quinta-feira, 19 de abril de 2012

Carta de um amigo ao Papa Joe Ratzinguer


QUARTA-FEIRA, 11 DE ABRIL DE 2012
De Leonard Swidler ao ex-colega de universidade Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI
Via Revista Consciência.net
Caro Joe,
Alguns anos atrás, quando você ainda era o chefe do Santo Ofício (da Santa Inquisição), que se acha, como você sabe, mais calma em seu prédio sombrio justo ao lado da Praça de São Pedro, eu lhe escrevi uma carta aberta sobre o papel das mulheres na Igreja Católica. Naquela ocasião, eu me dirigi a você com um familiar “Caro Joe”, baseado em nossa relação do final dos anos 60/inícios dos anos 70, quando eu era um assíduo professor visitante na Faculdade Católica de Teologia da Universidade de Tubinga, da qual você era professor ordinário. Assim agi pensando que essa forma de tratamento poderia dizer-lhe da minha forte expectativa, de que você pudesse abrir sua mente e seu coração para escutar o que eu queria dizer-lhe. Não tenho como saber se consegui algum tipo de sucesso, se é que obtive algum, quanto àquele olhar. No entanto, com base na colegialidade anterior, trato de abordá-lo, mais uma vez, de modo fraterno.
Estou preocupado pelo fato de que, especialmente nos últimos anos, você tem dadosinais de oposição às palavras e ao espírito do Concílio Vaticano II, durante o qual você, como um jovem e influente teólogo ajudou a conduzir nossa amada Igreja Católica, da Idade Média para a Modernidade. Depois, enquanto professor da Universidade de Tubinga, nossa “Alma Mater”, você, junto com seus demais colegas da Faculdade Católica de Teologia, defendeu publicamente 1) a eleição dos bispos pelos seus constituintes, e 2) limite de idade para o ofício de bispos (ver o livro “Bispos democráticos para a Igreja Católica Romana” http://institute.jesdialogue.org/ecumenical_press/democractic_bishops).
Agora – http://www.nytimes.com/2012/04/06/world/europe/pope-assails-disobedience-among-priests.html?ref=world – você está repreendendo publicamente a padres católicos leais, fazendo exatamente o que você antes defendia, de modo tão nobre. Eles e muitos, muitos outros através da Igreja Católica universal estão seguindo seu exemplo jovial, tentando desesperadamente encaminhar nossa amada Mãe Igreja mais em direção à Modernidade. Eu uso de forma deliberada a palavra “desesperadamente”, pois em sua própria pátria, a Alemanha, e em outras partes da Europa, as igrejas estão vazias, e são tantos os corações católicos que ouvem as palavras nada encorajadoras de Roma e de bispos “radicalmente obedientes”. Em meu próprio país, Estados Unidos, berço da liberdade moderna, dos direitos humanos e da democracia, nós perdemos – apenas na atual geração! – um terço de nossa população de Católicos, 30.000.000, porque cinco das promessas feitas pelo Vaticano II como pontos copernicianos 1. em relação à liberdade, 2. em relação ao mundo presente, 3. em relação ao sentido da história, 4. em relação à reforma interna, e sobretudo 5. em relação ao diálogo, foram deliberadamente abortadas pelo seu predecessor e agora de forma intensa por você.
Joe, você ficou conhecido como um dos teólogos do Concílio Vaticano II que promoveram a convocação feita pelo Papa São João XXIII ao aggiornamento (atualização) por meio de uma reforma espiritual voltada às revitalizadoras fontes originais (refontização!) do Cristianismo (ad fontes!). Aquelas fontes democráticas, amantes da liberdade da Igreja Primitiva eram exatamente as fontes da renovação que eram preconizadas por você e por seus colegas da Universidade de Tubinga.
Eu estou a exortá-lo a retornar àquele original espírito de reforma de sua juventude. Esse espírito agora me vem à lembrança, quando dos preparativos da comemoração dos 50 anos do “Journal of Ecumenical Studies” (JES), lançado em 1964 por Arlene, minha querida esposa e por mim. No primeiríssimo número de JES encontram-se artigos assinados por seu amigo e colega de Vaticano II, o teólogoHans Küng, e por você próprio(!), olhando para a ponte sobre o Golfo “Counter-Reformation que separava a Igreja Católica do resto do Cristianismo e, por certo, do resto do mundo moderno.
Joe, nesse espírito, eu o exorto a retornar às suas fontes de reforma. Volte ad fontes!
Pax!
Len
Leonard Swidler, Ph. D., S.T.L.
Professor de Pensamento Católico e Diálogo Interreligioso, Temple University
Co-fundador da Associação para os Direitos dos Católicos na Igreja
(Trad. Alder J.F.Calado)

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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Não me toques

De Antonio Cecchin, irmão Marista (gaucho)
Maria Madalena. Apesar de discípula fervorosa de Jesus que havia sido em vida do Mestre, no dia da Páscoa da Ressurreição do Homem de Nazaré, num primeiro momento não o reconheceu. Tomou-o pelo jardineiro do horto em que o corpo havia sido sepultado. Então Jesus disse: Maria!... Pela voz, ela o reconheceu. Estava com uma saudade imensa de Jesus. Acompanhara-o o tempo todo no caminho do Calvário nos sofrimentos da paixão e morte. Agora, Ele ali, diante dela, ressuscitado e chamando-a pelo nome. De imediato, fez menção de ir para o abraço com as palavras “Bom Mestre!” Jesus a impede, dizendo: “Não me toque! Ainda não subi para junto do Pai!”

Não deixa de ser intrigante o comportamento de Jesus. Para o grande amor e a fé ardente que a mulher Maria Madalena lhe vota, um “não me toque, porque ainda não fui para junto do Pai!”. Uma semana depois do acontecido com Madalena, diante da incredulidade do discípulo Tomé (João, 20,24-29), o mesmo Jesus dá ordem para que este discípulo descrente o toque nas chagas das mãos e do lado aberto pela lança, com as palavras: “Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram.”

O escritor e filósofo lacaniano Jean-Luc Nancy, no livro “Noli me tangere” (Não me toque), aproveita os dois fatos para fazer a distinção entre crença e fé. Desenvolve uma ligação essencial entre a cena do sepulcro, a arte e a literatura moderna. É a especulação surpreendente e provocativa que atravessa o livro do começo ao fim. É uma obra ao mesmo tempo literária e filosófica.

A crença é uma busca de segurança. O crente precisa de segurança para acreditar e acredita para ter segurança, como no caso de são Tomé. É ver (e tocar) para crer. Na fé, não. Não há nenhuma segurança. É uma aposta no vazio. A fé faz ver no banal o que os olhos banais não podem ver. Maria Madalena reconhecendo o Cristo na pessoa de um jardineiro, por exemplo. Não tocar, neste caso, é condição para atingir o intocável e ver o invisível. Tocar seria permanecer na ilusão do presente e das aparências. “A crença espera o espetacular e o inventa conforme a necessidade. A fé consiste em ver e em ouvir onde nada é excepcional aos olhos e aos ouvidos comuns”, escreve Nancy.

A fé de Maria Madalena é fidelidade ao vazio, à ausência (como no amor). Quanto mais as pessoas tentam possuir o que amam, mais o amor lhes escapa. O amor é intangível. É o que se faz sentir pela distância e pela indisponibilidade. O que aparece para Maria Madalena e que ela não pode tocar é a presença da ausência. O ressuscitado só existe pelo desaparecimento. Ao desaparecer, o morto passa a existir para sempre, e é isso o que ela vê diante do sepulcro. A aparição do ressuscitado é, na verdade, a aparição da ausência.

Importantíssimas essas observações de Jean-Luc Nancy para, diante de programas religiosos na TV, sabermos distinguir o que é simples crença e o que é fé. O que é evangelização legítima e o que é mero show de fé e que, no fundo, nada tem a ver com fé.

A mulher Maria, originária da cidade de Mágdala, a Maria Madalena dos Evangelhos, é a primeira pessoa que pratica um ato de fé, a mais autêntica, na Ressurreição do Homem-Deus Jesus de Nazaré, no instante mesmo em que aconteceu. Trata-se de uma mulher.

O marxismo tem algum valor?

O PAPA E A UTILIDADE DO MARXISMO

Frei Betto



O papa Bento XVI tem razão: o marxismo não é mais útil. Sim, o marxismo conforme muitos na Igreja Católica o entendem: uma ideologia ateísta, que justificou os crimes de Stalin e as barbaridades da Revolução Cultural chinesa. Aceitar que o marxismo conforme a ótica de Ratzinger é o mesmo marxismo conforme a ótica de Marx seria como identificar catolicismo com Inquisição.
Poder-se-ia dizer hoje: o catolicismo não é mais útil. Porque já não se justifica enviar mulheres tidas como bruxas à fogueira nem torturar suspeitos de heresia. Ora, felizmente o catolicismo não pode ser identificado com a Inquisição, nem com a pedofilia de padres e bispos.
Do mesmo modo, o marxismo não se confunde com os marxistas que o utilizaram para disseminar o medo, o terror, e sufocar a liberdade religiosa. Há que voltar a Marx para saber o que é marxismo; assim como há que retornar aos Evangelhos e a Jesus para saber o que é cristianismo, e a Francisco de Assis para saber o que é catolicismo.
Ao longo da história, em nome das mais belas palavras foram cometidos os mais horrendos crimes. Em nome da democracia, os EUA se apoderaram de Porto Rico e da base cubana de Guantánamo. Em nome do progresso, países da Europa Ocidental colonizaram povos africanos e deixaram ali um rastro de miséria. Em nome da liberdade, a rainha Vitória, do Reino Unido, promoveu na China a devastadora Guerra do Ópio. Em nome da paz, a Casa Branca cometeu o mais ousado e genocida ato terrorista de toda a história: as bombas atômicas sobre as populações de Hiroshima e Nagasaki. Em nome da liberdade, os EUA implantaram, em quase toda a América Latina, ditaduras sanguinárias ao longo de três décadas (1960-1980).
O marxismo é um método de análise da realidade. E mais do que nunca útil para se compreender a atual crise do capitalismo. O capitalismo, sim, já não é útil, pois promoveu a mais acentuada desigualdade social entre a população do mundo; apoderou-se de riquezas naturais de outros povos; desenvolveu sua face imperialista e monopolista; centrou o equilíbrio do mundo em arsenais nucleares; e disseminou a ideologia neoliberal, que reduz o ser humano a mero consumista submisso aos encantos da mercadoria.
Hoje, o capitalismo é hegemônico no mundo. E de 7 bilhões de pessoas que habitam o planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecem fome crônica. O capitalismo fracassou para 2∕3 da humanidade que não têm acesso a uma vida digna. Onde o cristianismo e o marxismo falam em solidariedade, o capitalismo introduziu a competição; onde falam em cooperação, ele introduziu a concorrência; onde falam em respeito à soberania dos povos, ele introduziu a globocolonização.
A religião não é um método de análise da realidade. O marxismo não é uma religião. A luz que a fé projeta sobre a realidade é, queira ou não o Vaticano, sempre mediatizada por uma ideologia. A ideologia neoliberal, que identifica capitalismo e democracia, hoje impera na consciência de muitos cristãos e os impede de perceber que o capitalismo é intrinsecamente perverso. A Igreja Católica, muitas vezes, é conivente com o capitalismo porque este a cobre de privilégios e lhe franqueia uma liberdade que é negada, pela pobreza, a milhões de seres humanos.
Ora, já está provado que o capitalismo não assegura um futuro digno para a humanidade. Bento XVI o admitiu ao afirmar que devemos buscar novos modelos. O marxismo, ao analisar as contradições e insuficiências do capitalismo, nos abre uma porta de esperança a uma sociedade que os católicos, na celebração eucarística, caracterizam como o mundo em que todos haverão de “partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano”. A isso Marx chamou de socialismo.
O arcebispo católico de Munique, Reinhard Marx lançou, em 2011, um livro intitulado “O Capital – um legado a favor da humanidade”. A capa contém as mesmas cores e fontes gráficas da primeira edição de “O Capital”, de Karl Marx, publicada em Hamburgo, em 1867.
“Marx não está morto e é preciso levá-lo a sério”, disse o prelado por ocasião do lançamento da obra. “Há que se confrontar com a obra de Karl Marx, que nos ajuda a entender as teorias da acumulação capitalista e o mercantilismo. Isso não significa deixar-se atrair pelas aberrações e atrocidades cometidas em seu nome no século XX”.
O autor do novo “O Capital”, nomeado cardeal por Bento XVI em novembro de 2010, qualifica de “sociais-éticos” os princípios defendidos em seu livro, critica o capitalismo neoliberal, qualifica a especulação de “selvagem” e “pecado”, e advoga que a economia precisa ser redesenhada segundo normas éticas de uma nova ordem econômica e política.
“As regras do jogo devem ter qualidade ética. Nesse sentido, a doutrina social da Igreja é crítica frente ao capitalismo”, afirma o arcebispo.
O livro se inicia com uma carta de Reinhard Marx a Karl Marx, a quem chama de “querido homônimo”, falecido em 1883. Roga-lhe reconhecer agora seu equívoco quanto à inexistência de Deus. O que sugere, nas entrelinhas, que o autor do “Manifesto Comunista” se encontra entre os que, do outro lado da vida, desfrutam da visão beatífica de Deus.

terça-feira, 10 de abril de 2012

CEBs en USA (para debater)


LAS CEBS EM  CALIFORNIA Y NEVADA

              Observaciones de parte de Marins y de Teo.



1.Las parroquias son la instancia eclesial decisiva en la Iglesia de Usa. Organizadas y  burocráticas. Ninguna trabaja en comunión con otras CEBs (Impensable). Viven para atender a los sacramentos, devociones, quinceañeras y otros eventos religiosos de la vida de los fieles. La importancia de cada una está en relación directa al número de sus fieles y consecuentemente a cuanto dinero pueden reunir mensualmente (Los anglos, Vietnamitas, Filipinos aportan más dinero, los latinos muchísimo menos… por lo tanto cuentan menos en las prioridades parroquiales). No son misioneras, ni proselitistas.

       El pastor es como un señor feudal, todo depende de su decisión. No hay ninguna autonomía pastoral de cualquier grupo. Está ocupado, en primer lugar con la administración, que le ocupa la mayor parte de sus energías: en Oakland las parroquias deben a la diócesis 70% de lo todo dinero que reciben, quedándose pues solamente con el 30%. Los ministerios laicales acontecen, dominantemente en el sector litúrgico. En los últimos 10 años, la liturgia es el área mas cuidada a nivel nacional, diocesano y parroquial: todo el clero ha tenido que participar obligatoriamente en cursos de 3 a 4 días, para aprender las nuevas orientaciones litúrgicas (mas rúbricas) en relación al nuevo texto del misal y a las determinaciones y exigencias recibir sacramentos, recitación de las horas canónicas, etc. La mayoría de los coros parroquiales son pagados.  La parroquia solo se ocupa de los problemas intra-eclesiales.

 2. Las CEBs son consideradas, por los nuevos curas, anglos y también latinos, como algo del pasado, que ya no interesan (o nunca han interesado de modo significativo). Las que sobreviven son consideradas como un grupo de oración (entre los latinos: para recitación del rosario). En los mejores casos, son grupos bíblicos e de convivencia. Algunas se reúnen una vez al mes, otras a cada 15 días… raramente a cada semana. Nunca con la presencia del cura. Muy raro encontrar algún presbítero interesado en las CEBs. Seminaristas cero. Las religiosas americanas tampoco están interesadas en Cebs; las hispanas, estuvieron en el pasado. Ahora muy pocas sobreviven con esa disposición.

3. La orientación pastoral de los hispanos es dominantemente devocional, en continuidad con lo que trajeron de sus países (La mayoría de los hispanos de USA son mexicanos, seguidos por los puertoriqueños, salvadoreños, colombianos…). Los brasileños no cuentan, tampoco se unen a los hispanos. No conocemos en todo USA, ninguna CEB de brasileños. Estos están con la renovación carismáticas y con considerable frecuencia traen de Brasil sus predicadores de la Renovación.

4. La mayoría de los hispanos ya pobres, han sido afectados por la crisis económica del país; no tienen documentos (por lo tanto son fugitivos de la policía de migración), tienen poca preparación cultural y eclesial… no van a ser líderes en USA, por lo menos en los próximos 20 años, aún que numéricamente están arriba de los negros.

5. Los teólogos de origen hispana estuvieron mas preocupados en abrirse un espacio entre los teólogos anglos y poco a poco se alejaron de los temas de su propio pueblo.

6. La casi totalidad de los obispos latinos no entienden de Cebs. Los seminaristas, menos todavía. Tampoco han buscado aclarar algo sobre esa realidad eclesial. 

7. Hay CEBs que sobrevivieron por 20 años o más, pero sin mayor vitalidad. Son grupos minúsculos y de cierto modo al margen de las parroquias, o utilizadas por las mismas, para campañas económicas.

8. Nunca hubo un encuentro regional o nacional de CEBs.

9. Los jóvenes no están, nunca estuvieron en las CEBs. Tampoco los adolescentes. Los niños, muy numerosos entre los latinos, son más un problema de cómo ocuparlos durante las reuniones, que una bendición que participa de la vida de las CEBs

10.  Las CEBs no están, y no estuvieron involucradas en lo social, ni siquiera en lo asistencial.

11. Los de habla inglesa, cuentan con una organización nacional de CEBs, apoyadas por la institución Buena Vista (nombre hispano). En en el estado de Connecticut publican un material litúrgico bastante bueno. Muchas se unieron a la metodología propuesta por el P. Arthur Baranawski  (varias decenas de ellas), que tiene un modelo de renovación CEB parroquial. La organización conocida como RENEW, desarrolló en los últimos 20 años varios programas (Renew 1,2,3) que, por intención de ellos, llevarían a las CEBs, tanto en ingles como en español. Muchas diócesis han usado dicho método que es carísimo, porque implica la venta de material producido por la misma institución y envío de su personal especializado para dar los entrenamientos. A pesar de haber sido un trabajo teóricamente bueno, el fruto ha sido pequeño - Muy pocas CEBs han surgido o sobrevivido.

12. Los movimientos apostólicos mas conservadores son  los mas apreciados por los obispos, párrocos, seminaristas y por el pueblo latino (son los más pobre y sencillos). Entre ellos, el mas importante es la Renovación Carismática, los Neo-Catecumenos y varios otros de menor importancia. La influencia general de los cánticos y fenómenos carismáticos es muy fuerte entre los hispanos, aún entre aquellos que no se identifican totalmente con las propuestas carismáticas. La Renovación está bien organizada, desarrolla una intensa formación entre sus líderes, es proselitista y llega a los pobres mucho más que las CEBs.

13. En muchas diócesis la mayoría de seminaristas ya no es de blancos, sino de orientales y latinos. Hay intensa importación de sacerdotes de África, India, Sri Lanka, Filipinas, Corea del sur. La tercera parte del clero de USA es de estrangeros (18 mil curas, 6 mil estrangeros): principalmente asiáticos y latinos.

14.El punto más alto de las cEBs, en USA, ha sido en la década del 80-90. El tercer encuentro nacional de los hispanos se expresó muy favorable a ellas. Después oficialmente desapareció la oficina nacional y diocesana de los hispanos, substituida por las oficinas que reúne todas las etnias, que a nivel nacional son mas de 90.

  QUE SE PUEDE TODAVIA HACER:

1.  Valorar algunas experiencias que todavía pueden ser capaces de desarrollarse en verdaderas CEBs. Cultivar las semillas existentes, para que no desaparezca esa especie.

2.  Encuentro personal con algún cura y raramente, con algún obispo y seminaristas, para explicarles que las cEBs no son un movimiento, tampoco un programa o grupo paralelo, sino un nivel eclesial a ser creado, desarrollado y acompañado.

3.  Valerse en este año, del interés posible sobre los 50 años del Vaticano II, para redescubrir la Iglesia de la base, el Pueblo de Dios, etc.

4.  Aprovecharse de los caminos que los programas de Renew Primero , segundo y tercero han desarrollado formando grupos de base.

5.  Retomar puntos del Tercer encuentro hispano (1985) de Usa, donde se habla de las CEBs y muchos puntos que son útiles para hacer ese proceso.

6.  Lanzar pequeños artículos e historias en las revistas, etc.

7.  Comunicarse pro internet y blogspot, entrevistas e U-tube.

8.  Proponer diálogos con algunos grupos de movimientos pastorales para ver si pueden aceptar las CEBs como una propuesta de pequeña Iglesia, sin destruir el espacio del movimiento (carismas).

9.  Intentar contactos con  las CEBs de Filipinas, de América Latina, de Lunko Institute (Africa), del Caribe.

10.            Proponer el conocimiento de las Encíclicas de Pablo VI (Evangelii Nuntiandi), de Juan Pablo II (Redemptoris misio, etc) que mencionan explícitamente las CEBs. Los documentos de las asambleas generales del episcopado latino americano y caribeño no interesan tanto, porque, para ellos, són cosas de A. Latina y del Caribe, y no para USA).

11.            Retomar la teología del Vaticano II: Reinado y Pueblo de Dios, referencia fundamental a los “señales de los tiempos”, volver a las fuentes bíblicas y patrísticas, orientación pastoral de toda la teología, opción por los pobres, igualdad fundamental de todos los miembros de la Iglesia, visión evangélica del poder, dimensión misionera de la comunidad eclesial, por acontecimiento c y no por proselitismo.  




segunda-feira, 9 de abril de 2012

Demoniologia-Um estudo ecumênico


No Evangelho dispomos da melhor e insuperável imagem de Deus já aparecida na história. O passar dos séculos, no entanto, a manchou e deformou, até torná-la irreconhecível sob muitos aspectos, nem sempre os menos importantes.
Considerando os conceitos de fundo, assinalarei aqui alguns que requerem com maior urgência ser revistos a fundo, reagrupando-os em três capítulos.
Contra uma leitura distorcida da criação
Embora em vias de superação, um dos maiores problemas que traz consigo a teologia atual é a leitura literal ou fundamentalista da Bíblia. Em particular, diz respeito nada menos do que às maravilhosas narrações da criação no Gênesis. Nestas, com o profundo simbolismo da linguagem mítica, nos é expressa a intenção de Deus de procurar para nós nada mais do que a realização, o amor e a felicidade. É isto que quer significar o símbolo do "paraíso": a meta à qual estamos destinados. A esta meta se opõe o mal; por isso a Bíblia o coloca "fora de Deus". A narração mítica, preocupada em apelar à bondade, se firma principalmente sobre o pecado humano que, como mostram os primeiros capítulos – do assassínio de Caim à corrupção universal -, produz tantos danos. Mas, tomar ao pé da letra, convertendo em explicação física ou metafísica o que quer ser simplesmente uma exortação moral, conduz ao absurdo.
1) Iniciemos com o pecado original: mesmo após ter sido reconhecida como mítica, a narração concreta da árvore, do fruto e da serpente faz, no entanto, perdurar a terrível idéia que os pavorosos males do mundo sejam o um "castigo divino" por causa da culpa história cometida por nossos avós. Com isso, no inconsciente coletivo estão se imprimindo duas concepções monstruosas: a) que Deus é capaz de castigar de modo terrível, e b) que ele o faz a milhares de descendentes que não tem a mínima culpa por aquele presumido erro. Além disso, consolida-se a idéia – tão difundida e prejudicial – que, em última instância, se existe mal no mundo é porque Deus o quis e o quer, dado que o paraíso teria sido possível sobre a terra. E, acima de tudo, o castigo seria desproporcionado. Deste modo, sobrevive a crença generalizada de que o sofrimento, a enfermidade e a morte provenham de uma decisão divina, como forma de castigo.
2) Paralelamente a esta, existe a idéia de que o homem e a mulher tenham sido criados para a "glória" de Deus e ao seu serviço". Nestas palavras pode existir um significado aceitável, mas, na mentalidade normal elas tem sido tomadas literalmente: é Deus que exige que o sirvamos para salvar a alma; contrariamente, haverá o castigo. Feuerbach fundamentou aqui o seu ateísmo: "para que Deus seja tudo, o homem não deve ser nada". Quando, ao invés, a verdade é o contrário: ao criar-nos, Deus não pensa em si mesmo, mas só e unicamente em nosso bem. Com a mesma linguagem, seria antes necessário dizer que, como se manifestou em Jesus, Deus é Aquele que nos "serve", porque Ele nos ama e temos disso necessidade.
3) A moral, longe de ser a palavra de amor e a promessa de ajuda que nos orienta e sustenta em função da verdadeira felicidade, se transforma num peso imposto por Deus. Kant denunciou esta concepção como indigna e infantilizante. E o pior é que faz ver o esforço, a disciplina e também o sacrifício que muitas vezes – para cada pessoa, crente ou não crente – a moral comporta, como algo que Deus nos impõe porque o quer, enquanto poderia tornar-nos a vida mais fácil. Certamente, jamais será possível avaliar quanto ressentimento esta terrível concepção tem acumulado na consciência de muitos fiéis.
4) Tudo isto, agravado em nível intolerável com a idéia do inferno, como castigo para aqueles que não "sirvam" ou não "cumpram". Deus, que ama sem limites e perdoa sem condições, acabou sendo descrito como capaz de castigar por toda a eternidade e com tormentos inauditos certas faltas definitivamente sempre pequenas, fruto de uma liberdade débil e limitada. O crescimento da sensibilidade comporta, em nossa época, uma oposição generalizada à pena de morte e também ao ergástulo: será que os homens são melhores que Deus?
5) A visão do pecado marcha paralelamente. Tomás de Aquino já havia dito que o pecado não é um mal porque faz mal a Deus, mas porque o faz a nós: "porque ofendemos Deus na medida em que agimos contra o nosso bem". Todavia, grande parte da teologia e da pregação continua ignorando que a coisa fundamental é o interesse de Deus a fim de que não façamos dano a nós mesmos, não estraguemos a nossa vida e arruinemos a nossa realização. O pai do "filho pródigo" não se preocupa com sua honra ou com sua ofensa, mas pelo fato que o filho "estava morto e retornou à vida, estava perdido e foi reencontrado".
Tudo isto, unido à deformação moralista, fez com que, no fundo da consciência de muitas pessoas, tenha crescido como um verme venenoso a idéia que o pecado seria estupendo para nós, mas não podemos gostar dele porque Deus no-lo proíbe. Em outras palavras, Deus não quereria que fôssemos felizes.
Contra uma leitura deformada da redenção
Se isto é o que sucede com a criação, as consequências se fazem sentir ainda mais pesadamente na redenção. A maravilha que jamais teríamos imaginado por nós mesmos, de um Deus que se faz presente na história para ajudar-nos, - de mil modos e com infinita paciência, - a vencer o mal e o pecado, se transforma para muitos numa terrível "prestação de contas", com um castigo no início e uma ameaça no final.
1) Começa-se com um particularismo inconcebível. Um Deus que, criando por amor, suscita desde sempre uma salvação onde há um homem ou uma mulher, ou seja, por toda parte e e-spressamente em todas as religiões, tem sido apresentado por muitos séculos como unicamente preocupado por um só povo, aquele "eleito". Os outros teriam permanecido fora de sua revelação e de sua plena salvação: extra eccleciam nulla salus. No máximo ter-lhes-ia permanecido a esperança – numa espécie de longuíssima "lista de espera" – que um dia teria chegado para eles a "missão" (que, para milhões de pessoas, jamais chegou nem chegará). Por sorte, desde o Concílio Vaticano II, esta terrível visão está em vias de superação. Porém os seus efeitos perduram com intensa vivacidade: continua existindo muito dogmatismo e muito exclusivismo; demasiada resistência a uma revisão dos conceitos de revelação, e a um generoso diálogo das religiões.
2) Ainda mais grave tem sido a visão sacrifical de todo o processo. O esforço de Deus para intensificar ao máximo sua presença e abrir caminhos à sua graça; a revelação, através de Jesus, do seu amor sem medida e de sua compreensão sem limites das nossas fraqu4zas e do nosso pecado; o seu não retrair-se embora tal amor lhe custasse nada menos do que o assassínio de seu "Filho predileto"... tudo isto tem sido interpretado como um "preço" que Ele exigia, como um castigo necessário para "aplacar sua ira".
É doloroso usar estas expressões e, no entanto, embora possa parecer incrível, elas ainda podem ser lidas – por exemplo, tomando à letra "o abandono" sobre a cruz – em importantes teólogos de nossa época: não só em Lutero e Calvino, que ainda estavam próximos à Idade Média, mas também em Barth, Moltmann e Urs von Balthasar, para citar alguns dos mais expressivos. Insisto porque, embora não se ponha em discussão as boas intenções, é indispensável evitar tudo o que possa obscurecer o amor infinito do Pai. A partir de uma perspectiva de fé, numa interpretação não fundamentalista, devemos estar seguros que Deus jamais esteve tão junto ao seu Filho como quando o puseram na cruz (não o "abandonou"), e que jamais teria permitido sua morte, se tivesse sido possível evitá-la (não foi Ele que "quis" a agonia do horto das oliveiras).
3) Enfim, há algo que, no fundo, é muito mais grave, porque abrange tudo: todo o sofrimento do mundo seria um castigo de Deus por causa de um pecado que, fora de Adão e Eva, nenhum outro cometeu; de modo que, se Deus não nos castigasse – isto é, se fosse compassivo e perdoasse – viveríamos num paraíso. E depois, para perdoar-nos, teria imposto nada menos do que a sacrifício cruento de seu Filho. Enfim, se não nos comportarmos bem, nos espera o castigo eterno do inferno (sobre o qual, com consequências deletérias, tanto insistiu a "pastoral do medo").
Este esquema se incrustou como algo de tão óbvio no imaginário religioso que nem sequer se vê agora e nem se percebe sua autêntica monstruosidade que, afortunadamente, quando é explicitada, quase ninguém a toma ao pé da letra. No entanto, precisamente por isso, é necessário expô-lo cruamente para poder refutá-lo com todas as forças e substituí-lo com o verdadeiro, já proposto, no fundo, por Santo Irineu no II século: criação na inevitável fraqueza do nascimento; apoio amoroso de Deus na história, não obstante as nossas faltas e pecados; cume deste apoio na plenitude salvadora de Cristo; esperança de salvação plena na Glória. Vale dizer a promessa de um nascimento e a esperança de uma felicidade gloriosa.
Contra uma experiência deformada da espiritualidade
Como era óbvio, esta dupla visão, que agora perfilamos esquematicamente, acaba por articular a expe-riência da fé na vida concreta.
1) A visão dualista se coloca em primeiro plano, porque é esta que, de certa maneira, organiza o espaço religioso. Deus lá em cima e nós aqui em baixo, o sagrado e o profano, o que se refere a Deus e o que se refere a nós, a Igreja e o mundo... marcam a fogo a vida espiritual. Seria ingênuo pensar que tal distinção possa ser completamente supressa, já que responde a um dado real: a diferença entre Deus e sua criação. Esta diferença afirma, no entanto, o nosso ser: Deus não nos rouba espaço. Ao contrário: quanto mais está presente, mas nos faz ser; quanto mais acolhemos sua ação, tanto mais realizamos a nós mesmos. O engano é converter a diferença em distância, a distinção em dualismo, o apoio em imposição. Porque então Deus se transforma num senhor e a religião consiste em servi-lo, aplacá-lo, solicitar-lhe ajuda e favores, para obter o seu prêmio e evitar o castigo.
2) Desta concepção deriva espontaneamente uma visão negativa da vida. A redenção se separa da criação e se contrapõe a ela, de modo que todo o criado acaba por aparecer indiferente para a fé, quando não aparece negativo e corrupto. Textos da Escritura, em si profundos e veneráveis, acabam sendo lidos em sentido oposto àquele que, na realidade, queriam expressar. Assim, por exemplo, a solicitação de se negar a si mesmo ou a perder a própria vida não pode significar a anulação da própria vida, mas exatamente o oposto: negar a nossa negação, ou seja, o que prejudica o nosso ser autêntico ou o que nos impede de realizar-nos e chegar à plenitude. Deus não quer anular o nosso ser, mas levá-lo à sua afirmação literalmente infinita.
3) As consequências têm sido graves. Daqui nasceu uma espiritualidade inimiga do corpo e desconfiada de todo prazer, que optava pela fuga mundi e por agere contra como estilo global. Afirmou-se, assim, um espírito de sacrifício que, inconscientemente, colocava entre os fiéis a idéia que Deus está contente quando nos vê sofrer, ou que concede favores em troca do nosso sofrimento gratuito ou dos nossos sacrifícios. Não se pode estranhar que se tenha chegado muitas vezes a excessos que hoje nos causam horror (certos grupos e certos santuários ainda mostram disso demasiados resquícios) e que se possa ter chegado a acusar o cristianismo de ser inimigo da vida (Nietzsche).
4) Ainda pior: este ponto de vista selou com evidência o sofrimento verdadeiramente cristão. Não aquele procurado com a mera ascese ou pela própria perfeição, mas aquele que, como Jesus, é assumido quando é necessário por amor aos outros. É o trabalho do serviço, é pôr em risco a própria vida em favor da justiça, é ser capazes de renunciar ao que nos pertence em favor dos pobres. É, em definitivo, o que a teologia da libertação e o exemplo de seus mártires procuram ensinar-nos, tendo-o aprendido de Jesus: Ele não evitou o prazer normal do viver, a ponto de ser considerado um "comilão e um beberrão" por não haver praticado uma acesse artificiosa: porém foi capaz de amar "até o extremo", chegando a dar sua vida por amor a todos.
5) Enfim, assinalemos algo de menos evidente, mas de importância decisiva: a inversão radical da experiência cristã da graça, que chegou a mudar o sentido da oração: criando-nos por amor, Deus toma a iniciativa absoluta, tanto para conduzir-nos à dimensão do existir (momento da criação), como para ajudar-nos em sua realização (momento salvífico). Por isso, nos é solicitado acolher sua iniciativa: deixar-nos existir e salvar por Ele, aceitando sua graça e colaborando com sua ação em nós e nos outros. Todavia, sem dar-nos conta, invertemos tudo até o ponto de parecer que somos nós aqueles que tomam toda iniciativa, como se fôssemos quem verdadeiramente está interessado na salvação e devêssemos convencer Deus a interessar-se também Ele.
A prece transforma-se, então, em exigência que ousa recordar a Deus as necessidades do próximo, convencê-lo a ajudar os enfermos ou as vítimas; podemos até mesmo oferecer-lhe dons e sacrifícios para que se anime; e, enfim, chegamos a repetir-lhe em coro que seja bom e compassivo: que "escute e tenha piedade". Sei que estas palavras são injustas em relação às intenções de quem reza. Mas, é necessário revelar a falsa orientação e a terrível inversão de papéis entre Deus e nós.
Sei muito bem que existem objeções e dificuldades... Porém, é necessário refletir e falar a respeito. A evidência primária destas reflexões deveria animar-nos a uma nova criatividade e ao esforço sincero por atualizar a compreensão e a experiência da fé.

Demoniologia

As catástrofes, como de Haiti
A catástrofe foi terrível: como um golpe na consciência do mundo, já castigado pela crise econômica. Por sorte, a reação foi quase surpreendentemente boa. Produziu-se uma espécie de salto qualitativo na solidariedade mundial tanto nos indivíduos como nos estados que, como nunca antes, compreenderam a necessidade, com rigorosa justiça, de unir-se para reconstruir um país destroçado e, antes, exaurido (o cumprirão?). Também a teologia, na quase totalidade dos artigos publicados, soube apontar algo fundamental: não remeter o problema a Deus, centrando-se na catástrofe natural, mas insistir em nossa responsabilidade humana, no fato de que, por nossa culpa, os males causados tenham afetado antes de tudo e sobretudo os pobres. Eles sofreram e sofrem majoritariamente as piores e mais dolorosas consequências.
O que se espera não é, pois, o puro lamento ou a simples compaixão, mas a ajuda efetiva e a pressão política.
Naturalmente, também senti desejos de escrever algo, pois, ao problema do mal, dediquei uma parte importante da minha reflexão e um bom punhado de trabalhos. Por ventura, o fato de estar acabando um livro a respeito, e sobretudo a reação tão positiva que se percebia por todas partes fizeram com que me conformasse em ver e saborear o claro avanço que se produziu nas reações. Apesar de tudo, não me abandonava minha velha suspeita que algo faltava.
Tudo isso é verdade, mas o terremoto não o produzimos, e sem ele, o problema teria desaparecido pela raiz: por que Deus não o evitou? Latet anguis in herba, pensava, "a víbora segue oculta entre a erva".

"Mistério" - acabam respondendo em geral os artigos. Mas, mistério por quê? Mistério real ou contradição produzida pelas nossas ideias e pressupostos? Milhares de homens e mulheres estiveram no Haiti, renunciando o sonho e expondo a vida para ajudar as vítimas. Se na sua mão estivesse a possibilidade de evitar previamente o terremoto, haveria sequer um só que deixaria de fazê-lo?
No entanto, muitos crentes e teólogos seguem dando por certo que Deus sim poderia, mas que não o faz; mas, sendo onipotente, isso, definitivamente, significa que não quer. Outros, menos, atrevem-se a dizer que não pode; mas então que "deus" é esse, e quem poderá dar-nos esperança?
Epicuro já o tinha perguntado há muitos séculos. E, como era de se esperar, a víbora levantou a cabeça. Martín Caparrós, no El País, 07/02/2010, sem aludir ao famoso dilema - talvez sem sequer conhecê-lo - e referindo-se primeiro ao terremoto de Lisboa (1755), afirma com todo rigor: "A existência -a insistência- do mal fazia com que esse deus fosse um ineficiente ou um vicioso: ou o fazia à vontade e era o maior canalha, ou não podia evitá-lo e era um perfeito inútil".

E depois, dando um salto, irrita-se falando do Haiti: "Portanto, apesar do mal descontrolado - apesar de terremotos e de fomes, massacres e tsunamis -, milhões seguem ajoelhando-se diante de um deus que o faz ou o permite. E, para completar, ainda o anunciam. Para mim, tudo muito estranho. Se eu achasse que esse deus existisse - se achasse que em algum lugar do infinito existe um ente todo-poderoso que não usa seu poder para impedir estes desastres -, se eu achasse que há um deus tão mau caráter para matar de uma vez cem mil mortos de fome, e se esse deus fosse meu deus, meu amo, não tentaria protegê-lo: passaria a vida negando-o, dizendo a todo o mundo que não há tal coisa. O que é isso? Deus? Um deus, o que isso significa? Frente a desgraças como esta, o verdadeiro crente não tem mais remédio que fingir-se ateu - e, talvez, vice-versa. Portanto, é preciso duvidar de quase tudo, como sempre".
Hesitei em reproduzir um texto tão abrupto. Quero pensar que ao escrever deus com minúscula e colocar o condicional - "se eu achasse que esse deus existisse" - se está atacando um ídolo. Em todo caso, o afirmo eu. E, não sem lamentar essas expressões que podem ferir tão brutalmente a fé dos crentes, quero tomá-las como um sério e urgente aviso para a teologia.
O tenho repetido muitas vezes: é preciso desfazer com rigor crítico o dilema de Epicuro, descobrindo sua armadilha e mostrando sua falsidade. Em tempos de religiosidade comum e compartilhada, a fé em Deus podia sustentar-se, apoiando-se em uma confiança radical que era capaz de desafiar a lógica, porque pressentia que esta tinha que falhar em algum ponto. Isso já não é possível em nossa "era crítica".
Devemos reconhecê-lo, se não por honestidade intelectual, pelo menos porque nos reprova com argumentos contundentes: crer em um "deus" que, podendo, não quisesse acabar com o mal do mundo ou que, querendo, não pudesse, torna-se hoje simplesmente impossível.
Por sorte, a mesma agudeza crítica da modernidade abre o caminho da resposta. A autonomia das leis que regem o funcionamento do mundo e as inevitáveis contradições da finitude, fazem com que o conceito (não a fantasia) de um mundo sem maldade seja tão contraditória como um círculo-quadrado. O dilema de Epicuro tem uma armadilha: substitua-se “mundo-sem-maldade” por “círculo-quadrado” e tire a prova; ou pergunte-se, como, às vezes, faço em minhas explicações, se Deus pode ou não pode dividir a sala em “três-metades”.
Não é que Deus "não queira" ou "não possa", mas simplesmente a pergunta carece de sentido. Deus quer o bem, unicamente o bem, para o bem e a felicidade nos cria.
Falemos humanamente: poderia não haver criado o mundo, e sabe que, se o cria, terá que ser finito (se não, se criaria a si mesmo). Em consequência, a imperfeição, a carência, o conflito - o mal - o acompanharão como uma sombra terrível.
Mas a experiência religiosa mais profunda intuiu sempre que se Deus criou, é porque valia a pena; que Ele, como Anti-mal de amor infinito, acompanha e sustenta nossa aventura, convocando-nos a colaborar com Ele no trabalho do amor e a justiça; e sempre, assegurando o sentido e abrindo a esperança.

Contra o que na superfície pode parecer, nada é menos "moderno" do que deduzir o ateísmo da existência do mal no mundo. Seria desconhecer a autonomia de suas leis e a dignidade de nossa liberdade. A bobagem do tele-evangelista Pat Robertson, esclarecendo que o terremoto do Haiti que não tem nada que ver com as placas tectônicas, porque é um castigo divino, fez um grande favor à inteligência.
No mesmo jornal, Galeano o lembra, e Jared Diamond avisa, - permita-me recordá-lo para que o humor adocique um pouco o horror - que "quando o tele-evangelista Pat Robertson diz que a ira de Deus caiu sobre eles se esquece que é a mesma que cai sobre a Itália, EUA ou o Japão, a mesma ira que deveria cair sobre ele por ser tão estúpido". E, mantenhamos o tom, também sobre nós, se seguimos mantendo teologias que dão pé a tanto mal-entendido.

O diabo (Fernando Veríssimo)


Deus e o Diabo no Haiti
"O Deus vingativo de Pat Robertson certamente não era o Deus de Zilda Arns, que morreu no Haiti trabalhando pela causa da sua vida, a ajuda aos pobres e, principalmente, às crianças", escreve Luís Fernando Verissimo, escritor, em artigo publicado no jornal O Globo, 17-01-2010.
Eis o artigo.
O evangélico Pat Robertson, um dos líderes da direita religiosa americana, tem uma explicação para as desgraças do Haiti que culminaram com esse terremoto demolidor. Um dos países mais miseráveis do mundo, com uma história ininterrupta de privações, violência e instabilidade política, o Haiti estaria pagando por um pacto que fez com o Diabo em 1804, quando pediu sua ajuda para expulsar os colonizadores franceses e tornar-se uma república.
Desde então, os haitianos viveriam sob uma maldição. O terremoto, segundo Pat Robertson, é apenas o castigo mais recente. Mas o religioso pediu a seus fiéis que rezassem pelos haitianos. E, presumivelmente, pedissem a Deus que esquecesse velhos ressentimentos e lhes desse uma folga.
Se o Diabo ajudou mesmo os haitianos contra os franceses foi por uma causa nobre. O Haiti foi o primeiro país do mundo a abolir a escravidão, dando um exemplo que custou a ser seguido pelos outros.
A república, também inédita, fundada depois da expulsão dos franceses era de ex-escravos, e acolhia escravos fugidos ou alforriados de outros países. E se Deus os castigou por esta audácia, não foi o único. A França exigiu e recebeu reparação pela colônia perdida, o que aleijou a economia da nova república por muito tempo. A vizinhança com os Estados Unidos também não ajudou. Os americanos chegaram a ocupar o Haiti durante vinte anos, sem muito proveito para o país. Grandes negócios foram feitos na época dos ditadores Papa Doc e Baby Doc Duvalier, também sem muito proveito para o país. Nos últimos tempos, apoiando e desapoiando líderes mais ou menos populares, os americanos têm tentado manter no Haiti uma democracia representativa mas não representativa demais, a ponto de armar politicamente uma massa de desesperançados, com o risco de eles também convocarem o Diabo. Agora não se sabe o que vai surgir dos escombros da tragédia.
OUTRO
O Deus vingativo de Pat Robertson certamente não era o Deus de Zilda Arns, que morreu no Haiti trabalhando pela causa da sua vida, a ajuda aos pobres e, principalmente, às crianças. O seu era um Deus solidário. Infelizmente, pouca gente no mundo está disposta a fazer um pacto como o que Zilda Arns fez com este outro Deus. Ela sobreviverá como um exemplo e uma inspiração.