfermeira e farmacêutico que ajudaram a restaurar nossa saúde, no empregado do supermercado que nos atendeu com solicitude, naquele guarda que nos recordou a obrigação de colocar o cinto de segurança, sem nos dar uma multa... Os que nos lembraram para não fumar em lugar algum; para receber a vacina que permite atravessar incólumes a gripe suína; e nos incentivaram participar das campanhas ecológicas para salvar a água e proteger o meio ambiente.
Séculos afora, ressoam mensagens do Deus que nos recorda. Hoje trago a de um Indu de 42 anos, que viveu de 1607-1649”:
“Meu Deus, onde quer que eu vou, vais comigo; es meu companheiro.
Levas-me e segurando-me pelas mãos me orientas.
Neste caminho, es o meu único apoio. Estás ao meu lado. Ajudas-me com a minha carga.
Se me extravio, acertas novamente o meu rumo. Quebras todas as minhas resistências, me empurras para frente.
Todas as criaturas, todos os seres tornam-se meus irmãos e irmãs.
DESCALÇANDO SETE SAPATOS (do sábio José de Souza Saramago)
- A convicção de que os culpados são sempre os outros
- A ideia de que o sucesso não depende do trabalho mas da sorte.
- A certeza de que quem critica é inimigo ou invejoso
- Pensar que cambiando palavras se muda a realidade
- A vergonha de ser pobre e o culto das aparências
- A passividade diante das injustiças
- A ideia de que para ser moderno se deve imitar ao que a maioria faz ou diz.
E DO PROPRIO JESUS, AS BEM-AVENTURANÇAS como as entendemos:
- Bem-aventurados os mais frágeis de nossa família humana, condenados involuntariamente à privação do essencial para viver e ser gente digna de respeito. E os que estão do lado deles para ajuda-los e que têm espírito de pobreza, que não se deixam contaminar pelo consumismo dominante, Mas que sabem compartilhar e ser solidários.
- Bem-aventurados os que não semeiam ódios, nem desconfianças entre pessoas e povos; os que sabem preocupar-se pela dor alheia, e não se desesperam quando lhes toca alguma desgraça porque receberão consolo e colocarão no mundo mananciais de misericórdia.
- Bem-aventurados os pacientes e perseverantes, porque transformarão a sociedade e tornarão possível uma nova terra.
- Bem-aventurados os que tem dentro de si fome e sede de justiça, que se transforma em denuncias, propostas e modo de viver, porque farão possível que se possa crer nas instituições e pessoas.
- Bem-aventurados os compassivos, porque multiplicarão no mundo a bondade, o mutuo entendimento e o amor.
- Bem-aventurados os puros de coração, sadios de mente e alegres de espírito, porque revelarão como é o coração de Deus.
- Bem-aventurados os que trabalham pela paz, porque serão reconhecidos como filhos e filhas de Deus e sentirão o brilho de felicidade e confiança nos olhares humanos.
- Bem-aventurados quando perseguidos por causa do bem, da justiça, da verdade, por defender aos mais fracos...Estão fazendo acontecer o Reino de Deus.
- Bem-aventurados quando por causa da nossa fé, para ser fiel ao seguimento do Filho de Deus, vos ridicularizarem, perseguirem e deixarem de lado. Assim são tratados os enviados de Deus e o mesmo Jesus que os enviou. O Onipotente e Bom Senhor, vos reconhecerá agora e no dia do juízo.
Mas, ai dos que ignoram o sofrimento alheio; sofrerão luto e lágrimas com a indiferença daqueles que hoje vos aplaudem.
Ai dos que têm tudo e nunca compartem o que têm, nem se comovem diante dos que não conheceram tantos privilégios sociais, econômicos, políticos.
Ai dos arrogantes e prepotentes, que aceitam bajulação e hipocrisias...herdarão o ridículo e o desprezo de quem se recordar de vocês. Provareis amargura e solidão quando chegar o momento de colher amizades que não plantaram.
Ai dos que querem fazer guerra a Deus.
Pai, perdoai-nos assim como estamos decididos a perdoar.
Não nos deixeis cair na tentação
Livrai-nos do mal.
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