O ensino de Jesus por meio de parábolas.
Gilvander Luís Moreira
Um
aspecto importante do ensinamento de Jesus era o seu jeito bem popular de
ensinar por meio de parábolas. Os quatro evangelhos conservaram muitas
parábolas. Dezenas! Algumas, bem grandes, outras, bem pequenas, às vezes, de
uma ou duas palavras. Geralmente, quando terminava de contar uma parábola,
Jesus não explicava, mas costumava dizer: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”
(Mt 11,15; 13,9.43; Mc 4,9.23; 7,16; Lc 8,8; 14,35) Ou seja: “É isso! Vocês
ouviram. Agora, tratem de entender!”. O pessoal gostava desse jeito de ensinar,
porque Jesus acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido das
parábolas. De vez em quando, sozinho ou em casa, ele explicava as parábolas
para os discípulos (Mc 4,10; 7,17-18).
Uma
Parábola é uma comparação. Jesus compara as coisas de Deus, que não são tão
evidentes, com as coisas da vida que o povo conhece e experimenta na sua luta
diária pela sobrevivência. Por exemplo, o agricultor que escuta a parábola da
semente, diz: “Semente, eu sei o que é! Mas Jesus diz que isso tem a ver com o
Reino de Deus. O que será que ele quis dizer com isto?”. E aí você pode
imaginar as longas conversas do povo em torno das parábolas que Jesus contava.
A
parábola provoca e, às vezes, desconcerta. Em algumas parábolas acontecem
coisas que não costumam acontecer na vida. Por exemplo, onde se viu um pastor
de cem ovelhas abandonar noventa e nove no deserto para encontrar aquela única
que se perdeu? (Lc 15,4) Onde se viu um pai acolher com festa o filho devasso,
sem lhe dizer uma só palavra de repreensão? (Lc 15,20-24). Onde se viu um
samaritano ser melhor que um levita e um sacerdote? (Lc 10,29-37). Jesus
provoca os ouvintes a pensar! A parábola é uma forma participativa de ensinar,
de educar. Não dá tudo trocado em
miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela leva a pessoa a
refletir sobre sua própria experiência de vida e a descobrir nela a presença do
Reino de Deus. Os doutores ensinavam que o Reino só viria como fruto da
observância perfeita da lei de Deus. Jesus dizia o contrário: “O Reino de Deus
já está chegando” (Mc 1,15). “O Reino já está no meio de vocês!” (Lc 17,21).
Por meio das parábolas, Jesus ajudava o povo a descobrir a presença do Reino na
vida. Esta era a novidade da Boa Nova trazida por Jesus, diferente do ensino
dos doutores (Mc 1,22.27).
A
parábola faz o povo enxergar melhor, faz da pessoa uma observadora crítica da
realidade. Certa vez, um bispo perguntou na comunidade: “Jesus falou que
devemos ser como sal. Para que serve o sal?”. Discutiram e, no fim, encontraram
mais de dez finalidades para o sal! Aí foram aplicar tudo isto à vida da
própria comunidade e descobriram que ser
sal não é tão fácil. É difícil e
exigente! A parábola funcionou. Ajudou-os a dar um passo. Iniciaram a travessia
para um novo modo de viver e conviver.
Jesus
tinha uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus com as coisas
mais simples da vida do povo. Isto supõe duas coisas que marcam a pedagogia de
Jesus: estar bem por dentro das coisas da vida do povo, e estar bem por dentro
das coisas de Deus, do Reino de Deus. Jesus sabia unir as duas coisas, porque
ele vivia imerso em Deus e na realidade da vida do povo. Ele era de Deus no
meio do povo, e era do povo na sua relação com Deus.
Resumindo:
uma parábola apresenta as seguintes características: a) Fala do cotidiano das
pessoas. b) Retrata a realidade tal e qual. c) Emerge da realidade, mas não a
reproduz, transforma-a. d) Fala de si mesmo e por si mesmo. e) Provoca e
interpela. f) Convoca para pensar. g) Tem um quê de impensado, imprevisto e, às
vezes, de escandaloso.
Realmente,
o ensino de Jesus era diferente do ensino dos escribas. Era uma Boa Nova para
os pobres, porque Jesus revelava um novo rosto de Deus, no qual o povo se re-conhecia e com o qual se alegrava.
“Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos
sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu
agrado!“ (Lc 10,21).
No
Evangelho de Lucas, logo depois deste louvor de agradecimento ao Pai (Lc
10,21-24), que mostra o contraste entre entendidos e pequeninos, segue a parábola
do Bom Samaritano.
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