quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

J.A.Pagola


Estos últimos años ha ido creciendo la desconfianza en la fuerza del Espíritu, y el miedo a todo lo que pueda llevarnos a una renovación. Se insiste mucho en la continuidad para conservar el pasado, pero no nos preocupamos de escuchar las llamadas del Espíritu para preparar el futuro. Poco a poco nos estamos quedando ciegos para leer los "signos de los tiempos".

De manera callada pero palpable va creciendo el desafecto y la separación entre la institución eclesial y no pocos creyentes.

Dentro de unos años, nuestras comunidades cristianas serán muy pequeñas. En muchas parroquias no habrá ya presbíteros de forma permanente. Qué importante es cuidar desde ahora un núcleo de creyentes en torno al Evangelio. Ellos mantendrán vivo el Espíritu de Jesús entre nosotros. Todo será más humilde, pero también más evangélico.

 

Frei Gilvander Luís Moreira, AS CEBs de Lucas

Rosto das comunidades de Lucas

As comunidades do Evangelho de Lucas e de Atos dos Apóstolos – obra lucana - apresentam um rosto diferente do rosto das comunidades da Judéia, da Samaria e da Galileia de cunho mais rural, comunidades dos Evangelhos de Marcos e Mateus. Eis, abaixo, seis características do rosto das Comunidades lucanas.

1. As comunidades de Lucas são predominantemente comunidades urbanas, melhor dizendo, das periferias das grandes cidades. No evangelho de Lucas, a palavra grega polis, que, em grego, significa cidade, aparece 40 vezes; em Mateus, 26; e em Marcos, 8. Nos evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc), o ensinamento é realizado, basicamente, a partir de imagens da natureza, do campo e do trabalho rural (cf. ovelhas, pastores, videira, semente, semeador etc). No livro de Atos dos Apóstolos, essas imagens não aparecem. Isso dá a entender que são comunidades mais urbanas. De fato, no livro dos Atos dos Apóstolos, a palavra cidade aparece 42 vezes.

2. Comunidades de pobres com alguns ricos. Há um contraste que aparece, sobretudo, no evangelho de Lucas: de um lado, os pobres, famintos, perseguidos, aflitos (Lc 6,20-23) e, do outro, os ricos (Lc 12,16-21) que se banqueteiam sem se preocupar com a miséria dos outros (Lc 16,19-31). Para as comunidades lucanas era importante “não dar murro em ponta de faca”. No meio de uma correlação desigual de forças, melhor infiltrar-se do que confrontar-se com império gigante. Lucas é intransigente em face da opressão econômica e quanto à exigência ética do cristianismo, mas, para fazê-la prevalecer, não se nega ao diálogo cultural e político, a fim de canalizar para o bem a força histórica do mal. Lucas percebeu, muito antes de Paulo Freire, que a melhor forma de amar os opressores é tirar das mãos deles as armas da opressão.

3. Comunidades nas quais há cristãos que continuam ligados às instituições do Império Romano (Lc 7,1-10). Lucas não quer complicar ainda mais a situação dos cristãos que já estavam sendo perseguidos quando o Evangelho, primeira parte da sua obra, fora escrito. Ele demonstra simpatia pelos romanos ao dar a entender que a própria condenação de Jesus foi motivada pela ignorância romana¹. Por uma tática de sobrevivência, Lucas tenta passar a ideia de que as comunidades cristãs não são revolucionárias, subversivas. Assim, não cutuca a onça com vara curta, mas se prepara para cutucar com vara grande.

4. Comunidades que revelam um contexto patriarcal e machista. As mulheres, de uma forma geral, eram desprezadas e marginalizadas na sociedade. Mas no Evangelho de Lucas, Jesus dá prioridade às mulheres², valoriza sua presença e atuação nas comunidades e na sociedade. “Na narração do nascimento de João Batista e de Jesus (Lc 1,5–2,52) rompe-se o padrão que colocava o homem em primeiro plano e que deixava à margem tanto a mulher como a criança. Nessas narrativas, as crianças são apresentadas junto com a presença atuante de suas mães. Elas é que são protagonistas da novidade, anunciadoras das “grandes coisas que o Poderoso fez” (Lc 1,49)³, mesmo vivendo em um contexto patriarcal e machista.

5. Comunidades com pessoas cansadas, medrosas, desanimadas e perdidas por causa da situação na qual viviam (Lc 24,13-24). Os cristãos são uma minoria perdida no meio de um imenso império, nas periferias das grandes cidades. Apenas alguns milhares no meio de um Império com cerca de 60 milhões de pessoas. Uns começam a abandonar as comunidades; outros duvidam que Jesus seja o Salvador, têm dificuldade de acreditar que seja possível viver em fraternidade e resistir ao império com suas seduções opressoras.

6. Comunidades com diversidade de dons os quais se articulavam por meio do cimento da solidariedade. Isso é ótimo, pois o Espírito não se deixa encurralar e não aceita ser engaiolado; sopra onde quer, como quer; é livre e liberta. Paulo reitera diversas vezes: “Não percam a liberdade cristã!” (2Cor 3,17); “Não entristeçam o Espírito Santo!” (Ef 4,30).

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A TEOLOGIA ORIENTADORA DO VATICANO II



 

1.  SURJE UMA NOVA TEOLOGIA

       Um livro, publicado em 1943, abalou a Igreja francesa. O Pe. Henrique Godin, assessor do Movimento da Juventude Católica e ajudado pelo seu colega Michauneau denunciou a crise religiosa da França e analisou o que estava acontecendo com o catolicismo daquele pais. O livro profético: “França, pais de missão”, tornou-se tema de discussão nacional nos anos seguintes. E provocou iniciativas fecundas que repercutiram no catolicismo mundial: surgiu a “Missión de France”, com os Padres Operários; e nasceu uma Nova Teologia que acabou tendo, vinte anos mais tarde, uma influencia importantíssima nos documentos do Concilio Vaticano II.

   A equipe de teólogos jesuítas de Lyon- Danielou, Henri de Lubac; os dominicanos de Saulchoir[1] – Dominique-Marie Chenu e Yves Congar escreveram artigos “explosivos” que questionavam a fundo, a teologia dominante depois do Concilio de Trento, a Neo-Escolástica (de João de Santo Tomas, Suarez, Bañez e companheiros) e propunham uma nova maneira de fazer teologia.

        É o que vamos resumir em seguida.

       Esses teólogos e outros que foram seguindo no mesmo sendeiro, não se apresentavam como um movimento ou uma escola teológica.

O famoso Pe. Garrigou-LaGrange,OP,  saiu em defesa do Tomismo, ou seja, da teologia constantemente apoiada como “oficial” do catolicismo ( Leão XIII, Pio XII), e criticou os que estavam fazendo uma nova teologia. Com isso, praticamente batizou o método crítico-histórico-indutivo de seus colegas os teólogos dominicanas, jesuítas como uma “NOVELLE THEOLOGIE”.

       Não se constituiu um grupo formal de afiliados à nova maneira de fazer teologia, mas se multiplicaram os teólogos dessa nova geração, tanto na França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suiça e depois em outras partes do mundo, entre eles os mais famosos: Hans Urs Von Balthazar, Edouard Schillebeeckx, Lois Boyer, Karl Rahner, Joseph Ratzinger, Gerard Philip, Hans Küng,  Etienne Gilson, Jean Morou, Louis Charlier, R. Dragnet...[2] .

       Partiam das seguintes constatações:

+ A teologia escolástica, se distanciava de Tomas de Aquino, embora continuasse usando o seu nome. A neo-escolástica era um ensinamento de manuais, distanciado da vida, a-histórico, rígido e imposto na formação dos religiosos e clérigos. Depois de Trento deixou de ser uma eclesiologia para ser uma hierarqueologia,

+ A mensagem estava sendo proclamada de cima para baixo, como verdade imutável, definitiva, indiscutível, sem tomar em consideração a capacidade de recepção dos destinatários, nas circunstancias em que se encontravam.

+ Essa transmissão do Evangelho deixava de ser Boa Nova. As pessoas não sentiam que era “nova” e nem que era “boa”. Sempre se dizia o mesmo, embora as realidades houvessem mudado.

+ Era o imobilismo do pensamento grego. Não tinha sentido histórico.  Era essencialista e desconhecia a subjetividade humana. Estava fora da quotidianidade do Povo de Deus. Era incapaz de oferecer aos contemporâneos, alimento espiritual e doutrinal. Estava desligada da pastoral e da espiritualidade

+ Essa teologia não era assumida pelos fieis. Não podiam sentir sua bondade ou maldade.  – “Então, se perguntavam os teólogo e pastores, como é que nos primeiros tempos do cristianismo a Mensagem impactava, orientava as pessoas e os povos?”

2.  CARACTERÍSTICA DA NOVA TEOLOGIA

       A nova maneira de refletir sobre a fé, ou seja, “fazer teologia”, rompeu o mito da neo-escolástica, considerada uma teologia particular indevidamente universalizada.

       Essa nova maneira teológica, de um lado mantinha a seriedade doutrinal, sua volta ao passado não era uma obsessão por ele (“Repristinicação” como dizia Congar). Era um entendimento novo (luz nova) sobre os desígnios de Deus, sobre a vocação humana (como GS 11 vai dizer, em 1965)

- Foi um método histórico, indutivo que alcançava a sensibilidade, a imaginação, a intuição das pessoas. Uma teologia que falava às situações presentes, dentro de uma sociedade secularizada, recuperando inteligente e criadoramente o passado.

- Interrogava as fontes da fé cristã com perguntas do tempo atual.  Descobria perspectivas que a neo-escolástica ou não havia descoberto, ou havia deixado de lado ou não estava apta da enfrenta-las.

- A Nova teologia segue um dinamismo indutivo partindo das pessoas às referências da fé.  Esta não tinha se esgotado em uma formulação teórica indiscutível. Duas referências orientam a Nouvelle Theologie: a Revelação e a Patrística. Esta tradição não se constituiu como uma força para traz, senão para frente. Nenhuma “tradição” esgotou A TRADIÇÃO. Então sempre é possível voltar à TRADIÇÃO à luz da Palavra de Deus, para refletir melhor sobre as realidades contemporâneas.

- Os Padres da Igreja tomavam em consideração a sensibilidade emocional das pessoas falando-lhes com símbolos, história, exemplos e as pessoas sentiam que era algo que chegava às suas vidas. Aceitar ou rejeitar o que se lhes dizia tinha consequências não tanto na eternidade, senão já agora, aqui mesmo.

A Nova Teologia não tratava somente de contemplar o mundo, mas de transformá-lo. Assim é que repetia o pensamento de Etienne Gilson: - “Para ir em frente é preciso ir para trás e recomeçar”, ou seja, passar de uma tradição menos profunda a outra mais profunda, aproximando-se mais de uma comunhão intelectual e espiritual com o cristianismo nos seus momentos mais vitais, finalmente, uma identificação com Jesus Cristo e com o seu mistério pascoal.

- A Patrística ensinava o que havia recebido da fonte comum da Revelação. Por isso a Palavra de Deus era a referência fundamental do que se ensinava e não estava circunscrita a um sistema teológico, por melhor que fosse. Esse método se denominou Ressourcement ou seja, ir às Fontes bíblicas e da tradição, valorizando o instrumento privilegiado da transmissão que foi a Patrística.

- É questão de recuperar o sentido do mistério, que a Neo Escolástica havia dificultado, por insistir na sua sistematização dogmática indiscutível, privilegiar o conceitual, o abstrato, sobre o concreto, com suas imagens e símbolos. O mistério do Deus pessoal so pode ser alcançado pelo amor, não pela razão.

3. SINAIS DOS TEMPOS

Essa teologia permitia mais efetivamente considerar os “Sinais dos Tempos”,(Lc 12,54-56), que João XXIII vai propor no seu discurso inaugural do Vaticano II e daí a necessidade do Aggiornamento (atualização) e de uma responsabilidade Pastoral que acompanha o conhecimento e análise da realidade.

       América Latina vai seguir o mesmo caminho, desenvolvendo uma teologia que especifica no nosso tempo o que Jesus advertiu em Mt 25,39 ss, ou seja a “opção prioritária pelo pobre”, que é donde acontece o encontro salvífico da história (Mt 25,45): “A mim o fizestes”

4.CONFLITOS

Os teólogos de La Fourviere de Lyon, se lançaram contra a Nouvelle Theologie. Principalmente Gariggou Lagrange e Labourdette. El Padre Provincial Jesuita, proibiu a Henri de Lubac, de ensinar. O Santo Oficio fez o mesmo para os padres Congar, Danielou. Esses três personagens foram chamados por João XXIII como “periti” no Vaticano II (Assessores) e mais tarde, todos eles foram cardeais.

 

 

 



[1] É o termo para o coletivo da árvore “Salgueiro-chorão”,  a tradução poderia ser “Salgueiral”, para designar um espaço da residência dominicana, antiga propriedade dos padres Cistercienses, na Bélgica, onde a Província Francesa dos Padres da Ordem dos Pregadores, mantinha uma importante escola de teologia.
[2] Seguian pegadas de antigos teólogos como Moehler, Newman, Gardeil, Rousselot, Charles Peguy, Paul Blondel, Emile Merwsch, Odo Casel, Romano Guardini, Karl Adam, Anselm Stolz.

Jean Varnier, fundador da "Arca"

A minha grande sorte é a vida comunitária.  A minha identidade não está no "fazer". O que eu vivo é da ordem da comunhão. Não há maior felicidade do que não ter mais necessidade de provar nada a ninguém, mas de ser amado assim como se é. Tudo ficou mais simples. Eu não poderia estar mais feliz...

Na vida cotidiana, percebi que, para acolher e amar uma pessoa ferida, a minha motivação não era suficiente. Eu tinha que tomar consciência da minha fraqueza. Acima de tudo, entendi que eu não podia agir sozinho, que eu precisava dos outros.
Como se aprende a se tornar fraco?

Se me encontro diante de uma pessoa que sofre do mal de Alzheimer, por exemplo, sou pobre, não tenho nada a fazer a não ser tomar a sua mão, sorrir, cantarolar ou "esboçar" um passo de dança.



Seja criança ou velho, a fraqueza não é felicidade se não se é amado. É o inferno. É preciso que o velho seja amado por aquilo que é, não por aquilo que faz, de alguém que lhe diga: "Eu amo você como você é".

Esse é o centro da mensagem evangélica?

Deus se revela na fraqueza e na vulnerabilidade. Eu descubro quem Jesus realmente é quando eu descubro que sou fraco e que preciso de um Salvador que me salve dos meus medos e das minhas atitudes compulsivas. Que me ajude sobretudo a aceitá-los, isto é, que as coisas não mudarão rapidamente, como podemos desejar. Devo aceitar a minha realidade, isto é, que eu não sou perfeito. É preciso aceitar a própria fraqueza. Nisso está a verdadeira beleza do ser humano.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Boff, diante da crise

Atitudes face à crise atual. Artigo de Leonardo Boff
Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor, descreve cinco atitudes face à crise que "urge uma decisão e encontrar uma saída libertadora".
Segundo ele, "o que mais se exige hoje são políticos, líderes, grupos, pessoas que se sintam responsáveis e forcem a passagem do velho ao novo tempo".
Eis o artigo.
Ninguém face à crise pode ficar indiferente. Urge uma decisão e encontrar uma saída libertadora. É aqui que se encontram várias atitudes para ver qual delas é a mais adequada a fim de evitarmos enganos.
A primeira é a dos catastrofistas: a fuga para o fundo: estes enfatizam o lado de caos que toda crise encerra. Veem a crise como catástrofe, decomposição e fim da ordem vigente. Para eles a crise é algo anormal que devemos evitar a todo custo. Só aceitam certosajustes e mudanças dentro da mesma estrutura. Mas o fazem com tantos senões que desfibram qualquer irrupção inovadora.

Contra estes catastrofistas já dizia o bom Papa João XXIII referindo-se à Igreja mas que vale para qualquer campo: “A vida concreta não é uma coleção de antigui­dades. Não se trata de visitar um museu ou uma academia do passado. Vive-se para progredir, embora tirando proveito das experiências do passado, mas para ir sempre mais longe."
A crise generalizada não precisa ser uma queda para o abismo. Vale o que escreveu um suíço que muito ama o Brasil, o filósofo e pedagogo Pierre Furter: “Caracterizar a crise como sinal de um colapso universal, é uma maneira sutil e pérfida dos poderosos e dos privilegiados de impedirem, a priori, as mudanças, desvalorizando-as de antemão”.

A segunda atitude é a dos conservadores: a fuga para trás. Estes se orientam pelo passado, olhando pelo retrovisor. Ao invés de explorar as forças positivas contidas crise atual, fogem para o passado e buscam nas velhas fórmulas soluções para os problemas novos. Por isso são arcaizantes e ineficazes.

Grande parte das instituições políticas e dos organismos econômicos mundiais como o FMI, o Banco Mundial, a OMC, os G-20 mas também a maioria das Igrejas e das religiões procuram dar solução aos graves problemas mundiais com as mesmas concepções. Favorecem a inércia e freiam soluções inovadores.

Deixando as coisas como estão fatalmente nos levarão ao fracasso senão a uma crise ecológica e humanitária inimaginável. Como as fórmulas passadas esgotaram sua força de convencimento e de inovação, acabam transformando a crise numa tragédia.

A terceira atitude é a dos utopistas: fuga para frente. Estes pensam resolver a situação-de-crise fugindo para o futuro Eles se situam dentro do mesmo horizonte que os conservadores apenas numa direção contrária. Por isso, podem facilmente fazer acordos entre si.

Geralmente são voluntaristas e se esquecem que na história só se fazem as revoluções que se fazem. O último slogan não é um pensamento novo. Os críticos mais audazes podem ser também os mais estéreis. Não raro, a audácia contestatória não passa de evasão do confronto duro com a realidade.

Circulam atualmente utopias futuristas de todo tipo, muitas de caráter esotérico como as que falam de alinhamento de energias cósmicas que estão afetando nossas mentes. Outros projetam utopias fundadas no sonho de que a biotecnologia e a nanotecnologia poderão resolver todos os problemas e tornar imortal a vida humana.

Uma quarta atitude é a dos escapistas: fogem para dentro. Estes dão-se conta do obscurecimento do horizonte e do conjunto das convicções funda­mentais. Mas fazem ouvidos moucos ao alarme ecológico e aos gritos dos oprimidos. Evitam o confronto, preferem não saber, não ouvir, não ler e não se questionar. As pessoas já não querem conviver. Preferem a solidão do indivíduo mas geralmente plugado na internet e nas redes sociais.

Por fim há uma quinta atitude: a dos responsáveis: enfrentam o aqui e agora. São aqueles que elaboram uma resposta; por isso os chamo de responsáveis. Não temem, nem fogem, nem se omitem, mas assumem o risco de abrir caminhos. Buscam fortalecer as forças positivas contidas na crise e formulam respostas aos problemas. Não rejeitam o passado por ser passado. Aprendem dele com um repositório das grandes expe­riências que não devem ser desperdiçadas sem se eximir de fazer as suas próprias experiências.

Os responsáveis se definem por um a favor e não simplesmente por um contra. Também não se perdem em polêmicas estéreis. Mas trabalham e se engajam pro­fundamente na realização de um modelo que corresponda às necessidades do tempo, aberto à crítica e à autocrítica, dispostos sempre a aprender.

O que mais se exige hoje são políticos, líderes, grupos, pessoas que se sintam responsáveis e forcem a passagem do velho ao novo tempo.

Cardeal Claudio Hulmes, CEBs


Cardeal Claudio Humes (6 de Julho 2012, Santarém, Enc. Bispos Amazonia)

1.  Retomar a Missão

2.  Mártires: Há sempre gente morrendo pela causa do Reino de Deus, para defender e dar dignidade a seus irmãos?as. Quantos ainda darão a sua vida?

3.  Opção preferencial pelos pobres, que João Paulo II disse que ela “vale para toda a Igreja, em todo o planeta”

4.  As CEBs fizeramuma caminhaa histórica tão bonita, tão importante, tão impressionante. Em cada reunião, em cada assembleia que se fazia e se faz, inclusive nas grandes assembleias mundiais, lá em Roma, é impossível não falar das Comunidades Eclesiais de Base. Mesmo que elas tenham mudado, talvez tenham diminuído, talvez tenham crescido, tenham se adaptado, tenham se inculturado segundo as mudanças dos tempos, elas estão aqui, vocês estão aqui – as suas Comunidades Eclesiais de Base. E foi reafirmado neste encontro, de novo, que é preciso, sim continuar a promover essas Comunidades Eclesiais de Base que vivem da Palavra de Deus, da Eucaristia, da oração, da vida em comum, da fraternidade, da solidariedade com os pobres, da prática social. Os membros dessas comunidades que atuam em organismos sociais, em organismos civis como as ONGs, em sindicatos, inclusive em partido, porque é ali que está o nosso povo, é ali que estão os nossos pobres que precisam ser promovidos e defendidos, reconhecidos em seus direitos. As Comunidades Eclesiais de base tiveram e continuam a ter um grande papel educador para que o povo cristão participe de todas as questões sociais e políticas pelas quais passa essa libertação integral do ser humano. Mas que são, ao mesmo tempo, de uma evangelização profunda. Aliás, a promoção humana não é paralela à evangelização, ela faz parte essencial da evangelização. Nós não podemos falar de uma evangelização verdadeira, completa, plena, se não incluirmos aquilo que são... fe atuante na caridade, como dizia Paulo... Portanto em tudo aquilo que  hoje significa dar apoio aos que são mais fracos,mais doentes, mais abandonados, que  são marginalizados.  Aqui vocês falam dos índios em primeiro lugar...

-- Isso é o que faz um encontro com Jesus Cristo, levar as pessoas a ter essa experiência forte... paixão pelas coisas de Jesus, paixão pelos seres humanos desta região, paixão por cuidar também da nossa natureza... da ecologia. Depois, (reunir as pessoas) em pequenas comunidades de base, para que possam apoiar-se na sua fe, celebrar a fé, e de novo sair junto para a missão. É isso o que a Igreja propõe mais uma vez... Sair do ponto morto.... deixar as desculpas para nunca começar.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Pentecostales,Catolicos e Politica


Ricardo Mariano, sociólogo, professor da PUC de S. Paulo, numa entrevista à , IHU On-Line afirma:
- “observa-se uma crescente ocupação religiosa da esfera pública. Isto é, apóstolos, bispos, missionários e pastores pentecostais, a cada pleito, tentam transformar seus rebanhos religiosos em currais eleitorais, seja para eleger seus próprios representantes religiosos ao Legislativo, seja para, em troca de promessas e benesses diversas, apoiar eleitoralmente candidatos seculares a cargos majoritários. De outro, verifica-se que candidatos, políticos e partidos de Norte a Sul do país, independentemente de suas orientações ideológicas, cada vez mais tentam instrumentalizar a religião para fins político-partidários e eleitorais. Trata-se, portanto, de uma instrumentalização mútua”.

E continua: -  “No Congresso Nacional e nos legislativos municipais e estaduais a presença e o ativismo político dos pentecostais vêm ganhando terreno a passos largos. Trata-se de um ativismo político recheado de moralismo e corporativismo e, desde a Constituinte, marcado por escândalos. Pesquisa da ONG Transparência Brasil revela que 95% dos membros da bancada evangélica estão entre os mais faltosos do Congresso Nacional e, em sua maioria, são objeto de processos judiciais, enquanto, segundo o DIAP, 87% deles constam entre os ‘mais inexpressivos’”.
As relações entre religião e política no Brasil?
 De um lado, observa-se uma crescente ocupação religiosa da esfera pública. Isto é, apóstolos, bispos, missionários e pastores pentecostais, a cada pleito, tentam transformar seus rebanhos religiosos em currais eleitorais, seja para eleger seus próprios representantes religiosos ao Legislativo, seja para, em troca de promessas e benesses diversas, apoiar eleitoralmente candidatos seculares a cargos majoritários.

De outro, verifica-se que candidatos, políticos e partidos de Norte a Sul do país, independentemente de suas orientações ideológicas, cada vez mais tentam instrumentalizar a religião para fins político-partidários e eleitorais.

IHU On-Line – Considerando a trajetória histórica do movimento pentecostal no Brasil, o que marca a religiosidade pentecostal atualmente? Em que sentido ela mais mudou em comparação a 50 anos atrás, por exemplo? Qual a novidade que a corrente neopentecostal introjetou na vivência religiosa brasileira?

Ricardo Mariano – A corrente neopentecostal exerceu papel crucial na transformação do pentecostalismo nacional nas últimas três décadas. Implantou e disseminou a Teologia da Prosperidade, abandonou e desprezou antigos usos e costumes de santidade, reduziu, por princípio e estratégia, o ascetismo e o sectarismo, adotou crenças da teologia do domínio, enfatizou a guerra espiritual contra o diabo, hipertrofiou e sistematizou a oferta de soluções mágico-religiosas nos cultos e na mídia, forjou gestão denominacional em moldes empresariais, investiu pesado no tele-evangelismo, na música gospel e na aquisição e arrendamento de emissoras assim como na formação de redes de rádio e TV, encarou a pluralização religiosa e sociocultural como um desafio evangelístico e de mercado e, tal como a Assembleia de Deus, ingressou na política partidária na Constituinte. No caso da Igreja Universal, além de eleger bancadas parlamentares, fundou um partido político, o PRB. Toda essa transformação não ocorreu só em razão da deliberada disposição das novas lideranças pentecostais de promover, por razões diversas, tal acomodação às mudanças em curso na sociedade, mas também das pressões da concorrência religiosa e, sobretudo, dos constrangimentos impostos pelas demandas por mudança por parte de seus adeptos, clientes e diferentes públicos-alvo.

Acomodar o pentecostalismo à sociedade brasileira

A vertente neopentecostal liderou, portanto, diversas mudanças e inovações teológicas, estéticas, litúrgicas e comportamentais no pentecostalismo. Não obstante seu sectarismo no plano religioso, cujo destaque recai sobre sua demonização dos cultos afro-brasileiros, ela contribuiu fortemente para acomodar o pentecostalismo à sociedade brasileira. Colaborou, por exemplo, para abrir espaço ao surgimento e incorporação de artistas, modelos, surfistas, jogadores de futebol, políticos, rappers, roqueiros, atletas de Cristo, bandas gospel e até para a formação de blocos evangélicos carnavalescos: a folia de Cristo.

Desde então, tornou-se possível ser pentecostal e modelo; ser pentecostal e roqueiro, etc. Tal conjunção identitária, que até há pouco era inadmissível e radicalmente incompatível com sua moralidade, com seus usos e costumes e com seu ascetismo, tornou-se repentinamente aceitável. Sinal de que essa religião, ao se transformar, vai paulatinamente deixando de ser um retrato negativo da cultura brasileira. Demonstração de que suas fronteiras identitárias, tanto no plano moral como no comportamental, tornaram-se mais diluídas, porosas, flexíveis e mais difíceis de distinguir. A ponto de terem surgido até os traficantes evangélicos, repletos de tatuagens (verdadeiros amuletos protetores) contendo versículos bíblicos. Mesmo as fronteiras religiosas mostram-se menos nítidas do que frequentemente se espera.

Pesquisa do Datafolha, realizada em maio de 2007, mostrou que 8% dos pentecostais tinham um santo (católico) de devoção e 15% deles acreditavam totalmente em reencarnação (doutrina de origem hindu disseminada pelo kardecismo no Brasil). Não obstante tamanha transformação, esses religiosos mantiveram importantes traços ascéticos e sectários, como a rejeição ao consumo de álcool, do fumo e das drogas, ao sexo fora do casamento, ao homossexualismo e ao ecumenismo.


- No Brasil, os católicos decresceram, os pentecostais cresceram aceleradamente entre os mais pobres nas regiões urbanas (sobretudo nas periferias violentas e desassistidas pelos poderes públicos) e de fronteira agrícola, os sem religião, grupo que mais cresceu entre 1980 e 2000, continuaram se expandindo embora num ritmo menor, os espíritas avançaram entre os estratos sociais de maior renda e escolaridade, os umbandistas, depois de perderem mais de 144 mil adeptos entre 1980 e 2000, estagnaram na última década, as Testemunhas de Jeová (intensamente proselitistas) e as outras religiões continuaram crescendo.

De todo modo, excluindo católicos (64,6%), evangélicos (22,2%) e sem religião (8%), todas as outras somavam apenas 5% da população brasileira em 2010. A despeito do avanço dos sem religião, o Brasil retratado pelo último Censo Demográfico continua mostrando-se solo dos mais férteis para a prédica religiosa, em especial para o pentecostalismo. No conjunto, as igrejas pentecostais continuam crescendo vigorosamente mediante, entre outros recursos e estratégias, o proselitismo pessoal (efetuado por leigos e, em especial, pelas mulheres) e midiático e a oferta sistemática de serviços mágico-religiosos (e terapêuticos) para a solução de problemas pontuais e imediatistas de saúde, psicológicos, afetivos, familiares, financeiros etc. Com suas promessas mágicas e taumatúrgicas, aproveitam, sobretudo, a vulnerabilidade social de parcela considerável da população brasileira, a tradição mágica do catolicismo popular, o baixo número de padres católicos, o elevado contingente de católicos nominais.

Recrudescimento da competição entre pentecostais e católicos pela hegemonia religiosa no país. Tal competição intrarreligiosa desdobrou-se para a esfera pública nas últimas três décadas. O investimento maciço de pentecostais e católicos na compra de emissoras e na formação de redes de tevê exemplifica emblematicamente isso. Pela mesma razão, proliferaram os megatemplos e os megaeventos religiosos, efeitos de uma corrida desenfreada pela ocupação religiosa do espaço público.
                Recente pesquisa realizada pelo Pew Research Center revela que cresceu muito e rapidamente o contingente dos norte-americanos sem filiação religiosa. Já são 19,6% dos norte-americanos (incluídos os 13 milhões ou 6% de ateus e agnósticos) sem filiação religiosa. E os jovens são, disparado, os menos filiados a grupos religiosos. Nada menos do que um terço (32%) dos norte-americanos abaixo de 30 anos são nones ou unaffiliated, isto é, sem filiação religiosa. Desde a Primeira Guerra, cada geração tem se revelado sempre menos religiosa do que a anterior.