quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Que fazer? -J.A.Pagola

 
A predicação do Baptista sacudiu a consciência de muitos. Aquele profeta do deserto dizia-lhes em voz alta o que eles sentiam no seu coração: era necessário mudar, voltar a Deus, preparar-se para acolher o Messias. Alguns aproximavam-se Dele com esta pregunta: Que podemos fazer?

O Baptista tem as ideias muito claras. Não lhes propõe acrescentar à sua vida novas práticas religiosas. Não lhes pede que fiquem no deserto fazendo penitência. Não lhes fala de novos preceitos. Ao Messias há que acolhe-Lo olhando os necessitados.

Não se perde em teorias sublimes nem em motivações profundas. De forma direta, no mais puro estilo profético, resume tudo numa fórmula genial: "O que tenha duas túnicas, que as reparta com o que não tem; e o que tenha comida, que faça o mesmo". E nós que podemos fazer, para acolher Cristo no meio desta sociedade em crise?

Antes de mais nada, esforçar-nos muito mais em conhecer o que está a passar: a falta de informação é a primeira causa da nossa passividade. Por outro lado, não tolerar a mentira ou o encobrimento da verdade. Temos de conhecer, em toda a sua crueza, o sofrimento que se está a gerar de forma injusta entre nós.

Não basta viver a golpes de generosidade. Podemos dar passos para uma vida mais sóbria. Atrever-nos a fazer a experiência de nos "empobrecermos" pouco a pouco, recortando o nosso atual nível de bem-estar, para partilhar com os mais necessitados tantas cosas que temos e não necessitamos para viver.

Podemos estar especialmente atentos a quem caiu em situações graves de exclusão social: despedidos, privados da devida atenção sanitária, sem rendimentos nem recurso algum... Temos de sair instintivamente em defesa dos que se estão a fundir na impotência e a falta de motivação para enfrentar o seu futuro.

A partir das comunidades cristãs podemos desenvolver iniciativas diversas para estar próximo dos casos mais gritantes de desamparo social: conhecimento concreto de situações, mobilização de pessoas para não deixar sozinho a ninguém, aportação de recursos materiais, gestão de possíveis ajudas...

A crise vai a ser longa. Nos próximos anos vai nos ser oferecida a oportunidade de humanizar o nosso louco consumismo, tornar-nos mais sensíveis ao sofrimento das vítimas, crescer em solidariedade prática, contribuir para denunciar a falta de compaixão na gestão da crise... Será a forma de acolher Cristo com mais verdade nas nossas vidas.

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