quinta-feira, 7 de março de 2013

Dr.Brenda C., - Improvável um Papa...


  •  — Doutora em Sociologia da Religião, pesquisadora da Universidade da Califórnia e professora da PUC de Campinas, a guatemalteca Brenda Carranza considera improvável a eleição de um Papa progressista e não vê disposição da Igreja para recuperar os fiéis perdidos nas últimas décadas.
O GLOBO: Estamos às vésperas de um conclave e muito se fala sobre a possibilidade de um Papa progressista. Na sua opinião, esta ala do catolicismo teria força para eleger o sucessor de Bento XVI?
Brenda Carranza: Parece improvável. Quando pensamos na ala progressista da Igreja, nos referimos a ideias fortemente críticas à Cúria Romana, cujos pensadores foram até silenciados. Se levarmos em conta que tanto João Paulo II quanto Bento XVI nomearam o Colégio Cardinalício, de onde virá o novo Papa, certamente o eleito para o cargo estará alinhado com as mesmas diretrizes das últimas décadas. O que pode acontecer é que tenhamos um Pontífice mais moderado.
Somente no Brasil, entre 2000 e 2010, o catolicismo perdeu 465 fiéis por dia, segundo o IBGE. A mesma debandada ocorre em outros países. Estancar esta ferida só seria possível com um posicionamento mais liberal?
Brenda Carranza: A academia tem pensado isso, quando aborda a dobradinha carismáticos versus Teologia da Libertação. As duas são desdobramentos do Concílio Vaticano II, que foi a maior renovação da Igreja, quando ela se tornou mais aberta ao diálogo, no fim dos anos 60. Acusava-se a Teologia da Libertação de ser responsável pela perda de fiéis da Igreja, por usar o Evangelho para enfatizar questões políticas e reivindicações sociais. Isso teria provocado a perda de espiritualidade e, consequentemente, a fuga do rebanho. Da emergência da Renovação Carismática Católica, por outro lado, esperava-se um reavivamento espiritual, que atraísse quem trocou os afastados do catolicismo por outras religiões, principalmente as pentecostais. Mas nem um movimento, com sua opção pelos pobres, nem o outro, com a fé no Espírito Santo, impediu a redução de 20% dos católicos nos últimos 20 anos. Então, é um problema muito mais profundo, relacionado à própria posição ocupada pela Igreja no mundo e ao diálogo com as novas gerações, que não estão adotando a fé de seus pais.
Os jovens, então, vivem a expectativa de uma mudança na abordagem da Igreja?
Brenda Carranza: Sim, ao menos entre os engajados na ala progressista, que pedem para a Igreja discutir as mudanças culturais das últimas décadas, como a flexibilidade moral na esfera sexual. Os jovens pagãos também pedem um outro posicionamento. São aqueles que criticam o Vaticano por pensarem que ele é rico e não divide seus bens com os pobres e que condenam a religião por se meter em assuntos como o uso de anticoncepcionais ou por sua falta de moralidade. Neste caso, o prato cheio são os escândalos de pedofilia e a condução desses casos. Já os jovens alinhados a movimentos carismáticos querem uma Igreja preocupada com a liturgia e rigorosa com a moralidade sexual cristã.
E a Santa Sé estaria decidida a dar um passo concreto agora para atender a essas demandas?
Brenda Carranza: Não acho que os cardeais acreditem que, flexibilizando as normas e a doutrina, seja revertida a perda de fiéis na América Latina. O próprio Bento XVI mencionou ser melhor uma minoria de cristãos convictos do que massas de fiéis sem compromisso profundo com sua fé.
Se não agora, quanto tempo seria necessário esperar?
Brenda Carranza: O tempo institucional da Igreja Católica é muito elástico, se comparado à urgência apresentada pelo presente. É uma espera que não tem prazo. Basta lembrar que só há pouco tempo a Igreja reconheceu que foi um erro histórico condenar Galileu Galilei por ter dito que a Terra gira ao redor do Sol, e não o contrário.

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