- — Doutora em Sociologia da Religião, pesquisadora da
Universidade da Califórnia e professora da PUC de Campinas, a guatemalteca
Brenda Carranza considera improvável a eleição de um Papa progressista e não vê
disposição da Igreja para recuperar os fiéis perdidos nas últimas décadas.
O
GLOBO: Estamos às vésperas de um conclave e muito se fala sobre a possibilidade
de um Papa progressista. Na sua opinião, esta ala do catolicismo teria força
para eleger o sucessor de Bento XVI?
Brenda Carranza:
Parece improvável. Quando pensamos na ala progressista da Igreja, nos referimos
a ideias fortemente críticas à Cúria Romana, cujos pensadores foram até
silenciados. Se levarmos em conta que tanto João Paulo II quanto Bento XVI
nomearam o Colégio Cardinalício, de onde virá o novo Papa, certamente o eleito
para o cargo estará alinhado com as mesmas diretrizes das últimas décadas. O que
pode acontecer é que tenhamos um Pontífice mais
moderado.
Somente no Brasil, entre 2000 e 2010, o catolicismo perdeu
465 fiéis por dia, segundo o IBGE. A mesma debandada ocorre em outros países.
Estancar esta ferida só seria possível com um posicionamento mais
liberal?
Brenda Carranza: A
academia tem pensado isso, quando aborda a dobradinha carismáticos versus
Teologia da Libertação. As duas são desdobramentos do Concílio Vaticano II, que
foi a maior renovação da Igreja, quando ela se tornou mais aberta ao diálogo, no
fim dos anos 60. Acusava-se a Teologia da Libertação de ser responsável pela
perda de fiéis da Igreja, por usar o Evangelho para enfatizar questões políticas
e reivindicações sociais. Isso teria provocado a perda de espiritualidade e,
consequentemente, a fuga do rebanho. Da emergência da Renovação Carismática
Católica, por outro lado, esperava-se um reavivamento espiritual, que atraísse
quem trocou os afastados do catolicismo por outras religiões, principalmente as
pentecostais. Mas nem um movimento, com sua opção pelos pobres, nem o outro, com
a fé no Espírito Santo, impediu a redução de 20% dos católicos nos últimos 20
anos. Então, é um problema muito mais profundo, relacionado à própria posição
ocupada pela Igreja no mundo e ao diálogo com as novas gerações, que não estão
adotando a fé de seus pais.
Os
jovens, então, vivem a expectativa de uma mudança na abordagem da
Igreja?
Brenda Carranza: Sim,
ao menos entre os engajados na ala progressista, que pedem para a Igreja
discutir as mudanças culturais das últimas décadas, como a flexibilidade moral
na esfera sexual. Os jovens pagãos também pedem um outro posicionamento. São
aqueles que criticam o Vaticano por pensarem que ele é rico e não divide seus
bens com os pobres e que condenam a religião por se meter em assuntos como o uso
de anticoncepcionais ou por sua falta de moralidade. Neste caso, o prato cheio
são os escândalos de pedofilia e a condução desses casos. Já os jovens alinhados
a movimentos carismáticos querem uma Igreja preocupada com a liturgia e rigorosa
com a moralidade sexual cristã.
E a
Santa Sé estaria decidida a dar um passo concreto agora para atender a essas
demandas?
Brenda Carranza: Não
acho que os cardeais acreditem que, flexibilizando as normas e a doutrina, seja
revertida a perda de fiéis na América Latina. O próprio Bento XVI mencionou ser
melhor uma minoria de cristãos convictos do que massas de fiéis sem compromisso
profundo com sua fé.
Se
não agora, quanto tempo seria necessário esperar?
Brenda Carranza: O
tempo institucional da Igreja Católica é muito elástico, se comparado à urgência
apresentada pelo presente. É uma espera que não tem prazo. Basta lembrar que só
há pouco tempo a Igreja reconheceu que foi um erro histórico condenar Galileu
Galilei por ter dito que a Terra gira ao redor do Sol, e não o
contrário.
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