domingo, 19 de agosto de 2012

Articulação e Coordenação nas CEBS


Articulação e Coordenação das CEBs

O processo das CEBs, se apoia em dois dinamismos diferentes e complementares: o da Articulação e da Coordenação.

       O primeiro surgiu na caminhada Latino-americana das CEB, tanto em nível local e regional, como continental. Não surgiu como expressão do poder hierárquico, conferido pela "ordenação sacramental" de bispo ou presbítero. É na verdade, uma responsabilidade que nasce da comunhão fraterna das CEBs  e da sua necessidade de sobreviver. Em última análise é coerência com a realidade de ser Povo de Deus peregrino, profético e missionário (Koinonia), a serviço do qual existe a Diakonia (diferentes ministérios e assessorias). 

       A coordenação cabe, na tradição eclesial, ao ministro ordenado (Episcopus-presbiterus, quer dizer, Bispo y presbíteros). Consequentemente, sendo as CEBs um nível de Igreja, menor que a paróquia, mas da mesma natureza que ela, sua coordenação, em sentido canônico e teológico é apanágio, serviço e responsabilidade da Igreja local.

         

       Vale a pena considerar a originalidade da expressão eclesial latino americana, sobre as cEBs: - Foi a própria hierarquia que oficialmente assumiu as CEBs(Medellin), que ja vinham acontecendo ao  nível da experiências de algumas igrejas locais (Barra do Pirai,Br; Natal-S.Paulo do Potengi, Br; Ribeirão Preto, com Cravinhos,Br; Fortaleza com Pirambú, Br; Panamá com San Miguelito; Honduras, com Choluteca; Equador com Riobamba; Bolívia, com o Altiplano, etc); e então as LANÇOU,  a nível continental.  “Carisma e poder” partiram juntos, no após Vaticano II latino americano.

        Na história da Igreja vemos antecedentes semelhante (nunca são iguais),  no fenômeno religioso que aconteceu entre os séculos IV - VI... com os grupos dos padres e madres do deserto. Passaram dos anacoretas (“santos” isolados), aos "Cenobios" (Pacomio, Basilio, no Oriente), e depois aos Povoados em torno dos Conventos (Principalmente com os Beneditinos ), com os quais formavam uma unidade de fé e testemunho (Bento foi chamado o Pai da Europa, não só no sentido espiritual).

       Dessas Igrejas monacais, que não se reduziam aos monges, mas incluíam o povo cristão da área, nos século VI e VII saíram os missionários na direção do ocidente. Particularmente importante o caso dos 40 monges enviados à Inglaterra pelo Papa Gregório I (Magno), que também tinha sido beneditino. Outro grupo de monges andaram pela Irlanda e outros mais, pela França. Nem se pode deixar de mencionar o impacto evangelizador e formador de comunidades eclesiais, a través do ministério de Cirilo e Metódio, entre os povos eslavos,no século VIII.

# Em linguagem contemporânea diríamos: O Papa enviou missionários que começaram formando pequenas CEBs na Inglaterra; dai saiu Bonifácio (Wilfrid) alcançando as tribos bárbaras da Germânia (na linguagem do Império Romano) formando pequenas comunidades eclesiais que permitiram coerência e  perseverança em relação à nova fé cristã.

       O fato de mencionar aspetos históricos é para fortalecer o que estamos fazendo - formação de pequenas Igrejas e articulação das mesmas. Confirmamos nossas iniciativas, com a legítima tradição eclesial das Igrejas locais, que foram surgindo graças ao ímpeto missionário de ir aos confins da terra, segundo o que lhes pediu Jesus (Mt 24,18-20).



O processo dos cristãos que se encontram na base (primeira estância da  realidade), cedo ou tarde é apoiado, "assumido" pelo ministério dos que Jesus deixou para confirmar na fé e na missão aos seus irmãos e irmãs. Nos casos mencionados (memória histórica) foi diretamente o ministério “petrino”[1] que

enviou missionários e a seguir  abençoou, reconheceu, assumiu, as primeiras experiências europeias de lançar a Igreja e consequentemente formar células eclesiais de base noutras culturas, e necessariamente noutro “modelo” de ser Igreja.



       À luz desses eventos da nossa história, agora já aceitos e canonizados, vale a pena considerar o que vem acontecendo na América Latina-Caribe. Que não é, evidentemente, mera repetição material do processo mencionado (o Espírito Santo não tira fotocopias da sua criatividade): - As assembleias gerais do episcopado latino americano e caribenho reconheceram as CEBs existentes. O exemplo ganhou cidadania universal pelas encíclicas papais de Paulo VI e João Paulo II, que lançaram aquela proposta a nível continental. As encíclicas dos papas Paulo VI[2] e João Paulo II[3], apresentaram a toda a Igreja a proposta das

CEBs.



Muitas conferencias episcopais, bispos e presbíteros tomam essa bandeira, não como um movimento de renovação espiritual, mas como o modo da Igreja ser.

Outros praticamente "anularam" as CEBs, tomando-as como um método de renovação paroquial, o como inspiração particular na Igreja.



Por muitas razões que agora não vamos analisar, a maioria do clero se desentende hoje das CEBs ou as consideram um movimento mais (sócio, político, bíblico...). Então elas mesmas sentem a necessidade de ajudar-se. Não se trata de uma delegação de poder de parte das bases, senão de apoio fraterno que se torna necessário dadas as circunstâncias eclesiásticas dominantes.



 A igreja local tem a responsabilidade de gerar CEBs, assim como gerou paroquias, porque o Povo de Deus estava vivendo uma situação na qual era importante novas estruturas na dimensão comunitária de base. Isso é o que agora está acontecendo novamente. A articulação não é criação de um novo ministério eclesiástico, nem uma expressão de poder hierárquico... é a corresponsabilidade do Povo de Deus (que pelo seu sentido de fé - Sensus Fidelium – e a força do Espírito, cria o que não existia e fazia falta.[4]



Depois dessa reflexão mais de corte teológica, está a constatação clara de que, novamente, a nossa Igreja da A.Lat-Caribe, é criativa e original. Saímos de um esquema piramidal, de cima para baixo, manifestamos a criatividade que não pretende romper a comunhão (Que nunca é uniformidade), criando Igrejas paralelas, como fazem alguns grupos neo-pentecostas ou o minúsculo proceso dos cismáticos super-conservadores Lefebrianos. Diferente da perspectiva dos movimentos e pastorais, as articulações das CEBs não são coordenação, nem fazem planos para que as instâncias das Igrejas locais os apliquem. Elas recolhem e discernem o que o Espírito está realizando. Por isso é importante o papel dos assessores. Graças a Deus, o caminhar das CEBs alcançou reunir entre nós, as melhores assessorías disponíveis na área bíblica, teológica, moral, pastoral, técnica, política, mediática.



        Estamos alcançando colocar na prática una efetiva e sólida articulação geral, em comunhão com as articulações regionais e locais... Esta iniciativa vem sendo acolhida pelas Igrejas da África, Ásia, Europa assim como pelo CELAM (América Latina-Caribe).

 Nem tudo está claro de antemão. Caminho se vai fazendo ao caminhar. Já não estamos num momento de euforia gloriosa, mas de um discreto e perseverante caminhar criativo, aprofundando intuições, respondendo a dúvidas, fazendo auto críticas construtivas e animadoras. Como dizia o bispo mártir de La Rioja, Mons. Angel Angelelli: - É ir caminhando em frente!.





[1] “Confirma aos teus irmãos” (Lc 22,32)
[2] Evangelii Nunciandi 58
[3] Redemptoris Missio 51
[4]  A articulação é a corresponsabilidade fraterna de todos os batizados (membros do mesmo e único corpo de Cristo). Por ela ha um encontro difícil, quasi martirial, entre Carisma y Poder e que entre nos chamamos denominamos: “autonomia e comunhão”.

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