"Confia sobretudo, no lento trabalh de Deus. Por nossa própria natureza, somos impacientes. Queremos que tudo que é nosso alcance logo o respectivo objetivo. Adoraríamos saltar as etapas intermediarias. Somos irriquietos. Queremos estar desbravando o desconhecido e inaugurando algo novo.
A lei de todo progresso, porém, impõe etapas de instabilidade e de insegurança. Isto exige tempo.
O quew acontece dentro de nós, as nossas idéias e convicções amadurecem gradualmente. É preciso deixá-las crescer sem precipitação, para que encontrem a sua própria forma. De nada vale querer forçar, como se fosse possivel ser hoje o que o tempo (a graça de Deus e as circunstâncias que agem para o nosso próprio bem) vão realizar em nós, amanhã. Só Deus pode dizer como será o novo ser que vai se desenvolvendo gradualmente, dentro de nos. Permitas a Deus concluir a sua obra, segure na mão Dele, mesmo que tantas vezes te sintas no ar, ansioso e como que perdido".
- Ao refletir sobre essa passagem, nossa amiga Nora Petersen, concluia: - "Para mim é importante recordar, de vez em quando, quem é Deus. Quando faço isso, fico mais descansada!"
domingo, 16 de dezembro de 2012
sábado, 15 de dezembro de 2012
Um Novo Concilio, Peter HÜnermann (Teólogo alemão)
Peter Hünermann (foto) é teólogo, professor emérito da cátedra de teologia dogmática na Universidade de Tübingen, na Alemanha. No outono de 1962, quando iniciou o Concílio Vaticano II, lecionou na Faculdade de Freiburg. De 1971 a 1982 foi professor na Universidade de Münster. De suas obras, destacamos Offenbarung Gottes in der Zeit. Prolegomena zur Christologie (Münster 1989) e juntamente com Bernd Jochen Hilberath publicou, em cinco volumes, Herders Theologischer Kommentar zum Zweiten Vatikanischen Konzil (Freiburg 2004/5).
IHU On-Line - Deveria haver um novo Concílio? Quais os temas que deveriam ser discutidos nos dias de hoje?
Peter Hünermann - Quando o cardeal Martini sugeriu, no marco dos eventos em torno do milênio, a realização de um Vaticano III, escrevi a ele dizendo que um sínodo geral da igreja latina me parecia mais urgente. Por quê? Muitos dos problemas que estão sendo discutidos atualmente estão solucionados nas igrejas orientais! As igrejas orientais têm um clero casado e um clero celibatário. Entre nós, a manutenção do clero meramente celibatário está causando problemas consideráveis. Nas igrejas orientais, os patriarcas estão inseridos num respectivo sínodo sagrado. Entre nós, o primaz, o papa, adquiriu uma forma inteiramente monárquico-absolutista. E isso aconteceu embora, até o século XVII/XVIII, o papa tenha governado com um consistório de cardeais. Algo semelhante se aplica, de modo atenuado, aos bispos locais. Muitas igrejas orientais – também igrejas orientais unidas – aceitam mulheres no clero. Muitas igrejas orientais conservaram o diaconato para mulheres. Nas igrejas orientais, a questão dos divorciados que voltaram a casar é tratada de maneira diferente da igreja latina. Neste caso há necessidade de pôr as coisas em ordem antes de convocar um novo concílio.
IHU On-Line - Em que medida o Concílio Vaticano II é uma tentativa de reconciliação da Igreja Católica com as culturas não europeias, com os judeus e outras igrejas cristãs?
Peter Hünermann - O Concílio defendeu explicitamente um pluralismo legítimo na igreja. No documento sobre as igrejas orientais (n. 2) se afirma o seguinte: “esta é a intenção da Igreja Católica: que permaneçam salvas e íntegras as tradições de cada igreja particular ou rito. E ela mesma quer igualmente adaptar a sua forma de vida às várias necessidades dos tempos e lugares.”
Essa pluralidade, que também se refere à liturgia, espiritualidade, ordens eclesiásticas diversas, usos e costumes, é designada expressamente como uma riqueza da igreja (cf. Unitatis Redintegratio, n. 15).
Na constituição eclesiástica Lumen Gentium e no decreto sobe a relação com as outras religiões, reafirma-se expressamente a eleição permanente do povo de Deus do Antigo Testamento, rejeita-se o antissemitismo e se confirma a unidade da igreja e de Israel. Em consonância com isso, muitos textos da liturgia, por exemplo da sexta-feira santa, foram alterados e reformulados. A relação com as igrejas da Reforma foi fundamentalmente aprofundada.
Constatou-se que os atuais cristãos protestantes “não podem ser acusados do pecado da separação”. “Pois que creem em Cristo e foram devidamente batizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja Católica” (Unitatis Redintegratio, n. 3). O Espírito Santo atua também nessas comunidades protestantes (ibidem).
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Concilio: causa o enfrentamento da crise
Enzo Bianchi,monge e teólogo italiano prior e fundador da Comunidade de Bose (Artigo na Revista Jesus, dez.2012).
Nos últimos anos, ouvem-se cada vez mais vozes eclesiásticas que imputam ao evento Concílio os males que a Igreja sofreu e ainda sofre: redução da prática de culto, falta de vocações religiosas e presbiterais, com o consequente envelhecimento das forças pastorais e das figuras testemunhais, colocação periférica das vozes culturais católicas...
Essa acusação contrapõe a "crise" a situações melhores e menos precárias nos ambientes católicos que rejeitaram o Concílio e mostra querer atingir também a mensagem expressa pelos próprios textos conciliares. No entanto, parece-nos uma acusação não munida de discernimento.
É verdade, a crise se manifestou nos anos da realização do Concílio, mas não foi induzida por esse evento, mas sim pela revolução cultural antropológica que ocorreu no fim dos anos 1960, com relação à qual, ao invés, o Concílio já representou um início de resposta profética.
Com toda a probabilidade, se o Concílio não tivesse começado a dar uma nova dinâmica à vida da Igreja, dada a estagnação que durava há décadas, a recaída daquela sublevação epocal teria pesado muito mais. Aqueles que imputam a crise ao Concílio deveriam se perguntar como é que outras Igrejas que não tiveram um Concílio – como a Comunhão Anglicana, a Igreja Ortodoxa Grega, diversas Igrejas da reforma – encontram-se em situações mais críticas do que a da Igreja Católica. A porcentagem daqueles que vivem e celebram no domingo a própria vocação batismal nessas Igrejas é inferior à encontrada nos países europeus de tradição católica.
Na verdade, o rosto da Igreja mudou nesses últimos 50 anos, e muitas são as positividades que emergiram dessa mudança. Queremos tentar delineá-las? Acima de tudo, e esse é o aspecto mais decisiva e irreversível, os católicos hoje conhecem o evangelho muito mais do que ontem e compreendem melhor o que é a grande tradição viva da Igreja.
Através da liturgia rezada em sua língua e da escuta da Palavra proclamada, eles são moldados, domingo a domingo, como discípulos do Senhor Jesus: estão em menor número como participantes na missa dominical, mas a sua consciência de ter que escutar o evangelho para conhecer e amar o Senhor aumentou muito.
Outra vistosa positividade é a participação dos cristãos nos movimentos de solidariedade, nos numerosos e multiformes grupos que surgem para enfrentar as múltiplas necessidades presentes na vida social: atenção aos estrangeiros, formas de caridade concreta e cotidiana para com os mais fracos, apoio aos deficientes... são compromissos em que o espírito evangélico é inspirador e de grande ajuda, e é capaz de se difundir e de se tornar cada vez mais crível mesmo em meio a homens e mulheres não cristãos.
E como não se dar conta de que a vida eclesial é mais percebida como participação do que como pertença identitária? A paróquia é verdadeiramente de todos aqueles que desejam ser uma comunidade do Senhor, e nela o compromisso pessoal não só é possível, mas é reconhecido como parte da estatura do cristão maduro adulto.
Não me parece sério ignorar essas positividades e denunciar somente as inadimplências eclesiais, presentes sim, e às vezes até graves – como uma comunidade cristã pode viver sem o presbítero e, portanto, sem a eucaristia? –, mas explicáveis não as imputando ao Concílio e aos papas que o presidiram, mas sim àquela mudança antropológica investiu sobre todo o mundo ocidental.
Hoje, a 50 anos do Concílio, é preciso dizer claramente que ele ainda espera pela sua realização: há reformas ainda a serem implementadas no exercício da autoridade, como a colegialidade; há um reconhecimento da consciência que ainda deve se tornar exercício cotidiano no povo cristão; há uma reforma litúrgica a ser levada a cumprimento...
Mas nunca se repetirá o suficiente que um Concílio como o Vaticano II quis e suscitou uma maior fidelidade ao Evangelho por parte dos cristãos e da Igreja. Um Concílio que não quis combater ninguém, nem ideia alguma, que não procurou se contrapor hostilmente a nenhuma perspectiva forjada pelos homens.
Um Concílio pensado, nascido, desejado e guiado pelos papas e pelos padres conciliares para uma reforma da Igreja em termos de uma adesão mais fiel às exigências evangélicas. Isso é o que Bento XVI continua reiterando: definindo o Vaticano II como um Concílio de reforma, o papa insiste no fato de que é preciso mudar a "forma" da Igreja para torná-la todos os dias mais fiel ao seu Senhor.
Nos últimos anos, ouvem-se cada vez mais vozes eclesiásticas que imputam ao evento Concílio os males que a Igreja sofreu e ainda sofre: redução da prática de culto, falta de vocações religiosas e presbiterais, com o consequente envelhecimento das forças pastorais e das figuras testemunhais, colocação periférica das vozes culturais católicas...
Essa acusação contrapõe a "crise" a situações melhores e menos precárias nos ambientes católicos que rejeitaram o Concílio e mostra querer atingir também a mensagem expressa pelos próprios textos conciliares. No entanto, parece-nos uma acusação não munida de discernimento.
É verdade, a crise se manifestou nos anos da realização do Concílio, mas não foi induzida por esse evento, mas sim pela revolução cultural antropológica que ocorreu no fim dos anos 1960, com relação à qual, ao invés, o Concílio já representou um início de resposta profética.
Com toda a probabilidade, se o Concílio não tivesse começado a dar uma nova dinâmica à vida da Igreja, dada a estagnação que durava há décadas, a recaída daquela sublevação epocal teria pesado muito mais. Aqueles que imputam a crise ao Concílio deveriam se perguntar como é que outras Igrejas que não tiveram um Concílio – como a Comunhão Anglicana, a Igreja Ortodoxa Grega, diversas Igrejas da reforma – encontram-se em situações mais críticas do que a da Igreja Católica. A porcentagem daqueles que vivem e celebram no domingo a própria vocação batismal nessas Igrejas é inferior à encontrada nos países europeus de tradição católica.
Na verdade, o rosto da Igreja mudou nesses últimos 50 anos, e muitas são as positividades que emergiram dessa mudança. Queremos tentar delineá-las? Acima de tudo, e esse é o aspecto mais decisiva e irreversível, os católicos hoje conhecem o evangelho muito mais do que ontem e compreendem melhor o que é a grande tradição viva da Igreja.
Através da liturgia rezada em sua língua e da escuta da Palavra proclamada, eles são moldados, domingo a domingo, como discípulos do Senhor Jesus: estão em menor número como participantes na missa dominical, mas a sua consciência de ter que escutar o evangelho para conhecer e amar o Senhor aumentou muito.
Outra vistosa positividade é a participação dos cristãos nos movimentos de solidariedade, nos numerosos e multiformes grupos que surgem para enfrentar as múltiplas necessidades presentes na vida social: atenção aos estrangeiros, formas de caridade concreta e cotidiana para com os mais fracos, apoio aos deficientes... são compromissos em que o espírito evangélico é inspirador e de grande ajuda, e é capaz de se difundir e de se tornar cada vez mais crível mesmo em meio a homens e mulheres não cristãos.
E como não se dar conta de que a vida eclesial é mais percebida como participação do que como pertença identitária? A paróquia é verdadeiramente de todos aqueles que desejam ser uma comunidade do Senhor, e nela o compromisso pessoal não só é possível, mas é reconhecido como parte da estatura do cristão maduro adulto.
Não me parece sério ignorar essas positividades e denunciar somente as inadimplências eclesiais, presentes sim, e às vezes até graves – como uma comunidade cristã pode viver sem o presbítero e, portanto, sem a eucaristia? –, mas explicáveis não as imputando ao Concílio e aos papas que o presidiram, mas sim àquela mudança antropológica investiu sobre todo o mundo ocidental.
Hoje, a 50 anos do Concílio, é preciso dizer claramente que ele ainda espera pela sua realização: há reformas ainda a serem implementadas no exercício da autoridade, como a colegialidade; há um reconhecimento da consciência que ainda deve se tornar exercício cotidiano no povo cristão; há uma reforma litúrgica a ser levada a cumprimento...
Mas nunca se repetirá o suficiente que um Concílio como o Vaticano II quis e suscitou uma maior fidelidade ao Evangelho por parte dos cristãos e da Igreja. Um Concílio que não quis combater ninguém, nem ideia alguma, que não procurou se contrapor hostilmente a nenhuma perspectiva forjada pelos homens.
Um Concílio pensado, nascido, desejado e guiado pelos papas e pelos padres conciliares para uma reforma da Igreja em termos de uma adesão mais fiel às exigências evangélicas. Isso é o que Bento XVI continua reiterando: definindo o Vaticano II como um Concílio de reforma, o papa insiste no fato de que é preciso mudar a "forma" da Igreja para torná-la todos os dias mais fiel ao seu Senhor.
A liturgia combate ou apoia o Vaticano II
''Ressuscitar a missa pré-Vaticano II deixa a Igreja em uma encruzilhada''
O missal de 1570 (a base do missal de 1962) foi, e continua sendo, uma liturgia em que os batizados – uma vez sujeitos da liturgia e cocelebrantes do sacrifício eucarístico – foram e são reduzidos a meros espectadores. Eles estão lá para assistir o padre dizer a "sua" Missa. A ênfase é hierárquica e legalista (quem tem o poder e como exerce legalmente esse poder).
A opinião é de Ron Schmit, pároco da St. Anne Church, em Byron, Califórnia, nos Estados Unidos. O artigo foi publicado no sítio do jornal National Catholic Reporter, 08-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Foi a curiosidade e um senso de ironia que me levaram a abrir a edição do dia 1º de outubro do nosso jornal diocesano. Na capa, a manchete era "Seguindo em frente na fé", ao lado de uma foto do nosso ex-bispo vestido como um prelado de mais de 50 anos atrás. Essa era uma foto de uma liturgia na "forma extraordinária" (a missa em latim pré-Vaticano II de 1962), acolhendo um grupo de freiras carmelitas muito tradicionais na diocese.
Ultimamente, parece haver um crescente interesse por essa "forma extraordinária", em nosso jornal diocesano e entre alguns dos nossos clérigos. No passado, a minha atitude foi "e daí?". Se as pessoas gostam de antiquarismo, deixe-as gostar. Algumas pessoas gostam de passar fins de semana reencenando a Guerra Civil. Elas se vestem com trajes da época. Elas encenam simulações das batalhas dos soldados da União e dos confederados. É um passatempo inofensivo. Eu percebi, então, que as pessoas ligadas a essa "forma extraordinária" eram a versão litúrgica das sociedades de reencenação anacrônicas.
No entanto, eu tive que mudar a minha opinião. As pessoas ligadas à forma extraordinária não são como as sociedades de reencenação da Guerra Civil. Ao menos, estas pessoas sabem que estão brincando-atuando sobre um tempo que nunca pode voltar. As pessoas ligadas à forma extraordinária estão tentando seriamente decretar uma visão de mundo e uma compreensão particulares da Igreja. E essa é uma compreensão que deixamos para trás no Concílio Vaticano II . É uma visão de mundo que é incompatível com o Concílio.
A liturgia não tem a ver com gosto ou estética. É como a Igreja define a si mesma. Aqueles que rejeitaram o Vaticano II e a sua liturgia foram os primeiros a compreender a conexão entre a liturgia e a nossa autocompreensão como Igreja.
O Papa Paulo VI também entendeu isso. A rejeição da liturgia do Vaticano II é uma rejeição da sua eclesiologia e teologia. Em seu livro recém-publicado True Reform: Liturgy and Ecclesiology in Sacrosanctum Concilium, Massimo Faggioli narra a resposta de Paulo VI quando o seu amigo filósofo Jean Guitton perguntou por que não reconhecer o missal de 1962 ao separatista arcebispo Marcel Lefebvre e seus seguidores. Paulo VI respondeu:
A definição de quem somos como Igreja ganha vida na liturgia. O Vaticano II descreveu a Igreja como um povo sacerdotal chamado a uma missão. Esse sacerdócio se enraíza no nosso batismo. Uma vez, o Papa João Paulo II foi perguntado sobre o dia mais importante da sua vida. Ele respondeu: "O dia em que eu fui batizado".
O batismo é a nossa participação na vitória de Cristo sobre a morte. Somos incorporados no mistério pascal do Cristo ressuscitado e agora participamos da vida de Deus. Que outro chamado maior pode haver? O casamento, a vida religiosa ou de solteiro e o ministério ordenado nada mais são do que formas específicas em que somos chamados a viver a nossa vocação batismal. É por isso que Santo Agostinho dizia ao seu povo: "Com vocês, eu sou batizado; por você, eu sou ordenado". O Concílio nos diz que o batismo chama todos à santidade.
A visão do Concílio de um povo sacerdotal em missão precisava de uma liturgia que pudesse preparar discípulos prontos para assumir as suas responsabilidades. O Concílio olhou para o passado distante da Igreja para recuperar os elementos rituais que foram fundamentais para preparar o batizado a assumir uma responsabilidade ativa da missão sacerdotal, profética e real de Cristo.
Em seu artigo Summorum Pontificum and the Unmaking of the Lay Church (Worship, julho de 2012), o estudioso Mestres Keightley, da Geórgia, identifica esses elementos recuperados da Igreja antiga pelo Concílio. Eles expressam o exercício ativo do povo sacerdotal de Deus: a oração dos fiéis, a procissão do ofertório e o beijo da paz. Eles eram sinais visíveis que expressavam o sacerdócio da Igreja. Esses sinais encarnam para o sacerdócio de todos os fiéis a missão de proclamar o Evangelho e de interceder pelo mundo e por todas as pessoas.
Ao longo do tempo, esses elementos foram perdidos ou ficaram obscurecidos. No momento em que chegamos ao Concílio de Trento (1545-1563), novas orações e ritos substituíram os ritos antigos. Keightley escreve:
Em vez do Cristo ressuscitado que atua através de todo o povo de Deus (leigos e ordenados), temos um clero poderoso que ministra a um povo passivo. Em vez da Igreja como sacramento, temos a Igreja como uma hierarquia jurídica.
A tentativa de ressuscitar e popularizar a Missa pré-Vaticano II de 1962 tem sérias ramificações. Será que vamos ser uma Igreja que olha estritamente para dentro – onde Deus só é encontrado na piedade e na devoção privada, ou seremos uma Igreja como o Vaticano II a definiu – um povo cheio do fogo do Espírito com um urgente sentido de missão? Estamos em uma encruzilhada. A forma extraordinária é incapaz de nos ativar como povo sacerdotal de Deus – a visão do Vaticano II. Qual caminho iremos seguir?
Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz foram grandes reformadores da Contrarreforma católica. Assim como os participantes do Vaticano II, eles tentaram reformar a sua comunidade retornando para as fontes e restaurando a prática religiosa (descalça) que se tornou obscurecida ao longo do tempo. Eles também tiveram que lutar contra aqueles que combatiam as reformas que eles estavam iniciando. Precisamos da sua intercessão para perseverar no aggiornamento (atualização) que o Papa João XXIII inaugurou convocando o Concílio.
A perseverança irritável e alegre de Santa Teresa de Ávila está refletida em uma das frases dela que eu mais gosto: "De devoções absurdas e santos amargurados, livra-nos, Senhor!".

A opinião é de Ron Schmit, pároco da St. Anne Church, em Byron, Califórnia, nos Estados Unidos. O artigo foi publicado no sítio do jornal National Catholic Reporter, 08-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Foi a curiosidade e um senso de ironia que me levaram a abrir a edição do dia 1º de outubro do nosso jornal diocesano. Na capa, a manchete era "Seguindo em frente na fé", ao lado de uma foto do nosso ex-bispo vestido como um prelado de mais de 50 anos atrás. Essa era uma foto de uma liturgia na "forma extraordinária" (a missa em latim pré-Vaticano II de 1962), acolhendo um grupo de freiras carmelitas muito tradicionais na diocese.
Ultimamente, parece haver um crescente interesse por essa "forma extraordinária", em nosso jornal diocesano e entre alguns dos nossos clérigos. No passado, a minha atitude foi "e daí?". Se as pessoas gostam de antiquarismo, deixe-as gostar. Algumas pessoas gostam de passar fins de semana reencenando a Guerra Civil. Elas se vestem com trajes da época. Elas encenam simulações das batalhas dos soldados da União e dos confederados. É um passatempo inofensivo. Eu percebi, então, que as pessoas ligadas a essa "forma extraordinária" eram a versão litúrgica das sociedades de reencenação anacrônicas.
No entanto, eu tive que mudar a minha opinião. As pessoas ligadas à forma extraordinária não são como as sociedades de reencenação da Guerra Civil. Ao menos, estas pessoas sabem que estão brincando-atuando sobre um tempo que nunca pode voltar. As pessoas ligadas à forma extraordinária estão tentando seriamente decretar uma visão de mundo e uma compreensão particulares da Igreja. E essa é uma compreensão que deixamos para trás no Concílio Vaticano II . É uma visão de mundo que é incompatível com o Concílio.
A liturgia não tem a ver com gosto ou estética. É como a Igreja define a si mesma. Aqueles que rejeitaram o Vaticano II e a sua liturgia foram os primeiros a compreender a conexão entre a liturgia e a nossa autocompreensão como Igreja.
O Papa Paulo VI também entendeu isso. A rejeição da liturgia do Vaticano II é uma rejeição da sua eclesiologia e teologia. Em seu livro recém-publicado True Reform: Liturgy and Ecclesiology in Sacrosanctum Concilium, Massimo Faggioli narra a resposta de Paulo VI quando o seu amigo filósofo Jean Guitton perguntou por que não reconhecer o missal de 1962 ao separatista arcebispo Marcel Lefebvre e seus seguidores. Paulo VI respondeu:
Nunca. Essa Missa (...) torna-se o símbolo da condenação do Concílio. Eu não vou aceitar, em hipótese alguma, a condenação do Concílio através de um símbolo. Se essa exceção para a liturgia do Vaticano II fosse concedida, todo o Concílio ficaria abalada. E, como consequência, a autoridade apostólica do Concílio ficaria abalada.
Paulo VI sabia que permitir a velha forma seria não só divisivo, mas colocaria em dúvida todo o Concílio, e isso seria um pecado contra o Espírito Santo. Agora estamos experimentando o fruto infeliz da recente permissão para celebrar a forma extraordinária.A definição de quem somos como Igreja ganha vida na liturgia. O Vaticano II descreveu a Igreja como um povo sacerdotal chamado a uma missão. Esse sacerdócio se enraíza no nosso batismo. Uma vez, o Papa João Paulo II foi perguntado sobre o dia mais importante da sua vida. Ele respondeu: "O dia em que eu fui batizado".
O batismo é a nossa participação na vitória de Cristo sobre a morte. Somos incorporados no mistério pascal do Cristo ressuscitado e agora participamos da vida de Deus. Que outro chamado maior pode haver? O casamento, a vida religiosa ou de solteiro e o ministério ordenado nada mais são do que formas específicas em que somos chamados a viver a nossa vocação batismal. É por isso que Santo Agostinho dizia ao seu povo: "Com vocês, eu sou batizado; por você, eu sou ordenado". O Concílio nos diz que o batismo chama todos à santidade.
A visão do Concílio de um povo sacerdotal em missão precisava de uma liturgia que pudesse preparar discípulos prontos para assumir as suas responsabilidades. O Concílio olhou para o passado distante da Igreja para recuperar os elementos rituais que foram fundamentais para preparar o batizado a assumir uma responsabilidade ativa da missão sacerdotal, profética e real de Cristo.
Em seu artigo Summorum Pontificum and the Unmaking of the Lay Church (Worship, julho de 2012), o estudioso Mestres Keightley, da Geórgia, identifica esses elementos recuperados da Igreja antiga pelo Concílio. Eles expressam o exercício ativo do povo sacerdotal de Deus: a oração dos fiéis, a procissão do ofertório e o beijo da paz. Eles eram sinais visíveis que expressavam o sacerdócio da Igreja. Esses sinais encarnam para o sacerdócio de todos os fiéis a missão de proclamar o Evangelho e de interceder pelo mundo e por todas as pessoas.
Ao longo do tempo, esses elementos foram perdidos ou ficaram obscurecidos. No momento em que chegamos ao Concílio de Trento (1545-1563), novas orações e ritos substituíram os ritos antigos. Keightley escreve:
Eles [as novas orações e ritos] não deram nenhum espaço para as intercessões dos leigos pelo mundo e por seu povo. Desapareceu qualquer sinal visível da oferta sacrificial de si mesmo que ganha forma naqueles esforços diários para acolher o estrangeiro, cuidar dos pobres e administrar os recursos da Terra. Também não havia permissão para aquela expressão sincera do companheirismo e da comunhão que a Igreja afirma celebrar e testemunhar. Com o seu desaparecimento, uma dimensão importante da liturgia também recuou, isto é, a apreciação da Igreja primitiva pela Eucaristia como um sacrificium laudis (sacrifício de louvor).
A liturgia que surgiu a partir da Idade Média e de Trento colocava uma ênfase diferente sobre a liturgia eucarística. O foco não estava na preparação de todos os batizados para a missão, mas sim no poder do ordenado de transformar pão e vinho. A ideia da "reconstituição incruenta do sacrifício da cruz" empurrou a "ação de graças pela criação e a consagração do mundo" para as margens da teologia eucarística. O poder do clero de tornar Cristo presente na Eucaristia ofuscou o poder da Eucaristia de transformar os batizados – equipados para tornar Cristo uma presença real no mundo através de suas vidas cotidianas. Keightley novamente:
Isso não só introduziu uma profunda divisão entre criação e redenção, mas também deu origem a uma espiritualidade laical focada estritamente na futura salvação do indivíduo, negligenciando os deveres eclesiais sacerdotais da pessoa pela renovação da criação aqui e agora.
O missal de 1570 (a base do missal de 1962) foi, e continua sendo, uma liturgia em que os batizados – uma vez sujeitos da liturgia e cocelebrantes do sacrifício eucarístico – foram e são reduzidos a meros espectadores. Eles estão lá para assistir o padre dizer a "sua" Missa. A ênfase é hierárquica e legalista (quem tem o poder e como exerce legalmente esse poder). Em vez do Cristo ressuscitado que atua através de todo o povo de Deus (leigos e ordenados), temos um clero poderoso que ministra a um povo passivo. Em vez da Igreja como sacramento, temos a Igreja como uma hierarquia jurídica.
A tentativa de ressuscitar e popularizar a Missa pré-Vaticano II de 1962 tem sérias ramificações. Será que vamos ser uma Igreja que olha estritamente para dentro – onde Deus só é encontrado na piedade e na devoção privada, ou seremos uma Igreja como o Vaticano II a definiu – um povo cheio do fogo do Espírito com um urgente sentido de missão? Estamos em uma encruzilhada. A forma extraordinária é incapaz de nos ativar como povo sacerdotal de Deus – a visão do Vaticano II. Qual caminho iremos seguir?
Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz foram grandes reformadores da Contrarreforma católica. Assim como os participantes do Vaticano II, eles tentaram reformar a sua comunidade retornando para as fontes e restaurando a prática religiosa (descalça) que se tornou obscurecida ao longo do tempo. Eles também tiveram que lutar contra aqueles que combatiam as reformas que eles estavam iniciando. Precisamos da sua intercessão para perseverar no aggiornamento (atualização) que o Papa João XXIII inaugurou convocando o Concílio.
A perseverança irritável e alegre de Santa Teresa de Ávila está refletida em uma das frases dela que eu mais gosto: "De devoções absurdas e santos amargurados, livra-nos, Senhor!".
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Que fazer? -J.A.Pagola
A
predicação do Baptista sacudiu a consciência de muitos. Aquele profeta do
deserto dizia-lhes em voz alta o que eles sentiam no seu coração: era necessário
mudar, voltar a Deus, preparar-se para acolher o Messias. Alguns aproximavam-se
Dele com esta pregunta: Que podemos fazer?
O
Baptista tem as ideias muito claras. Não lhes propõe acrescentar à sua vida
novas práticas religiosas. Não lhes pede que fiquem no deserto fazendo
penitência. Não lhes fala de novos preceitos. Ao Messias há que acolhe-Lo
olhando os necessitados.
Não
se perde em teorias sublimes nem em motivações profundas. De forma direta, no
mais puro estilo profético, resume tudo numa fórmula genial: "O que tenha
duas túnicas, que as reparta com o que não tem; e o que tenha comida, que faça o
mesmo". E nós que podemos fazer, para acolher Cristo no meio desta sociedade
em crise?
Antes
de mais nada, esforçar-nos muito mais em conhecer o que está a passar: a falta
de informação é a primeira causa da nossa passividade. Por outro lado, não
tolerar a mentira ou o encobrimento da verdade. Temos de conhecer, em toda a sua
crueza, o sofrimento que se está a gerar de forma injusta entre
nós.
Não
basta viver a golpes de generosidade. Podemos dar passos para uma vida mais
sóbria. Atrever-nos a fazer a experiência de nos "empobrecermos" pouco a pouco,
recortando o nosso atual nível de bem-estar, para partilhar com os mais
necessitados tantas cosas que temos e não necessitamos para viver.
Podemos estar especialmente atentos a quem caiu em situações graves de
exclusão social: despedidos, privados da devida atenção sanitária, sem
rendimentos nem recurso algum... Temos de sair instintivamente em defesa dos que
se estão a fundir na impotência e a falta de motivação para enfrentar o seu
futuro.
A
partir das comunidades cristãs podemos desenvolver iniciativas diversas para
estar próximo dos casos mais gritantes de desamparo social: conhecimento
concreto de situações, mobilização de pessoas para não deixar sozinho a ninguém,
aportação de recursos materiais, gestão de possíveis
ajudas...
A
crise vai a ser longa. Nos próximos anos vai nos ser oferecida a oportunidade de
humanizar o nosso louco consumismo, tornar-nos mais sensíveis ao sofrimento das
vítimas, crescer em solidariedade prática, contribuir para denunciar a falta de
compaixão na gestão da crise... Será a forma de acolher Cristo com mais verdade
nas nossas vidas.
Joemir e Fidel, Frei Betto
Conheci Joelmir Beting na década de 1980. Devido a seus sutis comentários
econômicos críticos à ditadura, recheados de metáforas e tiradas brilhantes,
convidei-o a proferir palestra na Semana do Trabalhador, em São Bernardo do
Campo.
Pouco depois, sugeri a Fidel Castro, interessado em conhecer melhor a economia brasileira, convidar Joelmir Beting para visitar Cuba. Desembarcamos em Havana na quinta, 9 de maio de 1985.
Fidel perguntou ao jornalista brasileiro:
— Qual o seu trabalho diário?
— Faço uma hora e meia de programa de rádio e, à noite, meia-hora de TV. Escrevo também uma coluna diária, reproduzida em vinte e oito jornais.
Joelmir narrou-lhe sua história: era filho de um boia-fria morto, como tantos outros lavradores ainda hoje, devido à queda do caminhão que o levava ao trabalho. Cresceu entre lavouras de cana e café, criado pelo venerável padre Donizetti, em Tambaú, interior de São Paulo. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e trabalhou como professor primário - o que lhe deu facilidade para traduzir o economês em linguagem acessível ao grande público.
— São Paulo tem muita cana? - perguntou Fidel.
— Produz setenta por cento da cana de açúcar do Brasil - esclareceu Joelmir, que aproveitou a deixa para fazer uma pergunta. - O que o senhor lê todos os dias?
— Todas as manhãs recebo uma pasta com as notícias do dia selecionadas por índice: Cuba, Açúcar, Estados Unidos etc. Primeiro, confiro as fontes. Sei que as agências dos Estados Unidos não são imparciais. Gasto nisso entre uma hora e uma hora e meia. Assim, tenho uma visão global de tudo que as agências internacionais informam sobre cada item.
— Ninguém conhece o computador que o ser humano tem na cabeça - comentou Joelmir. — Como é o seu trabalho?
— É um trabalho tenso, difícil, que encerra uma responsabilidade muito grande. Mas se habitua. Trato de aprender em conversas com visitantes. Através de amigos, sei como se pensa em muitos países.
— Mas o senhor gosta de falar em público?
— Tenho medo cênico. Falo de improviso, porque o povo não gosta de discursos escritos. Parto de argumentos. É claro que chego tenso, mas a reação do público estimula. Chego como quem se apresenta a um exame. Quando devo falar de saúde, por exemplo, preciso memorizar as cifras. Se trata-se de gravar os índices de mortalidade infantil, consigo-o rápido. É mais difícil quando o problema está determinado por quinze ou mais fatores. Tenho que dominar o tema e ordená-los. Há gente que explica o que não entende. Se não domino um tema, não procuro explicá-lo.
— Em Cuba, o projeto social está realizado? - quis saber Joelmir Beting.
— Sim, no essencial.
— Este é o modelo cubano?
— Há muito de cubano. O sistema eleitoral é todo cubano. Cada circunscrição, com dez mil eleitores, elege seu delegado ao Poder Popular. São os vizinhos que votam. E são eles que propõem um nome para delegado. Sugerem o máximo de oito nomes e o mínimo de dois. O Partido não se mete nisso. São eleitos aqueles que obtêm mais de cinquenta por cento dos votos. Esses delegados formam a Assembleia Municipal e elegem o poder executivo municipal. Depois, se reúnem as comissões, integradas pelo Partido e pelas organizações de massa, para eleger os delegados da Província e os quinhentos deputados da Assembleia Nacional. Mais da metade desses deputados sai da base. A cada três meses, os vizinhos se reúnem com o delegado da circunscrição para avaliar o seu desempenho. E podem inclusive cassá-lo. Esse sistema de a população apontar os candidatos que integram metade da Assembleia Nacional é a democracia de baixo para cima. Não é como um político burguês que, depois de eleito, passa quatro anos sem prestar contas e sem que possam cobrar dele. O Poder Popular nomeia o responsável pela saúde na Província mas, para evitar choques, consulta antes o ministério. É uma forma de evitar tensões entre o Poder Popular e o poder central.
O diálogo entre Fidel e Joelmir Beting foi reproduzido em forma de entrevista em todos os jornais brasileiros para os quais Joelmir Beting colaborava na época e, em agosto de 1985, editado em livro pela Brasiliense, sob o título Os juros subversivos.
Pouco depois, sugeri a Fidel Castro, interessado em conhecer melhor a economia brasileira, convidar Joelmir Beting para visitar Cuba. Desembarcamos em Havana na quinta, 9 de maio de 1985.
Fidel perguntou ao jornalista brasileiro:
— Qual o seu trabalho diário?
— Faço uma hora e meia de programa de rádio e, à noite, meia-hora de TV. Escrevo também uma coluna diária, reproduzida em vinte e oito jornais.
Joelmir narrou-lhe sua história: era filho de um boia-fria morto, como tantos outros lavradores ainda hoje, devido à queda do caminhão que o levava ao trabalho. Cresceu entre lavouras de cana e café, criado pelo venerável padre Donizetti, em Tambaú, interior de São Paulo. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e trabalhou como professor primário - o que lhe deu facilidade para traduzir o economês em linguagem acessível ao grande público.
— São Paulo tem muita cana? - perguntou Fidel.
— Produz setenta por cento da cana de açúcar do Brasil - esclareceu Joelmir, que aproveitou a deixa para fazer uma pergunta. - O que o senhor lê todos os dias?
— Todas as manhãs recebo uma pasta com as notícias do dia selecionadas por índice: Cuba, Açúcar, Estados Unidos etc. Primeiro, confiro as fontes. Sei que as agências dos Estados Unidos não são imparciais. Gasto nisso entre uma hora e uma hora e meia. Assim, tenho uma visão global de tudo que as agências internacionais informam sobre cada item.
— Ninguém conhece o computador que o ser humano tem na cabeça - comentou Joelmir. — Como é o seu trabalho?
— É um trabalho tenso, difícil, que encerra uma responsabilidade muito grande. Mas se habitua. Trato de aprender em conversas com visitantes. Através de amigos, sei como se pensa em muitos países.
— Mas o senhor gosta de falar em público?
— Tenho medo cênico. Falo de improviso, porque o povo não gosta de discursos escritos. Parto de argumentos. É claro que chego tenso, mas a reação do público estimula. Chego como quem se apresenta a um exame. Quando devo falar de saúde, por exemplo, preciso memorizar as cifras. Se trata-se de gravar os índices de mortalidade infantil, consigo-o rápido. É mais difícil quando o problema está determinado por quinze ou mais fatores. Tenho que dominar o tema e ordená-los. Há gente que explica o que não entende. Se não domino um tema, não procuro explicá-lo.
— Em Cuba, o projeto social está realizado? - quis saber Joelmir Beting.
— Sim, no essencial.
— Este é o modelo cubano?
— Há muito de cubano. O sistema eleitoral é todo cubano. Cada circunscrição, com dez mil eleitores, elege seu delegado ao Poder Popular. São os vizinhos que votam. E são eles que propõem um nome para delegado. Sugerem o máximo de oito nomes e o mínimo de dois. O Partido não se mete nisso. São eleitos aqueles que obtêm mais de cinquenta por cento dos votos. Esses delegados formam a Assembleia Municipal e elegem o poder executivo municipal. Depois, se reúnem as comissões, integradas pelo Partido e pelas organizações de massa, para eleger os delegados da Província e os quinhentos deputados da Assembleia Nacional. Mais da metade desses deputados sai da base. A cada três meses, os vizinhos se reúnem com o delegado da circunscrição para avaliar o seu desempenho. E podem inclusive cassá-lo. Esse sistema de a população apontar os candidatos que integram metade da Assembleia Nacional é a democracia de baixo para cima. Não é como um político burguês que, depois de eleito, passa quatro anos sem prestar contas e sem que possam cobrar dele. O Poder Popular nomeia o responsável pela saúde na Província mas, para evitar choques, consulta antes o ministério. É uma forma de evitar tensões entre o Poder Popular e o poder central.
O diálogo entre Fidel e Joelmir Beting foi reproduzido em forma de entrevista em todos os jornais brasileiros para os quais Joelmir Beting colaborava na época e, em agosto de 1985, editado em livro pela Brasiliense, sob o título Os juros subversivos.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Sobre Pedro Casaldáliga amenazado de muerte
Pedro Casaldaliga,
evacuado de su casa de São Félix por amenazas de muerte
El obispo lleva 40 años luchando por los derechos de los indios Xavante en Brasil
Redacción, 08 de diciembre de 2012 a las 16:15
El obispo Pedro Casaldàliga, de 84 años, se ha visto obligado a dejar su casa en São Félix do Araguaia e irse a más de 1.000 kilómetros por indicación de la policía federal de Brasil. La causa ha sido la intensificación en los últimos días de las amenazas de muerte que recibe por su labor durante más de 40 años en defensa de los derechos de los indios Xavante.
La productora Minoria Absoluta, que trabaja en una 'mini serie' sobre el religioso, ha sido uno de los denunciantes. El hecho de que el gobierno de Brasil haya decidido tomar las tierras a los "fazendeiros" para devolver a los indígenas, legítimos propietarios, ha agravado el conflicto.
De hecho, la productora señaló que el equipo de rodaje tuvo que modificar su plan de trabajo. En concreto, y por recomendación del gobierno brasileño, el equipo tuvo que cruzar el bosque y hacer una ruta de 48 horas de duración para evitar la zona de conflicto.
Casaldàliga se ha convertido en objetivo de los llamados 'invasores' que fraudulentamente se apropiaron de las tierras en Marâiwatsédé de los Xavantes. El obispo, de 84 años y afectado de Parkinson, trabaja desde hace años a favor de los indígenas y de sus derechos fundamentales a la prelatura de São Félix y se ha convertido a nivel internacional en cara visible de la causa.
Los terratenientes y los colonos que ocuparon fraudulentamente y con violencia las tierras, serán desalojados próximamente por la orden ministerial que desde hace 20 años está pendiente de cumplimiento.
Según informó en un escrito la Asociación Araguaia con Casaldáliga, el obispo ha tenido que coger una avión escoltado por la policía y actualmente se encuentra en casa de un amigo suyo del que se ha ocultado identidad y la localización por temas de seguridad.
"Nos sentimos plenamente identificados con la defensa que desde siempre ha hecho el Obispo Pere y la Prelazia de Sâo Félix de la causa indígena", dice el escrito de la asociación, que emplaza a la comunidad internacional a velar por la seguridad de Casaldàliga y los derechos de los indios de Xavantes.
evacuado de su casa de São Félix por amenazas de muerte
El obispo lleva 40 años luchando por los derechos de los indios Xavante en Brasil
Redacción, 08 de diciembre de 2012 a las 16:15
El obispo Pedro Casaldàliga, de 84 años, se ha visto obligado a dejar su casa en São Félix do Araguaia e irse a más de 1.000 kilómetros por indicación de la policía federal de Brasil. La causa ha sido la intensificación en los últimos días de las amenazas de muerte que recibe por su labor durante más de 40 años en defensa de los derechos de los indios Xavante.
La productora Minoria Absoluta, que trabaja en una 'mini serie' sobre el religioso, ha sido uno de los denunciantes. El hecho de que el gobierno de Brasil haya decidido tomar las tierras a los "fazendeiros" para devolver a los indígenas, legítimos propietarios, ha agravado el conflicto.
De hecho, la productora señaló que el equipo de rodaje tuvo que modificar su plan de trabajo. En concreto, y por recomendación del gobierno brasileño, el equipo tuvo que cruzar el bosque y hacer una ruta de 48 horas de duración para evitar la zona de conflicto.
Casaldàliga se ha convertido en objetivo de los llamados 'invasores' que fraudulentamente se apropiaron de las tierras en Marâiwatsédé de los Xavantes. El obispo, de 84 años y afectado de Parkinson, trabaja desde hace años a favor de los indígenas y de sus derechos fundamentales a la prelatura de São Félix y se ha convertido a nivel internacional en cara visible de la causa.
Los terratenientes y los colonos que ocuparon fraudulentamente y con violencia las tierras, serán desalojados próximamente por la orden ministerial que desde hace 20 años está pendiente de cumplimiento.
Según informó en un escrito la Asociación Araguaia con Casaldáliga, el obispo ha tenido que coger una avión escoltado por la policía y actualmente se encuentra en casa de un amigo suyo del que se ha ocultado identidad y la localización por temas de seguridad.
"Nos sentimos plenamente identificados con la defensa que desde siempre ha hecho el Obispo Pere y la Prelazia de Sâo Félix de la causa indígena", dice el escrito de la asociación, que emplaza a la comunidad internacional a velar por la seguridad de Casaldàliga y los derechos de los indios de Xavantes.
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