domingo, 3 de março de 2013

catolicismo do Brasil


CRISE NO CATOLICISMO DO BRASIL (SÓ DO BRASIL?)

Há pelo menos três décadas, o Censo demográfico vem confirmando com números o que se observa nas ruas: uma intensa movimentação no ambiente religioso da população brasileira, com destaque para uma redução do número de católicos, além de um crescimento acelerado do protestantismo pentecostal, iniciado na década de 1970.

Ao longo da década de 1990-2000, dez por cento dos católicos migraram para as denominações pentecostais e para o segmento dos sem-religião; então, o catolicismo abarcava 73,6% da população brasileira. Essa tendência continuou e, no final da década seguinte 64,6% dos brasileiros pertenciam a um catolicismo ainda hegemônico, conforme dados divulgados no final de junho.

A realidade captada pelo Censo de 2010 provocou uma avalanche de questionamentos e interpretações. Há quem festeje a crescente diversidade e a secularização no quadro religioso em nosso país; há quem lamente a perda de contingente no seio do catolicismo, afinal um dos componentes históricos da identidade brasileira.

Internamente à Igreja Católica, não faltam acusações a torto e a direito. Um lado atribui essa sangria à rigidez doutrinária e moral, ao centralismo monárquico, ao celibato obrigatório para os padres, à desatenção para com as questões das mulheres, a recusa do sacerdócio para elas e ao alijamento do laicato (sobretudo jovens) das decisões. O outro lado debita essa queda a uma alegada influência marxista da Teologia da Libertação, ao reduzido amor à Igreja, ao relativismo moral e a um eclipse do senso de Deus. Que lado tem razão? Ambos? Nenhum? Nessa hora, a atribuição de culpa só serve para exaltar os ânimos e obscurecer o juízo. Provavelmente o catolicismo brasileiro sofre perda de fiéis tanto quanto as outras grandes religiões em outras sociedades pelo mundo.

Diante dessa situação, o que resta ao catolicismo fazer? Há grande perplexidade, o que não é algo a se lamentar, necessariamente. Um primeiro passo é admitir que a situação é mesmo complexa e não cabem soluções singelas. O passo seguinte é fugir da tentação de refugiar-se em princípios que (só aparentemente) são eternos e que, gestados em outras eras, mal e mal dão conta de desafios que o tempo não se cansa de produzir: é como aplicar remendo velho em pano novo.

A meu ver, da fixidez – se dogmática ou moralista, pouco importa – resulta a grave doença que afeta “um certo catolicismo”, doença da qual a perda de fiéis é apenas um sintoma. Tal enfermidade reúne perdas mais profundas, como a da capacidade de instilar entusiasmo e de inspirar ações generosas e duradouras – enfim, a perda de influência e de autoridade no campo ético. Um catolicismo acomodado no poder imperial e indutor de infantilismo se descolou de suas bases, tanto clericais quanto laicas, e acabou falando sozinho. Tendo perdido a capacidade de anunciar boas-novas que vão ao encontro do inédito da História, acabou propondo “mais do mesmo”. Daí, o crescente desencanto de fiéis leigos e leigas, de sacerdotes e religiosos(as) e, consequentemente, seu afastamento. Claro que, se estivesse satisfeita, essa massa não se apartaria – seu movimento representa um grito a ser decifrado.

Em favor dos dirigentes máximos do catolicismo, reconheço ser sobre-humana sua tarefa, que os verga sob o peso da instituição. Afinal, trata-se de um contingente de um bilhão de pessoas e de um patrimônio cultural e material acumulado durante milênios. Não é de estranhar que gerenciar esse empreendimento colossal embote um olhar mais sensível para as emergentes necessidades e urgências humanas. Daí o apelo a um armazém empoeirado, repleto de indulgências plenárias, de beatificações meio oportunistas e de eventos espetaculosos.

Mas o catolicismo institucional não é o único tipo de catolicismo. Há, pelo menos, um outro, que atrai católicos(as) inspirados no exemplo de seu Mestre na tarefa de tocar de forma digna seu cotidiano familiar, profissional e cidadão. São leigos, leigas e clérigos “da base”, que se agregam numa multidão incalculável de comunidades ocupadas em ver a realidade e interpretá-la para transformá-la. Capilarmente comprometidos com ações articuladas a favor da humanização, contra o sofrimento humano, ousam demolir as fábricas de tanta dor. Eles não veem ameaça no esvaziamento demográfico de seu grupo religioso, pois o fundamental é realizar a tarefa.

Enfim, o que parece estar em xeque no catolicismo não é a quantidade de fiéis, mas o fulgor da chama. Se conseguir estancar a desidratação de sua seiva, se não abortar o espírito que o insufla desde sua origem, então o catolicismo se manterá relevante. O mesmo vale para todas as religiões e interessa à humanidade

 

Usando as palavras de Cesar Cuzma


Saiu o Papa e apareceu o peregrino, saiu o que governa e entrou aquele que se une a todos em oração

Ele e nos, em oração, queremos pedir por um Papa que tenha um grande tato e perfil de "Pastor", não na autoridade administrativa e institucional (como muitas vezes se pensa), mais no zelo e no cuidado, no acolhimento e no “entranhamento” do sofrimento do povo, que tenha grande vivência espiritual, que seja aberto a ouvir (internamente e externamente na Igreja) e tenha o papel de diálogo (com todos), que saiba acalentar aqueles que mais sofrem e que são as grandes vítimas.

Que tenha a coragem e a humildade para enfrentar os problemas internos da Igreja, situações até constrangedoras (que afetaram Bento XVI), mas que devem ser enfrentadas para resgatar credibilidade, confiança e respeito.

IGREJA

Para ser sempre a mesma comunidade de Jesus ela deve continuamente ter a coragem de mudar. O que não significa ir contra a tradição eclesial, não significa romper com questões caras a fé; ao contrário, significa ir ao centro da fé, significar ir ao encontro e acolher o mundo que ri e que chora, que espera e que ama. Mudar, em muitos casos, é saber dar um rumo certo a situações que não se pode mais suportar. Neste ponto, há coisas sim, que devem mudar.

Apegados ao Vaticano II e deixando o Espírito de Cristo soprar na Igreja, queremos ser:

+ Uma Igreja que saiba ouvir os sinais dos tempos e que saiba dar uma resposta corajosa e de esperança aos que esperam em nome de Cristo. Queremos ter uma Igreja que saiba ser sinal e que não centralize em si mesma, apenas institucionalmente, todas as questões, mas que aponte o caminho, que conduza à verdade, que oriente e bem guarde os seus fiéis. Queremos uma Igreja que saiba ser Católica, no sentido autêntico de sua palavra, que seja aberta, que saiba acolher a todos e que possa sentar-se a mesa com todos; que não rejeite o diferente, mas que a exemplo do bom samaritano, passe a acolhê-lo e a protegê-lo.

+ Uma Igreja que se faça perceber em cada canto do mundo e que cada canto do mundo possa se fazer perceber na Igreja, mostrando a riqueza cultural de cada gente, de cada povo, de cada música e oração, mostrando os traços de cada rosto que formam este único corpo, que é a Igreja.

+ Queremos uma Igreja que tenha “jeito” de povo e que o “povo” se identifique com ela.

+ Queremos uma Igreja que seja ecumênica e que se coloque em diálogo religioso para o resgate do mundo, a serviço de Deus e em favor do mundo.

+ Queremos uma Igreja com espaço para os jovens, para as mulheres e para todos os leigos e leigas que se alimentam de sua fé, que desejam e querem trabalhar na Vinha do Senhor.

+ Queremos uma Igreja que seja a casa dos pobres, que acolha os aflitos, que ampare os doentes e que seja um autêntico testemunho de Cristo.

+ Queremos uma Igreja que se encontre com Cristo e que Este diga a Igreja: “Eu tive fome e me deste de comer, eu tive sede e me deste de beber, eu estava nu e me vestiste, estava preso e me visitaste, era estrangeiro e me acolheste...”. Aí sim, poderemos dizer, com Cristo, “que o Espírito de Deus está sobre nós, e que Ele nos ungiu, para evangelizar os pobres, para curar os doentes, para libertar os presos e para proclamar o tempo da graça do Senhor”.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

de Massimo Faggioli, "Privacidade" nova clave

O último discurso do Papa Bento XVI, realizado na Praça de São Pedro na última audiência geral da quarta-feira, 27 de fevereiro, não é talvez o mais importante do seu pontificado, do ponto de vista teológico e político, mas certamente é o mais importante e o melhor proferido por Joseph Ratzinger como bispo.

Em certo sentido, esse discurso poderia moldar a sua herança e percepção, e fazer de Bento XVI um papa emérito muito mais "popular" do que foi como papa na cátedra de Pedro nesses difíceis oito anos. No discurso, o papa não escondeu as dificuldades atravessadas pelo pontificado, e não escondeu – coisa notável para um papa – a sensação de abandono por parte de Deus, a mesma sensação que muitos outros cristãos sentem em muitos momentos da sua vida.

O discurso não foi isento de acentos típicos dos discursos de João XXIII, destinados a redimensionar a "mística papal" – aquela aura de sacralidade criada ao longo dos séculos em todo do papado, não só como ofício na Igreja, mas também em torno da pessoa. Mas, ao mesmo tempo, o redimensionamento da mística papal tem um contrapasso, ou seja, o seu papel universal, e não só para a Igreja ou para os católicos: "O coração de um papa se alarga ao mundo inteiro". Esse é um dos maiores e mais difíceis custos para o papa e para o catolicismo contemporâneo, mas que fazem da Igreja Católica uma antena muito sensível para compreender o mundo global.

Esse discurso representa uma chave de leitura importante para compreender o papel desse pontificado na Igreja contemporânea. Se, em alguns aspectos, o pontificado de Bento XVI deve ser lido em continuidade cultural e teológica com o de João Paulo II, esse discurso, ao invés, sublinha as suas diversidades: em primeiro lugar, pela capacidade de despersonalizar o papado ou, melhor, de vivê-lo de modo pessoal, sem aprisioná-lo dentro de um atletismo místico que não convém a Joseph Ratzinger.

Em uma chave típica das "humildades institucionais" que há na teologia do papado desde o Concílio Vaticano II, Bento XVI enfatizou a dimensão pastoral do ministério: "Eu recebo também muitíssimas cartas de pessoas simples que me escrevem simplesmente a partir do seu coração e me fazem sentir o seu afeto, que nasce do estar juntos com Cristo Jesus, na Igreja. Essas pessoas não me escrevem como se escreve, por exemplo, a um príncipe ou a um grande que não se conhece. Escrevem-me como irmãos e irmãs, ou como filhos e filhas, com o sentido de um vínculo familiar muito afetuoso. Aqui se pode tocar com a mão o que é a Igreja – não uma organização, não uma associação de fins religiosos ou humanitários, mas sim um corpo vivo, uma comunidade de irmãos e irmãs no Corpo de Jesus Cristo, que nos une a todos".

Morrer em público, como João Paulo II, ou admitir em público a dificuldade, até mesmo para o Papa Bento XVI, de renunciar a qualquer "privacidade" (termo que hoje talvez entre pela primeira vez no vocabulário dos pontífices romanos): "o papa pertence a todos, não pertence mais a si mesmo". São dois modos diferentes, ambos contraculturais de testemunhar a mensagem cristã ao mundo contemporâneo.

Assistimos nestes dias a uma excepcional redefinição do papel do papa na Igreja e no mundo. Sobre aquela extraordinária cena do sagrado no Ocidente que é a praça de São Pedro, em Roma, o papa se despede do público, mas não da Igreja

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

No tanto el papa, sino el Papado



LA RENUNCIA DE BENEDICTO XVI Y EL PAPADO
JOSÉ AROCENA, jarocena@ucu.edu.uy

URUGUAY.
ECLESALIA, 26/02/13.- La renuncia de Benedicto XVI fue sin duda un hecho importante. No parece sin embargo que lo más destacable de este suceso sea la danza de nombres con que la prensa se ha entretenido durante los días siguientes al anuncio. Un artículo de José María Castillo publicado en su blog “Teología sin censuras” el pasado 12 de febrero lleva por título “El problema no es el Papa… el problema es el papado”. De alguna manera, lo que José María Castillo quiere destacar es que si bien el nombre del futuro Papa puede tener importancia, lo que la Iglesia debe examinar es ese conjunto de tradiciones y formalismos que hacen del Papa una figura extraña y lejana del hombre y la mujer contemporáneos. Su carácter de obispo de Roma “primus inter pares” (el primero entre iguales) queda desfigurado tras esa imagen de “sumo pontífice” a lo que se agrega ese apelativo de “santo padre”. Dice Castillo:
“Lo mejor de esta renuncia, a mi entender, es que nos desvela -quita el velo- a una mal entendida tradición en la Iglesia, centrada en costumbres y atavismos formales que han llegado a tener una importancia absolutamente desproporcionada e incluso contraria al espíritu y a las prácticas auspiciadas por el Maestro”.
En estas pocas palabras, se expresa con acierto lo que el papado es actualmente, señalando incluso que ese conjunto de “tradiciones” son contrarias al espíritu y a las prácticas que caracterizaron la vida de Jesús y que los evangelios nos han trasmitido.
Entiendo por ese conjunto de costumbres y atavismos formales, tanto lo relacionado al boato del Vaticano completamente fuera de época, como a las formas de administrar la Iglesia marcadas por un férreo centralismo basado en una interpretación al menos abusiva, de la pretendida infalibilidad papal.
El centralismo romano no resiste hoy al cambio de época. Como dijo el Cardenal Martini pocos días antes de morir: la Iglesia está al menos dos siglos atrasada. No puede relacionarse con el mundo una Iglesia que se está encerrando en sí misma, que está repitiendo fórmulas y proponiendo prácticas que poco tienen que ver con el gigantesco cambio de época al que estamos asistiendo.
Las voces de la Iglesia en los distintos continentes temen expresarse ante los desbordes autoritarios del centralismo romano. ¡Esa es la cuestión del papado! Sin ir más lejos, el reciente Congreso de Teología llevado a cabo en la sede de la Universidad jesuita de Unisinos (Porto Alegre) que reunió a más de 700 cristianos laicos, sacerdotes, religiosos y obispos, tuvo que vencer oposiciones originadas en el Vaticano. Esa tentativa de impedir la expresión de sectores relevantes de la Iglesia latinoamericana, es una forma más del característico “disciplinamiento” que pretende la cúpula vaticana, sobre el conjunto de la Iglesia.
¿Qué esperanzas se pueden alimentar entonces ante el nuevo Cónclave? El Superior General de los jesuitas, P. Adolfo Nicolás sj, analizando el último Sínodo, señaló la ausencia de la voz del Pueblo de Dios:“La voz del Pueblo de Dios no tiene ocasión de expresarse. Es un Sínodo de Obispos y, por eso, no se cuenta con la participación activa del Laicado aun cuando un número de expertos y "observadores" (auditores) asisten como invitados… Por eso era difícil evitar el sentimiento de que se trataba de una reunión de "Hombres de Iglesia afirmando la Iglesia", lo cual es ciertamente bueno pero no precisamente lo que necesitamos cuando estamos a la búsqueda de una Nueva Evangelización. Podemos caer en el peligro de buscar "más de lo mismo" (Servicio digital de información SJ, vol. XVI, nº17, 29 de octubre de 2012).
Sin duda, este es uno de los puntos principales para que una renovación de la Iglesia haga posible su acercamiento a un mundo en profunda transformación. [...]

10 razões para que seja diferente

esta versão é diferente
Se começarmos a contagem em 1295, quando o Papa Bonifácio VIII exigiu pela primeira vez que os cardeais, para eleger um papa, fossem trancados em um quarto, a iminente edição de 2013 será o 75º conclave da história da Igreja Católica. Em certo nível, portanto, é possível dizer que já vimos isso antes, mais recentemente há oito anos.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 22-02-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

De muitas maneiras, o conclave de 2013 parecerá idêntico aos que vieram antes: a mesma procissão até a Capela Sistina, a mesma fumaça preta e branca, o mesmo momento Habemus Papam em que o novo papa foi escolhido. (Curiosidade: segundo a tradição, o anúncio é feito pelo protodiácono, ou seja, o cardeal sênior na ordem dos diáconos, que desta vez é o cardeal francês Jean-Louis Tauran. Ele deve ser o homem que irá sair até a varanda para dar a notícia – a menos, é claro, que ele mesmo seja eleito).

Apesar dos ecos do passado, há diversas características únicas sobre este conclave que alteram a política e, talvez, sugerem um processo mais longo e mais difícil. Com isso, eis as 10 principais diferenças da edição de 2013 da eleição papal.

1. Renúncia, não morte

A diferença mais óbvia é que, pela primeira vez em 600 anos, os cardeais irão eleger um papa após uma renúncia, em vez da morte. Processualmente, isso não muda nada; é a mesma sede vacante, as mesmas regras para cada rodada de votação (conhecidas como "escrutínio"), e assim por diante. Psicologicamente, no entanto, o contraste é enorme.

Quando qualquer grande líder mundial morre, ainda mais o papa, o ar geralmente fica repleto de homenagens e desabafos de pesar e carinho. A simples decência humana implica em não falar mal dos mortos, especialmente enquanto a perda ainda é recente. Como resultado, é mais difícil que os cardeais critiquem o papado que recém-acabou – certamente em público e às vezes até mesmo entre si.

Ao separar o fim do seu papado do fim da sua vida, Bento XVI poupou aos cardeais essa pressão, permitindo-lhes expressar tanto os pontos fortes deste pontificado, mas também as suas fraquezas. Isso pode ajudá-los a chegar a uma avaliação mais equilibrada, mas também poderia complicar as deliberações e dificultar mais a identificação dos candidatos.

Outra grande consequência é que não haverá nenhuma missa fúnebre, o que significa que não haverá nenhuma plataforma para que um dos cardeais se destaque ao proferir uma homilia memorável prestando homenagem ao papa falecido. Da última vez, muitos cardeais citaram a performance de Joseph Ratzinger na liturgia fúnebre de João Paulo II, e mais amplamente a liderança de Ratzinger durante o interregno, como um fator decisivo para consolidar o apoio a ele dentro do Colégio dos Cardeais.

2. Nenhum claro favorito

Apesar do que você possa ter lido, ouvindo a maioria dos cardeais, a eleição de Joseph Ratzinger em 2005 não foi um "acordo fechado" quando eles entraram na Capela Sistina para começar a votação. Os cardeais insistem que ainda estavam considerando uma grande variedade de nomes, e vários cardeais me disseram depois do fato que eles não tinham se decidido quando o show começou.

Por outro lado, todos eles relatam que todo mundo sabia que Ratzinger seria um forte candidato, e as suas deliberações pré-conclave, portanto, tinham um foco evidente. Eles sabiam que tinham que decidir se iriam apoiar o czar doutrinal de João Paulo II ou não, porque ninguém com olhos para ver poderia ter perdido os sinais do forte apoio que Ratzinger gozava.

Por consenso, não há nenhum desses pontos de referência claros, nenhum favorito óbvio desta vez. Há um certo número de candidatos que parecem plausíveis, mas nenhum que domine sobre o resto. Como resultado, as discussões pré-conclave podem não ter o mesmo foco, e pode demorar mais para que um consenso se construa.

3. O fator surpresa

Com a sua renúncia, Bento XVI provocou um choque maciço no sistema, rompendo com aquela que era uma espécie de convicção quase-dogmática em alguns setores segundo a qual, embora um papa tecnicamente pudesse renunciar, eles realmente não deveriam fazer isso. Como dizia o ditado, "você não pode renunciar à paternidade".

(Eu conversei com um cardeal nessa semana que estava no consistório do dia 11 de fevereiro, quando Bento XVI fez o seu anúncio histórico, e, mesmo que ele entendesse latim perfeitamente bem, ele disse que sua primeira reação foi: "Isso não pode estar acontecendo.")

Depois de já terem recebido uma enorme surpresa, talvez os cardeais vão estar mais dispostos a outras. Por exemplo, eles poderiam olhar para fora do Colégio de Cardeais em busca do próximo papa. (A última vez que isso aconteceu foi em 1378, apenas 50 anos antes do último papa a renunciar.) Nesse clima, todos os cenários-curinga parecem ser um pouco mais pensáveis.

4. Os veteranos

Em abril de 2005, havia apenas dois cardeais que já haviam participado de um conclave antes, Ratzinger e William Baum, dos Estados Unidos, enquanto que desta vez há 50 veteranos.

Esse contraste pode funcionar de duas maneiras: ou ele significará que os cardeais estarão mais bem organizados e serão mais eficientes porque mais deles sabem o que é preciso; ou as deliberações serão mais prolongadas e fracionadas porque menos cardeais estão dispostos simplesmente a brincar de "siga o líder".

5. O lapso de tempo

Em 2005, 16 dias se passaram entre a morte de João Paulo II no dia 2 de abril e a abertura do conclave no dia 18 de abril. É claro, estava claro que João Paulo II estava em declínio muito antes, mas, como ele passara muitas vezes por sustos de saúde antes e de alguma forma conseguia seguir em frente firmemente, muitos cardeais não pensavam seriamente na transição até que ele realmente morreu.

Muitos deles também não estavam em Roma quando o papa morreu, por isso alguns desses 16 dias foram necessários para as viagens.

Desta vez, porém, o anúncio da renúncia de Bento XVI ocorreu no dia 11 de fevereiro, ou seja, os cardeais poderiam começar a pensar sobre o que viria depois a partir daquele momento. Praticamente todos eles estão planejando estar em Roma para a audiência final do papa no dia 27 de fevereiro e na sua despedida no dia 28, de modo que todo o Colégio pode começar a trabalhar imediatamente depois.

Até o momento, a data precisa para o início do conclave ainda está no ar. A data mais realista, no entanto, é provavelmente o dia 9 ou 10 de março.

A linha de fundo é que os cardeais têm muito mais tempo do que em 2005 para se preparar, para ponderar vários candidatos e para se consultarem para ver quem parece ter apoio. Mais uma vez, isso poderia significar um processo mais simplificado, com os erros trabalhados com antecedência; por outro lado, poderia significar um conclave mais prolongado, já que vários blocos têm tempo para se organizar, e a mídia tem mais tempo para desenterrar o perfil dos candidatos, potencialmente levantando pontos de interrogação que possam fazer os eleitores refletirem a respeito.

6. O efeito escândalo

A crise dos abusos sexuais de crianças já havia sido definido firmemente como uma questão definidora para os norte-americanos em 2005, mas ela realmente não entrou em erupção na Europa até 2010. Enquanto isso, o Vaticano também foi atingido por um grande número de outros episódios embaraçosos, como o escândalo Vatileaks e as persistentes alegações de corrupção financeira.

Nesse contexto, desta vez, uma parcela maior de cardeais provavelmente estará preocupada que o novo papa seja percebido como alguém de "mãos limpas".

Na prática, isso pode produzir uma espécie de fardo, em vez de benefício, da dúvida para qualquer candidato publicamente vinculado a algum tipo de escândalo. Na atmosfera de estufa do período pré-conclave, alguns cardeais provavelmente sentem que não têm tempo para separar a verdade da falsidade e podem concluir que o mais seguro a se fazer é se afastar de qualquer pessoa que pareça até mesmo potencialmente manchado.

Como um cardeal me disse outro dia com relação a um proeminente cardeal companheiro que foi identificado na imprensa italiana com negócios financeiros supostamente obscuros, "eu não sei o que realmente aconteceu, mas agora parece ser um risco grande demais".

7. Nenhum benefício para "peixes grandes"

As figuras mais importantes durante uma Sede Vacante geralmente são o decano do Colégio dos Cardeais, que preside as reuniões e lidera todas as funções públicas, e o camerlengo, que é encarregado dos assuntos eclesiais cotidianos que não podem esperar pelo próximo papa. Quando essas posições são detidas por sérios candidatos ao papado, isso pode oferecer um grande impulso para as suas perspectivas.

Como mencionado, a proeminência de Ratzinger da última vez como deão foi muitas vezes citada como um fator importante na sua eleição.

Desta vez, porém, nenhum dos "peixes grandes" realmente é considerado como um sério candidato. O cardeal Angelo Sodano, o deão, tem 85 anos e possivelmente está manchado pelas memórias da sua enérgica defesa do falecido padre mexicano Marcial Maciel Degollado, fundador dos Legionários de Cristo, que mais tarde foi considerado culpado de uma ampla gama de abuso sexual e má conduta. O camerlengo, o cardeal italiano Tarcisio Bertone, é criticado por muitos cardeais pela maioria das falhas gerenciais durante o papado de Bento XVI.

Como resultado, esses dois papéis não carregam uma vantagem política embutida desta vez, sugerindo mais uma vez um campo de jogo mais amplo e, possivelmente, mais complicado.

8. Dois terços dos votos

Quando João Paulo II emitiu suas regras para o conclave em 1996, com o documento Universi Dominici Gregis, ele incluiu uma cláusula permitindo que os cardeais elejam um papa por maioria simples dos votos, em vez dos tradicionais dois terços, se estiverem em um impasse depois de cerca de 30 votações, ou seja, mais ou menos sete dias.

Processualmente, o conclave de 2005 nunca chegou perto de invocar essa disposição, já que eles elegeram Bento XVI em apenas quatro votações. Psicologicamente, porém, alguns cardeais disseram depois que todos sabiam que aquela cláusula estava nos livros, de modo que, uma vez que o total de votos de Ratzinger ultrapassou o limiar de 50%, o resultado parecia tudo menos inevitável.

Em 2007, Bento XVI emitiu uma emenda ao documento de João Paulo II, eliminando a possibilidade de eleição por maioria simples. Desta vez, os cardeais sabem que quem quer que seja eleito deve obter o apoio de dois terços do Colégio sob quaisquer circunstâncias, o que pode significar que eles estão menos inclinados a simplesmente pular do vagão quando alguém receber metade dos votos em uma dada rodada.

9. Exercícios espirituais

Renunciando pouco antes do início da Quaresma, Bento XVI pode ter querido dar um tom penitencial ao conclave, convidando os cardeais à sobriedade espiritual e a um exame de consciência. Na prática, porém, o momento também ofereceu uma enorme plataforma para um possível sucessor: o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, que está pregando o retiro anual de Quaresma do Vaticano.

Tal cenário é realmente possível apenas com um papa renunciante. Os Exercícios Espirituais quaresmais são realizados para o papa e para a Cúria Romana. Se o papa tivesse morrido, ele obviamente não iria participar. E as autoridades da Cúria perdem seus cargos em uma Sede Vacante. A única maneira para que os Exercícios possam seguir para a frente é o papa ainda estar por aí, e os prefeitos e presidentes ainda estarem nos livros.

Segundo a maioria das análises, Ravasi está apresentando uma performance tipicamente brilhante. Ele está oferecendo três reflexões a cada dia, com base em sua experiência de biblista e de homem de profunda erudição. Um cardeal que está participando dos Exercícios me disse na última quarta-feira que, até agora, ele achou Ravasi "extremamente impressionante".

Esse veterano cardeal curial acrescentou, no entanto, que ele não sabe muito sobre Ravasi – uma declaração um tanto surpreendente, dado que Ravasi trabalha no Vaticano desde 2007. Ela reflete o perfil único de Ravasi como alguém que está no Vaticano, mas que realmente não faz parte dele, mais focado em se engajar com os mundos da arte, da ciência e da cultura do que em construir impérios eclesiásticos.

Essa reputação pode ajudar Ravasi no sentido de que ele é tudo menos um maquinador e certamente não carrega nenhuma bagagem pública relacionada a qualquer um dos recentes escândalos do Vaticano. No entanto, alguns podem se perguntar se ele seria outro papa mais interessado na vida da mente do que realmente em gerir a Igreja.

10. Mídias sociais

Este será o primeiro conclave a se desdobrar plena e verdadeiramente na era das mídias sociais, em meio ao Twitter, Facebook e a todas as outras novas ferramentas de comunicação existentes. As notícias e os comentários se movem muito mais rapidamente e através de muito mais canais do que ainda tão recentemente quanto 2005.

Nem todo cardeal passa o dia inteiro atualizando o seu status no Facebook e tuitando, é claro, mas eles e as pessoas ao seu redor certamente estão atentas ao que está sendo dito sobre o papa e os candidatos ao papado durante este período. Se, antigamente, os cardeais costumavam se queixar de que não sabiam o suficiente uns sobre os outros, desta vez eles provavelmente irão reclamar da sobrecarga de informações.

Além disso, as mídias sociais também criam oportunidades totalmente novas para que outros se injetem no processo – senão na votação real, certamente na fase anterior. Ativistas, especialistas, pessoas que têm interesses teológicos, políticos e até mesmo litúrgicos estão ocupando as ondas de rádio e TV e a blogosfera com força, ajudando a estabelecer o tom e a moldar o conteúdo da conversação pública.

Por mais que tentem insistir que não são influenciados por nada disso, a maioria dos cardeais, em seus momentos honestos, admitem que é difícil não sê-lo, e só isso já significa que eles terão mais do que o normal circulando pelas suas cabeças desta vez.

Morando no Vaticano...


DUPLO PODER PAPAL

Frei Betto





Bento XVI, ao renunciar, não perde o nome pontifício nem o direito de continuar no Vaticano, em cujas dependências já optou por permanecer após a eleição de seu sucessor, em março próximo.
Como papa renunciante, Joseph Ratzinger poderia escolher, como sua nova residência, qualquer domicílio da Igreja Católica em um dos cinco continentes.
Alguns arcebispos aposentados recolhem-se a mosteiros, como Dom Marcelo Carvalheira, arcebispo emérito da Paraíba, que vive com os beneditinos de Olinda (PE); ou em casa própria, afastado do burburinho urbano, como é o caso do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, que mora em Taboão da Serra (SP).
Ao decidir permanecer no Vaticano, Bento XVI corre o risco de criar uma situação constrangedora. Ninguém duvida de que será ele o principal cabo eleitoral do futuro papa. Ratzinger nomeou 56% dos atuais membros do Colégio Cardinalício. E seu gesto de humildade, ao renunciar, o credencia a concorrer a um futuro processo de canonização.
Com certeza passa pela cabeça de Ratzinger um ou dois nomes, entre os 209 cardeais (dos quais apenas 118 são eleitores), que considere mais aptos a assumir a direção da Igreja. Só um ingênuo supõe que o papa renunciante fica isento frente a uma eleição tão delicada e importante. Dela depende o êxito da missão confiada por Jesus a Pedro e os apóstolos.
Os cardeais-eleitores não são obrigados a seguir possível sugestão de Bento XVI. Cada um tem o direito e o dever de votar de acordo com a própria consciência. Mas um bom número dos que dele receberam o chapéu cardinalício acredita ter com ele uma dívida de gratidão. Mesmo porque não gostariam de ver a barca de Pedro tomar rumos inesperados, como ousou João XXIII ao ser eleito, em 1958, para suceder Pio XII.
Penso que o pontificado do futuro papa terá duas etapas bem nítidas: a primeira, enquanto Bento XVI viver. A segunda, após a morte do pontífice renunciante.
Enquanto Bento XVI estiver vivo dificilmente o novo papa tocará em temas considerados, hoje, tabus (e proibitivos) por seu antecessor: fim do celibato obrigatório, acesso das mulheres ao sacerdócio, uso de preservativo, direito de relação sexual sem intenção de procriar, aplicação de células-troncos, união de homossexuais etc.
Nenhum debate sobre tais assuntos será permitido, ainda que prossiga entre os católicos a dupla moral: a defendida pela doutrina oficial e a praticada pelos fiéis.
Morto Bento XVI, e supondo que seu sucessor lhe sobreviva (o destino surpreende. Lembrem-se de João Paulo II, falecido 33 dias após ter sido eleito), então se iniciará a segunda etapa do novo pontificado.
Livre da sombra de Bento XVI (ou do superego, diria Freud), o novo papa se sentirá à vontade para imprimir aos rumos da Igreja a direção que lhe parecer conveniente.
Convém lembrar que o papado é a única monarquia absoluta que resta no Ocidente. Isso significa que o pontífice romano não está sujeito a nenhuma instância humana que o possa questionar, julgar ou admoestar.
Ao me perguntarem se prevejo candidaturas preferenciais, os chamados “papabiles”, fujo da questão regional, como a hipótese de se eleger um latino-americano, dado que o nosso continente abriga, atualmente, o maior número de católicos, 48,75 %.


É óbvio que os italianos gostariam de retomar o monopólio do papado, mantido em suas mãos ao longo de 456 anos (1522-1978). Nesse caso, arrisco o palpite de que a disputa será entre o atual carmelengo, o cardeal Tarciso Bertone, e o arcebispo de Milão, Ângelo Scola.



Bertone tem a seu favor ser homem de confiança de Bento XVI. Contra, a má administração da Santa Sé, cujas finanças pecam pela falta de transparência e frequentes casos de corrupção. Scola tem a seu favor ser renomado filósofo e teólogo, e também poliglota. Contra, tido como excessivamente conservador.


O único palpite que me parece viável é que o futuro papa provavelmente será um homem com menos de 70 anos. O que restringe consideravelmente a lista dos virtuais candidatos.
Roma já não suporta tantos conclaves em tão curto período de tempo. Eu mesmo me surpreendo ao constatar que, em quase sete décadas de existência, assisti à eleição de cinco papas e, agora, acompanharei a sexta.


O tempo urge, o mundo já ingressa na pós-modernidade e a Igreja Católica ainda reluta em efetivamente aplicar a decisões do Concilio Vaticano II e admitir que fora da Igreja também há salvação.


Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros, e assessor de movimentos sociais.

http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.

 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Homilia Segundo Dog Quaresma (2013)


Homilia Segundo domingo da Quaresma

 

       Pedro, Tiago, João, André, Felipe, Nata, Mateus... e os outros discípulos e discípulas já vinham acompanhando a Jesus por vários meses. Naquela manhã porem Jesus interrompeu o ritmo habitual da equipe e convocou pessoalmente ao Pedro, ao Tiago e ao João para subir com ele a montanha do Tabor..

       Era caminhada de varias horas e oportunidade para star a sós com Jesus. Os três que iam com Ele, podiam conversar mais à vontade, sem as multidões que constantemente envolviam a todos não lhes deixando nem tempo para comer. Os outros discípulos provavelmente tomaram a oportunidade para visitar os povoados vizinhos ou ir rapidamente às suas famílias, pois era de esperar-se que o roteiro do Tabor exigiria dois ou três dias entre ir e voltar, com uma permanência de comida e descanso.

      A escalada do Tabor foi um marco inesquecível. Os três evangelhos sinóticos a mencionam, com a particularidade de Lucas, que sublinha que iam até o topo da montanha, “para orar”. Na verdade terminou sendo para que conquistassem um novo conhecimento de Jesus. Transfiguração dupla: a de Jesus e a dos apóstolos.

       Assim foi que os três apóstolos viram o que ainda não haviam captado sobre a pessoa e missão do Mestre. E essa surpresa não foi maior do que a segunda, a que se referia a eles mesmos: -“Nunca mais deixemos este lugar !?

Como as multidões iam ao Jordão para encontrar-se com o Batista, agora vão subir o Tabor para ver a glória de Jesus, entre Moisés e Elias. E nós estaremos aqui como facilitadores deste novo espaço sagrado...”, em torno das três novas tendas que vamos erguer.

       Que haviam visto e captado?

Deus estava manifestando que em Jesus, todas as profecias chegavam à sua plena manifestação (Elias). Daí o entusiasmo, o dinamismo, a atração ... concentradas no Filho Bem-Amado. Um tempo de felicidade se abria para todo vivente e para sempre.

Com Moises a história de um povo- nação unido a Deus pela aliança, chegava, por meio de Jesus, à sua maturidade.

O que os três atônitos e entusiasmado (fora de si),  estavam  recebendo não era uma preleção sobre um plano operativo universal. Era sim a força, a atração, o magnífico de Deus. Agora tudo tinha sentido. Não havia nada mais importante do que aquilo que se lhes revelará – Moises e Elias haviam preparado os caminhos para a missão de Jesus.  Eram seus servidores.  O que o Pai tinha dito a Jesus nas aguas do Jordão, agora era dinamismo, compromisso, beatitude.

       Os três companheiros de Jesus não estavam pensando em nenhuma estratégia  a seguir. Nem por um momento se lhes passou pela cabeça qual seria o procedimento dos discípulos de Jesus e deles mesmos: – Ficar aqui no Tabor e agir daqui para o resto de Israel e do mundo? Esperar  a peregrinação escatológica de todos os povos da terra, não já a Jerusalém, mas ao Tabor?

      A etapa de um Jesus sem poder, nada resplandecente de gloria e majestade, já teria passado e estava sendo substituída pela que acabava de ser revelada pelas recentes aparições?

       Como que as luzes se apagaram. O Jesus de sempre. O que eles bem conheciam, pobre carpinteiro de Nazaré, sem os acompanhantes celestiais, desceu junto com eles pelos caminhos de volta.

       E o texto do Evangelho conclui: Ficaram calados e não contaram a ninguém nada do que tinham visto (Lc 9,36)

      

QUE SIGNIFICA PARA NOS ESSE ACONTECIMENTO?

       - Como sempre a Liturgia nos traz a Palavra revelada sobre o projeto de Deus em Jesus e para seus seguidores. O Jesus dos Evangelhos se transfigura. Não é somente quem nos faz conhecer o Pai, mas nos coloca dentro do seu Plano como sujeitos.

   Faz acontecer para nos a transfiguração. O que nos foi comunicado se transforma de historia em evento.

A transfiguração de Jesus é também a transfiguração de nos mesmos. Não como uma conquista intelectual que a gente vai guardar na memoria de um livro e na saudades das recordações, mas como algo que entrou dentro de nos e passou a ser parte da nossa própria vida (Como uma injeção endovenosa cujo líquido se integra no organismo. Como o pão e o vinho, que são assimilados e se tornam nosso próprio sangue, nossa própria vida).

    Saímos “outros”. Já não somos os mesmos que havíamos chegado. Fomos transfigurados, tanto como cristãos individuais, mas também como Igreja.

# A celebração litúrgica da transfiguração, como afeta a comunidade eclesial?

- A Igreja se identifica como a comunidade do Reino, desbordante de jubilo, dinamismo e profecia? Entusiasmada pelo que cre e ama e por isso o comunica?

Então:

1.  Não ficará mais esperando pelos que se decidem vir até Ela, mas irá descer do Tabor e procurar os sendeiros da historia que lhe permitam chegar até os confins da terra

2.  Não pretenderá que se comece onde chegaram seus heróis depois de anos e anos de fidelidade heroica, mas estará ao lado dos pecadores, indignos, caídos, desanimados... como o médico que vem para quem está enfermo.

3.  Não comunicará “verdades”, mas modo de ser individual e comunitário; local e universal. Não falará como quem dá informações, mas como testemunho, às vezes até martirial”, de quem esta procurando caminhar, apesar de tudo.

4.  Não será uma experiência paralela à vida comum e corrente, mas uma transfiguração do que existe que desenvolve todas suas capacidades. Não se trata de uma comunidade eclesial paralela à vida, mas dentro da mesma, como fermento do Espírito em função do Reino de Deus.

5.  Na conjuntura em que estamos não se trata de ver em primeiro lugar quem vai ser o novo papa, mas como vai ser o Papado; não um ministro da Igreja, mas a Igreja em relação ao mundo (Reinado de Deus).

6.  Quem já está na base (cEB), não sonhar como uma Igreja que se sente melhor fora disso.

7.  Quando Jesus e a pequena equipe desceu do Tabor, foi para encontrar-se outra vez com a dor humana (Lc 9,38 ss) e as limitações-incapacidades dos discípulos (Igreja). El texto es de Mt 17,19ss.

       . O extraordinário do Tabor não solucionou problemas, mas orientou a comunidade, os seguidores de Jesus