De Antonio Cecchin, irmão Marista (gaucho)
Maria Madalena. Apesar de discípula fervorosa de Jesus que havia sido em vida do Mestre, no dia da Páscoa da Ressurreição do Homem de Nazaré, num primeiro momento não o reconheceu. Tomou-o pelo jardineiro do horto em que o corpo havia sido sepultado. Então Jesus disse: Maria!... Pela voz, ela o reconheceu. Estava com uma saudade imensa de Jesus. Acompanhara-o o tempo todo no caminho do Calvário nos sofrimentos da paixão e morte. Agora, Ele ali, diante dela, ressuscitado e chamando-a pelo nome. De imediato, fez menção de ir para o abraço com as palavras “Bom Mestre!” Jesus a impede, dizendo: “Não me toque! Ainda não subi para junto do Pai!”
Não deixa de ser intrigante o comportamento de Jesus. Para o grande amor e a fé ardente que a mulher Maria Madalena lhe vota, um “não me toque, porque ainda não fui para junto do Pai!”. Uma semana depois do acontecido com Madalena, diante da incredulidade do discípulo Tomé (João, 20,24-29), o mesmo Jesus dá ordem para que este discípulo descrente o toque nas chagas das mãos e do lado aberto pela lança, com as palavras: “Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram.”
O escritor e filósofo lacaniano Jean-Luc Nancy, no livro “Noli me tangere” (Não me toque), aproveita os dois fatos para fazer a distinção entre crença e fé. Desenvolve uma ligação essencial entre a cena do sepulcro, a arte e a literatura moderna. É a especulação surpreendente e provocativa que atravessa o livro do começo ao fim. É uma obra ao mesmo tempo literária e filosófica.
A crença é uma busca de segurança. O crente precisa de segurança para acreditar e acredita para ter segurança, como no caso de são Tomé. É ver (e tocar) para crer. Na fé, não. Não há nenhuma segurança. É uma aposta no vazio. A fé faz ver no banal o que os olhos banais não podem ver. Maria Madalena reconhecendo o Cristo na pessoa de um jardineiro, por exemplo. Não tocar, neste caso, é condição para atingir o intocável e ver o invisível. Tocar seria permanecer na ilusão do presente e das aparências. “A crença espera o espetacular e o inventa conforme a necessidade. A fé consiste em ver e em ouvir onde nada é excepcional aos olhos e aos ouvidos comuns”, escreve Nancy.
A fé de Maria Madalena é fidelidade ao vazio, à ausência (como no amor). Quanto mais as pessoas tentam possuir o que amam, mais o amor lhes escapa. O amor é intangível. É o que se faz sentir pela distância e pela indisponibilidade. O que aparece para Maria Madalena e que ela não pode tocar é a presença da ausência. O ressuscitado só existe pelo desaparecimento. Ao desaparecer, o morto passa a existir para sempre, e é isso o que ela vê diante do sepulcro. A aparição do ressuscitado é, na verdade, a aparição da ausência.
Importantíssimas essas observações de Jean-Luc Nancy para, diante de programas religiosos na TV, sabermos distinguir o que é simples crença e o que é fé. O que é evangelização legítima e o que é mero show de fé e que, no fundo, nada tem a ver com fé.
A mulher Maria, originária da cidade de Mágdala, a Maria Madalena dos Evangelhos, é a primeira pessoa que pratica um ato de fé, a mais autêntica, na Ressurreição do Homem-Deus Jesus de Nazaré, no instante mesmo em que aconteceu. Trata-se de uma mulher.
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segunda-feira, 16 de abril de 2012
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Epifania missionaria
Epifania. 2012
1. A arrancada missionaria começa com uma iniciativa do Espírito, que chama para fora da nossa acomodação – Os magos foram atraídos por uma estrela que convida a segui-la. Implicava manter bem o olhar para cima, para não se desviar da meta. Ao mesmo tempo, não deixar de ver onde colocar os pés, para não cair e despencar pelas ribanceiras.
2. Foram encontrar-se com algo importante, uma comunidade mínima, mas significativa: criança, homem, mulher, vindos do norte, estavam de passagem. Gente judia, quer dizer, de outra cultura. Não eram magos. E eram de outra religião.
3. Mesmo que não fosse evidente o que iam encontrar, no fim descobririam que era um encontro especial com Deus, desde uma insignificância humana, num dos últimos lugares a terra (povoado, gruta)
4. Não foram de mãos vazias. Nem a família de Jesus, nem ele próprio, tinha presente algum para os visitantes. Então o presente eram eles mesmos. E os magos, como todos os que a missão nos faz buscar, são um presente para nós. Mais recebemos do que damos.
5. A interceptação de Herodes é típica. Fica sempre um alerta sobre os que se propõem ser aliados... Já o Jesus adulto conhecerá isso, desde o momento em que entrou deserto afora, depois do batismo e o “demônio” lhe prometeu reinos e poder... desde que...
6. Encontraram o futuro “rei” entre os pobres, sendo ele mesmo um pobre, numa periferia. Tiveram, que pelo menos por algum tempo, fazer parte do mundo dos pobres
7. Voltaram por outro caminho
As dimensões missionarias são claras:
1. Saida do próprio mundo;
2. Encontro com o diferente (pluralismo)
3. Experiencia de Deus, no lugar do pobre
4. Levam presentes, são um presente também eles os magos.
5. Herodes aliado ou inimigo? Os assessores deste rei sabem quem deve ser o menino que nasceu e onde deverá estar, mas não se decidem a ir “adorá-lo”... os pastores, sim.
6. Não tiraram o pobre do seu lugar, ficaram com ele
7. Voltaram por caminhos novos.
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