Articulação e Coordenação das CEBs
O processo das CEBs, se apoia em dois dinamismos diferentes
e complementares: o da Articulação e da Coordenação.
O primeiro surgiu na caminhada Latino-americana
das CEB, tanto em nível local e regional, como continental. Não surgiu como
expressão do poder hierárquico, conferido pela "ordenação
sacramental" de bispo ou presbítero. É na verdade, uma responsabilidade
que nasce da comunhão fraterna das CEBs
e da sua necessidade de sobreviver. Em última análise é coerência com a
realidade de ser Povo de Deus peregrino, profético e missionário (Koinonia), a
serviço do qual existe a Diakonia (diferentes ministérios e assessorias).
A
coordenação cabe, na tradição eclesial, ao ministro ordenado (Episcopus-presbiterus,
quer dizer, Bispo y presbíteros). Consequentemente, sendo as CEBs um nível de
Igreja, menor que a paróquia, mas da mesma natureza que ela, sua coordenação,
em sentido canônico e teológico é apanágio, serviço e responsabilidade da
Igreja local.
Vale
a pena considerar a originalidade da expressão eclesial latino americana, sobre
as cEBs: - Foi a própria hierarquia que oficialmente assumiu as
CEBs(Medellin), que ja vinham acontecendo ao nível da experiências de algumas igrejas
locais (Barra do Pirai,Br; Natal-S.Paulo do Potengi, Br; Ribeirão Preto, com
Cravinhos,Br; Fortaleza com Pirambú, Br; Panamá com San Miguelito; Honduras,
com Choluteca; Equador com Riobamba; Bolívia, com o Altiplano, etc); e então as
LANÇOU, a nível continental. “Carisma e poder” partiram juntos, no após
Vaticano II latino americano.
Na história da Igreja vemos antecedentes
semelhante (nunca são iguais), no
fenômeno religioso que aconteceu entre os séculos IV - VI... com os grupos dos
padres e madres do deserto. Passaram dos anacoretas (“santos” isolados), aos
"Cenobios" (Pacomio, Basilio, no Oriente), e depois aos Povoados em
torno dos Conventos (Principalmente com os Beneditinos ), com os quais formavam
uma unidade de fé e testemunho (Bento foi chamado o Pai da Europa, não só no
sentido espiritual).
Dessas
Igrejas monacais, que não se reduziam aos monges, mas incluíam o povo cristão
da área, nos século VI e VII saíram os missionários na direção do ocidente.
Particularmente importante o caso dos 40 monges enviados à Inglaterra pelo Papa
Gregório I (Magno), que também tinha sido beneditino. Outro grupo de monges
andaram pela Irlanda e outros mais, pela França. Nem se pode deixar de
mencionar o impacto evangelizador e formador de comunidades eclesiais, a través
do ministério de Cirilo e Metódio, entre os povos eslavos,no século VIII.
# Em linguagem contemporânea diríamos:
O Papa enviou missionários que começaram formando pequenas CEBs na Inglaterra;
dai saiu Bonifácio (Wilfrid) alcançando as tribos bárbaras da Germânia (na
linguagem do Império Romano) formando pequenas comunidades eclesiais que
permitiram coerência e perseverança em
relação à nova fé cristã.
O
fato de mencionar aspetos históricos é para fortalecer o que estamos fazendo - formação
de pequenas Igrejas e articulação das mesmas. Confirmamos nossas iniciativas, com
a legítima tradição eclesial das Igrejas locais, que foram surgindo graças ao
ímpeto missionário de ir aos confins da terra, segundo o que lhes pediu Jesus
(Mt 24,18-20).
O processo dos cristãos que se
encontram na base (primeira estância da
realidade), cedo ou tarde é apoiado, "assumido" pelo
ministério dos que Jesus deixou para confirmar na fé e na missão aos seus
irmãos e irmãs. Nos casos mencionados (memória histórica) foi diretamente o
ministério “petrino”[1] que
enviou missionários e a seguir abençoou, reconheceu, assumiu, as primeiras
experiências europeias de lançar a Igreja e consequentemente formar células
eclesiais de base noutras culturas, e necessariamente noutro “modelo” de ser
Igreja.
À
luz desses eventos da nossa história, agora já aceitos e canonizados, vale a
pena considerar o que vem acontecendo na América Latina-Caribe. Que não é,
evidentemente, mera repetição material do processo mencionado (o Espírito Santo
não tira fotocopias da sua criatividade): - As assembleias gerais do episcopado
latino americano e caribenho reconheceram as CEBs existentes. O exemplo ganhou
cidadania universal pelas encíclicas papais de Paulo VI e João Paulo II, que
lançaram aquela proposta a nível continental. As encíclicas dos papas Paulo VI[2]
e João Paulo II[3],
apresentaram a toda a Igreja a proposta das
CEBs.
Muitas conferencias
episcopais, bispos e presbíteros tomam essa bandeira, não como um movimento de
renovação espiritual, mas como o modo da Igreja ser.
Outros praticamente
"anularam" as CEBs, tomando-as como um método de renovação paroquial,
o como inspiração particular na Igreja.
Por muitas razões que agora não
vamos analisar, a maioria do clero se desentende hoje das CEBs ou as consideram
um movimento mais (sócio, político, bíblico...). Então elas mesmas sentem a
necessidade de ajudar-se. Não se trata de uma delegação de poder de parte das
bases, senão de apoio fraterno que se torna necessário dadas as circunstâncias
eclesiásticas dominantes.
A igreja local tem a responsabilidade de gerar
CEBs, assim como gerou paroquias, porque o Povo de Deus estava vivendo uma
situação na qual era importante novas estruturas na dimensão comunitária de
base. Isso é o que agora está acontecendo novamente. A articulação não é
criação de um novo ministério eclesiástico, nem uma expressão de poder hierárquico...
é a corresponsabilidade do Povo de Deus (que pelo seu sentido de fé - Sensus
Fidelium – e a força do Espírito, cria o que não existia e fazia falta.[4]
Depois dessa reflexão mais de corte
teológica, está a constatação clara de que, novamente, a nossa Igreja da
A.Lat-Caribe, é criativa e original. Saímos de um esquema piramidal, de cima
para baixo, manifestamos a criatividade que não pretende romper a comunhão (Que
nunca é uniformidade), criando Igrejas paralelas, como fazem alguns grupos
neo-pentecostas ou o minúsculo proceso dos cismáticos super-conservadores
Lefebrianos. Diferente da perspectiva dos movimentos e pastorais, as
articulações das CEBs não são coordenação, nem fazem planos para que as
instâncias das Igrejas locais os apliquem. Elas recolhem e discernem o que o
Espírito está realizando. Por isso é importante o papel dos assessores. Graças
a Deus, o caminhar das CEBs alcançou reunir entre nós, as melhores assessorías
disponíveis na área bíblica, teológica, moral, pastoral, técnica, política,
mediática.
Estamos alcançando colocar na prática una
efetiva e sólida articulação geral, em comunhão com as articulações regionais e
locais... Esta iniciativa vem sendo acolhida pelas Igrejas da África, Ásia,
Europa assim como pelo CELAM (América Latina-Caribe).
Nem tudo está claro de antemão. Caminho se vai
fazendo ao caminhar. Já não estamos num momento de euforia gloriosa, mas de um
discreto e perseverante caminhar criativo, aprofundando intuições, respondendo
a dúvidas, fazendo auto críticas construtivas e animadoras. Como dizia o bispo
mártir de La Rioja, Mons. Angel Angelelli: - É ir caminhando em frente!.
[4] A articulação é a
corresponsabilidade fraterna de todos os batizados (membros do mesmo e único
corpo de Cristo). Por ela ha um encontro difícil, quasi martirial, entre Carisma y
Poder e que entre nos chamamos denominamos: “autonomia e comunhão”.
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