terça-feira, 7 de agosto de 2012
de Paulo Suess, sobre Tomas Balduino e mais
LAS CASAS REDIVIVO
Paulo Suess
http://paulosuess.blogspot.com
Dom Tomas Balduíno é uma memória viva da pastoral indigenista da Igreja Católica. Ele enriqueceu essa pastoral com a herança dominicana, viva em pessoas como Las Casas, António e Montesinos e Chenu. Chenu contribuiu para a fundamentação teológica do Vaticano II nas múltiplas dimensões da realidade. O jus-naturalismo, que desde a Conquista contribuiu para a defesa dos povos indígenas, também ajudou no Concílio assumir a alteridade, sobretudo a religiosa, como um direito natural e não como expressão de tolerância. A nova pastoral indigenista pós-conciliar foi forjada na resistência à ditadura militar, à falácia do progresso e às promessas da integração sistêmica. Essa resistência perpassa uma mancha de sangue de testemunhas qualificados na grande tribulação – precursores da páscoa definitiva.
Memória
Os vestígios dos oprimidos perdem-se facilmente na poeira dos séculos, como a sepultura dos profetas. Conquistadores e vencedores não se apropriam somente das riquezas materiais e espirituais dos vencidos. São também destruidores da memória dos conquistados e profanadores dos sepulcros dos sábios que os contestaram. Enquanto Francisco Pizarro (1476-1541), sanguinário conquistador nas Américas, ganhou uma sepultura bem cuidada na catedral de Lima, os restos mortais do bispo de Chiapas e defensor dos índios, Bartolomé de las Casas (1474-1566), simplesmente se perderam. Astecas e Incas, segundo Las Casas, eram como os antigos romanos e gregos, sujeitos racionais da lei natural, abertos ao Evangelho por persuasão e não por banditismo. Francisco de Vitória, dominicano como Las Casas, em sua Relectio de Indis (1539), lhe deu apoio jurídico desde sua cátedra de Salamanca.
No convento dominicano "Nuestra Sra. de Atocha", em Madrid, onde Las Casas, no dia 18 de julho de 1566, morreu, ninguém lembra onde ele está enterrado. No muro da paróquia, uma placa do Ayuntamiento de Madrid, de 1990, lembra: "Aqui murió y fue enterrado en 1566 FRAY BARTOLOMÉ DE LAS CASAS, llamado APOSTOL DE LAS INDIAS".
Há uma tradição que os restos mortais de Las Casas teriam sido transladados a Valladolid e enterrados na sacristia do Colégio San Gregório. Ao retornar definitivamente da América, o defensor dos índios viveu mais de sete anos nesse Colégio na vizinhança direta do Conselho de Indias. Hoje, San Gregório é Museu Nacional de Escultura. A diretoria do museu informa que, depois de ter encontrado duas ossadas do século XIX, as escavações foram suspensas. Ao que parece, nem aos dominicanos de Atocha, nem ao governo de Madrid, nem aos administradores de San Gregório interessa muito encontrar os restos mortais do apóstolo das Américas. "Também os mortos não estarão seguros diante do inimigo, se ele for vitorioso. E esse inimigo não tem cessado de vencer", lembra, com acerto, Walter Benjamin em sua sexta tese “Sobre o conceito de história”. Afinal, Las Casas não era só "defensor de índios". A Espanha o considera também fonte da "leyenda negra" que está ferindo seu orgulho nacional até hoje.
As fontes históricas permitem a aproximação à origem do "tempo perdido" e descortinar, na memória ferida, horizontes de esperança. Esperança, enquanto cicatrização das feridas abertas, só é possível através de um trabalho de anamnese, metanóia, penitência e solidariedade. A solidariedade de quem está em paz com seu passado não tem fronteiras. Dom Tomás Beduíno, com seus 90 anos de idade, é uma dessas fontes históricas que curam a memória ferida e alimentam a esperança dos navegantes pela autenticidade provada na fornalha da longevidade.
Herança
Tomás Balduíno é dominicano como Bartolomé de las Casas, Francisco de Vitória e António de Montesinos. Com faro político-pastoral se tornaram defensores intransigentes dos povos indígenas. Mas nem todos os dominicanos são como Las Casas, Vitória e Montesinos. Também inquisidores receberam a sua formação na Ordem dos Pregadores (OP). A pregação do Evangelho pode cegar e iluminar. A ordem religiosa é uma família que, apesar das intervenções virtuais periódicas do fundador (exigidas ou admitidas) e das fontes estudadas no noviciado e relidas, mais tarde, nos retiros espirituais, não garante nada, mas facilita muito.
Como na hora da Conquista, também na segunda metade do século XX, a família dominicana foi uma voz profética e inovadora da ação pastoral da Igreja Católica. Nessa fonte, Tomás Balduíno bebeu durante seus estudos na França, onde respirava uma nova teologia, a chamada Nouvelle théologie, decisiva para seu itinerário eclesial posterior. Essa nova teologia tinha fundamentos sólidos no passado, em Tomás de Aquino, xará de nome e confrade dominicano de Tomás Balduíno. A proximidade na defesa dos povos indígenas entre Las Casas e Tomás Balduíno tem uma raiz comum na teologia da Ordem dos Dominicanos.
O primeiro período da teologia medieval foi a Patrística, que em Santo Agostinho (354-430), com base na filosofia de Platão, teve seu maior expoente. O representante gigante do segundo período, da Escolástica,foi Tomás de Aquino (1225-1274). Como professor em Paris e através dos Árabes, começa a conhecer e introduzir em sua reflexão Aristóteles, até então proibido na cristandade. Com grande simplificação pode-se dizer que Platão é o filósofo das ideias eternas de quem Agostinho se serviu para a construção de sua teologia, predominantemente, dedutiva. Aristóteles é o filósofo do chão concreto da realidade, da ciência e da ética prática. Tomás de Aquino se serviu de Aristóteles para uma teologia de cunho indutivo, articulada com a realidade concreta e palpável. Essa é a teologia que o Vaticano II assumiu, com seus pilares na história, sociedade e realidade político-econômica.
Na conquista das Américas, essas duas correntes marcaram referenciais teológicos opostos que influenciaram diretamente no tratamento dos povos indígenas. Uns se apoiavam, em sua reflexão, no substrato agostiniano da “teologia das sentenças” do século XII, com sua visão teocrática do poder papal e seu olhar pessimista sobre a natureza humana; outros se serviram da posição jus-naturalista elaborada por Tomás de Aquino no século XIII.
Ao mencionar os componentes da Junta de Burgos que, em 1512, elaborou uma legislação indigenista desfavorável aos povos indígenas, Las Casas menciona “o erro de Hostiensis” contido nessa legislação. O Hostiensis de Las Casas é Henrique de Susa (+1270), decretalista de Paris que defendeu a tese de que “pela vinda de Cristo ao mundo, ipso jure ou ipso facto, foram todos os infiéis privados de seus senhorios, jurisdições, dignidades, honras, reinos e estados”. Para refutar a tese de Hostiensis, Las Casas escreveu seu tratado “Sobre a única maneira de chamar todos os pagãos à verdadeira religião”.
Na “teologia das sentenças” de Pedro Lombardo, por exemplo, havia certa confusão entre a ordem natural e a sobrenatural. Seguindo a tradição de Santo Agostinho (354-430) nas lutas contra o pelagianismo, que negava o pecado original e a necessidade do batismo das crianças, os sentencialistas atribuem ao pecado original uma influência que quase destrói a natureza humana. Daí provêm as exigências de um contrapeso na graça e no sobrenatural. A minimização do natural inspirou as interpretações teocráticas do poder pontifício, desde os tempos de Gregório VII (1073-1085).
Já no século XIII, nas universidades de Paris, Bolonha, Oxford e Salamanca, nasce algo novo. Agora, por influência dos Árabes, Aristóteles é traduzido, e sua leitura ajuda a teologia a reconhecer os limites dos seus próprios campos. Tomás de Aquino faz, livremente inspirado por Aristóteles, avançar a reflexão teológica, quando começa a distinguir entre o natural e o sobrenatural, entre razão e fé. Como o natural não dispensa a graça (o sobrenatural), também a graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa. O direito divino, que tem a sua origem na graça, não suspende o direito humano, que é de ordem natural. Na teologia agostiniana, que era a teologia hegemônica da Idade Média e na Conquista, a natureza pagã era uma natureza destruída pelo pecado original, e, portanto, sem possibilidade de salvação, a não ser, pelo batismo. Na teologia dos dominicanos, explicitado por Las Casas em seu Tratado de “Único modo”, a natureza dos povos indígenas não foi destruída pelo pecado original. Há uma continuidade entre a ordem de criação e de salvação.
Tomás Balduíno nunca explicitou esse fundo teológico de sua herança que mais tarde daria a base de sustentação antropológica e teológica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Talvez por causa dos seus interlocutores, que eram índios, lavradores e movimentos sociais, ele se destacou mais por suas análises políticas que por reflexões teológicas. Mesmo nas Assembleias da CNBB, na época ainda realizadas em Itaicí, quando pediu a palavra, se ouviu um staccato político-pastoral certeiro e não o legato de uma fuga bachiana. Noite adentro, quando seus colegas jogavam pôquer ou tomavam uma cervejinha, Tomás, em off, era um articulador incansável e estrategista hábil. Para ele, a teologia tinha que ser prática, política, serva da práxis pastoral. O Vaticano II (1962-1965), que se definiu como concílio pastoral, veio ao seu encontro.
Vaticano II
Foram três grandes teólogos da família dominicana que se destacaram no Vaticano II e no tempo pós-conciliar: Marie-Dominique Chenu (1895-1990) e seus dois alunos, Yves Congar (1904-1995) e Edward Schillebeecks (1914-2009). Chenu e Congar chegaram à porta do Concílio, como a maioria dos teólogos relevantes da época, arrastados na corrente da suspeita e da proibição, condenados ao silêncio e exílio por um “regime de denunciação e de centralismo totalitário”, como escreve Congar em seu diário, um regime “sem justiça e sem misericórdia”.
A coragem dos movimentos bíblicos, litúrgicos e pastorais foi – por longos anos pré-conciliares – acompanhada e estimulada pela coragem inovadora e a retidão intelectual de teólogos, como Chenu, que resistiram à perda da percepção da realidade no interior da Igreja. Com seu serviço teológico ao povo de Deus ultrapassaram as fronteiras da academia e do legalismo, e colocaram a sua vida profissional em risco. A reflexão teológica de Chenu, que era medievalista, contribuiu para a teologia indutiva do Concílio que reconheceu a “história”, a “realidade terrestre”, a “autonomia da cultura e ciência” e os “sinais dos tempos” como pilares que deveriam sustentar o conjunto teológico-pastoral do evento conciliar.
Além da reflexão teológica indutiva focada na história e na sociedade, mais tarde assumida pela “Teologia Política”, de João Batista Metz, e a “Teologia de Libertação”, de Gustavo Gutierrez, Chenu estava, concomitantemente com a produção teológica, envolvido em trabalhos pastorais. Por longos anos foi assistente da Ação Católica e da pastoral operária. Esta presença pastoral, com seu método da “revisão de vida” (ver, julgar, agir), influenciou fortemente seus tratados teológicos. Nos anos pós-conciliares, a Pastoral da América Latina e seus documentos eclesiais se beneficiaram desse método indutivo, desde o papa João XXIII (1958-1963) assumido pelo magistério como um instrumento válido para a análise da realidade (cf. Mater et magistra, 235).
A sobriedade missionária do movimento dos padres operários e da Mission de France, o despojamento de um Abbé Pierre (1912-2007), fundador do movimento dos maltrapilhos-construtores de Emaús, já apontaram para a opção pelos pobres e pelos que mais sofrem. Desde o início do século XX se tinha notícia do martírio e da opção corajosa pelos Outros de um Charles de Foucauld (1858-1916) e dos seus seguidores nos mais diversos movimentos espirituais e fundações religiosas. Em 1958, nove anos antes da chegada de Tomás Balduíno como bispo, as Irmãzinhas de Jesus iniciaram sua presença no meio do povo tapirapé e deram à igreja local de Goiás/GO lições de inculturação. Muitos anos antes do Vaticano II, quando Tomás Balduíno ainda concluiu seus estudos teológicos em Saint Maximin (1948-1950), a França era um laboratório pastoral criativo e sua Igreja, que era pobre, antecipava questões pastorais posteriormente articuladas pelos paradigmas da inserção, da inculturação e da opção pelos pobres e Outros.
Com a teologia, que assumiu a realidade terrestre inserida na história da salvação e os sinais dos tempos, como sinais de Deus no tempo, no Vaticano II venceram Tomás de Aquino e sua corrente do Direito Natural. O Concílio declarou liberdade e pluralidade religiosas como direitos humanos que foram, antes do Vaticano II, consideradas inaceitáveis ou aceitáveis apenas como realidades de fato, mas não de jure, porque ao “erro” não se deve atribuir legalidade.
A proximidade do mundo e dos reais problemas da humanidade, e o reconhecimento da autonomia da realidade terrestre e da pessoa são aprendizados históricos. Permanecem buscas permanentes para escapar da conformação alienante à prosperidade material e da adaptação superficial a modas e ondas, ou ao distanciamento deste mundo em nichos de bem-estar espiritual. Muitas questões que no Concílio pareciam ter encontrado um consenso, voltaram à tona no tempo pós-conciliar, marcado pela euforia pentecostal de pequenos grupos e pelo pessimismo autoritário de certo neoagostinianismo. Novamente, a liberdade religiosa em sua forma de pluralismo religioso é questionada como uma “teoria de índole relativista” que se pretende justificar “não apenas de facto, mas também de jure (ou de princípio)”. Num mundo de grandes mudanças, um setor significativo da Igreja Católica corre o risco de reduzir o aggiornamento de João XXIII a uma modernização conservadora norteada pela pergunta: “Como podemo-nos adaptar ao mundo sem transformar nossas estruturas pastorais caducadas”? Ao protelar a “conversão pastoral”, proposta por Aparecida (DAp 365ss), a chamada Nova Evangelização corre o perigo da encenação de uma peça antiga, que precisa e pode ser reescrita.
Contexto
No oitavo ano da ditadura militar no Brasil, cinco anos depois da extinção do “Serviço de Proteção aos Índios/SPI” por corrupção, sadismo e massacres de tribos inteiras, quatro anos depois de Medellín e do Ato Institucional n. 5, no terceiro ano do terceiro general-presidente, Emílio Garrastazu Médici, no período mais repressivo da história do Brasil, e um ano depois das denúncias do “espírito faraônico das missões”, pelos antropólogos de Barbados I,
naquele ano de 1972
- quando os Estados Unidos retiram as suas tropas do Vietnam,
- quando em Estocolmo se realiza a Primeira Conferência do Meio Ambiente,
- quando o conflito do Oriente Médio alcança os Jogos Olímpicos, em Munique, onde oito palestinos fazem 11 reféns entre os integrantes da comitiva de Israel, exigindo a libertação de 200 Feddayns, presos em Telaviv (11 reféns e cinco palestinos mortos);
naquele ano de 1972
- quando a Doutrina da Segurança Nacional dos Estados Unidos criou uma insegurança total na América Latina,
- quando a Transamazônica (BR 230) que vai destruir 29 territórios indígenas, é inaugurada e celebrada como símbolo do desenvolvimento e do “milagre brasileiro”,
- quando a TV brasileira passa a transmitir suas imagens censuradas em cores;
naquele ano de 1972
um pequeno grupo de 25 missionários e missionárias, convocados pelo Secretário geral da CNBB, Dom Ivo Lorscheiter, se reúne em Brasília para discutir o projeto de Lei n. 2328 que tramitava na Câmara e dispunha sobre o Estatuto do Índio.
Ao convocar esse grupo missionário, pensou-se, na CNBB, criar uma assessoria ligada às bases missionárias que deveria observar a política indigenista do governo e promover o aggiornamento missionário da Igreja Católica. Havia preocupações concretas: as denúncias feitas na Declaração de Barbados I (1971) , a insatisfação dos missionários com a pastoral neocolonial e não específica junto aos povos indígenas, as denúncias sobre matanças de índios.
Em 1969, apareceram no exterior notícias sobre o genocídio dos índios no Brasil, inclusive com fotos de índios torturados. Em 1970, veio ao País uma comissão da Cruz Vermelha para investigar os casos documentados com fotos de índios torturados. A “pacificação” dos Cinta-Larga ocupou, desde 1969, as manchetes dos jornais. A construção das rodovias BR 230 (Transamazônica), 174 (Manaus-Boa Vista), 163 (Cuiabá-Santarém), 364 (Cuiabá-Porto Velho) e 210 (Perimetral Norte) projetou suas sombras sobre dezenas de povos indígenas na Amazônia. O órgão da política indigenista do Estado, a Fundação Nacional do Índio (Funai), teve a incumbência de garantir que os índios não representassem obstáculo à política desenvolvimentista.
O povo nambikuara foi vítima exemplar do descaso da política indigenista da época. A Funai, com seu presidente general Bandeira de Melo, retirou os índios de seu território, que então seria atravessado pela BR-364. A seguir, emitiu certidões negativas – atestados de que na região do vale do Guaporé não havia mais índios – , e a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) chamou, através de incentivos fiscais, as firmas colonizadoras. Os Nambikuara, no entanto, voltaram para seu habitat. Entre 1968 e 1979, o vale do Guaporé foi distribuído entre 22 firmas agropecuárias. No Natal de 1971, equipes da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Funai tiveram de resgatar de helicóptero os índios dispersos pelo vale. Os que escaparam da fome tiveram sarampo. Na epidemia, morreu toda a população Nambikuara menor de 15 anos. A notícia da "Biafra brasileira" correu pelas manchetes dos jornais.
O grupo convocado por Ivo Lorscheiter se constituiu em “Conselho”, oficiosamente ligado à CNBB. A ata da primeira reunião desse Conselho, escrita a 23 de abril de 1972, por Dom Geraldo de Proença Sigaud, um dos ferrenhos contestadores do Vaticano II e então bispo de Diamantina (MG), foi assinada por outros 25 participantes, entre eles os bispos Ivo Lorscheiter (secretário-geral da CNBB), Henrique Froehlich (Diamantino, MT), Luís Gomes de Arruda (Guajará-Mirim, RO), Eurico Kräutler (Altamira, PA), Pedro Casaldáliga (São Félix, MT), Tomás Balduíno (Goiás, GO), Estêvão Cardoso de Avelar (Marabá, PA) e os missionários Tomás de Aquino e Sílvia Wewering. Foi o nascimento do Cimi, dez anos depois do início do Concílio Vaticano II.
Os participantes do primeiro encontro ainda elegeram sete membros como primeiros conselheiros estatutários do Cimi: os padres Adalberto Holanda Pereira, jesuíta; Casimiro Beksta, salesiano; Thomaz de Aquino Lisboa, jesuíta; irmã Sílvia Wewering, das Servas do Espírito Santo e D. Tomás Balduíno Ortiz. Os padres Ângelo Jaime Venturelli, salesiano, e José Vicente César, do Verbo Divino, foram respectivamente eleitos presidente e secretário do Cimi. A presença de D. Tomás Balduíno para a transformação desse grupo heterogêneo numa pastoral profética pró-índio, era essencial. O que facilitou a sua tarefa foi o fato de que na hora da fundação do Conselho Indigenista Missionário (1972), a Igreja latino-americana já tinha feito a sua leitura do Vaticano II com os olhos de Medellín (1968): assumir a realidade dos pobres, presença nessa realidade (inserção), articulação dos sujeitos que vivem nessa realidade, alianças com Igrejas e movimentos fora do País que estava atravessando anos de ditadura militar colada em certa euforia desenvolvimentista na contramão dos povos indígenas no Brasil e na maioria dos países do continente.
Desde o início, o Cimi se colocou na contramão das políticas hegemônicas daquela época. Profeticamente rejeitou a integração dos povos indígenas na sociedade nacional como destruição de sua alteridade. Essa visão de um futuro dos povos indígenas, diferenciado da cultura hegemônica, membros do Cimi formularam cedo num documento programático: “Y Juca Pirama – O índio aquele que deve morrer” (1973), um documento que se tornou guia antropológico-pastoral do Cimi:
Nada faremos em colaboração com aqueles que visam 'atrair', 'pacificar' e 'acalmar' os índios para favorecerem o avanço dos latifundiários e dos exploradores de minérios (...). Nosso trabalho não será 'civilizar' os índios. Estamos convencidos, como o grande precursor Bartolomeu de las Casas, que muitas lições eles nos podem dar(...). Chegou o momento de anunciar, na esperança, que, aquele que deveria morrer é aquele que deve viver.
Dom Tomás nunca chegou a ser presidente do Cimi, mas continua até hoje como sua “eminência parda”, patriarca, conselheiro e amigo. A ruptura com o sistema de acumulação e de injustiça não depende do pastor, mas se torna mais viável com ele. Sua missão é “despertar esperança em meio às situações mais difíceis, porque, se não há esperança para os pobres, não haverá para ninguém” (DAp 395).
Virada pastoral
A conversão do grupo solto numa entidade articuladora e profética de missionários e missionárias aconteceu também pela intervenção da realidade indígena numa pastoral até então mais orientada para a transmissão de doutrinas catequéticas e obras de caridade. Na época da fundação do Cimi, em 1972, a sociedade brasileira e as Igrejas locais não acreditavam na possibilidade de os povos indígenas virem a ter futuro próprio, como povos e nações. Parecia lógico que o caminho indicado para o futuro dos 90 mil (segundo dados do governo militar da época) ou 180 mil índios, segundo o recenseamento do Cimi de então, seria a sua integração aos padrões culturais e jurídicos da sociedade nacional e a sua assimilação étnica e religiosa. A perspectiva de integração dos índios na sociedade classista dispensaria a demarcação de suas terras e a sua proteção específica; a perspectiva de sua conversão dispensaria o diálogo inter-religioso e a inculturação.
Foi neste contexto de construção de estradas e de descrença no futuro dos povos indígenas que o Cimi iniciou seu trabalho, propondo a ruptura com o modelo desenvolvimentista em marcha. Assumiu uma pastoral específica, integral e amplamente articulada. Uma solução justa para a questão das terras dos povos indígenas exigiria mudanças profundas dos modelos econômico e sociopolítico vigente, com seus pilares de acumulação, aceleração e autoritarismo. Essa opção causou conflitos, não somente nas relações com o Estado, mas também no interior das Igrejas locais. O Cimi começou com um ato de fé no futuro dos povos indígenas e se aconselhou com eles. Quantas vezes recorremos, no Cimi, aos próprios destinatários da pastoral indigenista com a pergunta: “Em que podemos servir?
Desde 1974, o Cimi facilitou encontros e assembleias entre lideranças indígenas do Brasil e, mais tarde, de outros países latino-americanos. Esses encontros foram geradoras de esperança. A esperança nasce quando as vítimas aprendem a falar, agir, organizar; quando a Igreja local se faz presente no meio do povo, rejeita o próprio protagonismo e abre mão de privilégios e prestígio, acompanha os processos de organização, ajuda a expulsar o sentimento da incapacidade e se empenha em transformar desejos alienantes.
A Missão Anchieta, em Diamantino (MT), foi o palco da primeira dessas assembleias de líderes indígenas. De 17 a 19 de abril de 1974, 16 chefes indígenas, representando os povos Apiaká, Kayabi, Tapirapé, Rikbaktsa, Irantxe, Paresi, Nambikuara, Xavante e Bororo, participaram do encontro. Seguiram inúmeras dessas assembleias. A luta contra a falsa emancipação, no governo Geisel, em 1978, fez surgir várias entidades em defesa da causa indígena, entre elas, a Associação de Apoio ao Índio (Anaí), Grupos de Estudo, Comissões Pró-Índio e o Centro de Trabalho Indigenista. Durante a Semana do Índio, de 1980, em Campo Grande (MS), surgiu a ideia de se criar uma "Irmandade Indígena", que veio a constituir-se sob a denominação “União das Nações Indígenas/UNI. Quando a UNI procurava, através de sua coordenação em Brasília, representar os povos indígenas em âmbito nacional, ocorreu certa desarticulação no interior do movimento indígena. Surgiram questões da representatividade, da legitimidade, do distanciamento das bases, da desvinculação das próprias raízes culturais, de grandes estruturas e projetos e do estrelismo de lideranças.
Entre 1985 e 1988 surgiram várias organizações indígenas locais, que produziram avanços significativos na Constituição Federal do Brasil de 1988. Com a realização da Primeira Assembleia dos Povos Indígenas da Amazônia, em 1989, nasceu a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), que em pouco tempo se tornou referência para a política indigenista no Brasil e no exterior. A partir de 1992, em âmbito nacional, a UNI cedeu lugar ao Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil (Capoib), na época mais ligado às bases e organizações regionais existentes. Em 1995, o Capoib realizou sua Primeira Assembleia Geral, já com a participação de 203 representantes de 76 povos e de 40 organizações. A organização anual do Acampamento Terra Livre representa um marco importante do protagonismo do movimento indígena. Em 2005, nesse Acampamento Terra Livre se constituiu a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Em 2006, foi instalado pelo então presidente Lula o “Conselho Nacional de Política Indigenista/CNPI”, em que os indígenas têm 20 vagas, o governo 14 e organizações indigenistas, entre eles o Cimi, duas. O Conselho tem uma função propositiva e não decisiva, como o movimento indígena queria.
Hoje, participação é uma palavra chave na construção de uma democracia menos representativa e mais direta. De certa maneira, o problema da participação existe também no interior da Igreja universal e local. Contudo, as Assembleias dos povos indígenas, suas organizações e articulações produziram uma “virada pastoral” da Igreja Católica, da supervisão à assunção do protagonismo dos povos indígenas. As Assembleias do Cimi, seus documentos e, finalmente, seu Plano Pastoral procuravam assumir o grito dos povos indígenas de uma maneira imprevisível, 40 anos atrás. E essa escuta foi transformada em linhas de ação. No decorrer das Assembleias Nacionais do Cimi aparecem as seguintes prioridades e linhas de ação: terra/território, autodeterminação (movimento indígena, aliança, autosustentação), cultura como projeto de vida (encarnação, inculturação, presença, testemunho), formação, políticas públicas, diálogo inter-religioso e ecumenismo, diaconia e anúncio.
Trinta anos depois da fundação do Cimi, a Campanha da Fraternidade 2002, com o tema “Fraternidade e povos indígenas” e o lema “Por uma terra sem males”, pode ser compreendida como gesto de assunção e reconhecimento da causa da pastoral indigenista do Cimi pelo conjunto da CNBB e da Igreja do Brasil.
Os princípios, que desde o início fundamentaram a ação do Cimi e condensaram a “virada pastoral, foram:
a) o respeito à alteridade indígena em sua pluralidade étnico-cultural e histórica e a valorização dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas;
b) o protagonismo dos povos indígena sendo o Cimi um aliado nas lutas pela garantia dos seus direitos históricos;
c) a opção e o compromisso com a causa indígena dentro de uma perspectiva mais ampla de uma sociedade democrática, justa, solidária, pluriétnica e pluricultural.
Testemunhas
Desde sua origem, a história do Cimi é marcada por testemunhas qualificadas. Muitas lideranças indígenas, missionários e missionárias foram assassinados neste tempo pós-conciliar. Em 15 de julho de 1976, um ano despois de sua primeira Assembleia Nacional, Simão Bororo caiu ao lado de Rodolfo Lunkenbein, missionário salesiano. Lunkenbein, desde 1973 conselheiro do Cimi, estava empenhado na demarcação da terra dos Bororo. Foi assassinado por fazendeiros no pátio da aldeia de Meruri. João Bosco Burnier, missionário jesuíta que atuou ao lado dos Bakairi, foi morto, em 11 de outubro de 1976, na delegacia de Ribeirão Bonito (MT), onde socorria mulheres torturadas pela polícia.
Em 26 de dezembro de 1979, Ângelo Pereira Xavier, cacique Pankararé de Brejo do Burgo, no norte da Bahia, foi assassinado. Em 29 de janeiro de 1980, Ângelo Kretã, líder Kaingang de Mangueirinha (PR), foi emboscado, depois de ter recebido ameaças de morte.
Em 10 de julho de 1983, Alcides do povo maxakali foi assassinado a golpes de facão, por José Rolinha, vaqueiro do fazendeiro Laurindo, quando regressava para sua aldeia, no nordeste de Minas.
No dia 25 de novembro de 1983, foi assassinado o líder guarani, Marçal Tupã-y, na farmácia da aldeia de Campestre (MS). Em 28 de abril de 1985, foi assassinada a coordenadora do sub-regional Purus do Cimi Norte I, irmã Cleusa Rody Coelho, missionária da comunidade das Agostinianas Recoletas de Lábrea (AM). Com ela, foram assassinados os índios Apurinã Maria e Arnaldo.
Em abril de 1987, foi assassinado Vicente Cañas, irmão jesuíta. Seu primeiro contato com os índios foi com o povo indígena “Beiço-de-Pau”, que estava entre os rios Sangue e Arinos, ao norte do Estado de Mato Grosso. Por causa de um contato mal feito pela Funai, em 1969, foram dizimados de mais de 600 que eram, a 40 indivíduos. Cañas cuidou da saúde dos 40 sobreviventes. Depois conviveu por cinco anos com o povo Pareci, no noroeste de Mato Grosso. Em 1971, participou do primeiro contato com o povo Mynky, na época apenas 23 pessoas. Em 1974, participou dos primeiros contatos com os Enawene-Nawe, no rio Juruena, com uma população de 100 pessoas. Vicente participava dos seus trabalhos e rituais, era enfermeiro, mecânico, pescador e dentista. Os índios o adotaram como filho e parente. Nos últimos 10 anos de sua vida, Vicente viveu inteiramente inserido na vida do povo Enawene-Nawe. No processo que levaria, em 1996, à demarcação da terra desse povo foi assassinado e, um mês depois, encontrado morto, em 16 de maio de 1987, ao lado do seu barraco na margem esquerda do rio Juruena. Contrariando com sua presença a cobiça por terra e madeira, Vicente sabia que estava jurado de morte. Os próprios índios o haviam alertado: “Se cuida. As picadas dos jagunços já estão perto do teu barraco”. Por causa do assassinato de Vicente Cañas foram indiciados os fazendeiros Pedro Chiquette e Carlos Camilo Obici, o ex-delegado da polícia civil na cidade de Juína (MT), Ronaldo Antônio Osmar, na ação penal apontado como um dos mandantes do crime, e Martinez Abadio e José Vicente como executores do crime. Depois de ser periciado pelo IML do Estado de Mato Grosso, o crânio do missionário foi enviado para novas perícias ao IML do Estado de Minas Gerais. De lá, em 1989, o crânio do Ir. Vicente desapareceu misteriosamente. Depois foi encontrado por um engraxate de sapatos, numa caixinha que declarava seu conteúdo, perto da rodoviária de Belo Horizonte, fato até hoje não explicado.
No dia 28 de março de 1988, em operação planejada e de extrema brutalidade, 14 índios Tikuna, no Alto Rio Solimões (AM), foram assassinados. A invasão garimpeira do território Yanomami em Roraima vitimou, entre 1987 e 1993, mais de 1.500 índios. Na madrugada do dia 20 de abril de 1997, Galdino Jesus dos Santos, Pataxó Hã-hã-háe, de Pau Brasil (BA), foi queimado vivo por quatro adolescentes de Brasília. Em 20 de maio de 1998, Chicão, cacique do povo Xukuru de Ororubá, no município de Pesqueira (PE), foi assassinado.
Apesar de assassinatos e criminalização permanentes de lideranças indígenas, os povos indígenas continuam com suas reivindicações territoriais que são a condição de sua sobrevivência. No dia 18 de novembro 2011, foi assassinado o cacique Nísio Gomes num ataque ao acampamento indígena Guayviry, situado no município de Aral Moreira/MS. O ataque foi promovido por fazendeiros e uma empresa de segurança privada de Dourados/MS. Finalmente, em fins de julho 2012 foram indiciados 23 pessoas pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de testemunhas.
Faz vários anos que o presidente do Cimi, D. Erwin Kräutler, bispo prelado de Xingu, no Pará, jurado de morte pelos inimigos da causa indígena, é obrigado a visitar as aldeias indígenas e viver em sua casa de Altamira protegido por dois guarda-costas. Sua trajetória missionária nos lembra do acidente produzido na Transamazônica como “troco” por sua luta, como presidente do Cimi, por uma Constituição cidadã que leve em conta dignidade e direitos dos povos indígenas. Nas lutas por essa Constituição, o Cimi foi vítima de uma campanha difamatória do jornal O Estado de São Paulo, em 1987. Mas o Cimi foi vigorosamente defendido pela CNBB na pessoa de seu presidente, o saudoso Dom Luciano Mendes de Almeida.
Com a mobilização indígena em torno da Constituinte, em 1988, foram obtidas conquistas constitucionais importantes, que modificaram as bases jurídicas da relação do Estado com os povos indígenas. O processo organizativo deu consistência às lutas dos povos indígenas em todo o País pela retomada de suas terras, com resultados significativos. Apesar dos desafios que permanecem, a população indígena voltou a crescer. Muitos povos reassumiram suas identidades étnicas. Passadas décadas, às vezes, séculos, eles voltaram a aparecer, reivindicando seus territórios e seu nome próprio. A partir da sua memória histórica, forjada numa longa resistência, esses povos têm conseguido recuperar sua identidade e redesenhar seu projeto de vida.
Nessa trajetória de 90 anos, muitas sementes, que o confessor Balduíno e Las Casas Redivivo lançaram, se multiplicaram nos corações e territórios dos povos indígenas. Nenhum inverno político ou eclesiástico conseguiu sufocá-los por baixo de um cobertor de gelo neoliberal ou neoagostiniano. Hoje, somos testemunhas de uma pastoral indigenista que aprendeu que a catequese a serviço da Vida passa pela questão da terra, da cultura e da participação política. Somos testemunhas de uma pastoral que devolveu o protagonismo da causa indígena aos próprios indígenas, sem jamais abandonar a sua causa.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Abbe Pierre. (Paulo Suess)
Memória de Abbé Pierre
no centenário de seu nascimento (1912-2007)
Paulo Suess
Abbé Pierre e sua obra podem ser confundidos com a obra de Madre Teresa de Calcutá. Quando morreu em Paris, dia 22 de janeiro de 2007, Abbé Pierre foi declarado pelo cardeal Godfried Daneels, arcebispo de Bruxelas, um “gigante de misericórdia”. E, segundo a declaração de Jacques Chirac, a França inteira estava “de luto” e “tocado no coração”. “A sua morte me fez pior que o frio desta manhã”, lamentou Gilles Vasseur, um desabrigado nos arredores de Paris: “Nós, os sem abrigo, os sem nada, estamos hoje todos órfãos” (AFP). E Roger Etchegaray, ex-presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, afirmou que o fundador de Emaús “nunca se enganou no combate, declarando guerra à miséria e desejando que os primeiros a servir fossem os mais sofredores”. Após a celebração das exéquias, Abbé Pierre foi enterrado no cemitério de Esteville, próximo dos companheiros da primeira hora.
A repercussão pública entre Madre Teresa e Abbé Pierre pode ter sido semelhante. E, de fato, há algumas semelhanças na vida de ambos: saída da Ordem religiosa na qual professaram seus primeiros votos, porque essa permanência se tornaria um obstáculo para a radicalidade evangélica que se propuseram; dedicação heroica aos últimos da sociedade, mormente ao povo da rua; fundação de um grupo de seguidores e seguidoras. Mas, olhando de perto, há diferenças significativas entre Pierre e Teresa.
Abbé Pierre nasceu - assim está no seu registro de batismo - como Henri Antoine Grouès, quinto de oito filhos, no dia 5 de agosto de 1912. Estudou num colégio dos jesuítas, mas entrou, aos 19 anos, na Ordem Franciscana dos Capuchinhos, onde foi acolhido como irmão Philippe e viveu sete anos. Em várias ocasiões, Abbé Pierre confessa sua fascinação por São Francisco de Assis. Em 24 de agosto 1938, o cardeal Gerlier ordena o jovem capuchinho Henri Grouès e o jovem jesuíta Jean Daniélou sacerdotes. Na véspera de sua ordenação, o irmão Philippe se confessou com o padre Henri de Lubac (1896-1991) que lhe deu o seguinte conselho: “Amanhã, quando você está prostrado no chão da capela, faça só uma oração ao Espírito Santo. Peça a Ele, que acorde em você o anticlericalismo dos santos!” Nessas palavras, lembra Abbé Pierre mais tarde, já estava a semente de sua posterior insurgência pela causa dos pobres em nome de Deus. Em 1939, poucos meses antes de terminar seus estudos teológicos, Henri decide parar tudo e enfrenta a luta espiritual e institucional pela exclaustração com um forte impacto sobre sua saúde. Finalmente, consegue a dispensa dos seus votos e a incardinação na diocese de Grenoble.
Abbé Pierre tinha uma visão ampla dos serviços paroquiais. Seus primeiros anos de sacerdócio coincidiram com a ocupação da França pela Alemanha. Nesse período da Segunda Guerra Mundial ajudou muitas pessoas escapar da polícia secreta dos nazistas. Na resistência clandestina, falsificou passaportes e ajudou judeus e perseguidos políticos a escapar da deportação aos campos de concentração. Foi preso, em 1944, e conseguiu fugir para a Argélia, escondido num saco do correio. Desde 1945 voltou a Paris e foi eleito deputado para a Assembleia Nacional Francesa, mas, em 1951, abre mão de seu mandato em protesto contra uma lei eleitoral que considerou injusta.
Já em 1949, ainda deputado, Abbé Pierre vivia numa casa simples onde começou a caminhada de Emaús através de um encontro crucial e uma inspiração genial na sua vida. O próprio Abbé Pierre nos conta desse começo (cf. Mémoire d´um croyant, cap. 2). Foi o encontro com o jovem George Legay num momento em que este, por causa da total desestruturação de sua vida, tinha tudo preparado para suicidar-se. O Abbé escutou George, atentamente, e disse: “George, eu não posso fazer nada por ti. Tenho dívidas e meu salário de deputado está comprometido com a construção de casas para mães que vivem na rua. Antes de se matar, você poderia dar uma mão na construção dessas casas para liberá-las mais rapidamente. O rosto de George mudou e ele disse sim. Ele veio e esse trabalho deu sentido à sua vida”.
Assim começou o movimento dos “Companheiros de Emaús”, hoje presente em quatro Continentes e mais de 40 países. As Comunidades de Emaús vivem exclusivamente do trabalho e da solidariedade em benefício dos mais pobres e lutando contra as causas da miséria. Por opção, não aceitam subsídios do Estado ou das Prefeituras, com exceção para os idosos e os doentes. Quem contribui muito com a comunidade não dispõe de mais do que aquele, que não consegue contribuir. Partilha e auto sustento são chaves das comunidades de Emaús. A Comunidade recolhe coisas velhas, usadas e não necessárias nas casas de pessoas, faz triagem das mesmas, as restaura e vende em Lojas de Solidariedade e Feiras.
Em sua coletânea de meditações “Mon Dieu... pourquoi?" (2005), Abbé Pierre assume posições próprias sobre o celibato dos padres, a ordenação de mulheres e a homossexualidade (cf. Liberation, 28/10/2005). Também se pronunciou em favor da renúncia dos papas com 75 anos. Talvez por nunca ter se enganado no combate à miséria, por ter amado e convivido com os pobres, Abbé Pierre é uma voz autorizada e autêntica para se pronunciar sobre mudanças na Igreja. No fim de sua vida admite ser pecador e ter cometido erros. Essas declarações rompem com um heroísmo falso. Neste contexto, convém mencionar o realismo do papa Bento XVI que, poucos meses antes da beatificação de João Paulo II, declarou que uma pessoa “beata” ou “santa” precisa ter vivido algumas virtudes heroicamente, mas não ter tido uma vida heroica do começo ao fim.
Em 1963, Abbé Pierre estava a bordo de um navio que naufragou entre Argentina e Uruguai: 80 mortos. Mais tarde ele escreve sobre o acontecimento: “Depois de um primeiro susto, em que a gente pensa em suas faltas e pede perdão, eu tive só um pensamento: Que ele vem! Para mim, a morte é o encontro atrasado com um amigo. Eu gosto de repetir esta palavra-chave da Bíblia: Maranata, o que significa: Vem, Senhor Jesus, vem!”. As horas de vida e a hora da morte de Abbé Pierre sempre eram horas do encontro com este Jesus nos pobres que ele, heroicamente, amou. Seguiu João Crisóstomo, lembrado no Documento de Aparecida (n. 354):“Querem em verdade honrar o corpo de Cristo? Não consintam que esteja nu. Não o honrem no templo com mantos de seda enquanto fora o deixam passar frio e nudez”.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Noticiario. 3a e última parte
TERCERA PARTE DEL NOTICIERO (MARINS-TEO)- AGOSTO 2012.
- OAKLAND,Ca.
En California, comenzamos nuestros cursos en la diócesis de AKLAND. Diócesis que tiene más de 250 00 latinos, ubicados en diferente ciudades, en su mayoría de raíces mexicanas
CONCORD ciudad de 120.000-presencia grande de migrantes latinos.
-El encuentro en la ciudad de Concord fue con las CEBs de la diócesis de Oakland. Cada una de las CEBs presentes presentaron su historia (Se notaba que lo habían preparado con cuidado: cuadros, fotos, mensajes…)
- Son comunidades muy frágiles, sencillas, pequeñas, pero buscando entender y asumir su identidad. Intentando dar nuevos pasos. Domina en todas la piedad popular típica del México y de América Central colonial.
- Sentimos la urgencia de una formación bíblica y Cristológica actualizada.
- Las CEBs captan que, en el futuro, deberán relacionarse más entre ellas mismas, para aprender unas de otras.
En OAKLEY, Ca- ciudad de 30 000 hab. y nuevamente en CONCORD, se realizaron encuentros (asumidos por los párrocos locales) con el liderazgo de las parroquias, sobre el acontecimiento del Vaticano II, su historia, documentos, limitaciones.
Estudiamos las 4 Constituciones conciliares y valoramos también los gestos simbólicos en el decurso del Concilio (entrega de la tiara, abrazo de Paulo VI y Atenágoras, Pacto de las Catacumbas, el gesto de D.Helder, grupos de estudio que se reunían todas las tardes y los obispos que semanalmente evaluaban, por su cuenta, el caminar de los trabajos conciliares.
La gente después de cada constitución, retomaba su experiencia eclesial evaluando si alguna orientación había sido integrada en ella y/o ministerio que ejercían.
Fue un desafio para nosotros hacer este trabajo, considerando que la mayoría no sabía ni lo que era un Concílio ni tampoco lo del Vat II. Usamos símbolos que ayudasen a la comprensión.
Mostramos la importancia de leer los documentos en el contexto donde nacieron y más en el hoy de nuestro mundo y Iglesia.
Uno sentía la gente muy sorpresa y contenta en conocer algo más amplio de su Tradición.
OBSERVACIONES
Algunos temas conciliares siguen despertando interés en las parroquias, pero el cuadro de referencia pastoral, teológico de esta área de la Iglesia católica, es clerical e intra-eclesial, quiere decir, volcada hacía la Iglesia: sacramentos, devociones, preocupación con las vocaciones religiosas y ministeriales, fidelidad a los movimientos apostólicos que se desconocen recíprocamente, cuando no se hostilizan.
La realidad viva y estructuralmente reconocida (centralizadora) es la parroquia, con sus siempre más numerosos ministros extraordinarios y también diáconos. La gran totalidad de los ministerios van hacia el interior de la parroquia.
- La constante preocupación de los últimos años, está siendo la liturgia, concentrada no en el misterio pascual, sino en las rubricas (leyes y prescripciones de actitudes a mantener en ocasión de los sacramentos y sacramentales, concentración de tiempo, dinero y energías en torno al nuevo misal, específicamente preocupación de dominar las nuevas traducciones de los textos de las oraciones eucarística. Algunos padres están aprendiendo el latín para volver a celebrar en una lengua que no es ya la vernácula de ningún pueblo conocido. Otros celebrantes hasta están celebrando de espaldas al pueblo y mirando a la pared, por lo tanto dando las espaldas a la asamblea del pueblo de Dios. Otros (clero y aún algún obispos) están interiormente convencido y a veces “se les escapa, proclaman que el Vaticano II ha sido responsable por toda la actual crisis eclesial (No queda claro si se refieren únicamente al abuso sexual de los menores por parte de miembros del clero y del episcopado).
El obispo decía a los seminaristas que el orden de importancia de las lenguas son: ingles por ser la oficial del país luego latin? y finalmente español.
ENCUENTRO CON LOS JÓVENES DE LOS ESTADOS DE CALIFORNIA Y NEVADA, realizado en Three Rivers, territorio de la diócesis de Fresno.
- Convocado pela organización de los directores de pastoral hispana en los estados de California y Nevada (RECOSS), alcanzó a reunir cerca de 180 jóvenes adultos( arriba de 18 años), sus asesores y asesoras.
- Este trabajo de formación y actualización propiciada a los jóvenes está revelando grandes posibilidades y mucha aceptación. Es una articulación acompañada por los asesores y envolviendo a los jóvenes como sujetos.
- Nuestro equipo, a pesar de ser formada por personas con mucha edad, como se sabe, encontró extraordinaria receptividad de parte de los jóvenes.
OBSERVACIONES
- Los Jóvenes, con quienes nos encontramos, en su mayoría trabajan y estudian. Ese aspecto de que están estudiando (muchos ya en la Universidad) es, de cierto modo, una nueva situación y nuevo paso promocional entre los latinos. En efecto, sus familia, por lo general no estimulan a que estudien, porque la prioridad esta en colocar los hijos e hijas en el mercado del trabajo en razón de la precaria sobrevivencia económica de la familia o de los que vinieron como migrante (muchos de los cuáles todavía se encuentran sin documentos para permanecer y trabajar en el país, la mayoría de esos migrantes solo alcanzaron trabajar en lo que los “anglos” y otros migrantes (europeos, orientales) no quieren (colecta de frutas y vegetales, limpieza de jardines, construcción pesada, vigilantes, limpieza de edificios y de casas, ayudantes de cocineros, lavadores de platos…)
- Sentimos que la Pastoral Juvenil esta direccionada mucho más hacia la Iglesia, (su pertenencia a ella, ministerios internos y no hacia el Mundo. Cualquier compromiso socio-político es impensable para los indocumentados… expone os migrantes al rechazo público y los entregaría directamente a la policía de migración. Pero también en los documentados el compromiso social no existe.
- En lo religioso, los llamados grupos de oración se dedican a la recitación del rosario, novenas, oración por los difuntos y otros a estilo del movimiento carismático.
- La perspectiva difundida por la Renovación Carismática es la más atractiva para ellos: + crea espacio para la gente poder expresar libremente sus preocupaciones, sufrimientos y acción de gracias + da una sensación de estar en un grupo, sin ser realmente grupo, + sienten y como que “controlan” la presencia del Espíritu, + aman los eventos extraordinarios como el caer por el Espíritu, hablar lenguas, dar y recibir mensajes de Dios a los demás, sanar las muchas dolencias y preocupaciones + es algo especial el identificar la presencia del demonio en todo lo que no pueden entender o superar en lo físico, social, económico, cultural y aún religioso.
- La adoración al santísimo (sin negar su valor, evidentemente), é mas atractiva que un grupo de discernimiento de la realidad y de opción por tareas pastorales. Jesús “ya había intuido todo eso…” e insistió claramente en el seguimiento (camino),no pidió que lo adoraran (- denunció: “No es el que dice Señor, Señor…”); tampoco se trataría de meterse en la vida, perdiendo la experiencia de la contemplación (- Marta, Marta… te dispersas en tantas cosas…)
- Cuando hemos intentado mostrar que la Iglesia de Jesús le toca ser fermento y por lo tanto meterse en la vida, mezclarse con la masa, transformar la realidad, en el entorno humano donde viven… eso les sonaba a algunos como un peligroso “meterse en política”
SOLEDAD,CA.
Tratase de una única parroquia, con menos de 30 mil habitantes.
La mayoría de la gente (latina, y en el caso mejicana) trabaja en el campo (cosecha de fresas, cebolla, ajo, verduras… y en las fábricas empacadoras de legumbres).
Ya habíamos estado, en el comienzo de este año de 2012, ayudando a las 14 CEBs latinas de Soledad. El párroco les da plena libertad de acción (claramente inter eclesial) y las entiende como un lindo movimiento de oración, lectura bíblica (en las reuniones semanales les toca leer todas las lecturas del siguiente domingo… sin desgastarse mucho en interpretarlas dado que el Pastor lo va hacer en su homilía dominical)
Volviendo a encontrarnos con las CEB de Soledad, en el segundo semestre de este año, encontramos un ambiente menos entusiasmado que en la vez anterior (Febrero 2012). Nos llamó la atención que el cura norte americano que habla bien el español (muy ocupado pues la suya es la única parroquia en la ciudad, como lo decimos; y con una numerosa comunidad latina-mexicana), solo tuvo tiempo para nos saludar cuando llegamos - cuando entramos en la iglesia para concelebrar con el. Entonces, hasta el final de nuestra permanencia y cursos (9 días) ya no apareció más. No pudimos conversar sobre el proceso de los trabajos que estábamos realizando.
Pero como sentimos que lo que hacemos es asesoría y no planeación de trabajos prácticos, escribimos una carta, relatando los trabajos que habíamos hecho en los dos encuentro de 3 días con su gente.
Uno de estos encuentros fue con los facilitadores, así llaman los (las) que coordinan las comunidades de las CEBs. Compartieron lo que les motivaba estar en ellas. Luego profundizamos el papel del facilitador, la importancia de evitar “lo mismismo” en las reuniones. Conversamos sobre diferentes tipos de reuniones etc.
Estuvimos hospedados en la casa de un joven (de 36 años),Mario, separado, con una hija Andréia en quien él coloca toda su dedicación y afecto. Él es con todos y ha sido con nosotros, extraordinariamente atento y generoso. En este momento se encuentra en situación muy delicada de salud, pues le diagnosticaran un cáncer en el páncreas. Todos los días, por horas, compartía con nosotros sobre su vida y las frustraciones que viven en relación a su ex-esposa .
Una característica que se está tornando más frecuente, es que al hospedarnos en las casas de familias latinas, conocemos más la realidad de vida en que se encuentran. Así, en este lugar y en otros, gastamos muchas horas escuchando el dolor y los problemas de la gente, sin poder ofrecerles mayores ayudas, a no ser la de escucharlos con respeto y darles el conforto de una presencia amiga.
Nuestro curso sobre el Vaticano II, en tres noches, agregó más de 80 personas, perseverantes.
SALINAS VALLEY,CA. – 150 000hab.
Presentamos un curso de tres noches, en la parroquia del Padre Nacho (Ignacio Martinez), mexicano de Puebla. En este momento el hace parte del clero de la diócesis de Monterrey. Es la primera vez que en esa parroquia tan importante, un latino es párroco.
Nacho es un pastor muy cercano a la gente. Acepta comer con las familias (lo que significa mucho para la gente latina de USA). Estuvo en todas nuestras conferencias. En efecto, insistimos siempre que los líderes del lugar (los curas) escuchen lo que comunicamos a su gente, y mantengan contacto con nosotros durante todo el tiempo del curso, ya que son ellos que acompañan al Pueblo en su trajín.
Padre Nacho asumió la parroquia hace apenas un año. Es sencillo e inteligente. Capaz de orientar los numerosos miembros de la Renovación Carismática, sin ofenderlos o desautorizar lo válido de sus costumbres piadosas. Quiere mucho a las CEBs. Cuando ha sido, por 9 años, párroco de la vecina Soledad, CA, se ha caracterizado por incentivar allá el proceso de las CEBs.
Al nuestro encuentro vinieron personas de otras parroquias. Gente sumamente sencillas, con muy poca preparación pastoral y bíblica - la que tienen es generalmente fundamentalista.
Como está aconteciendo y siempre con mayor frecuencia, nos toca trabajar con la base más base de nuestra Iglesia. Muchos, por no tener documentos, viven en constante sobresalto, procurando esconderse. Su único apoyo es su fe y la Iglesia, en la cuál se sienten seguros (de la policía de migración).
Al Nacho que desea tener CEBs en su Parroquia le pareció que ayudaría se diéramos en proceso de las Iglesias en el Nuevo Testamento Hechos y cartas de Pablo). Ellas proporcionaran un horizonte eclesial de Iglesia comunión y misionera.
Y se sintieron motivados a ser fundadores de pequeñas Iglesias. Se encantaron conocer que los laicos fundaran Iglesias
Observaciones generales sobre las dos parroquias en que estuvimos (Soledad y Salinas Valley):
- El esquema parroquial ocupa todo el tiempo disponible de la gente. Hay personas que están en 4 o 5 tareas parroquiales.
- Los mexicanos se resienten de falta de formación bíblica y cristológica… Están a nivel de una religiosidad popular con fuertes raíces culturales, aprendida de los antepasados. Infelizmente eso no basta para sostenerlos de cara al constante “ataque” de los grupos como Testigos de Jehovah, y muchas otras tradiciones religiosas, particularmente proselitistas. Tampoco les da chance de dialogar sobre religión con sus hijos e hijas.
- En ambas parroquias encontramos laicos extraordinariamente interesados en profundizar y vivir su fe. Su confianza en la Iglesia es inmensa, a pesar de las actuales campañas y eventos que desacreditan la religión en general y particularmente a la Iglesia Católica..
- Muchísimos latinos están dejando la Iglesia. La casi totalidad de esos católicos no pierden la fe en Dios, sino en la Iglesia Católica .Y se van a otros grupos cristianos. Lo que determina o aceleran el proceso de salida de la Iglesia:
Primero: la falta de comunidad eclesial. El bautizado católico es un anónimo. Viene a las misas y sale de ellas sin participar verdaderamente (Los más perseverantes no dejan de traer su sobre con la oferta económica para las coletas, generalmente dos en cada domingo);
Segundo: las homilías y enseñanzas que reciben están desligadas de la vida que tienen. Pasan por arriba de sus cabezas, sea por el lenguaje, sea por los temas tratados. La fe no entusiasma a vivir. Tercero: Es muy difícil poder dialogar con los Pastores. Están siempre ocupados. Cuando hablan es como si estuvieran haciendo su homilía litúrgica, es para referirse a mandamientos, obligaciones (Catecismo, leyes, prescripciones, tradiciones
Cuarto:. Hay mas conciencia sobre pecados que sobre las bendiciones de ser miembro de una comunidad hijos e hijas de Dios, hermanos y hermanas en Jesús, y de administradores de la historia por la gracia del Espíritu.
News Letter - El Salvador, 2012 Junho
(Segunda parte del noticiero de Marins y Teo)
II - EL SALVADOR
La tierra de Mons. Oscar Romero ha sido la siguiente etapa de nuestro viaje, después de Honduras. Algunos colegas que se propusieron ir al túmulo del Arzobispo Mártir, viajaron de bus - 10 horas por tierra y una frontera donde se gastan horas para que todos los documentos y maletas puedan considerarse debidamente investigadas.
El Padre Héctor de Sansonate, nos esperó en el aeropuerto. En su parroquia nos hospedó por dos días, permitiéndonos, de ese modo, retomar el contacto con la realidad del interior de su país.
La “novedad” singular nos vino por la noche, cuando nos llevaron a dormir en una casa cuyos dueños andaban por USA. La residencia era cuidada por dos hombres misteriosos, de los cuáles nunca vimos la cara. Podíamos escuchar que llegaban tarde de la noche y por la mañana, bien temprano, se iban sin despertarnos. Los dos personajes “fantasmas” vigilaban la propiedad y no sabemos que más hacían. Tampoco procuramos investigarlos. En El Salvador, lo menos que uno sepa de algo, mejor para el o ella.
En el día 27 de Junio nos reunimos con el clero (completo, eran 49) de la diócesis de Sansonate. Los laicos vinieron después, ya explicaremos.
Nuestro curso se realizó en un pueblo muy bonito llamado Sacoatitan, rodeado de seis impresionantes volcanes (felizmente no entraron en actividad a fin de propiciarnos una sorpresa turística- gracias). El ambiente físico (la casa era un “ressort” turístico llamado “Moros y Cristianos”) y ha sido muy acogedor, el sacerdote que se encargo de la hospitalidad, simplemente extraordinario en todos detalles. Por primera vez en América Central, fuimos acomodados en cuartos tan maravillosos. Al abrir la ventana, allí estaban seis volcanes rodeando el horizonte. Un espectáculo a ser largamente contemplado a todas horas del día, pero el magnífico era al amanecer y al ponerse del sol.
En la segunda noche de nuestra permanencia, los seis grandiosos vecinos decidieron saludarlos, a su modo… Nos brindaron, no una erupción, sino un terremoto de 20 segundos, lo que es ya demasiado para quienes por ella es sorprendido en plena madrugada. Para tales situaciones, la regla de sobrevivencia es conocida; - salirse inmediatamente hacia fuera, por si acaso se caen paredes o el techo.
Por lo tanto, los huéspedes nos encontramos en trajes de dormir (pijamas; “menos mal”), en el gran corredor de la casa, esperando para ver si el primer movimiento telúrico seria seguido por otros, lo que suele acontecer.
Pasado el pánico y después de casi una hora dimos por encerrada la espera y volvimos a los cuartos co esperanza de poder dormir un poco, a pesar de ya no ser un sueño tranquilo, después de lo inesperado de la reciente experiencia.
La diócesis de Sansonate está recibiendo un nuevo obispo – nada a ver con el terremoto - Aún no ha sido consagrado (No estuvo presente en el encuentro, lo que no es un procedimiento raro en se tratando de obispos) .
Todos los presbíteros y 50 laicos han sido convocados y vinieron en dos olas. En el primer día, solamente el clero. A partir del segundo día, todos los demás.
Por su propia cuenta el clero ya había decidido que los laicos no deberían estar con ellos en el primer día de trabajos. No sabemos por que no querían enfrentar ese riesgo. O de que tenían miedo?
Los siguientes días contaron con la presencia de los referidos laicos, cerca de 50 (varones y mujeres, casi por igual).
En materia de rumbos pastorales, la diócesis cuenta con su plan de pastoral, y será difícil que el nuevo obispo quiera volver atrás o anular lo que ha sido decidido por su antecesor… pero todo es posible. Ese plan (2012-2016), asumió las CEBs como opción diocesana (Pero la mayoría de las parroquias todavía no tienen CEBs). Por eso, la asamblea diocesana a la cual hemos sido invitados, estableció como su tema: Clarificar y fortalecer las CEBs (- Cuáles?). Descubrimos, DESPUÉS, QUE SI, había algunas CEBs, veteranas de casi una década. La diócesis usara el método del SINE (SISTEMA INTEGRAL DE LA NUEVA EVANGELIZACIÓN), que ya no es tomado en su integridad por ninguna de las parroquias . Sin embargo, las raíces y nomenclatura del SINE están todavía evidentes, y son referencias que siguen provocando ambigüedades.
El Plan Pastoral, según nuestro modo de ver, tiene desubicada la CEB, una vez que la coloca entre los programas de formación y casi la resume con el Kerigma.
Las líneas pastorales son teóricamente fieles al Vaticano II, en la práctica han sido asumido un cuño conservador . Sin embargo, un buen número de curas revelaron una visión mas amplia y abierta, coherente con el espíritu del plan. Infelizmente, a nivel del país, los más jóvenes curas han siendo enviados a estudiar con Opus Dei en Navarra o en Roma. Algunos de nuevos curas, al volver a su tierra, volvieron también a un mejor discernimiento eclesiológico y pastoral, otros llegaron convencidos de que deberían salvar la Iglesia (- De qué?).
En el curso, Vino a visitarnos el querido amigo Mons. Ricardo Urioste, hombre de gran credibilidad y aceptado por “griegos y troianos”. Conversamos sobre la situación eclesiástica del País: - “El Arzobispo, siendo de Opus Dei, ha buscado “opus-dei-cizar” al clero (El término es casi igual a circuncidar, solo el término, por supuesto).
Creo que en resumidas cuentas, pudimos presentar el Vaticano II y con eso, se quedaron muchos puntos de referencia importantes como la Iglesia Pueblo de Dios, la presencia en el mundo que busca llegar a las estructuras, la misión que no sea proselitismo, etc.
Los laicos Inocente y María Elena (que estuvieron en Bogotá, Diplomado) nos acompañaron todo el tiempo, tanto en Sansonate, como también el Pe. Hector que es el asesor de las CEBs a nivel de su Diócesis. Los dos laicos mencionados también nos acompañaron en el área de Usulutan. Están intentando hacer efectiva la articulación nacional de las CEBs.
USULUTAN
De Sonsonate fuimos a la capital, San Salvador. Dos días de encuentros con grupos especiales, entrevistas, estudios y seguimos hacia la región del sudeste – Bajo Lempa y Usulutan.
Alli se reunieron dirigentes de las CEBs de otras partes del país: Morazán, San Vicente, Santa Clara, y de la frontera con Nicaragua.
Em el Bajo-Lempa, volvimos a encontra el perseverante y lúcido P. Pedro Declerc, belga que há 40 años vive en El Salvador, siempre en áreas pobres y que hacen frente a graves problemas humanos, sociales, eclesiales. El fundó uma congregación religiosa feminina. Una de aquellas Hermanos murió en la guerra, cuando cuidaba de los heridos – han sido bombardeados por las tropas del gobierno, apoyados por asesores norte americanos .
En las pocas acomodaciones del centro pastoral parroquial, acomodaron los 80 participantes del encuentro y nosotros. Las condiciones del cuarto eran limitadas. En la primera noche, en la pared bien cerca de mi cabecera, un gran alacrán negro esperaba por sus víctimas (No estoy convencido de que el me consideraba entre las mismas…quien sabe? Pues el bien difícil interpretar las intenciones de un alacrán)
Decidí solucionar mis dudas, con un golpe certero de mi zapato en contra de mi posible opositor (Principio de la “guerra preventiva”). Los colegas de la casa me comentaron: Menos mal. Pues cuando uno de aquellos “insectos” pica, la victima siente tanto dolor que tiene que acostarse y puede hasta ocurrir una parálisis temporaria de las piernas.
En el siguiente día nos persiguió la diarrea llamada de “chorro”, lo que significa que funciona mas o menos con una regadera y puede durar por dos o mas días.
Además estábamos en la área en que se construyen privadas llamadas “de abono” (no hay alternativas, o ellas o nada!!!). No voy a dar explicaciones detalladas por lo desagradable del tema. Si es repugnante describirlo, imagínese pasar por la experiencia real…
Pero los inconvenientes han sido siempre inferiores a las alegrías del trabajo. El encuentro con tanta gente buena, generosa, sacrificada ha sido siempre, para nosotros, un gozo espiritual.
Teníamos clara conciencia de que los hombres y mujeres allí reunidos no vinieron para un descanso de fin de semana. Trabajamos noche adentro. Tres horas para que pudieran expresar sus preocupaciones y sufrimientos, así como esperanzas. Ha sido uno de los momentos mas significativos del encuentro. No se trataba de escuchar teorías, sino de reconocer los acontecimientos que les habían tocado profundamente sus vidas. En efecto, entre los participantes de esa noche estaban los que sufrieron en la guerra civil de 12 años: gente que había perdido marido, hijos, padre, hermanos.
Procuramos soplar las cenizas que se iban acumulando sobre las brasa. La gente sentía que no debía revelar todo lo que había hecho en la guerra, caso contrario seria imposible trabajar con CEB, en El Salvador. Entre los participantes contamos con ex=combatientes de la guerrilla (mujeres, una de ella la comandante que hizo volar vehículos que llevaban soldados y también abatió muchos enemigos. Y ahora ella está en una CEB…
Y lo mas triste, como decían: - Después de mas de una década de sufrimientos, miedo, muerte, no hemos alcanzado un cambio significativo en el país…”
Hoy se nota en el país, un crecimiento de “maras” pandillas de jóvenes, generalmente ligados a drogas y extorsión, sumamente violentos.
La Iglesia católica es bastante conservadora. El clero se quedó todavía mas lejano del pueblo, cuidando de liturgias, sacramentos, devociones. Generalmente manejan criterios muy estrictos al orientar las personas que ya son bastante sufridas.
Algo que nos llamó la atención fue que los sacerdotes que todavía acompañan a las CEBs, son extranjeros. No aparece una nueva generación de líderes y asesores. Las CEBs no se han multiplicado.
Algunos curas son militantes en contra de las CEBs y de la visión renovadora personalizada en Mons. Romero. A veces son muy duros con su gente. No buscan no procuran entender las personas en su contexto de desgracia, dolor y confusión.
Gran parte de los católicos desean mucho acercarse de los sacramentos, pero la disciplina eclesial les barra la posibilidad, porque sus condiciones matrimoniales no están en orden.
En la área del P. Declercq su colega, que había estado como vicario, asumió ahora el poder oficialmente y finalmente se reveló – Mando borrar el panel de Mons. Romero que había sido pintada por la gente en la pared de la capilla. Los cristianos, por lo general, quieren el cura para no perder la oportunidad de recibir de ellos los sacramentos: - Una señora de 50 años, desde sus 17 años está esperando una oportunidad para comulgar, pero su situación matrimonial no le permite.
De otra parte hemos hablado con curas católicos que se casaron y dejaron de ejercer su ministerio. Ahora, con 70 y más años de edad, quieren hacer algo por su gente en relación a bendiciones y la Eucaristía. La Iglesia Anglicana los reconoció como ministros suyos y por lo tanto le dio la posibilidad de atender al pueblo. Nos explicaron:
- “Quisiéramos ejercer ese ministerio por misericordia a nuestra gente, dentro de la Iglesia Católico, pero no es posible. Creemos que el bien mayor y urgente es ayudar a este pueblo desesperado”.
En esta experiencia de El Salvador nos hicimos muchas preguntas sobre la eclesiología de las CEBs: - Los documentos de la Iglesia dicen que las CEBs son una pequeña Iglesia, en la base. Sin embargo, no se permite que la gente pueda tener un mínimo de autonomía en la conducción de sus vidas y misión. Afirmamos que son la Iglesia de Jesús en otro modelo. Y que significa eso en relación a la vida sacramental y misionera?
EN LA CAPITAL
El grupo que se reunió en San Salvador (capital), aun siendo muy heterogéneo, reveló una presencia cualitativamente positiva de religiosas Hermanitas del Evangelio, de líderes laicos de diferentes grupos en plena simpatía y acercamiento a las CEBs. Entre ellos, representantes cualificados de otras tradiciones cristianas como Bautistas, y Anglicanos.
Hay una articulación nacional de CEBs, en camino. Es como un sencillo intento de acercamiento entre las comunidades, hasta ahora, con éxito. Algo discreto (como la situación eclesiástica lo recomienda). Son personas con mucha dedicación y buenos proyectos, apoyadas de diferentes maneras por la ONG “FUNDAMER”, que les crea espacio físico de encuentro, les da alguna ayuda económica para sus viajes y encuentros (así pudieron ir al IX encuentro en S.Pedro Sula y otros dos al “diplomado” de Bogota en 2011).
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@ OBSERVACIONES GENERALES
-En El Salvador Nos llamó la atención el crecimiento de una visión INTEGRISTA del clero, mucho más sacramentalista e intra-eclesial. La influencia de obispos conservadores es notable. La sangre de Romero y de miles de mártires no está siendo considerada como gracia. Hay clericalismo en aumento. Muy pocas religiosas acompañando las CEBs. Ausencia y hasta oposición del episcopado y del clero nacional. A un cura, cuando le preguntaron que había aprendido de la fe de su pueblo, contestó: - “He sido ordenado para enseñar, no para aprender!”
Las CEBs son interpretadas, para ellos, como un movimiento de izquierda y en clara decadencia o por lo menos estacionadas en el tiempo . Muchos obispos y presbíteros son abiertamente contrarios a lo que a sido Mons. Romero. En el bajo-Lempa, un párroco recientemente nombrado, eliminó públicamente pinturas murales con imágenes del Arzobispo Mártir. Otro colocó a los cristianos de un área rural: - O dejan de hablar del arzobispo “fallecido” (no lo clasificó como “mártir”), o no vengo más atenderlos con los sacramentos”. Y como la gente respondía ser imposible dejar de reconocer a Romero, como también que su párroco dejara de venir por sus ovejas… El les contesto: - “Eso es lo que veremos!” . Y a partir de aquel día, ya no vino atender a aquella área (Ya se había pasado más de año).
En otro lugar, el que presidia la Eucaristía pidió que levantaran la mano los que estaban en CEBs. – “Ustedes pueden irse, porque no les daré la comunión!”
- Um pequeno pais como El Salvador, mantiene cuatro seminários mayores, de los caules três son declaradamente conservadores.
- Encontramos también, gracias a Dios, presbíteros heroicos, lúcidos, perseverantes e con gran poder moral de testimonio, como lo ya mencionado Mons. Ricardo Uriostes, que no acepto ser arzobispo de San Salvador (Esperamos que se hay arrepentido de esa omisión, pues ahora ve como su Iglesia local camina aceleradamente hacia… Trento). Otros como la María Elena Sanabria,(San Salvador); el señor Inocente Reyes, de Santa Tecla-rural; el P. Hector Alfonso de Sansonate; P. Rogelio de Morazan (Autor del famoso libro: "Vida y muerte en Morazán). P. Pedro De Clerk; la hermana Noemi y compañeras; las hermanitas del Evangelio y otros/as, son gentes que están garantizando que las CEBs que ya viven una situación de Catacumbas, no vengan a desanimarse. Y digno de consideración es el hecho de que una ONG, como mencionamos, respalda las CEBs respetando su identidad y misión; pastores anglicanos, bautistas, metodistas, se ponen al lado de los católicos más abiertos, apoyándolos en sus compromisos.
Puede ayudarnos a pensar la siguiente parábola que elaboramos estando en El Salvador: UNA HISTORIA A SER INTERPRETADA, PARA ENTENDER LO QUE ACONTECE A NIVEL DE CEBS, EN EL SALVADOR.
# Salimos con el bus lleno. Dentro estaban niños que iban a la escuela, enfermos con citas en el hospital y otros pasajeros.
Entonces nos pasó lo inesperado: Después de una hora de viaje, nuestrol motorista recibió una llamada por celular, pidiendo que dejará el bus y por su cuenta volverá inmediatamente a la casa, por graves problemas de accidentes en la familia. Y el paso a la otra pista y alguien se lo llevó.
Los pasajeros se quedaron sin saber lo que hacer. De una parte, era urgente que los niños pudieran llegar a la escuela y tomar su desayuno, así como participar de las clases y recibir la vacuna contra polio, pues era el último día para conseguirla. Más urgente, la situación de los enfermos que se destinaban al atendimiento del hospital regional.
Entonces todos comenzaron a dar opiniones. Las propuestas que consideramos más probables, a pesar de que cada una de elles tenía también riesgos, fueron las siguientes:
Primera: Alguien, aún sin los documentos y permisos, pero sabiendo manejar buses, asumiría el lugar del motorista y seguiríamos por lo menos hasta la escuela y el hospital, pues algunos enfermos ya no podrían esperar mucho más.
Segunda: llamaríamos a la compañía central de los buses, exigiendo un substituto al motorista y lo esperaríamos todos hasta que llegara donde nosotros, asumiera el bus y continuará el viaje.
Tercera: Usando un celular intentaríamos llamar la policía de caminos, o los bomberos de la ciudad más cercana, distante 60 quilómetros nos sometiendo a todos los papeleos y burocracias de eso;
Cuarta: Abandonaríamos al bus y saldríamos todos afuera, a la carretera, intentando que alguien nos diera aventón por lo menos para los niños y enfermos, con el riesgo de no saber a que manos los confiaríamos.
PISTAS PARA LA INTERPRETACIÓN DE LA PARÁBOLA:
1) El bus es la Comunidad Eclesial de Base
2) El motorista es el cura
3) Las hipótesis son precisamente la materia de discusión de esta parábola.
Buena suerte.
CONCLUSIONES
1. Queda evidente que debemos seguir ayudando a las CEBs que sobreviven en El Salvador, sea con material de formación (curso virtual, material por internet, visitas, escritos de apoyo) e invitando a que los dirigentes de CEBs vengan a nuestros encuentros etc.
2. Personas como María Elena Sanabria, P. Hector Raul, Inocente, P. Pedro Declerc, Hermana Noemi y compañeras, deben ser acompañados y valorados.
3. Mons. Oscar Romero, el mártir salvadoreño es la figura central de los cristianos más lúcidos y coherentes con el Vaticano II, también de muchos cristianos de otras tradiciones y hasta de personas que confiesan no ser “religiosas”. Si la iglesia católica todavía no quiere o no puede pronunciarlo como mártir, millones de personas, en todo el mundo lo reconocen como el hombre que defendió la paz, que aceptó conscientemente el riesgo de defender a los más débiles y se plantó delante de los poderes, también militares, desafiando: “En nombre de Dios, les ordeno: No maten!.
# En la siguiente madrugada, partimos muy temprano, para llegar a tiempo en el aeropuerto. Levantamos vuelo hacia Los Ángeles donde hicimos trasbordo a San Francisco, Ca., para comenzar otra etapa de nuestro trabajo “misionero”.
(Próximo capítulo: California: congreso de los jóvenes,Oakland, Soledad, CA; Salinas CA).
Honduras, news letter
ANOTACIONES DE NUESTROS ENCUENTROS
Junio-Julio 2012
ENVIO N. I,
IX ENCUENTRO LATINO AMERICANO Y CARIBEÑO DE CEBS. - SAN PEDRO SULA (HONDURAS) – 13-22 Junio 2012.
En América Central, el encuentro más importante ha sido en San Pedro Sula, Honduras. Éramos 180 congresistas evaluando los últimos cuatro años del caminar de las CEBs. Solo no pudieron venir los de Costa Rica, Perú y Cuba. Otros se quedaron detenidos por uno o dos días al entrar en países de América Central, por no llevar el certificado de vacuna contra la fiebre amarilla. Eso ahora es exigido para los que vienen de Brasil, Paraguay, Argentina…
El local ha sido adecuado para los trabajos que deseábamos realizar. La exitosa preparación de este IX encuentro latinoamericano corrió por cuenta de la articulación continental.
Sin embargo, la calor nos sorprendió: vivimos cuatro días de generosa sauna metereológica. La casa donde nos reuníamos nos ayudó a enfrentar el clima proporcionando sombra de muchos árboles, agua purificada, cuartos apropiados, hamacas y abanicos manuales (quiere decir que cada uno usaba las propias manos para abanicarse con cuadernos disponibles. La comida, siempre poca: arroz y papas cocidas, ocasionalmente pollos que venían de prolongada dieta, zanahoria y bananas… ciertamente una receta muy eficaz para controlar lo energético interior de los cuerpos… Y lo lograron.
Otra experiencia interesante ha sido la de aprender a no quedarse asustados con primeras impresiones. Es que pues cuando llegábamos a la casa, nos recibía el fúnebre paisaje de un bien desarrollado cementerio (pánteon, como los mexicanos insisten en nombrarlo). Hecho es que tal cantidad de tumbas al lado de una casa de retiros no es algo habitual, por lo menos en nuestra experiencia de viajes alrededor del mundo. Estoicamente resignados a nuestra suerte, preguntamos se los cursos anteriores habían sido demasiado intensos al punto de algunos no alcanzar a completarlos con vida…? Entonces nos calmaron las sospechas asegurándonos que aquel lugar horizontal y con flores formaba un espacio adjunto al pueblito vecino, que pronto íbamos a ver, al pasar la curva. Así fue. Entonces respiramos más aliviados y rezamos por el eterno descanso de los “fieles difuntos”.
PUNTOS POSITIVOS DEL CONGRESO:
En síntesis podemos decir que los intensos trabajos que asumimos, valieron la pena. Gozamos de la oportunidad de recibir una sólida e interesante presentación sobre el tema ecológico, con una visión más integradora del mismo. Se nos explicó que el punto central se resume en que, - “No se trata solamente de trabajar sobre lo que está amenazando nuestro planeta, sino y principalmente, de prevenir, anticiparse frente a los desafíos que se nos presentan. Sentimos que el expositor, un competente joven argentino, hijo de un matrimonio de CEBs en Catamarca,Ar, resultó ser un abordaje nuevo del tema y particularmente interesante sobre el tema. Faltó, a nuestro ver, proponer sugerencias sobre como educar para esta visión, la gente que vive en el mundo “del asfalto”. Como presionar los países ricos, que más contaminan el nuestro mundo, a que se decidan a colaborar con la causa común de salvar nuestro planeta (incluyendo a ellos mismos).
- Las celebraciones litúrgicas y otras estuvieron bien preparadas y vividas. Usaron signos propios de cada país y/o región. Ayudaron, oportunamente, a expresar en oración los sueños de mundo, de Iglesia que las CEBs alimentan. Como limitación se consideró que a veces la abundancia de los símbolos debilitó la fuerza del mensaje que se quería transmitir.
- Ha sido importante el funcionamiento de un equipo, del cuál Teo y yo hicimos parte con Tere y Pepe Sánchez de México y Jit Manuel, de República Dominicana (Como se ve la humildad es nuestro punto de orgullo), que evaluaba, día a día, el caminar de los trabajos y su rumbo en relación a la meta del encuentro.
- Las discusiones en grupos, y particularmente la de las diferentes regiones, mantuvieron un buen nivel de conocimiento de las realidades, análisis y propuestas.
- Tomamos conocimiento de como el curso virtual (mérito de Marta Boiocchi, Leida y otros héroes) está caminando con mucho éxito y también tomamos consciencia de los muchos desafíos que implica, ya de que se trata de un medio no tan familiar para nuestras CEBs.
- Positiva y oportuna la buena presencia de jóvenes. Consiguieron articularse entre ellos y con el conjunto del encuentro. Poco a poco fueron descubriendo, por ellos mismos, la importancia y necesidad de articularse con los adultos de forma más efectiva. Consideramos eso un paso significativo porque no se trata de solamente tener jóvenes en el proceso sino de trabajar lado a lado con ellos . Lo que no desconoce, tampoco minimiza la convicción de que los jóvenes tienen un papel protagónico. Este desafío, no teológico, sino pastoral abre camino para creatividades diversas. Y da a las CEBs de América Latina y Caribe, una cara renovada.
AUSENCIAS
- Solamente contamos con un obispo (enviado por la conferencia de obispos de Brasil). El estuvo estuvo, tiempo integral, con nosotros, participando de todas actividades del encuentro. Otros tres obispos nos han visitado. La palabra del obispo diocesano Mons. Angel Garachana, ha sido oportuna y de gran apoyo.
- Contamos con muchos sacerdotes y asesores (varones y mujeres) representantes de los diferentes países.
- Poca presencia de las religiosas, tanto más significativo, porque ellas siempre han estado muy activas en el caminar de las CEBs.
- Faltó tiempo para integrar la ecología (tema central del encuentro) con el conjunto del ser y que hacer de la CEBs.
EN PARTICULAR:
Sentimos que en el proceso de las Cebs, a nivel de los participantes comunes aparece menos trabajado. Estamos apostando mas en el liderazgo, lo que es necesario y bueno, pero hay que comenzar a considerar como la formación tiene que llegar a cada miembro de la pequeña Iglesia.
En lo que se refiere a la evaluación global del proceso de las CEBs en Latinoamericanas y Caribe, nuestro Equipo, reconociendo lo mucho que hemos trabajado en el IX Encuentro, siente todavía las siguientes ausencias:
1. No hemos tomando en serio el hecho de que las CEBs ya no interesan a los líderes de la Iglesia y a la mayoría de los bautizados. En muchas diócesis y parroquias ya no se trata directamente el tema. Por lo general la información que circula sobre las CEBs es limitada, confusa y no pocas veces falsas: son reducidas a grupos de oración, o de militancia política. Son consideradas un movimiento entre tantos otros, no como la primera instancia de vida y articulación eclesial, como lo propuso Medellin 15,10. Son también consideradas como algo ya ultrapasado (lease: fracasado).
2. La preparación de los líderes está mejorando considerablemente. Pero no está llegando a las bases en igual intensidad, como arriba lo hemos mencionado. Lo que deseamos subrayar es que, en consecuencia, podrá surgir una élite pastoral alejada de los miembros comunes de las CEBs.
3. La vertiente explícitamente devocional, la religiosidad popular católica, en muchas áreas, ha sido descuidada u hostilizada.
4. La Renovación Carismática se apropió de los ambientes populares con considerable éxito numérico y de beneplácito de parte de obispos y curas.
5. Sentimos fuerte, en muchos lugares, la despreocupación del compromiso socio-económico-político. Aparecen más actividades y proyectos en la línea asistencial y promocional. En la consciencia de los líderes está clara la información, tantas veces repetidas de que no se trata de un cambio global (Una nueva época). En la practica no se sabe lo que hacer, y las pequeñas iniciativas que surgieron son desproporcionadas, no perseveran y no han llegado a crear esperanza de una respuesta efectiva al problema.
6. Hay cada vez menos religiosas y casi nada de seminaristas comprometidos con las CEBs. Se confirma, por toda parte, que en la formación de los seminaristas, no se trata el tema de las CEBs.
7. La responsabilidad ecuménica no existe y donde hay no a manifestado progresos. Sin embargo, eso no se puede decir de Brasil. En este mes de julio en un encuentro de la CEBs del estado de Rio Grande del Sur, por ejemplo, participaron de la asesoría del encuentro Anglicanos, Luteranos y Metodistas. Algo que no es raro, pues los de otras tradiciones cristianas y también de las religiones africanas e indígenas, solen participar de los encuentros de las CEBs.
Nota: Este noticiero ha sido el primero de una serie. Van a seguir otros, sobre El Salvador y California
Islamismo-Cristianismo
''No diálogo com o Islã, é preciso partir do Concílio''
O 50º aniversário do Vaticano II também é "a oportunidade para relançar as relações inter-religiosas", destaca um dos maiores especialistas nas relações entre cristãos e muçulmanos, Khaled Fouad Allam.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 31-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Professor, o Concílio foi uma escola de ecumenismo?
O Vaticano II também estabeleceu as bases para um diálogo com o mundo muçulmano. Certamente, nos anos 1960, o período era mais ou menos eufórico, porque grande parte do mundo muçulmano havia iniciado a sua fase de descolonização, de libertação, e, portanto, à libertação política, obviamente também devia se seguir uma liberação das incompreensões entre os mundo cristão e o muçulmano. Há toda uma geração de estudiosos do Islã e de muçulmanos que contribuíram para a elaboração desse maior conhecimento do Islã, em uma dupla direção, seja na do mundo cristão, seja na dos muçulmanos, em uma época em que a taxa de analfabetismo nos países muçulmanos era extremamente alta. Eu poderia citar o islamólogo Muhammed Arkoun, falecido há dois anos, de origem argelina, o islamólogo octogenário Muhammed Talbi, que há alguns anos recebeu o Prêmio Agnelli.
Nós temos o dever de contribuir dentro do que é possível para uma memória compartilhada, mas, por enquanto, como ressaltei várias vezes, continuamos mantendo quase intacta uma espécie de divórcio entre história e memória. O Islã é história para os orientalistas e os cultos, mas não é memória compartilhada, permanece distante, apesar da proximidade das distâncias geográficas. Gosto de repetir que Palermo está a uma hora de avião de Túnis. Mas por enquanto não conseguimos. Atenção: isso é recíproco. O mundo muçulmano também deve ser capaz de sair dessa visão do Ocidente como origem de todos os seus males e deve fazer um trabalho em profundidade. Deve ser capaz de recuperar coisas que também fazem parte da sua memória, memória cultural, sobre a qual, no entanto, o Islã, como civilização, reelaborou alguns dados. Não se pode negar a contribuição greco-romana, cristã, judaica e até no Islã da Ásia, com as diversas conexões entre o próprio Islã e o budismo. Um grande islamólogo japonês, Toshihiko Izutsu, foi o primeiro há mais de 50 anos a repassar essas conexões. Mas, no Islã, mesmo lá não conseguimos. Volta à mente a imagem catastrófica da destruição dos Budas no Afeganistão.
O choque de civilizações é inevitável?
Nos períodos de crise como a que vivemos atualmente, que eu acredito que não é apenas uma crise exclusivamente econômica, mas também uma crise em realidades de civilização, isto é, de como se faz sociedade e de como funcionarão as sociedades nos próximos 30 anos, o pior risco da incomunicabilidade entre cristãos e muçulmanos é o de encontrar em um ou em outro um bode expiatório. Os recentes atentados contra os cristãos no Egito são maus sinais. O atentado de Tolouse perpetrado por franco-argelinos membros da Al Qaeda, matando um rabino e jovens de uma escola judaica, mais alguns soldados franceses de origem mahgrebina, em uma fase como esta, corre o risco de aumentar o medo e o estereótipo da percepção do outro. O estereótipo, quando se torna ingovernável, pode levar à catástrofe. Vem à mente o que aconteceu não muito longe de Trieste, a guerra da ex-Iugoslávia. O risco é sempre a passagem da culpabilidade individual para a culpa coletiva. As guerras nascem justamente sobre essa base.
Existe um Islã moderado?
O que se destaca no mundo muçulmano é o empobrecimento cultural das novas gerações, mesmo entre aqueles que pertencem a partidos religiosos. Esquecemo-nos do primeiro relatório do PNUD (órgão das Nações Unidas) publicado em 2001 sobre a democracia no mundo árabe, em que os especialistas de origem árabe ou não enfatizavam a regressão desse mundo no plano social e cultural. Em 2001, ele foi traduzido em todo o mundo árabe, menos na Coreia do Norte. Precisamos refundar uma espécie de pacto intelectual, isto é, a necessidade de produzir edições críticas, dar livre curso à liberdade de expressão.
Na madrugada desta Primavera Árabe, parece-me evidente enfatizar que uma democracia sem liberdade de expressão é exatamente como um vaso de flores sem água, que pouco a pouco morrerá. Nisso também o papel do intelectual é importante. Mas há uma diferença com o Ocidente, pois aqui vejo os intelectuais cada vez mais resignados em todos os campos. Quando eu volto para o mundo árabe, o ar que se respira é diferente. O intelectual tem a consciência de ser copartícipe do destino não apenas da sua própria história, mas também da sua nação, enquanto, infelizmente, e eu lamento isso, eu vejo muitas vezes os intelectuais no Ocidente passivos, desencantados.
Qual a incidência da globalização nisso?
A própria globalização, apesar de tudo, vai nos obrigar a um conhecimento recíproco, porque a globalização implicará o fato de viver juntos e, portanto, de tentar se comunicar. Eu também leciono para estudantes norte-americanos em Stanford e todos os anos eu lhes pergunto as suas origens: em 90% dos casos, são todos nascidos de casamentos mistos, de que tem a mãe de origem iraniana e o pai de origem irlandesa, de quem tem a mãe italiana e o pai de origem latino-americana etc. Essa não é apenas uma questão de casamentos mistos, mas também envolve uma busca e uma reformulação das origens e um conhecimento. A complexidade do nosso viver hoje é também esse, mas ainda não temos a consciência disso.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Originalidade do profetea Amos
Profeta Amós, a luta contra a injustiça social e o juízo iminente
Provavelmente as composições mais antigas do livro do profeta Amós, na Bíblia obviamente (Amós 1-6; 7-9) datam de meados do século VIII a.C., e surgiram como literatura de protesto e resistência. “O acento principal da mensagem de Amós está na crítica social e no anúncio de um juízo iminente de Deus na história, bem como na tênue, mas clara exigência do restabelecimento da justiça como alicerce das relações sociais”[1].
Amós é um profeta precursor, radical, exemplar e paradigmático. A profecia de Amós é, em certo modo, um divisor de águas na história da profecia no sentido de que instaura um novo jeito de ser profeta. O livro de Amós está organizado em duas grandes unidades literárias: I) Am 1-6: Palavras e II) Am 7-9: Visões.
Am 4,4-13 nos ajuda a refletir sobre três aspectos fundamentais da ética profética, intimamente entrelaçados. Esses são: a) a concepção de pecado em relação ao culto; b) em relação à história; c) e os limites de uma possível reconciliação com Deus. A pergunta que se coloca na base e no fim do estudo de Am 4,4-13[2] é: Trata-se de um anúncio de punição in extremis diante da incapacidade de Israel de reagir, ou de uma velada promessa de perdão? Ou existe uma outra interpretação possível?
A declaração final de Javé – Deus solidário com os pisados e libertador dos oprimidos - ao ser humano que fecha a unidade Am 4,4-13 constitui-se quase como uma nova revelação do Sinai, que deve por fim ao conflito entre o ser humano e a divindade, em favor do ser humano. As punições didáticas de Javé deixam lugar a um esclarecimento que abre o coração do ser humano para que veja o conjunto da sua história e possa render-se conta do seu processo de endurecimento.
Am 4,4-13 evoca, portanto, uma situação na qual há certa semelhança com aquela do relato das pragas do Egito, mas não é obviamente, a recordação daqueles fatos. O discurso de Amós menciona, talvez, um passado histórico não identificável nem pela forma e nem pelo conteúdo do texto. As pragas do tempo do Êxodo feriam o Egito, não Israel, e de uma maneira diferente da relatada no livro de Amós capítulo 4. Além do mais, as tais “pragas” eram no mundo antigo, e são ainda nas culturas rústicas, o resultado obrigado de situações críticas naturais ou políticas: a fome é o resultado de toda estiagem prolongada e peste nas plantações, assim como a morte dos jovens (Am 4,10) é o efeito de toda batalha militar, no mundo antigo e moderno.
Às pragas ou punições descritas se reúnem ainda a menção a Sodoma e Gomorra. O discurso de Amós 4 quer, portanto, dar conta de toda a antiga história de Israel, também de Israel patriarcal, para aplicá-la a uma nova situação.
Um ponto particular de relação com o Êxodo é a presença do refrão “mas não retornastes a mim” que estrutura o texto de Amós 4,4-13. Assim, como no relato das pragas o endurecimento do coração do Faraó é o motivo estruturante que faz aumentar as pragas.
No relato do Êxodo, um primeiro grupo de textos, atribuídos tradicionalmente à fonte Javista (J), apresenta de fato Faraó como responsável pelo seu próprio endurecimento, como havia predito Deus (Cf. Ex 7,14.22; 8,11.15.28; 9,7.34). O outro grupo de textos (os chamados “heloístas”) atribui a obstinação ora a Faraó (Ex 9,35) ora a Deus mesmo (Ex 10,20.27). O relato sacerdotal (P) o atribui habitualmente a Javé.
Esta diversidade de concepção no atribuir a responsabilidade pelo pecado aparece também em outros textos fora do Êxodo, com diferente vocabulário e problemática. Em 2º Samuel 24,1, Javé é o responsável direto pelo pecado de Davi devido ao recenseamento. Segundo 1º Crônica 21,1 a responsabilidade é, ao invés, de Satanás. O verbo hebraico usado é o mesmo: swt (= incitar, seduzir).
Tanto em Êxodo como em Am 4,4-13 se coloca um grande problema exegético e teológico: É possível e legítimo que Deus continue a aplicar punições que levam a um endurecimento sempre crescente? Não se comporta Javé assim como o pai que exagera, com sua punição, ao seu filho e força-o a se rebelar (Cf. Efésios 6,4)?
É necessário reconhecer que por trás dos textos bíblicos de endurecimento há o mistério da liberdade humana e da “onipotência” divina. Em relação a Deus, há uma consciência profética que as obras e a Palavra de Deus não podem permanecer sem efeito (Cf. Isaías 55,11), mas é sempre eficaz (não eficiente). Se não produzem imediatamente a conversão, devem amadurecer o sujeito para uma nova prova, o que, em última análise, não exclui a possibilidade de conversão.
Em relação à pessoa punida, há uma consciência do fato que a exortação à conversão, quando não ouvida, se torna uma condenação. Isto é, nada mais, nada menos, que a dinâmica das relações interpessoais. Quando duas pessoas percebem uma mútua existência começa uma comunicação humana, que pode progredir, parar ou, eventualmente, morrer. Mas enquanto existe, cada ação e reação levam à evolução ou diminuição daquela relação. Todo ato (ou omissão) nas relações interpessoais somam e cultivam a relação ou a empobrece descultivando-a. Nenhuma atitude fica neutra.
De modo semelhante, na relação do ser humano com Deus, cada ação que não melhora a relação, a piora, mas jamais a deixa igual. Se não se aceita um convite à conversão, como uma oferta de amizade, o recusa. Por um lado, esta recusa tornará mais difícil que aconteça um novo convite.[3] E de outra parte quem recusou dificilmente voltará atrás para aceitar uma nova oferta, o que implicaria em reconhecer o erro precedente, o que é mais difícil.
Em relação aos profetas e profetisas, este processo se explica na medita em que os/as “intérpretes de Javé” sabem do paradoxo da missão deles/as. Os profetas e profetisas sabem que a palavra profética conduz, às vezes, à conversão de alguns poucos, mas na maioria das vezes leva ao endurecimento de muitos. Os oráculos de condenação no futuro, pronunciados com absoluta segurança, implicam nos profetas a consciência que a advertência seria inútil.
A consciência que os profetas e profetisas têm das três realidades descritas acima se apresenta, de modo muito claro, em Isaías 6,9-11: “Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta e seja sarado. Então disse eu: Até quando Senhor? E respondeu: Até que sejam desoladas as cidades e fiquem sem habitantes, e as casas sem moradores, e a terra seja de todo assolada”.
Em Am 7,14, o profeta Amós se recusa a ser considerado profeta, nos termos do sacerdote Amasias, cúmplice de um poder político opressor. Amós se define como “vaqueiro” e cultivador de sicômoros. Em Am 7,15, Amós parece ser um pastor que cuida do rebanho miúdo (ovelhas e cabras), mas não um vaqueiro. Em Am 7,10-17[4] não há a intenção primeira de descrever pessoalmente a profissão do profeta, mas enfatiza o fato de que Amós foi retirado da sua vida precedente, do seu mundo, das preocupações domésticas para proclamar a Palavra de Deus.
Am 7,10-17 quer legitimar o conteúdo da profecia de Amós e ajudar a comunidade superar todos os preconceitos que possam existir contra o profeta por causa da sua origem humilde, como se fosse um “nordestino”, um sem-terra, um sem-casa, um menor de rua, um portador de HIV, um homossexual etc. O relato de Am 7,10-17 quer nos dizer que a profecia vem da margem, da periferia, do meio dos marginalizados e excluídos. São estes, por excelência, os “intérpretes de Javé”.
Na Bíblia este “gênero” é utilizado para descrever de maneira diferente as vocações de Moisés, Gedeão, Eliseu e Saul. Mas uma estreita relação se encontra em 2º Samuel 7,8. Natã transmite a Davi a mensagem de Javé: “Eu te tirei das pastagens, pastoreavas as ovelhas”. O elemento que caracteriza estas situações não é o fato do convocado pertencer a um grupo, mas, ao contrário, o fato dele ser um “de fora”, um excluído. Assim Am 7,14 quer exprimir a distância de Amós das formas institucionais da profecia e dos profetas “da corte”.
O relato do confronto entre o sacerdote Amasias e Amós (com a implicada presença do rei) oferece a justificação da decisão de Javé. O povo não somente não ouviu as diversas palavras transmitidas pelo profeta Amós, mas decidiu silenciá-lo, expulsando-o para sua terra. Já não há nada mais a esperar senão o fim definitivo, e diante desse resta somente a lamentação. O profeta anuncia a necessidade de conversão; pede perdão a Deus pelo povo; pede para parar a punição. O rei (e a monarquia) e o Templo expulsam o profeta, silenciando-o. O povo sofrerá muito mais. Ai de um povo que não escuta seus profetas e profetisas, e pior ainda, que os persegue, expulsa e os silencia.
A perícope de Am 7,10-17 revela a interpretação que setores da classe dominante tinham do conteúdo da profecia de Amós. Aos olhos da elite, o profeta é um “conspirador”, interessado em “golpe de estado”. Para Javé e o povo empobrecido Amós é um profeta, porta voz do Deus da vida para todos e tudo. Para a elite ele é um “subversivo”, um agitador.
Em Am 4,1-3 temos a seguinte profecia:
“OUVI esta palavra, vacas de Basã, que estais sobre o monte de Samaria, que oprimis os fracos, que esmagais os excluídos, que dizeis aos vossos senhores: “Trazei-nos o que beber!”. O Senhor Javé jurou, pela sua santidade: sim, dias virão sobre vós, em que vos carregarão com ganchos e a vossos descendentes com arpões (de pesca). E saíreis pelas brechas que cada uma tem diante de si, e sereis empurradas em direção ao Hermon, oráculo de Javé”.
Segundo uma interpretação tradicional, Am 4,1-3 seria uma investida do profeta Amós contra as mulheres ricas de Samaria, designadas como “vacas de Basã”, mulheres de personagens importantes, que ocupam o tempo em luxuosos banquetes, e ao mesmo tempo são responsáveis pela opressão e exploração dos empobrecidos. A imagem de um banquete só de madames é, no mínimo, algo curioso em uma sociedade reconhecidamente machista e patriarcal, assim como atribuir às mulheres a responsabilidade pela opressão e pela injustiça.
A região de Basã, como o Líbano e o Carmelo, é famosa pela fertilidade do solo. A tristeza causada pela punição divina se manifesta na debilidade do Líbano, do Basã, do Carmelo e do Saron (Cf. Isaías 33,9). Ao contrário, a generosidade divina se expressa no nutrimento do povo com a “manteiga das ovelhas e dos touros de Basã” (Cf. Deuteronômio 32,14). O anúncio messiânico, com o qual se conclui o livro de Miquéias, inclui a promessa de um pasto abundante “em Basã e em Galaad, como nos dias antigos (Cf. Miquéias 7,14). No ambiente de louvor do Salmo 68 o “Basã” são os montes (Sl 68,16) que testemunham, junto com o Sinai e a natureza, a grandeza das obras de Javé. Logo integrar “Basã” em uma imagem depreciativa é algo estranho ao uso corrente de “Basã” na Bíblia.
De “vaca de Basã” não se fala em nenhum outro lugar no Primeiro Testamento da Bíblia. As montanhas de Basã são famosas pelos seus touros, cabritos e carneiros (mas não vacas; cf. Dt 32,14). Por isso os touros de Basã podem ser imagens dos inimigos poderosos (cf. Salmo 22,13 e, sobretudo, Ezequiel 39,18).
A expressão “vacas de Basã” adquire um sentido mais verdadeiro dentro da cultura bíblica se o termo “vacas” não for utilizado em relação a mulheres, mas a homens, aqueles que quiseram ser como os touros de Basã, pela força deles, autoridade e dignidade se tornaram “vacas”, com as conotações depreciativas que as formas femininas podem ter no Primeiro Testamento.
Neste contexto, os “seus senhores” (Am 4,1b, com sufixo masculino) se referem provavelmente não aos “maridos”, como propõem algumas traduções, um uso pelo qual não se tem nenhuma outra ocorrência, mas refere-se a uma pessoa de mais autoridade (política). “Senhor”, além do freqüente uso como título divino, se refere a Acab (2 Reis 10,2.3.6), ao Faraó (Gênesis 40,1), ao Rei da Babilônia (Jeremias 27,4), e em casos isolados a várias pessoas: “outros senhores...” (Isaías 26,13).
Na profecia de Amós está “uma crítica veemente e contundente aos agentes e mecanismos de exploração e opressão dos camponeses empobrecidos sob o governo expansionista do rei Jeroboão II e sob as condições de um incremento de relações de empréstimos e dívidas entre pessoas do próprio povo no século VIII a.C.”[5]. Em outros termos, o profeta Amós não apenas critica pessoas corruptas, mas questiona também de modo muito forte o sistema gerador de pessoas corruptas. Não somente as mazelas pessoais estão na mira do “camponês” que entrou para a história como um grande profeta. Amós tem consciência de que o problema fundamental da injustiça reinante na sociedade não é fruto somente de fraquezas e ambigüidades pessoais, mas tem como causa motriz estruturas sócio-econômico-político-cultural e religiosas que engrenam uma máquina de moer pessoas. Na mira do profeta Amós também estão relações comerciais que causam endividamento, aprisionam pessoas e escravizam, retirando a liberdade de ser pessoa humana.
Além das denúncias sociais, a profecia de Amós destaca-se com o anúncio de um juízo iminente de Javé na história do seu povo. Amós inverte as expectativas quanto a um tão sonhado “dia de Javé” (Am 5,18-20). Este não será mais uma “ideologia de segurança político-religiosa” pelos fortes de Israel. A perversão da justiça para os pobres, a opressão dos empobrecidos e a exploração das pessoas mais enfraquecidas clama pelo juízo divino. O “dia de Javé” será um “dia mau” sobre os fortes de Israel, sobre o estado tributário, suas instituições e seus agentes.
Amós critica com coragem a “corrida armamentista” de Israel. Ele anuncia que serão desmanteladas as forças militares dos estados vizinhos (Amós 1,5.8b.14b; 2,2b) e sobretudo de Israel (Amós 2,13-16; 3,11b; 5,2-3; 6,13-14).
O profeta Amós denuncia duramente também as instituições religiosas que estão justificando o processo de extorsão de tributos da população camponesa (Am 4,4-5; 5,21-23). Pelo conluio com a opressão econômica a religião oficial também será dizimada (templos) e seus agentes (Am 5,27; 7,9; 9,1).
“Odeiem o mal e amem o bem: restabeleçam no portão a justiça!” (Am 5,15). “Aqui está a exigência positiva por excelência na profecia de Amós. Os israelitas são conclamados a reconstruir as relações sociais baseadas na justiça e no direito (mishpat / sedaqah – em hebraico). Só assim será possível escapar do juízo vindouro anunciado. O futuro de um “resto” passa pela prática de Justiça”[6]. O juízo abre caminho para a justiça. A presença dos profetas e profetizas no meio do povo deixa Javé livre de qualquer responsabilidade diante da punição que o povo merece. Não precisa nem explicitar a atualidade da profecia de Amós. Que cada leitor/a faça as atualizações necessárias.
Frei Gilv. ord Carm.
Notas:
[1] HAROLDO REIMER, Amós profeta de juízo e justiça, em Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas releituras, RIBLA 35-36, Ed. Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo, 2000, p. 171.
[2] Para melhor compreensão sugiro ler na Bíblia Am 4,4-13 (capítulo 4, versículos de 4 a 13) antes de prosseguir a leitura do nosso texto.
[3] Gato escaldado com água quente tem medo até de água fria, diz a sabedoria popular.
[4] Sugiro ler na Bíblia Am 7,1-17 antes de prosseguir a leitura do nosso texto.
[5] HAROLDO REIMER, Amós profeta de juízo e justiça, em Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas releituras, RIBLA 35-36, Ed. Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo, 2000, p. 188.
[6] HAROLDO REIMER, Amós profeta de juízo e justiça, em Os livros proféticos: a voz dos profetas e suas releituras, RIBLA 35-36, Ed. Vozes, Petrópolis e Ed. Sinodal, São Leopoldo, 2000, p. 189.
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