I.UBICAÇÃO.
O texto de
João (2,1-11) com o relato de Cana, não foi escrito como um documentário
histórico da primeira ação extraordinária de Jesus, que inaugura o seu
ministério profético salvando uma festa de casamento que poderia terminar mal.
Cana não é uma lenda piedosa a ser tomada
em conta no itinerário místico da comunidade cristã revelando tanto os gestos
taumatúrgicos do Messias, como manifestando
o poder de intercessão de sua Mãe Santíssima. A intenção do evangelista não é a
de animar a piedade individual dos primeiros seguidores de Jesus, criando um
ambiente de impacto sobrenatural, diante do extraordinário que somente Deus tem
poder para realizar.
Estamos diante de um
documento orientador de como Jesus põe em ação o seu modo ser e agir; com isso
definindo para os seus discípulos, como deverão dar continuidade à missão que o
Mestre, oportunamente, lhes vai um dia confiar. Trata-se de um texto
eclesiológico, não de uma coletânea piedosa de fatos edificantes.
(E
X E G E S E)
II. CONTEXTO.
1. O evento não se desenvolve num
lugar sagrado, como o Templo, ou na cidade santa de Jerusalém.
2. Os protagonistas não são
sacerdotes, doutores ou outras autoridades, senão gente ordinária, em uma casa,
num povoado sem importância, na Galileia de má fama.
3. Não se trata de uma cerimônia
religiosa ou patriótica senão de um
casamento.
4. No contexto se pode ver as
alusões da passagem do Antigo ao Novo de Jesus: as talhas eram seis e não sete
(quer dizer, incompletos, porque o número perfeito é o sete). Eram talhas para
as abluções... tudo isso vai ficar superado.
5. Maria é chamada “mulher”, como
Jesus também vai a ela referir-se na cruz. Está mais em linha do Apocalipse, da
mulher=Igreja. A intercessão de Maria é a intercessão da mulher, da Igreja.
6. Jesus veio como convidado, acompanhado
da sua Mãe e dos seus discípulos
III. PROTAGONISTAS
1. As pessoas simples do povo
2. O Mestre Sala, o noivo, os
servidores.
3. Jesus, Maria, Discípulos
IV. O PROBLEMA
1. Não se trata de um problema
religioso, político, econômico, sanitário, senão cultural e familiar (a
dignidade e o respeito que se deve ao casal que se casa e aos seus parentes) –
Aquela festa de casamento, que como todas se prolongaria por vários dias, estava
ameaçada de tratar os convidados oferecendo-lhes somente água, para a
celebração.
2. Maria capta a circunstância de crise
e procura uma solução que está além das suas possibilidades (Maria é a Igreja)
3. Jesus é convocado para ajudar, nele
se coloca a confiança de que será capaz de encontrar uma solução ao impasse que
se vai criar pela falta de vinho.
V. A AÇÃO SALVADORA
1. Jesus se aproveita dos recursos
existentes: jarras (para purificação), servidores, agua.
2. Respeita o processo existentes: o
novo vinho, antes de ser servido é levado ao Mestre Sala.
3. Não aparece que os noivos e os
presentes tenham agradecido a Jesus e prestamos homenagens significativas
diante do evento milagroso que acabaram de testemunhar.
4. E Jesus não ficou em Cana, nem
voltou ao povoado para valer-se do prestígio que ganhou com aquele sinal
prodigioso.
H E R M E N E U T I C A
1. Quando aconteceu a transformação da
água em vinho? Foi no próprio processo... Jesus não fez gestos especiais nem
disse palavras de bênção. Tudo parece não ir além de uma ação “profana”
providenciando para que haja bebida suficiente para todos os hóspedes.
2. Jesus mudou o esquema que tinha.
Apesar de dizer: “Ainda não é a minha hora”, deu indicações aos servidores para
encher de água os recipientes
disponíveis para as abluções... o vinho ocupou o lugar da água. As abluções
rituais tão meticulosamente programadas e exigidas, como que perdem qualquer
importância diante do novo evento que não purifica, senão que plenifica a
alegria e a comunhão dos presentes.
3. O melhor “o bom vinho” veio quando
já não se esperava por ele...
4. O evangelho não fala de milagre,
senão de um sinal para que os discípulos pudessem crer em Jesus, pois um dia
continuariam a sua missão.
5. “Este gesto de Jesus
ajuda-nos a captar a orientação de toda a Sua vida e o conteúdo fundamental do
Seu projeto do reino de Deus. Enquanto os dirigentes religiosos e os mestres da
lei se preocupam com a religião, Jesus dedica-se a fazer mais humana e leve a
vida das pessoas” (J.Antonio Pagola, 2ºdomingo Tempo Comum, 2013)
+ Estabelecer a relação
teológica-pastoral entre as CEBs e o evento de Caná.
a. Uma comunidade popular,
que reúne as pessoas comuns para celebrar acontecimentos importantes da vida da
comunidade.
b. Mesmo com a presença de
Jesus, podem surgir problemas. A CEB, como Maria, busca ajuda para encontrar
uma solução, antes que seja tarde
c. Todos os meios disponíveis
da comunidade são aproveitados (vasilhas, agua, servidores...)
d. Pedir a ajuda do poder de
Deus, não é deixar tudo para que Deus resolva.
e. A fe religiosa não leva a
sair da vida e desentender-se dos problemas, mas sim, a comprometer-se para
solucioná-los.
f. O sucesso de um projeto ou
evento, não se transforma em crédito para acomodar-se.
g. O Pai de Jesus é o Deus da
vida, quer que todos seus filhos e filhas possam todos/as, gozar de tudo o que
criou para o bem comum.
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