terça-feira, 14 de agosto de 2012

As parábolas de Jesus


O ensino de Jesus por meio de parábolas.

Gilvander Luís Moreira

Um aspecto importante do ensinamento de Jesus era o seu jeito bem popular de ensinar por meio de parábolas. Os quatro evangelhos conservaram muitas parábolas. Dezenas! Algumas, bem grandes, outras, bem pequenas, às vezes, de uma ou duas palavras. Geralmente, quando terminava de contar uma parábola, Jesus não explicava, mas costumava dizer: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” (Mt 11,15; 13,9.43; Mc 4,9.23; 7,16; Lc 8,8; 14,35) Ou seja: “É isso! Vocês ouviram. Agora, tratem de entender!”. O pessoal gostava desse jeito de ensinar, porque Jesus acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido das parábolas. De vez em quando, sozinho ou em casa, ele explicava as parábolas para os discípulos (Mc 4,10; 7,17-18).

Uma Parábola é uma comparação. Jesus compara as coisas de Deus, que não são tão evidentes, com as coisas da vida que o povo conhece e experimenta na sua luta diária pela sobrevivência. Por exemplo, o agricultor que escuta a parábola da semente, diz: “Semente, eu sei o que é! Mas Jesus diz que isso tem a ver com o Reino de Deus. O que será que ele quis dizer com isto?”. E aí você pode imaginar as longas conversas do povo em torno das parábolas que Jesus contava.

A parábola provoca e, às vezes, desconcerta. Em algumas parábolas acontecem coisas que não costumam acontecer na vida. Por exemplo, onde se viu um pastor de cem ovelhas abandonar noventa e nove no deserto para encontrar aquela única que se perdeu? (Lc 15,4) Onde se viu um pai acolher com festa o filho devasso, sem lhe dizer uma só palavra de repreensão? (Lc 15,20-24). Onde se viu um samaritano ser melhor que um levita e um sacerdote? (Lc 10,29-37). Jesus provoca os ouvintes a pensar! A parábola é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não dá tudo trocado em miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela leva a pessoa a refletir sobre sua própria experiência de vida e a descobrir nela a presença do Reino de Deus. Os doutores ensinavam que o Reino só viria como fruto da observância perfeita da lei de Deus. Jesus dizia o contrário: “O Reino de Deus já está chegando” (Mc 1,15). “O Reino já está no meio de vocês!” (Lc 17,21). Por meio das parábolas, Jesus ajudava o povo a descobrir a presença do Reino na vida. Esta era a novidade da Boa Nova trazida por Jesus, diferente do ensino dos doutores (Mc 1,22.27).

A parábola faz o povo enxergar melhor, faz da pessoa uma observadora crítica da realidade. Certa vez, um bispo perguntou na comunidade: “Jesus falou que devemos ser como sal. Para que serve o sal?”. Discutiram e, no fim, encontraram mais de dez finalidades para o sal! Aí foram aplicar tudo isto à vida da própria comunidade e descobriram que ser sal  não é tão fácil. É difícil e exigente! A parábola funcionou. Ajudou-os a dar um passo. Iniciaram a travessia para um novo modo de viver e conviver.

Jesus tinha uma capacidade muito grande de comparar as coisas de Deus com as coisas mais simples da vida do povo. Isto supõe duas coisas que marcam a pedagogia de Jesus: estar bem por dentro das coisas da vida do povo, e estar bem por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus. Jesus sabia unir as duas coisas, porque ele vivia imerso em Deus e na realidade da vida do povo. Ele era de Deus no meio do povo, e era do povo na sua relação com Deus.

Resumindo: uma parábola apresenta as seguintes características: a) Fala do cotidiano das pessoas. b) Retrata a realidade tal e qual. c) Emerge da realidade, mas não a reproduz, transforma-a. d) Fala de si mesmo e por si mesmo. e) Provoca e interpela. f) Convoca para pensar. g) Tem um quê de impensado, imprevisto e, às vezes, de escandaloso.

Realmente, o ensino de Jesus era diferente do ensino dos escribas. Era uma Boa Nova para os pobres, porque Jesus revelava um novo rosto de Deus, no qual o povo se re-conhecia e com o qual se alegrava. “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado!“ (Lc 10,21).

No Evangelho de Lucas, logo depois deste louvor de agradecimento ao Pai (Lc 10,21-24), que mostra o contraste entre entendidos e pequeninos, segue a parábola do Bom Samaritano.

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