terça-feira, 5 de março de 2013

A Sinodalidade


A SINODALIDADE É UM CAPÍTULO DECISIVO NA ECLESIOLOGIA.

A restauração da forma sinodal da missão da Igreja não deveria se reduzir a uma banal democratização das decisões a serem tomadas pela maioria.  Ela requer, a atribuição de formas adequadas de autoridade aos fiéis, em harmonia com o ministério ordenado dos pastores da Igreja. Sua tarefa é a de garantir a autenticidade da fé e a unidade da Igreja.

No rito latino da Igreja os fiéis leigos, e também os diáconos e os padres, no, não têm nenhuma disposição canônica que lhes permita dar um voto deliberativo sobre as questões eclesiásticas.

 Em outras fases da história, ao invés, muitas decisões importantes, a partir da eleição dos bispos, eram tomadas pela comunidade. Ainda hoje, o ordenamento canônico oriental estabelece a convocação anual de um sínodo patriarcal para a eleição dos bispos e para "emanar leis para toda a comunidade patriarcal" (cânones 106 § 2; 110 §1). E a cada cinco anos,  reúne-se a assembleia patriarcal de bispos, dos superiores religiosos, dos representantes dos padres e dos leigos, das universidades, das faculdades teológicas e dos seminários (cânones 140 e 143) para tratar das coisas da Igreja.

       O Vaticano II estabeleceu que o primeiro e fundamental sujeito responsável pela missão é o conjunto de todos os fiéis. O povo de Deus, "populus messianicus…instrumentum redemptionis", é o sujeito responsável pela missão  (LG 8). Em outras palavras, todos os fiéis, pelo carisma  que lhes foi infundido no batismo e na confirmação, são os sujeitos da comunicação da fé, da qual depende a vida da Igreja.
       Cada cristão, seja ele quem for, é sujeito original da evangelização e a ela deverá estar orientado durante toda sua vida. Para isso, não precisa de nenhum outro sacramento além do batismo, nem de alguma delegação por parte da hierarquia. O Código traduz esse dado no cânon 781, atribuindo ao povo de Deus, como seu dever fundamental, a opus evangelizationis.
       Portanto, a comunicação da fé, ato decisivo da missão eclesial, é competência própria de cada fiel.

       # Por que então, uma CEB, em coisas de menor importância, por exemplo na escolha dos instrumentos e dos modos mais oportunos para evangelizar os que encontra na sua realidade, particularmente urbana?

       Os membros do Povo de Deus expressam a fé e exercem o seu sacerdócio comum (empenho numa profissão, responsabilidades cidadanas, sociais e políticas, serviços diversos às causas da justiça, da verdade, da paz...) segundo a vocação à qual se sentem chamados: matrimônio, vida consagrada ou ministério ordenado.

       Todos esses aspectos da vida cristã não podem ser considerados como uma realidade profana, desprovida de um caráter eclesial, útil apenas para o fiel para ganhar méritos para a vida eterna: são de fato o exercício do sacerdócio comum. Na vida cotidiana comum, na qual família, profissão, responsabilidades sociais ocupam os dias dos crentes, os fiéis realizam o mandamento do Apóstolo oferecendo seus corpos, sua vida, como culto espiritual e dando o testemunho de Cristo nas suas relações interpessoais e sociais.
       Bento XVI, em um discurso de 16 de maio de 2011, afirmou que os fiéis não devem ser "apenas executores passivos" do que é ditado pelo magistério, mas sim "protagonistas no momento vital da sua implementação". O papa, depois, estende esse pensamento até dizer que, com relação ao magistério, eles devem ser "também colaboradores preciosos dos pastores na sua formulação". Eles o serão "graças à experiência adquirida e de acordo com suas competências específicas".
       A sinodalidade, portanto, deveria acontecer na valorização das experiência e das competências. O carisma dos esposos e dos pais, se fundamenta em um sacramento particular. O seu sensus fidei em interpretar o evangelho da vocação à vida familiar é indispensável para o conjunto da vida da Igreja e não pode ser reduzido apenas à virtude de escutar ao magistério. O mesmo se diga para qualquer âmbito em que os fieis tenham experiência e competências que os pastores da Igreja não tem.

José Marins (Fundamentado na entrevista de Severino Dianich, Unisinos, março 2013)

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