sábado, 19 de janeiro de 2013

CANA


I.UBICAÇÃO.

O texto de João (2,1-11) com o relato de Cana, não foi escrito como um documentário histórico da primeira ação extraordinária de Jesus, que inaugura o seu ministério profético salvando uma festa de casamento que poderia terminar mal.

       Cana não é uma lenda piedosa a ser tomada em conta no itinerário místico da comunidade cristã revelando tanto os gestos taumatúrgicos do Messias, como  manifestando o poder de intercessão de sua Mãe Santíssima. A intenção do evangelista não é a de animar a piedade individual dos primeiros seguidores de Jesus, criando um ambiente de impacto sobrenatural, diante do extraordinário que somente Deus tem poder para realizar.

       Estamos diante de um documento orientador de como Jesus põe em ação o seu modo ser e agir; com isso definindo para os seus discípulos, como deverão dar continuidade à missão que o Mestre, oportunamente, lhes vai um dia confiar. Trata-se de um texto eclesiológico, não de uma coletânea piedosa de fatos edificantes.

 

(E X E G E S E)

II. CONTEXTO.

1. O evento não se desenvolve num lugar sagrado, como o Templo, ou na cidade santa de Jerusalém.

2. Os protagonistas não são sacerdotes, doutores ou outras autoridades, senão gente ordinária, em uma casa, num povoado sem importância, na Galileia de má fama.

3. Não se trata de uma cerimônia religiosa ou patriótica  senão de um casamento.

4. No contexto se pode ver as alusões da passagem do Antigo ao Novo de Jesus: as talhas eram seis e não sete (quer dizer, incompletos, porque o número perfeito é o sete). Eram talhas para as abluções... tudo isso vai ficar superado.

5. Maria é chamada “mulher”, como Jesus também vai a ela referir-se na cruz. Está mais em linha do Apocalipse, da mulher=Igreja. A intercessão de Maria é a intercessão da mulher, da Igreja.

6. Jesus veio como convidado, acompanhado da sua Mãe e dos seus discípulos

     

III. PROTAGONISTAS

1.  As pessoas simples do povo

2.  O Mestre Sala, o noivo, os servidores.

3.  Jesus, Maria, Discípulos

 

IV. O PROBLEMA

1.  Não se trata de um problema religioso, político, econômico, sanitário, senão cultural e familiar (a dignidade e o respeito que se deve ao casal que se casa e aos seus parentes) – Aquela festa de casamento, que como todas se prolongaria por vários dias, estava ameaçada de tratar os convidados oferecendo-lhes somente água, para a celebração.

2.  Maria capta a circunstância de crise e procura uma solução que está além das suas possibilidades (Maria é a Igreja)

3.  Jesus é convocado para ajudar, nele se coloca a confiança de que será capaz de encontrar uma solução ao impasse que se vai criar pela falta de vinho.

 

V. A AÇÃO SALVADORA

1.  Jesus se aproveita dos recursos existentes: jarras (para purificação), servidores, agua.

2.  Respeita o processo existentes: o novo vinho, antes de ser servido é levado ao Mestre Sala.

3.  Não aparece que os noivos e os presentes tenham agradecido a Jesus e prestamos homenagens significativas diante do evento milagroso que acabaram de testemunhar.

4.  E Jesus não ficou em Cana, nem voltou ao povoado para valer-se do prestígio que ganhou com aquele sinal prodigioso.

 

H E R M E N E U T I C A

1.  Quando aconteceu a transformação da água em vinho? Foi no próprio processo... Jesus não fez gestos especiais nem disse palavras de bênção. Tudo parece não ir além de uma ação “profana” providenciando para que haja bebida suficiente para todos os hóspedes.

2.  Jesus mudou o esquema que tinha. Apesar de dizer: “Ainda não é a minha hora”, deu indicações aos servidores para encher de água  os recipientes disponíveis para as abluções... o vinho ocupou o lugar da água. As abluções rituais tão meticulosamente programadas e exigidas, como que perdem qualquer importância diante do novo evento que não purifica, senão que plenifica a alegria e a comunhão dos presentes.

3.  O melhor “o bom vinho” veio quando já não se esperava por ele...

4.  O evangelho não fala de milagre, senão de um sinal para que os discípulos pudessem crer em Jesus, pois um dia continuariam a sua missão.

5.  Este gesto de Jesus ajuda-nos a captar a orientação de toda a Sua vida e o conteúdo fundamental do Seu projeto do reino de Deus. Enquanto os dirigentes religiosos e os mestres da lei se preocupam com a religião, Jesus dedica-se a fazer mais humana e leve a vida das pessoas” (J.Antonio Pagola, 2ºdomingo Tempo Comum, 2013)

 

+ Estabelecer a relação teológica-pastoral entre as CEBs e o evento de Caná.

a.  Uma comunidade popular, que reúne as pessoas comuns para celebrar acontecimentos importantes da vida da comunidade.

b.  Mesmo com a presença de Jesus, podem surgir problemas. A CEB, como Maria, busca ajuda para encontrar uma solução, antes que seja tarde

c.   Todos os meios disponíveis da comunidade são aproveitados (vasilhas, agua, servidores...)

d.  Pedir a ajuda do poder de Deus, não é deixar tudo para que Deus resolva.

e.  A fe religiosa não leva a sair da vida e desentender-se dos problemas, mas sim, a comprometer-se para solucioná-los.

f.   O sucesso de um projeto ou evento, não se transforma em crédito para acomodar-se.

g.  O Pai de Jesus é o Deus da vida, quer que todos seus filhos e filhas possam todos/as, gozar de tudo o que criou para o bem comum. 

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