domingo, 13 de janeiro de 2013

O central do Vat II, Michael Amaladoss, India



Olhando para trás, para o
Concílio Vaticano II, parece-me que podemos identificar em três áreas os seus maiores impulsos: a Igreja universal como comunhão de Igrejas locais; a Igreja entendida sobretudo como o povo de Deus, a cujo serviço estão os ministros; a Igreja em diálogo com o mundo, com as outras Igrejas e as outras religiões.

Comunhão de Igrejas locais

O primeiríssimo documento do Concílio, centrado na liturgia, lançou as bases para uma visão da Igreja universal como comunhão de Igrejas locais. Ele fala da necessidade de inculturar a liturgia e atribui a responsabilidade às conferências episcopais locais (Sacrosanctum Concilium, 37-40). O uso das línguas e das músicas locais torna visível a variedade das Igrejas locais.

A Gaudium et Spes (53-62), falando do diálogo entre o Evangelho e as culturas, indica como nasce verdadeiramente uma Igreja local. A visão da colegialidade dos bispos e instituições como o sínodo de bispos e as conferências episcopais dão uma estrutura para a Igreja como comunhão de Igrejas locais.

A organização da Igreja, no entanto, continua fortemente centralizada. Mas, enquanto a liturgia oficial é protegida com atenção, são visíveis alguns fenômenos no âmbito da religiosidade, da espiritualidade e da teologia populares. Os cristãos entram em diálogo com a sociedade ao seu redor, como testemunham as teologias ligadas aos dalits, aos tribais, ao feminismo e ao ecologismo, que afundam suas raízes nas culturas locais.

Em uma época pós-colonial, as pessoas não podem ser completamente submissas. Um desafio foi lançado lá quando João Paulo II escreveu na Fides et Ratio: "Um grande ímpeto espiritual leva o pensamento indiano a procurar uma experiência que, libertando o espírito dos condicionamentos de tempo e espaço, tenha valor de absoluto. [...] Compete aos cristãos de hoje, sobretudo aos da Índia, a tarefa de extrair deste rico patrimônio os elementos compatíveis com a sua fé" (72).

Mas quanto somos realmente livres? Quando os grupos extremistas hindus definem o cristianismo como uma religião estrangeira, nós não podemos realmente rebater que somos indianos, que nos financiamos, nos difundimos e nos governamos sozinhos. Ainda temos muita estrada a fazer para nos tornarmos uma Igreja propriamente indiana. É nossa tarefa, e não algo que nos será dado por outros.

Povo de Deus

A segunda grande aquisição do Concílio é a compreensão da Igreja sobretudo como povo de Deus (Lumen gentium, 9-17). O Concílio, antes de falar da sua estrutura hierárquica, apresenta a Igreja como o povo de Deus. É o povo da nova aliança com a lei de Deus escrita no coração (cf. Jeremias 31, 31-34). São Pedro a define de "raça eleita, sacerdócio régio, nação santa (…) Vocês que antes não eram povo, agora são povo de Deus" (1Pedro 2, 9-10).

O povo é formado por sacerdotes que participam do sacerdócio de Cristo, que oferecem em sacrifício não só o corpo de Cristo, mas também a si mesmos. Os presbíteros têm apenas um papel ministerial ou de serviço. O povo de Deus também participa do ofício profético de Cristo. O Concílio afirma que "a totalidade dos fiéis (…) não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando este, desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis, manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes" (Lumen gentium, 12).

Há aí um sutil equilíbrio entre o "sentido sobrenatural da fé" e o ensinamento oficial do papa e dos bispos. O Espírito Santo distribui dons especiais para as pessoas não em seu benefício pessoal, mas sim porque estão a serviço do povo (1Coríntios 12, 7-11). Infelizmente, a Igreja permanece ampla e fortemente guiada pelo clero. Em vez de ser uma democracia consensual, não majoritária, a Igreja é vista essencialmente como hierárquica e autocrática, com líderes que reivindicam uma autoridade absoluta.

Igreja em diálogo

O terceiro impulso é o mais importante por levar a Igreja a olhar para fora de si mesma. Uma seção da Gaudium et Spes refere-se ao diálogo entre a Igreja e o mundo (n. 40-44). Em verdadeiro estilo dialógico, ela está pronta não só para oferecer, mas também para receber do mundo. Ela não apresenta uma mera visão negativa do mundo moderno, com a sua secularização ou até mesmo com o ateísmo, mas tenta dialogar com ele, focando a atenção em particular sobre a família, a cultura, o desenvolvimento socioeconômica, a vida política e a paz. De fato, o documento é dirigido a toda a humanidade.

Na Dignitatis Humanae, a Igreja dialoga com as estruturas políticas, pedindo liberdade não só para si mesma, mas para todas as religiões. Podemos dizer que, indiretamente, ela se comunica com as outras comunidades religiosas reconhecendo-as como legítimas detentoras de direitos humanos e políticos.

O desejo de diálogo é mais explícito na Nostra Aetate, em particular no que diz respeito ao diálogo com o Islã e o judaísmo. Ela se abre, enfim, a outras comunidades cristãs não católicas na Unitatis Redintegratio. Outros documentos mais dogmáticos (Lumen Gentium, Dei Verbum e Ad Gentes) fornecem as bases teológicas de tal diálogo.

Considerando todos esses documentos juntos, podemos ver se desdobrar uma dupla visão da missão. De um lado, há a necessidade de proclamar Jesus Cristo como salvador, e a Igreja, como meio de salvação. É a missão como proclamação.

De outro lado, há a visão da "missão de Deus". A missão da Igreja tem a sua origem "na missão do Filho e do Espírito Santo. Este desígnio brota do 'amor fontal', isto é, da caridade de Deus Pai [...] Ele quis derramar e não cessa de derramar ainda a bondade divina (…). Quis ser, assim, não só criador de todas as coisas mas também 'tudo em todas as coisas' (1Coríntios 15, 28)" (Ad gentes, n. 2). A Palavra e o Espírito são ativos sempre e em todo lugar, oferecendo a cada pessoa uma participação no mistério pascal do modo que só Deus conhece (cf. Gaudium et Spes, n. 22).

Com base nesses textos, os teólogos asiáticos enfatizam que a principal é a "missão de Deus", e a "missão da Igreja" está a seu serviço. O objetivo da missão é, então, o Reino de Deus e a Igreja como seu símbolo e serva. Todas as religiões são vistas como companheiras na peregrinação rumo ao Reino, onde os nossos verdadeiros inimigos são Satanás e Mamom. Um diálogo que se torna o caminho da missão.

Hoje, a tendência na Igreja parece ser a de cerrar as fileiras e proclamar o seu Evangelho, sem nenhuma tentativa séria de diálogo. Não dialogando, a Igreja está perdendo a oportunidade de ser um instrumento de paz e de harmonia em um mundo dividido por tantos conflitos.

 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Suiza, Martin Werde,abad de Einseldein


Reformas urgentes en la Iglesia católica

Sus propuestas son apoyadas por el nuevo presidente de la conferencia episcopal suiza

Dice que demasiados problemas se barren debajo de la alfombra y la discusión de demasiados temas está prohibida
El abad Martin Werlen de Einsiedeln, importante e influyente figura de la Iglesia suiza ha exhortado vigorosamente a una reforma de la iglesia, con una serie de propuestas para atribuir mayores responsabilidades a los laicos. Sus propuestas son apoyadas por el nuevo presidente de la conferencia episcopal.

Las ideas, presentadas en un folleto, incluyen el designar mujeres y jóvenes como cardenales y organizar reuniones periódicas para ellos con el Papa. También propone dar a los laicos mayor responsabilidad en la elección de los obispos, debatir sobre el celibato sacerdotal y sobre la comunión de los divorciados vueltos a casar.
El abad benedictino, que es miembro de la Conferencia Episcopal Suiza, dice que su objetivo es poner fin a los conflictos entre conservadores y progresistas, que a su parecer está causando que el accionar de la Iglesia resulte en un esfuerzo fútil.
Su mensaje ha sido respaldado por el futuro presidente de la conferencia episcopal suiza Obispo Markus Büchel de St. Gallen, que asumirá la presidencia el 1 de enero, y agradeció al Abad Werlen su intervención que calificó como un estímulo para el debate necesario en la Iglesia.

L
os comentarios del abad Werlen parecen haber tocado una fibra sensible en toda la Iglesia. Dice que ha recibido más de 1.000 correos electrónicos y 100 cartas, mientras que su panfleto se agotó en tres días y está en proceso de reimpresión.

El folleto, "Descubriendo las brasas bajo las cenizas", hace eco de las observaciones formuladas por el difunto cardenal Carlo Maria Martini en su última entrevista publicada tras su muerte el pasado mes de septiembre. Refiriéndose a la situación de la Iglesia hoy en día, el cardenal arzobispo de Milán habló de su sensación de impotencia por "la abundante ceniza encima de las brasas".

En su metafórico reavivar del fuego, el Abad Werlen lamenta la falta de coraje, visión y creatividad en la Iglesia. En particular, dice que demasiados problemas se barren debajo de la alfombra y la discusión de demasiados temas está prohibida.

A propósito del "Llamado a la desobediencia" de los sacerdotes austriacos rebeldes señala que es el resultado de no tomar en serio a las personas y sus realidades. "Cuando los que tienen autoridad en la Iglesia no cumplen con su deber y, por tanto, son desobedientes, se ponen en marcha iniciativas como medidas de emergencia y gritos de socorro. Esto es entendible pero puede llevar a un cisma o a que las personas abandonen la Iglesia", escribe, agregando que su comunidad quiere tener un enfoque diferente: descubrir juntos las brasas bajo la ceniza.
Señala que su Abadía de Einsiedeln se encuentra en diálogo tanto con la Sociedad lefebvrista de San Pío X y el radical teólogo católico Hans Küng.

Sobre la prohibición de recibir la Comunión para los divorciados vueltos a casar, señala que no existe tal impedimento en las Iglesias ortodoxas y la Iglesia Católica nunca ha condenado este enfoque.

Sugiere que hombres y mujeres de todas las edades en todo el mundo podrían ser nombrados cardenales por períodos de cinco años y encontrarse con el Papa cada tres meses. "Dichas reuniones ofrecerían una nueva dinámica al liderazgo en la Iglesia", dijo.

Para apoyar la idea de terminar con el celibato clerical obligatorio, el abad cita los comentarios del Papa Juan Pablo II en 1992, cuando afirmó que tenía a los clérigos casados -de la Iglesia antigua y las Iglesias orientales- en "estima igualmente elevada" que a los sacerdotes célibes.

Martin Werlen, de 50 años, fue elegido autoridad de la Abadía de Einsiedeln en 2004. En ese momento la comunidad contaba con 90 sacerdotes y 40 hermanos laicos. Tiene autoridad casi episcopal sobre las 10 parroquias de la abadía, que sirven a 20.000 personas. Fue uno de los pocos clérigos que emitió una disculpa oficial por la crisis de abuso sexual y estuvo del lado de las víctimas. Presentó por primera vez sus ideas en un sermón durante la ceremonia de conmemoración del quincuagésimo aniversario del Concilio Vaticano II en octubre. (RD/Agencias)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

MEDIOCRIDADE (Fabio Vasconcelos e J.A.Pagola)


. Se insiste mucho en la continuidad para conservar el pasado, pero no nos preocupamos de escuchar las llamadas del Espíritu para preparar el futuro. Poco a poco nos estamos quedando ciegos para leer los "signos de los tiempos". PAGOLA

Dentro de unos años, nuestras comunidades cristianas serán muy pequeñas. En muchas parroquias no habrá ya presbíteros de forma permanente. Qué importante es cuidar desde ahora un núcleo de creyentes en torno al Evangelio. Ellos mantendrán vivo el Espíritu de Jesús entre nosotros. Todo será más humilde, pero también más evangélico. Pagola

As Igrejas estão procurando brindar-se em suas doutrinas, métodos, tradições... antes que responder ao novo. Consequentemente vai acontecendo uma redução gradativa na quantidade de membros.

Surgem igrejas sincréticas prometendo bênçãos materiais em troca da fe, ou as que procuram corrigir defeitos das comunidades de onde saíram seus fundadores. Elas tendem com o tempo à institucionalização dogmática personalista sem base teológica madura, e depois a volta aos possíveis desvios que nasceram para “corrigir”.

Cresce o número de pessoas “Cação bênção” que, a principio, são atraídos por promessas de bênçãos imediatas e Mega-Templos que amontoam pessoas e shows litúrgicos, mas com o cansaço disso, tornam-se mais frustrados. O resultado final é a decepção com “Deus”, deixando assim essa estória de igreja e alimentando o “rodízio” de fieis.

QUE A CHAVE HERMENEUTICA SEJA JESUS E NÃO O INTERESSE INSTITUCIONAL DAS IGREJAS.

J.A.Pagola


Estos últimos años ha ido creciendo la desconfianza en la fuerza del Espíritu, y el miedo a todo lo que pueda llevarnos a una renovación. Se insiste mucho en la continuidad para conservar el pasado, pero no nos preocupamos de escuchar las llamadas del Espíritu para preparar el futuro. Poco a poco nos estamos quedando ciegos para leer los "signos de los tiempos".

De manera callada pero palpable va creciendo el desafecto y la separación entre la institución eclesial y no pocos creyentes.

Dentro de unos años, nuestras comunidades cristianas serán muy pequeñas. En muchas parroquias no habrá ya presbíteros de forma permanente. Qué importante es cuidar desde ahora un núcleo de creyentes en torno al Evangelio. Ellos mantendrán vivo el Espíritu de Jesús entre nosotros. Todo será más humilde, pero también más evangélico.

 

Frei Gilvander Luís Moreira, AS CEBs de Lucas

Rosto das comunidades de Lucas

As comunidades do Evangelho de Lucas e de Atos dos Apóstolos – obra lucana - apresentam um rosto diferente do rosto das comunidades da Judéia, da Samaria e da Galileia de cunho mais rural, comunidades dos Evangelhos de Marcos e Mateus. Eis, abaixo, seis características do rosto das Comunidades lucanas.

1. As comunidades de Lucas são predominantemente comunidades urbanas, melhor dizendo, das periferias das grandes cidades. No evangelho de Lucas, a palavra grega polis, que, em grego, significa cidade, aparece 40 vezes; em Mateus, 26; e em Marcos, 8. Nos evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc), o ensinamento é realizado, basicamente, a partir de imagens da natureza, do campo e do trabalho rural (cf. ovelhas, pastores, videira, semente, semeador etc). No livro de Atos dos Apóstolos, essas imagens não aparecem. Isso dá a entender que são comunidades mais urbanas. De fato, no livro dos Atos dos Apóstolos, a palavra cidade aparece 42 vezes.

2. Comunidades de pobres com alguns ricos. Há um contraste que aparece, sobretudo, no evangelho de Lucas: de um lado, os pobres, famintos, perseguidos, aflitos (Lc 6,20-23) e, do outro, os ricos (Lc 12,16-21) que se banqueteiam sem se preocupar com a miséria dos outros (Lc 16,19-31). Para as comunidades lucanas era importante “não dar murro em ponta de faca”. No meio de uma correlação desigual de forças, melhor infiltrar-se do que confrontar-se com império gigante. Lucas é intransigente em face da opressão econômica e quanto à exigência ética do cristianismo, mas, para fazê-la prevalecer, não se nega ao diálogo cultural e político, a fim de canalizar para o bem a força histórica do mal. Lucas percebeu, muito antes de Paulo Freire, que a melhor forma de amar os opressores é tirar das mãos deles as armas da opressão.

3. Comunidades nas quais há cristãos que continuam ligados às instituições do Império Romano (Lc 7,1-10). Lucas não quer complicar ainda mais a situação dos cristãos que já estavam sendo perseguidos quando o Evangelho, primeira parte da sua obra, fora escrito. Ele demonstra simpatia pelos romanos ao dar a entender que a própria condenação de Jesus foi motivada pela ignorância romana¹. Por uma tática de sobrevivência, Lucas tenta passar a ideia de que as comunidades cristãs não são revolucionárias, subversivas. Assim, não cutuca a onça com vara curta, mas se prepara para cutucar com vara grande.

4. Comunidades que revelam um contexto patriarcal e machista. As mulheres, de uma forma geral, eram desprezadas e marginalizadas na sociedade. Mas no Evangelho de Lucas, Jesus dá prioridade às mulheres², valoriza sua presença e atuação nas comunidades e na sociedade. “Na narração do nascimento de João Batista e de Jesus (Lc 1,5–2,52) rompe-se o padrão que colocava o homem em primeiro plano e que deixava à margem tanto a mulher como a criança. Nessas narrativas, as crianças são apresentadas junto com a presença atuante de suas mães. Elas é que são protagonistas da novidade, anunciadoras das “grandes coisas que o Poderoso fez” (Lc 1,49)³, mesmo vivendo em um contexto patriarcal e machista.

5. Comunidades com pessoas cansadas, medrosas, desanimadas e perdidas por causa da situação na qual viviam (Lc 24,13-24). Os cristãos são uma minoria perdida no meio de um imenso império, nas periferias das grandes cidades. Apenas alguns milhares no meio de um Império com cerca de 60 milhões de pessoas. Uns começam a abandonar as comunidades; outros duvidam que Jesus seja o Salvador, têm dificuldade de acreditar que seja possível viver em fraternidade e resistir ao império com suas seduções opressoras.

6. Comunidades com diversidade de dons os quais se articulavam por meio do cimento da solidariedade. Isso é ótimo, pois o Espírito não se deixa encurralar e não aceita ser engaiolado; sopra onde quer, como quer; é livre e liberta. Paulo reitera diversas vezes: “Não percam a liberdade cristã!” (2Cor 3,17); “Não entristeçam o Espírito Santo!” (Ef 4,30).

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A TEOLOGIA ORIENTADORA DO VATICANO II



 

1.  SURJE UMA NOVA TEOLOGIA

       Um livro, publicado em 1943, abalou a Igreja francesa. O Pe. Henrique Godin, assessor do Movimento da Juventude Católica e ajudado pelo seu colega Michauneau denunciou a crise religiosa da França e analisou o que estava acontecendo com o catolicismo daquele pais. O livro profético: “França, pais de missão”, tornou-se tema de discussão nacional nos anos seguintes. E provocou iniciativas fecundas que repercutiram no catolicismo mundial: surgiu a “Missión de France”, com os Padres Operários; e nasceu uma Nova Teologia que acabou tendo, vinte anos mais tarde, uma influencia importantíssima nos documentos do Concilio Vaticano II.

   A equipe de teólogos jesuítas de Lyon- Danielou, Henri de Lubac; os dominicanos de Saulchoir[1] – Dominique-Marie Chenu e Yves Congar escreveram artigos “explosivos” que questionavam a fundo, a teologia dominante depois do Concilio de Trento, a Neo-Escolástica (de João de Santo Tomas, Suarez, Bañez e companheiros) e propunham uma nova maneira de fazer teologia.

        É o que vamos resumir em seguida.

       Esses teólogos e outros que foram seguindo no mesmo sendeiro, não se apresentavam como um movimento ou uma escola teológica.

O famoso Pe. Garrigou-LaGrange,OP,  saiu em defesa do Tomismo, ou seja, da teologia constantemente apoiada como “oficial” do catolicismo ( Leão XIII, Pio XII), e criticou os que estavam fazendo uma nova teologia. Com isso, praticamente batizou o método crítico-histórico-indutivo de seus colegas os teólogos dominicanas, jesuítas como uma “NOVELLE THEOLOGIE”.

       Não se constituiu um grupo formal de afiliados à nova maneira de fazer teologia, mas se multiplicaram os teólogos dessa nova geração, tanto na França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suiça e depois em outras partes do mundo, entre eles os mais famosos: Hans Urs Von Balthazar, Edouard Schillebeeckx, Lois Boyer, Karl Rahner, Joseph Ratzinger, Gerard Philip, Hans Küng,  Etienne Gilson, Jean Morou, Louis Charlier, R. Dragnet...[2] .

       Partiam das seguintes constatações:

+ A teologia escolástica, se distanciava de Tomas de Aquino, embora continuasse usando o seu nome. A neo-escolástica era um ensinamento de manuais, distanciado da vida, a-histórico, rígido e imposto na formação dos religiosos e clérigos. Depois de Trento deixou de ser uma eclesiologia para ser uma hierarqueologia,

+ A mensagem estava sendo proclamada de cima para baixo, como verdade imutável, definitiva, indiscutível, sem tomar em consideração a capacidade de recepção dos destinatários, nas circunstancias em que se encontravam.

+ Essa transmissão do Evangelho deixava de ser Boa Nova. As pessoas não sentiam que era “nova” e nem que era “boa”. Sempre se dizia o mesmo, embora as realidades houvessem mudado.

+ Era o imobilismo do pensamento grego. Não tinha sentido histórico.  Era essencialista e desconhecia a subjetividade humana. Estava fora da quotidianidade do Povo de Deus. Era incapaz de oferecer aos contemporâneos, alimento espiritual e doutrinal. Estava desligada da pastoral e da espiritualidade

+ Essa teologia não era assumida pelos fieis. Não podiam sentir sua bondade ou maldade.  – “Então, se perguntavam os teólogo e pastores, como é que nos primeiros tempos do cristianismo a Mensagem impactava, orientava as pessoas e os povos?”

2.  CARACTERÍSTICA DA NOVA TEOLOGIA

       A nova maneira de refletir sobre a fé, ou seja, “fazer teologia”, rompeu o mito da neo-escolástica, considerada uma teologia particular indevidamente universalizada.

       Essa nova maneira teológica, de um lado mantinha a seriedade doutrinal, sua volta ao passado não era uma obsessão por ele (“Repristinicação” como dizia Congar). Era um entendimento novo (luz nova) sobre os desígnios de Deus, sobre a vocação humana (como GS 11 vai dizer, em 1965)

- Foi um método histórico, indutivo que alcançava a sensibilidade, a imaginação, a intuição das pessoas. Uma teologia que falava às situações presentes, dentro de uma sociedade secularizada, recuperando inteligente e criadoramente o passado.

- Interrogava as fontes da fé cristã com perguntas do tempo atual.  Descobria perspectivas que a neo-escolástica ou não havia descoberto, ou havia deixado de lado ou não estava apta da enfrenta-las.

- A Nova teologia segue um dinamismo indutivo partindo das pessoas às referências da fé.  Esta não tinha se esgotado em uma formulação teórica indiscutível. Duas referências orientam a Nouvelle Theologie: a Revelação e a Patrística. Esta tradição não se constituiu como uma força para traz, senão para frente. Nenhuma “tradição” esgotou A TRADIÇÃO. Então sempre é possível voltar à TRADIÇÃO à luz da Palavra de Deus, para refletir melhor sobre as realidades contemporâneas.

- Os Padres da Igreja tomavam em consideração a sensibilidade emocional das pessoas falando-lhes com símbolos, história, exemplos e as pessoas sentiam que era algo que chegava às suas vidas. Aceitar ou rejeitar o que se lhes dizia tinha consequências não tanto na eternidade, senão já agora, aqui mesmo.

A Nova Teologia não tratava somente de contemplar o mundo, mas de transformá-lo. Assim é que repetia o pensamento de Etienne Gilson: - “Para ir em frente é preciso ir para trás e recomeçar”, ou seja, passar de uma tradição menos profunda a outra mais profunda, aproximando-se mais de uma comunhão intelectual e espiritual com o cristianismo nos seus momentos mais vitais, finalmente, uma identificação com Jesus Cristo e com o seu mistério pascoal.

- A Patrística ensinava o que havia recebido da fonte comum da Revelação. Por isso a Palavra de Deus era a referência fundamental do que se ensinava e não estava circunscrita a um sistema teológico, por melhor que fosse. Esse método se denominou Ressourcement ou seja, ir às Fontes bíblicas e da tradição, valorizando o instrumento privilegiado da transmissão que foi a Patrística.

- É questão de recuperar o sentido do mistério, que a Neo Escolástica havia dificultado, por insistir na sua sistematização dogmática indiscutível, privilegiar o conceitual, o abstrato, sobre o concreto, com suas imagens e símbolos. O mistério do Deus pessoal so pode ser alcançado pelo amor, não pela razão.

3. SINAIS DOS TEMPOS

Essa teologia permitia mais efetivamente considerar os “Sinais dos Tempos”,(Lc 12,54-56), que João XXIII vai propor no seu discurso inaugural do Vaticano II e daí a necessidade do Aggiornamento (atualização) e de uma responsabilidade Pastoral que acompanha o conhecimento e análise da realidade.

       América Latina vai seguir o mesmo caminho, desenvolvendo uma teologia que especifica no nosso tempo o que Jesus advertiu em Mt 25,39 ss, ou seja a “opção prioritária pelo pobre”, que é donde acontece o encontro salvífico da história (Mt 25,45): “A mim o fizestes”

4.CONFLITOS

Os teólogos de La Fourviere de Lyon, se lançaram contra a Nouvelle Theologie. Principalmente Gariggou Lagrange e Labourdette. El Padre Provincial Jesuita, proibiu a Henri de Lubac, de ensinar. O Santo Oficio fez o mesmo para os padres Congar, Danielou. Esses três personagens foram chamados por João XXIII como “periti” no Vaticano II (Assessores) e mais tarde, todos eles foram cardeais.

 

 

 



[1] É o termo para o coletivo da árvore “Salgueiro-chorão”,  a tradução poderia ser “Salgueiral”, para designar um espaço da residência dominicana, antiga propriedade dos padres Cistercienses, na Bélgica, onde a Província Francesa dos Padres da Ordem dos Pregadores, mantinha uma importante escola de teologia.
[2] Seguian pegadas de antigos teólogos como Moehler, Newman, Gardeil, Rousselot, Charles Peguy, Paul Blondel, Emile Merwsch, Odo Casel, Romano Guardini, Karl Adam, Anselm Stolz.

Jean Varnier, fundador da "Arca"

A minha grande sorte é a vida comunitária.  A minha identidade não está no "fazer". O que eu vivo é da ordem da comunhão. Não há maior felicidade do que não ter mais necessidade de provar nada a ninguém, mas de ser amado assim como se é. Tudo ficou mais simples. Eu não poderia estar mais feliz...

Na vida cotidiana, percebi que, para acolher e amar uma pessoa ferida, a minha motivação não era suficiente. Eu tinha que tomar consciência da minha fraqueza. Acima de tudo, entendi que eu não podia agir sozinho, que eu precisava dos outros.
Como se aprende a se tornar fraco?

Se me encontro diante de uma pessoa que sofre do mal de Alzheimer, por exemplo, sou pobre, não tenho nada a fazer a não ser tomar a sua mão, sorrir, cantarolar ou "esboçar" um passo de dança.



Seja criança ou velho, a fraqueza não é felicidade se não se é amado. É o inferno. É preciso que o velho seja amado por aquilo que é, não por aquilo que faz, de alguém que lhe diga: "Eu amo você como você é".

Esse é o centro da mensagem evangélica?

Deus se revela na fraqueza e na vulnerabilidade. Eu descubro quem Jesus realmente é quando eu descubro que sou fraco e que preciso de um Salvador que me salve dos meus medos e das minhas atitudes compulsivas. Que me ajude sobretudo a aceitá-los, isto é, que as coisas não mudarão rapidamente, como podemos desejar. Devo aceitar a minha realidade, isto é, que eu não sou perfeito. É preciso aceitar a própria fraqueza. Nisso está a verdadeira beleza do ser humano.