Dentro de alguns meses, estarei completando 80 anos de vida e 57 de ministério quase todo dedicado a uma itinerância constante de sul a norte, de leste a oeste, acompanhando a circunferência do nosso planeta. Estou para completar logo, minhas 10 mil horas de voo e já mais de 3 mil viagens aéreas... e outros 3 mil e 200 cursos ou encontros, ao longo de todos os continentes. He dado duas voltas ao redor do mundo, nunca por turismo.
Sugeriram-me, escrever minhas memórias dessa querida Igreja pré-Vaticano II, conciliar e após Medellín, que vivi e continuo vivendo intensa e apaixonadamente. Achei que não deveria só fazer um “apanhado”, por eventos e cronológico, nem pelas constelações de papas, sínodos, assembleias gerais. Optei por partir, reunindo conteúdos que têm sido significativos, não a partir das cúpulas oficiais das grandes estruturas de poder econômico, político ou religioso... mas do que tem gerado vida e esperança fecunda, a partir dos indivíduos, mesmo dos mais simples deles, que são as galáxias da esperança no espaço humano.
Claro está, tudo vai delimitado pela perspectiva pessoal de observação e reflexão. E também pela limitação de todo projeto, que se orienta por um sonho (utopia), sem jamais esgotá-lo. Nem poderia ser de outro modo.
Então, aí está.
Começo dos meus tempos em Roma, porque mudaram a minha vida.
Sete anos depois da Segunda Guerra Mundial, em Setembro de 1952, meu pai Joaquin e meu irmão Francisco me despediram no porto de Santos,SP. Vinte e dois dias depois desembarcamos no porto de Nápoles, que ainda não se havia recuperado completamente da última catástrofe bélica.
O “Antoniotto Uso di Mare”, um navio da Linha C (italiana), transportador de bananas da América Central a Europa, fora, ocasionalmente desviado dos seus habituais serviços de carga, para uma viagem da América do Sul (Porto de Santos) à Itália (Nápoles)... que conseguiu realizar em 22 dias!
Finalmente chegávamos à Europa, pelo Mediterrâneo. O navio de segunda linha (ou terceira?), agora se despedia ou se libertava da sua carga de bananas e de gente pouco importante. Na verdade eram famílias migrantes fracassadas no seu sonho de “fare l’America”; comerciantes árabes rechaçados pelas autoridades ultra-marinhas; judeus a caminho de Israel; jovens seminaristas brasileiros (nós)... Todos viemos na terceira classe, somente porque não havia quarta classe. O grupo de seminarista que íamos juntos ao Pio Brasileiro-Roma, logo se integrou muitíssimo bem: gaúchos, catarinenses, curitibanos, paulistas, dois de Sobral CE, do Rio, Bahia, R.G.do Norte... Um “zoológico eclesiástico” bastante interessante e diversificado. Claro, batina e cara piedosa, mas progressivamente libertando-se de muitas amarras sem sentido.
O fato é que a “libertação” acima discretamente mencionada, era recíproca: - dos passageiros entre eles; de todos em relação ao deteriorado navio. Certamente conosco, o Uso di Mare, que o José Rubens Pilar cantava em seus “corridos” gaúchos, para deleite de todos nós, fez a sua última viagem. Vozes não autorizadas disseram que depois de deixar-nos no porto, o levaram direta e imediatamente ao “desmanche”, com a esperança de pelo menos aproveitar algumas de suas partes de ferro e aço.
Num ônibus do Vaticano (daquela frota desativada depois de vários anos de uso transportando crianças nas escolas primarias norte americanas e generosamente deixadas como presente para a Santa Sé), completamos a viagem até a Cidade Eterna. Entramos em Roma pela via Aurélia (não pela Apia Antiga, por onde chegou o prisioneiro Paulo de Tardo, quase dois mil anos antes). O Apóstolo dos Gentios ficou numa prisão domiciliar. Nós no Colégio Pio Brasileiro (Não estamos comparando, evidentemente. Qualquer semelhança é puramente acidental e não intencional, particularmente porque o Pio Brasileiro foi sempre para nós um lugar muito querido e até nostálgico).
Nos dias seguintes, vivemos a emoção de visitar a Cidade Eterna: o túmulo de Pedro, as Basílicas, as Catacumbas, o Trans-Tevere, Castel Gandolfo, onde o papa Pio XII estava de férias.
O que mais me impactou não foi somente a gloria passada, o magnífico dos edifícios e monumentos...mas o ambiente de universalidade eclesial que se respirava por todo lado – peregrinos falando as mais diversas línguas; colegas de estudo vindos de cada parte do globo; encontro dos católicos do mundo inteiro, em torno da sede romana.
Na universidade, o meu colega da direita (e ele ficou sempre na direita), foi um norte americana que muitíssimo mais tarde chegou a ser o cardeal de Baltimore, sede primacial de USA, D. William Keller.
Entre os colegas dos últimos anos de teologia ou já escrevendo suas teses, tivemos algumas classes juntos com o jovem suíço do colégio Germânico-Hungárico, Hanz Küng... outro menos visível, mas que também passou pelos pórticos da Gregoriana, o alemão, José Ratzinger...
Todos usávamos batinas ou hábito religioso (segundo a ordem, congregação ou instituto) de cada quem. Era um festival de cores, uma vez que as congregações religiosas são geniais para imaginar seus “hábitos” ou uniformes e mais ainda para usá-los em público, sem nenhum complexo. Não menciono a área religiosa feminina, porque naquela época as mulheres não tinham ainda licença para freqüentar a Universidade Gregoriana, absolutamente masculina no que se referia a sues dirigentes, mestres, alunos, servidores e mentalidade comum.
Todas as classes eram dadas em latim, idioma oficial até para os avisos de como encontrar o WC (grave problema para alguns recém chegados e ainda não fluentes no mencionado idioma sagrado... passaram momentos de angústia visceral indescritíveis).
Na Piazza de la Pilota, em frente do edifício imponente na nossa Universidade, dominavam idiomas francos – se podia comunicar em qualquer língua. E assim era. E os fumantes desafogavam sua angústia existencial, depois das longas preleciones dos qualificados mestres, que nem sempre eram entendidos, seja pelo nível superior da sua reflexão, seja porque muitos dos alunos ainda não haviam conquistado a língua oficial.
Nos corredores nos metíamos em colóquios que iam de 4 a 5 idiomas diferentes, e muitos gestos que eram quase iguais nas diferentes partes do mundo (o desastre era quando havia exceções àquela referência que se dava por igual e era diferente noutro pais... e então os gestos de uma língua eram entendidos no seu duplo sentido , particularmente pornográfico.... e o interlocutor se ruborizava (às vezes), ou não entendia, por inocência (não todos).
Hoje diríamos que aquele ambiente era teologicamente conservador e comunitariamente superficial. Naquele tempo achávamos que era normal, numa instituição seminarística (- Que horror!).
Estávamos em contato diário com os cidadãos (“i romani”), pelas ruas e praças, nos ônibus e mercados, mas distantes dos seus problemas e preocupações. Éramos clérigos y clericais, como uma classe humana especial, evidentemente (para nós), muito superior aos demais seres humanos. Disso estávamos seguros, porque com tal mentalidade fomos formados, ou digamos “deformados”.
Apesar de tudo, foi em Roma que ampliei a minha visão eclesial, meus sonhos, meus amores em relação à Igreja e quanto ao entendimento da minha própria missão. Como se vê, tudo é possível! Mas foi um processo longo.
Vou dar um salto para frente, para explicar o que acabo de dizer.
Em fevereiro de 1956, dia 25, fui ordenado presbítero, na Basílica de São Paulo “fora dos muros”. Pedi a Deus, como presente de ordenação: 1º) Seguir o exemplo do homem de Tarso, até os confins da terra, criando e animando comunidades. (Depois de mais de meio século, posso dizer que o primeiro pedido foi “granted”, que dizer “outorgado”. Bem, o termo é inglês, mas a verdade é minha: - Obrigado Senhor”).
2º) Anunciar sempre a Mensagem de Deus, sem complicação, de maneira que todo mundo pudesse não somente entender, mas também entusiasmar-se por ela: - Outorgada também.
3º) Perseverar na fé e na Igreja, apesar das minhas limitações, infidelidades e falhas previsíveis e não previsíveis, ir até o fim (O que até agora está comprovado, seja em relação à existência de falhas minhas, como sobre a graça de não desistir da missão. Eu o reconheço: é uma pura gratuidade da parte de Deus.
Até Junho de 1956 concluí a minha Licença em Teologia, na Universidade Gregoriana; e na Universidade “Pro Deo”, em ciências da opinião pública, juntamente com o Gilberto de Santa Catarina e outros corajosos. Completei um curso longo de treinamento em Bruxelas, com a metodologia de Jose Cardjn e outro com a de Ricardo Lombardi, em Rocca di Papa, na área “dei Castelli”, periferia de Roma.
Rodei toda a Europa ocidental, viajando de carona e sendo “cara dura”, junto com o Pe. Julio Giordani e em parte com o Pe. Pedro Terra, um mineiro que dominava muito bem o alemão (falo da língua). Esse tipo de viagem tem surpresas de todo tipo e foi dose suficiente para não mais fazê-lo pelo resto da minha vida, embora tenha sido altamente útil para o exercício das línguas e relações humanas em diferentes culturas... sem falar da experiência de pobreza, insegurança, dieta alimentar mínima e de lavar diariamente a própria roupa (só uma muda).
Fiquei até o ano seguinte, para completar a experiência com a equipe do Mundo Melhor debaixo da orientação direta do mesmo Pe. Lombardi, Pe. Rotondi, D. Casali y “companía bella”, como se diz em italiano.
É necessário sublinhar que era antes do Vaticano II. Tempos do Papa Pio XII e do considerável impacto causado, em muitas partes da igreja Católica, pelo Movimento por um Mundo Melhor (MMM). Este assumia a divulgação e aplicação das duas importantes convocações que o Pontífice havia feito: a primeira para uma renovação radical e ampla da diocese de Roma ( 10 de Fevereiro de 1952) e a segunda, a 15 de Outubro do mesmo ano (que escutei diretamente pela radio, reunido com os colegas no salão de estudo do Pio Brasileiro... porque ainda não era o caso da TV), estendendo a todo o mundo a mensagem profética de Fevereiro (Que o Papa tinha decidido fazer, sem esperar pela minha chegada a Roma!): “Como num dia já distante, dizia o Papa, aceitamos a pesada cruz do pontificado, aceitamos agora ser arautos de um mundo novo e melhor, quer dizer, segundo o coração de Deus... mundo que deve ser transformado de selvagem em humano, de humano em divino”.
# Nesse tempo vivíamos o ingênuo sonho de que a Instituição eclesiástica (Vaticano y companhía, como dizem os romanos, ia renovar-se de cima para baixo, sendo para tal suficiente uma convocação papal.
Lentamente, retificamos a nossa compreensão do aparato eclesiástico católico. Depois de múltiplas experiências, não todas bem sucedidas, aprendemos que é difícil avançar partindo dos últimos, contando com gente que não tem poder eclesiástico, embora esse seja o caminho seguido por Jesus e portanto o mais efetivo, permanente e libertador. Mas já se trata de outro tema, que oportunamente consideraremos.
Desde o meu primeiro ano na Europa (1952), estive nas magníficas e proféticas conferências do Pe. Ricardo Lombardi sj. Participei também dos cursos chamados Exercitazioni e dos projetos do referido MMM.
Fui convidado a ser da equipe central do mesmo Movimento. O plano inicial era que eu ficasse em Roma, depois de terminar o tempo de estudos na Gregoriana.
Usando do prestígio que gozava junto ao Papa, o mesmo P.Lombardi conseguiu que a Sedretaria de Estado escrevesse ao meu bispo, então D. Henrique Golland Grindad OFM. Estava-se pedindo (que é a linguagem curial que significava “se estava requisitando o jovem (então) sacerdote José Marins, para, em Roma, fazer parte da Equipe Internacional do mencionado Movimento “per um mondo migliore”.
O bispo de Botucatu negociou valentemente. Noutras palavras, diplomaticamente “desobedeceu” ao Vaticano (certamente foi a primeira e última vez que o fez, mas da qual parece que nunca se arrependeu, nem pediu perdão). - “O bom padre, disse D. Henrique, venha à sua diocese fazer experiência pastoral de base, pelo menos por três ano. Isso o ajudará no exercício do seu futuro ministério, onde a Igreja lhe confiar. Então, depois de um período e a pedido do mesmo, poderá prestar um serviço eclesial mais amplo, em nome e com a colaboração da sua Igreja de origem”. (Obrigado D. Henrique, seja pelo adjetivo de “bom” padre, como por essa sábia e providencial orientação de um tempo de trabalho de base).
Então a volta ao Brasil, foi mesmo importante. Entre outros valores:
Pude viver a experiência do presbitério, quer dizer, do conjunto dos presbíteros que formam, com o bispo, a instância de animação, aprofundamento, coordenação da vida cristã de uma Igreja Particular ou diocese .
Saí do ambiente dos estudos sistemáticos de uma Universidade, para aprender, de maneira não sistemática (Por certo, ainda continuo aprendendo).
Vivi a situação de enfrentar-se com os meus erros (O que a um seminarista – daquele tempo - parecia ser impossível acontecer, dado que se tratava de um “escolhido” de Deus, consagrado pelo Espírito e etc. (!).
Tive a graça e a oportunidade de ser mais realista em relação às instâncias da Igreja como instituição histórica: e ainda mais, de reconhecer, avaliar e assumir minhas abundantes limitações, principalmente as que não haviam aparecido claramente nos tempos de estudante. Porque então nos envolvia um estilo de vida definido e mantido para cada um dos diferentes momentos do dia – desde o despertar-se pela manhã até o último exame de consciência do dia, antes de dormir: tempos de oração, espaços de estudo mantidos a qualquer preço, segurança de ter sempre uma comida boa, servida na hora certa; férias, colegas piedosos e em geral, gente boa e bem intencionada. Era um ambiente sadio, bastante piedoso e despreocupado em relação aos problemas que afetam qualquer jovem e os contemporâneos, tanto no nível familiar, como econômico, político, cultural.
Como a decisão foi de voltar ao Brasil... outra vez embarquei na terceira classe , mas agora num navio bem maior, da mesma companhia C, o Augustus. Novamente, convivência com emigrantes judeus, árabes, italianos, um considerável grupo de religiosos despachados pelos superiores, para os territórios missionários... o mais longe possível da Europa.
Foi assim, que depois de alguns dias de convivência com aquela “nata” e “reforço” do contingente missionário, se podia entender porque os respectivos chefes estiveram “melhorando e purificando” as estruturas europeias das suas congregações... Claro que também passou pela minha cabeça que outros observadores mais perspicazes, chegariam a idênticas conclusões a meu respeito. Eu também começava a me perguntar: - Quem estaria contente com a minha volta ao Brasil? - Certamente a minha família. Quem sabe, mais ainda, os meus superiores e colegas de Roma. Até hoje isso continua sendo um mistério a ser devidamente desvendado.
Bem já que mencionei a minha família... Devo dizer que o meu pai brasileiro pelo menos por 7 gerações, se chamava Joaquim. Não tinha uma profissão definida. Veio da zona rural, plantou lavouras, foi vaqueiro, foi buscar boiadas em Mato Grosso. Veio comerciar na cidade mais referencial da região, Botucatu, para que os filhos pudessem estudar e ter um diploma. Isabel, minha mãe, nascida no Brasil, era filha de emigrantes italianos do Vêneto (Norte da Italia... com cidades célebres como Venezia, Pádova, Treviso...)
O meu irmão Francisco e sua família em vários momentos ajudaram a financiar meus estudos, também a minha irmã Amelia e o cunhado Nésio. A Maria Aparecida e o Zilo me acompanharam em muitos outros momentos.
Cursei 8 anos os cursos primário e secundário numa escola pública e nesse caso, bastante conceituada. Antes porém de passar para os níveis superiores (pré-universitário em preparação para uma faculdade específica), surpreendi a minha família dizendo que desejava entrar no seminário. Nunca antes havia pensado em ser sacerdote, até que o Padre Jose Melhado (já sei que os “José” são sempre especiais... Muito obrigado), me perguntou à queima roupa- “Nunca pensou em ser padre, como eu?”
- Não, respondi logo, nem pensei em ser padre e menos ainda como o sr! (Acho que foi um dos poucos atos de humildade que fiz na minha vida, pois ele era muito bem conceituado como homem santo, inteligente e grande orador).
Naquele momento a proposta não me interessou, até me deu medo. Mas a perguntou ficou dando voltas na minha cabeça e coração. Quando mais tarde, já com a decisão tomada, o comentei na minha casa, quase se mataram de tanto rir. Apostaram entre eles quantos dias eu agüentaria no seminários, ou melhor, quanto tempo o seminário agüentaria a mim.
O meu tempo do seminário menor e os anos de filosofia não foram nada extraordinários. Ao contrario, vivi no meio de uma piedosa mediocridade (de orientadores, de companheiros e de mim mesmo). A grande graça foi o meu bispo que me ajudou poderosamente com seu testemunho de vida, sua prudência e apoio. Creio que a esse homem de Deus, D. Henrique Trindade OFM, foi muitas vezes aplaudido com entusiasmo, por Jesus e o Espírito.
Os longos dias de navegação na viagem de volta ao Brasil, serviu-me para, tomando distância, avaliar o meu tempo de formação:
- Roma, para mim foi a grande oportunidade da minha vida, ou a paixão transformadora. O que me transformou não foi a Universidade, nem os estudos que me ofereceu... estávamos antes do Vaticano II (fui um aluno medíocre fruto de um ambiente atrasado e conservador).
E então, um único homem foi suficiente para mudar tudo – o Pe.Ricardo Lombardi sj..
Com efeito, ele, a) transmitiu-me um sonho apaixonante de Igreja e do ministério ao qual dediquei a minha vida:
Proporcionou-me uma síntese teológica, espiritual que configurou o meu quadro de referência fundamental. Com isso me ajudou a integrar os diferentes estudos e experiências;
Aprendi a falar de maneira lógica, clara e capaz de despertar interesse, desafiando a inteligência das pessoas, movendo-as a fazer opções decisivas nas suas vidas;
Esforcei-me para respeitar a toda e qualquer pessoa que entrasse na minha vida;
Treinei-me considerar pontos de vista diferentes do meu e até mudar de opinião (muitas vezes, não sempre, é claro);
A experiência de conviver com Lombardi foi como a dos antigos discípulos ao redor de seus grandes mestres. Foi um amor imenso pela missão da Igreja, e pela parte que eu teria nela, por pura misericórdia de Deus (2Cor 4,1).
Fui descobrindo:
-- que um pouco de humor, faz digerir os conceitos áridos, torna mais aceitáveis opiniões não tão simpáticas.... um humor que não leva a rir-se dos demais, mas da gente mesma (para alívio de todos);
-- que as tensões e urgências, as complicações e enigmas, decepções também... devem por em andamento uma atitude de constante esperança e de confiança na Providência de Deus (“Dilligentibus Dem, omnia cooperantur in bonum”, Ro 8,28 – Em tradução livre, diria: “Quando a gente quer de verdade a Deus, tudo acaba dando certo” (Obrigado!)
-- que há uma multidão de gente do nosso lado, que são os nossos santos e santas, daqui e de lá (mais estes do que aqueles). Um constante diálogo com alguns deles abre horizontes e propicia ajudas oportunas, principalmente porque lá na “glória perpetua” não têm agendas muito cheias e podem até “distrair-se” dando-nos uma ajudazinha . Procurei valer-me de santos não muito procurados como Expedito, Antônio, Judas...
-- que muitos, que nem são do nosso grêmio (não se trata da equipe futebolística do Rio Grande do Sul, mas sim da Igreja), que até fazem milagres, embora usem outro nome para tais feitos (no Evangelho de Marcos 9,40 há até uma história a esse propósito)
-- que Deus, de muitas maneiras, em tantas oportunidades, continua nos surpreendendo, como Jeremias 20,7-9 o anotou : “Me atraíste... deixei-me atrair...”
Ao terminar o meu tempo na Europa eu tinha claro onde e em que queria gastar a minha vida. Não seria para conservar o passado (outros o fariam), estava comprometido com o futuro, com uma Igreja comunidade, missionária e servidora a partir de todos seus membros, de coração e missão inclusiva a toda a humanidade. Esse futuro que para mim já havia começado.
Hoje, mais de meio século depois, reconheço e dou graças a Deus: - Não perdi aquele entusiasmo inicial, ao contrário, ele foi crescendo e se tornando mais profundo e definitivo. Claro, que ao longo da vida fui desenvolvendo muita coisa que tinha em semente, as vezes tive que corrigir perspectivas ou desenvolver o que ainda não tivera oportunidade de fazê-lo.
# # #
Depois de uma semana de estar com meus pais e irmãs, recebi a nomeação de, juntamente com o padre Domingos Trivi, italiano de Roma e missionário na minha diocese... (- Quem se livra dos romanos?!) ser responsável pela paróquia de Ourinhos, SP. (Que hoje é sede de diocese, não por minha culpa, isso é certo).
Parti, naquela mesma tarde, aproveitando de um espaço no carro de alguns primos, que viajavam para o norte do Paraná e cujo caminho passaria pela minha primeira paróquia.
Sem descer do carro, deixaram-me no portão de entrada da casa paroquial, ainda ocupada pela família do antigo pároco. Ele estava fora da cidade. Sua velha mãe me atendeu, sem muito entusiasmo. Não houve água para banhar-me, nem o meu quarto estava preparado .
Passados de alguns dias de desorientação e totalmente desubicado na residência, chegou o meu colega o Pe. Domingos Trivi. Num momento em que não estávamos na casa, o antigo pároco mandou buscar a mãe com a mudança e nunca mais os vimos. Foram para o norte do Parana.
O trabalho mais significativo em Ourinhos, foi para mim com os jovens e homens da Congregação Mariana. Chegaram a ser 400, reunindo-se semanalmente em grupos menores, para rezar, orientar suas vidas. Entre eles, quase 200 fizeram parte dos Oasis, ou grupos que comungavam todos os dias.
Depois de um ano o Bispo transferiu-me para a catedral da diocese.
Dei aulas no seminário menor (inglês) e de teologia no Instituto de Educação da cidade e no colégio das religiosas Marcelinas. Comecei a realizar com os leigos (homens, mulheres) as “ezercitazzioni” do Mundo Melhor, com bastante sucesso (Pelo menos na minha opinião).
O fim desse período coincidiu com um retiro para bispos e sacerdotes, orientado pelo mesmo Pe. Lombardi, que veio ao Brasil. Foi em Barueri, na grande São Paulo. E o pedido para os meus serviços na equipe mundial do MMM foi renovado. Então Dom Henrique declarou que a Arquidiocese (sim, já havíamos sido promovidos a Arquidiocese e ele a Arcebispo) de Botucatu, mesmo com escassez numérica de sacerdotes (éramos cerca de 40 diocesanos, para 400 mil católicos em 13 mil quilômetros quadrados), enviava ao P. José Marins (Eu, para ficar claro), para servir à Igreja Universal, sob a responsabilidade do MMM. Textualmente se disse também, que “era para reparar os danos que o bispo cismático de Maura, havia provocado no seio da comunidade católica, com o seu sisma”
Quando o papa João XXIII publicou o documento “Fidei Donum” (“O dom da fé”), pedindo às Igrejas enviar sacerdotes diocesanos à América Latina, o meu Arcebispo não perdeu a oportunidade e justificou o meu envio, naquela perspectiva, com diferenças importantes:
- Os da Fidei Donum eram enviados pela Europa à América Latina, por um período de alguns anos. Eu fui enviado pela América Latina ao resto do mundo, sem especificação de tempo... (Agora me parece um tanto “altiloqüente”,como as vezes são meus compatriotas!)
Anos mais tarde, já com maior “rodagem” eclesiástica, comecei a repetir a famosa pergunta mexicana: - - “En que quedamos?” ( - E daí?) . Isso porque ficou sempre em mim a dúvida se a decisão do meu superior tinha representado um real compromisso da diocese, uma vez que ao enviar alguém oficialmente em nome dela, representaria consequentemente um engajamento efetivo da mesma? Enviar em missão é viagem de efeito duplo – ir e voltar!. O missionário comparte e recebe, leva e traz de volta o que aprendeu. O Espírito Santo não trabalha só na diocese que envia, mas também na que recebe o missionário. Com todos estes anos aprendi finalmente que o mais difícil da missão não é o envio, mas a volta. Esta não se faz uma única vez, no fim de tudo... mas vai acontecendo vida à fora.
Nos últimos meses do ano de 1959, voltei a Roma para um Cenáculo de seis meses de treinamento em Rocca di Papa, perto de Castel Gandolfo, periferia de Roma, no rumo das Colinas de Albano. Éramos companheiros de todas partes do mundo. Dalí saiu a primeira equipe brasileira do MMM.
No ano seguinte fiz equipe com o Pe. Lombardi para dar um retiro ao episcopado brasileiro, reunido por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional em Curitiba.
Nos seguintes 10 anos , demos cerca de mil cursos, em quase todas as dioceses do pais e para as congregações dos mais diversos nomes
A partir de 1962 comecei a fazer parte da equipe nacional da CNBB, como encarregado do clero (Linha 1). Acompanhei de perto a iniciativa original do Nordeste brasileiro, com ponto de animação e criatividade em Natal, Rn. Isso me ajudou extraordinariamente a aproximar-medas áreas mais pobres do pais e a ver como um clero trabalhando unido entre si e com os leigos, faz milagres. A falta de recursos – estradas precárias, infra-estruturas deficientes, pobreza generalizada, jamais impediu o chamado Movimento de Natal, de desenvolver uma ação pastoral inteligente e perseverante, com escolas radiofônicas, formação de líderes rurais e urbanos.
De modo particular, tocou-me sempre, como aquele clero vivia seu ministério em circunstâncias tão exigentes, com alegria e constante bom humor, numa dedicação exemplar, unido ao seu bispo D. Eugenio Sales.
Por causa desse extraordinário testemunho, entendi que o amor à Igreja acontece efetivamente no nível da Igreja local. Senão é pura fantasia.
Então, escolheram para papa um velho cardial, gordo e feio. O conclave, claro está, não é precisamente um concurso de beleza masculina e clerical, menos ainda teste de inteligência coletiva.
Os grandes admiradores de Pio XII, o Pastor Angélico, recebemos o novo pontífice, primeiro com certa resignação, depois com muitas perguntas e finalmente com uma enorme surpresa positiva, que continua até hoje. Ao João XXIII ocorreu convocar um Concílio Ecumênico, como se não faltasse mais, chamou como assessores a muitos teólogos que haviam sido duramente censurados ou punidos em anos anteriores em matéria de ortodoxia, como Congar, Danielou, Chenue, Schillebeeckx.
Acompanhei os bispos do Brasil a três sessões do Vaticano II, com a consigna de, junto com eles e outros assessores, começar a pensar no após-concílio. Nisso estiveram ativos: Manuel Larrain (só na primeira sessão); Helder Câmara, Ramón Bogarin, Marcos McGrath, Leonidas Proaño, Luis Fernandes, Eduardo Pirônio, Antonio Batista Fragoso, Benitez, Aloysio Lorscheiter, Devoto...
A partir de 1966, o MMM ficou debaixo da coordenação e responsabilidade da Companhia de Jesus. Desliguei-me, não em protesto, senão porque o post-concílio ia ser outra etapa na minha vida.
Em 1968 fui convocado à Assembleia Geral de Medellín. Em todos os participantes se sentia ainda o entusiasmo pelo rumo que a nossa Igreja havia assumido no Vaticano II. Os convidados de outras tradições cristãs, participaram de todas as discussões, das nossas preocupações, decisões e festas... também o Cardeal Samoré e a presidência da Assembleia acolheu-os na mesa Eucarística, depois de uma carta que todos eles assinaram, pedindo para fazer parte completa daquela comunhão que o Espírito de Deus havia inspirado à nossa Igreja.
O cardeal Landazuri, de Lima, assessorado pelo seu teólogo, P.Gustavo Gutierrez; D. Eugenio Sales; D. Marcos Mc Grath; D. Pirônio... fizeram importantes apresentações.
Eu trabalhei como assessor, junto com o P. Viganó, geral dos salesianos,com o P. Gustavo Gutierrez, e tantos outros que já havíamos estado acompanhando nossos bispos em Roma, durante as sessões do Vaticano II.
Seria então agora a ocasião de mencionar que por vários anos fui professor convidado, ao Instituto de Pastoral do CELAM, em Quito, e depois em Medellín para onde se havia transferido e no de Catequese em Manisales (Colombia).
No CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano) estive como secretario geral adjunto do Bispo Eduardo Pirônio, que chegou a ser presidente do mesmo CELAM e depois Cardeal responsável de importantes congregações romanas (Religiosos, leigos), onde rapidamente se santificou , com processo de canonização em andamento.
Fiz parte da equipe de teólogos do mesmo CELAM, por 10 anos (enquanto durou).
Em Julho 1971 realizou-se em Medellín, curso de um mês só para bispos. Edgard Beltran, como Secretario Ejecutivo del Departamento, de Past. de Conjunto del Celam, ha sido el organizador del curso . Cada uno de esos obispos de la foto (sigue abajo la foto de la colección particular del mismo Edgard Beltran) ha sido clave en la vida eclesial posconciliar. Está Zambrado, quien murió en un accidente de aviación...y todo el Comité de obispos del Departamento de Pastoral de Conjunto del Celam. Está Valencia, quien murió en otro accidente de aviación...., hay mártires que dieron su sangre y hay mártires que gastaron su vida en una iglesia conciliar.
Como no CELAM chegavam muitos pedidos de assessoria para implementar Medellín e o Vaticano II, foi-me pedido esse serviço. Entendi que deveria ser feito em equipe e não só de homens. E assim foi: a Ir. Teolide Maria Trevisan, gaucha de St. Maria, das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, estava se preparando em Quito, no Instituto de Pastoral Latino Americano, e os superiores a indicaram como candidata para a nossa equipe; também o Pe. Juán Carlos Igártua, basco espanhol, missionário na Venezuela; Pe. Joaquin Martines Córcoles, outro missionário do IEME, trabalhando na Colombia; Pe.Carlos Samaniego, do grupo dos Lazaristasque trabalhava e era do Equador. Partimos para essa ampla missão, com muito carisma e poucos recursos (humanos, econômicos e de infra-estrutura)
# As recomendações que nos deram, da parte do CELAM, foram muito oportunas... para o mesmo CELAM: - Vão com nossas bênçãos. Muito nos alegraremos com os sucessos de vocês. No caso de problemas, terão que buscar as soluções por própria conta. As Igrejas irão ajudá-los económicamente. Da nossa parte não esperem nada disso, porque assim será melhor (- Para quem?)
Pensamos que seria uma pequena gozação (piada). A realidade ensinou-nos que não. (De qualquer modo, obrigado pelo apoio moral)
O nosso primeiro compromisso como equipe foi na cidade de Quito – 12 cursos. A seguir nos deslocamos todos a Lima-Peru, chamados pela Conferencia episcopal daquele pais. Dois membros da equipe viajaram num avião militar (por ser gratuito) – a melhor solução, quando o avião consegue chegar ao seu destino.
Além dos trabalhos em Lima, tivemos uma sessão em Pucalpa, na Região Amazônica, onde o Joaquim e o Juan Carlos tiveram a oportunidade de saborear carne de macaco. Os outros membros da equipe ficaram rezando por eles, pois naquela mesma rota, pouco antes, um avião da mesma companhia aérea se acidentara, deixando uma só sobrevivente, para comprovar que milagres ainda podem acontecer.
No fim, toda a equipe se concentrou em Lima por todo um mês. Residimos no Seminário Santo Toribio. Houve até um curso para bispos do pais (Tempos extraordinários aqueles!).
O trabalho seguinte foi no Chile. La estivemos nos últimos dias do Presidente Allende. O pais sofria por falta de quase tudo; combustível, alimentos, pasta de dente. Dois bispos nos ajudaram a carregar as maletas ao longo de alguns quarteirões, no centro da capital... não havia taxis. (Note-se que um deles, foi depois Cardeal de Santiago, não precisamente por haver ajudado a carregar as minhas malas).
Nossos cursos foram primeiro em Copiapó (norte), depois em Temuco (sul) e finalmente no centro, Santiago. Em Punta de Tralca, um curso só para bispos (Nunca mais aconteceu isso).
A seguinte área, foi a da América Central.
Descemos no aeroporto de Ilopango, São Salvador. Por 4 horas ficamos na sala do Arcebispado, conversando primeiro com Mons. Romero, depois com Mons. Ricardo Urioste, com Mons. Rivera e Damas, com o Arcebispo Mons. Luis Chaves e finalmente dom o padre de Maryknoll, Larry Egan. Depois descobrimos que era porque não sabiam onde colocar-nos. Tinham se esquecido que Mons. Romero nos havia convidado vir ao pais.
Estava claro que não começávamos mal, mas terminamos muito bem. Com efeito, por 40 dias (não por ser um número bíblico) orientamos uma série de cursos, seja em diferentes paróquias, como para sacerdotes e bispos, religiosas, leigos, seminaristas. Cada dia estávamos juntos, em três ocasiões, com o Arcebispo Luis Chaves, com Dom Oscar Romero e Dom Artur Rivera y Damas. Comíamos juntos no pequeno refeitório do seminário São José da Montanha – desjejum, almoço e ceia. Nunca pensaríamos que estávamos convivendo tão de perto com os três maiores bispos da história da Igreja salvadorenha.
Numa das noites livres, Dom Romero, levou-nos no seu carro, ele mesmo dirigindo, ao lugar chamado Planos de Rendeiro, onde se comiam as populares “pupusas” salvadorenhas (tortilha com queijo e feijão e um tempero proprio).
Reservado por sua própria maneira de ser, Dom Romero se transformava em contacto com o povo, principalmente com os mais simples. Naquela noite falamos longamente – a situação do pais, da Igreja... as nuvens negras de tempestade que se estavam formando. As áreas camponesas já não agüentariam por muito tempo a opresssão das minorias privilegiadas, apoiadas pelo capitalismo internacional e nacional. No exército, os soldados eram gente do povo que seriam lançados contra o seu próprio povo. Os novos sacerdotes já formados na linha do Vaticano II e de Medellín, certamente estariam certamente ao lado dos oprimidos. As grandes paróquias, os colégios católicos, muitas religiosas e vários bispos do interior, certamente não.
Hoje me comove recordar que naquela noite estivemos, por varias horas a sós, em colóquios profundos com o grande mártir da América Latina , único santo católico da atualidade reconhecido igualmente pelas outras confissões cristãs e por todas as grandes religiões do mundo, e também pelos que não professam nenhuma Fe religiosa.
Vários sacerdotes e seminaristas desses cursos, assim como muitos leigos, formaram parte das primeiras levas de mártires salvadorenhos.
Ainda neste primeiro serviço prestada à América Central, estivemos em Guatemala, Honduras, Nicaragua , Costa Rica e Panamá.
Então chegou a vez do México. Nosso curso foi organizado primeiro em Monterrey, pelas Irmãs do Serviço Social.
Os jornais locais haviam “preparado” a nossa chegada, anunciando que “agitadores comunistas” vinham criar confusão no seio do pacífico e religioso povo mexicano. E como era de esperar-se, depois de tão “objetiva e acolhedora” declaração, choveram entrevistadores dos principais jornais, radio e televisão. De um momento para outro eu e a minha equipe, éramos personagens nacionais. Logo, porém se surpreenderam e se saturaram com o “piedoso” dos nossos conceitos religiosos (Éramos mais católicos do que o papa e muito marianos). Assim sendo, nas seguintes semanas pudemos trabalhar nas paróquias, sem maiores problemas com a imprensa.
Na capital mexicana pudemos contar com o apoio do cardeal e seus auxiliares, assim como de um considerável número de sacerdotes e religiosas. Até agora não podemos entender como tudo isso foi possível acontecer... tão simples e natural que deixa a gente com enorme surpresa.
O problema econômico existiu sempre. Éramos três, as vezes quatro na equipe, viajando de um lado para outro, só com um pouco de dólares nos bolsos (entre todos não tínhamos mais do que 80 dólares).
Quando já estávamos quase sem dinheiro, o P. Lourenço Egan, Maryknoll, chegou com um cheque de 500 dólares, que um amigo mandava para ajudar a pastoral... E assim nos salvamos para pagar as passagens aéreas pendentes.
Sem que o tivéssemos procurado, Deus nos empurrou aos Estados Unidos. Começamos onde havia maior concentração de migrantes latinos. A nossa equipe inaugurou, com um curso de duas semanas, o Mexican american Cultural Center de San Antonio,Texas.
A partir desse evento, chegaram muitos convites para outras áreas do pais: California, Arizona, Novo México, Flória, Lousiana, Illinois, Minnesota, New York. Por 12 vezes seguidos fomos ao Mission Institute das Irmãs de Maryknoll. Muitas vezes voltamos a Santo Antonio, MACC... nos últimos 35 anos, anualmente temos algum trabalho em várias partes de USA.
Na América Latina, fomos a todos os países, menos as Guianas Francesa e Holandeza.
Venezuela, Equador, Colombia, Peru, Chile, Paraguai, foram logo parte do nosso caminho da roça. Depois a Bolivia, Uruguai e Argentina (por convite de De Nevares, de Devoto, e Angelelli, que foi martirizado antes que pudéssemos chegar até La Rioja (o que o fizemos um ano depois).
O CELAM enviou-nos por quatro vezes para ajudar a preparação dos missionários que se formavam na Europa, para vir a América Latina e Caribe (O documento papal “Fidei Donum”, havia despertado um especial movimento missionário na direção da América Latina... José Comblin... Luis Ceppi… Alwin Naggy… são testemunhas disso ). Por isso, estivemos varias vezes em Madrid; Lovaina; Verona… lógicamente atendendo a missinarios das tres linguas respectivas: español, francés, italiano (Como todos eles também estavam aprendendo novas línguas, não se assustaram tanto com o nosso sotaque e constantes falta de respeito aos seus sagrados idiomas pátrios).
Na década do 80 e por mediação dos Padres Claretianos (em primeiro lugar por iniciativa do querido P. Alberto Rossa, nosso ex-aluno do IPLA, argentino de Córdova), fomos dar cursos em 11 países asiáticos: Filipinas, Indonésia, Singapura, Tailandia, Hong Kong, Macau, India, Coréia, Japão, Sri Lanka, Taiwan.
Nas décadas seguintes voltamos ainda por mais vezes às Filipinas, India, Coréia, Singapure, Hong Kong. Em 2008 fomos novamente e por quase três meses no Extremo Oriente. Dessa vez foi um convite oficialmente assumido pelas conferencias episcopais de 7 países, articulados pela conferencia geral asiática.
Na Australia estivemos 7 vezes. Nova Zelandia, 1 vez.
Com a colaboração do P. alwin Naggy, entramos no mundo alemão –Stuttgard e encontros de CEBs de língua alemã (4 ou 5 vezes).
Pelos mesmos Claretianos, nos reunimos no Congo-Kinshasa, com agentes da pastoral de 5 países africanos, principalmente de língua francesa, para dialogar sobre o tema das CEBs.
A Igreja Anglicana (Inglaterra) chamou-nos 12 vezes seguidas a fim de apresentar o tema das CEBs em diferentes áreas da Inglaterra, Bermiham Escócia, Gales. Acompanhamos processos de paróquias em Liverpool, com o P. Gerry Proctor, assim como em Plymouth (com o pastor John). Ainda aproveitamos a viagem para atender a pedidos na Irlanda, particularmente em Dublin, por 4 vezes; e novamente na Bélgica, Italia e Espanha, sem deixar de lado Portugal, com ajuda da Ir. Ivana Gastaldelli e do P. Tavares.
Estando no Mediterrâneo, uma vez entrar numa peregrinação franciscana à Terra Santa. Noutra oportunidade decidimos gastar duas semanas visitando os roteiros de Paulo e os lugares das primeiras comunidades do Novo Testamento (Turquia e Grecia). Alugamos um carro e comemos cerejas e figos secos em lugar das refeições diárias, para salvar cada dólar que ainda tínhamos. Tanto o contacto com a Terra de Jesus, como com os caminhos de Paulo, muito nos ajudaram no modo de apresentar os nossos cursos e conferências.
O mundo canadense se nos abriu a traves dos Missionários de língua francesa – Missión Étrangere, Montreal-Pont Viau). Logo depois fomos também à área de língua inglesa (Victoria, Toronto, Winnipeg, New Foundland, etc).
Trabalhamos também no Caribe inglês (Bahamas. Antigua, San Vincent, Guyana...); Frances (Guadeloupe, Martinique); e de língua espanhola (Cuba, Santo Domingo, República Dominicana).
A nossa equipe começou com Teolide Maria, Juan Carlos, Joaquin, Samaniego, Depois de um tempo de serviço alguns partiram para seus lugares de origem , mas Deus nos foi mandando outros Gladys (El Salvador), Edwin (Costa Rica) - Carolee (Belise), Philippe (Francia), Gerry (Inglaterra), Daniel (Maryknoll), Balty (USA), Tche Roberto (Argentina), Bruce Miller (USA), Bill Calhoun (negro americano), Maria Eugenia (México). Jose Luis SJ (México)…Participaram na Equipe 30 pessoas em tempos e em momentos distintos,.
Em 1979, fui coordenador da dinâmica da Assembléia de Puebla.
Por convite do CELAM, ajudamos a preparar a assembléia de Santo Domingo, mas não participamos do evento. O mesmo aconteceu em relação a Aparecida. Estivemos em dois encontros preparatórios (Quito e Chicago), mas foi Amerindia que nos convocou para ajudar na assessoria não oficial à Assembléia. Nós o fizemos por internet, por estar em tratamento de saúde em Santo Antonio,Tx, na oportunidade.
ACHO QUE POSSO FALAR DAS SETE GRAÇAS DA MISSÃO
Puedo ahora sintetizar en siete núcleos vitales, el camino que he seguido, las referencias claves de mi vida y servicio eclesial
A META – O objetivo fundamental que se propõe é que dá sentido e força a tudo o que se ama e se quer. O Concílio Vaticano II e Medellin colocaram, naquele momento, palavras mais precisas do que têm sido sempre a minha mística – Viver e comprometer-se por uma Igreja comunidade de Jesus e do seu Espírito; misionária e profética. Primícia e sinal do Reino. Nela todos somos apóstolos. E os apóstolos são amigos entre si. Não somos profetas de desgraças, mas de esperança, revelando o maravilhoso do projeto de Deus manifestado em Jesus, pelo Espírito. Isso nos enche a vida de felicidade e mística, bem como viveram as primeiras comunidades cristãs.
Por isso, se tem que partir logo… ao meio dia poderá ser tarde demais. Mas é importante saber para onde. A meta é decisiva, mesmo que não esteja completamente visível. Muitas vezes se tem que voar por instrumentos porque está escuro.
A MÍSTICA ou ESPIRITUALIDADE – tudo depende do amor mais forte que se tenha na vida. Significa amar o que se faz, para o que se ama.
OS COMPANHEIROS - As amizades são um tesouro. Multiplicam geométricamente os talentos dos amigos. Significam escuta, apreço, espera, comunhão. Os apóstolos ou são amigos ou deixam de ser apóstolos de Cristo.
O MÉTODO – tudo o que fazemos e como o fazemos revela o que amamos e assumimos como prioritário. O esquema é efetivo: ver, julgar, agir, avaliar e celebrar, comunitariamente.
REALISMO – sem deixar-se paralisar ao não encontrar o que se esperava. Não viver se lamentando pelo que não se tem, pelo que falhou... mas agarrar-se com confiança ao que ainda se pode, mesmo que seja pouco. Em muitos casos o caminho se faz ao andar.
CONSTANTEMENTE CONFIRMAR O RUMO. Os fracassos próprios e alheiros, são providenciais, podem abrir portas inesperadas, se sabemos avaliá-los e aprender da vida.
O PEQUENO NÃO É POUCO, É TUDO O QUE GERALMENTE TEMOS. Concentra uma considerável energia (a semente, o fermento, o átomo). “Gente pequena, em lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, articuladas, chegam a resultados extraordinários”.
Os pequenos (desconsiderados) são uma bênção de salvação. Com eles se deve cursar a “universidade” de Jesus e fazer o doutorado da comunhão, da esperança, da Fe, da missão... para entender as horas e feitos de Deus.
CULTIVAR O HUMOR. Rir-se de si mesmo (não se crer superior, não se assustar quando de algum ridículo) e não dos outros (Nunca ferir a dignidade de alguém)
A MISSÃO - A ITINERANCIA. Atravessar fronteiras (geográficas, ideológicas, pastorais, religiosas…) descobrir e acolher mundos novos dos quais se deve aproximar sem preconceito e também sem ingenuidade. O gheto ideológico, religioso, termina sendo o inferno de uma cultura, raça ou religião.
PONTO FINAL:
Este alentado escrito foi preparado principalmente pela persistente dedicação da Ir. Teo,durante todo o ano de 2009. Foi quando ela, para cuidar da saúde, ficou fora das viagens missionárias da equipe (Inglaterra, Índia, Sri Lanka, Singapura, Macau, Hong Kong, Coreia, China do sul, México, Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia, Rondônia, Belo Horizonte, Caxias do Sul, Nova Palma, Cachoeira...)
A Teo nem sempre viajou, mas animou a nossa missão, escrevendo diariamente a tantos assessores e membros de comunidades, do mundo afora, que através dos anos, continuam ligados conosco.
Dia após dia, mesmo com os inconvenientes das quimoterapias, parte de noites e madrugadas... lá estava ela, na frente do computador – revisando, dando forma ao que havíamos decidido suprimir, modificar ou manter, lutando com numerações e ilustrações. Um trabalho exigente de continua atenção e sensibilidade.
Este empenho alegre e decidido foi também uma terapia. – “Aos que amam... tudo coopera para o bem!” (Rom 8,28). Quando o cansaço e um certo estancamento rondavam a nossa tarefa, ela repetia a pergunta que sempre nos fizemos: - Quem vai poder aproveitar-se do que estamos produzindo? E diante de nós, como numa luz especial sonhávamos com feições de tanta gente querida, nos lugares mais diversos do mundo e quase sem apoio das estruturas e lideranças eclesiais. Eles e elas chegam onde ninguém vai, conscientizam os descartados pelo sistema elitista globalizado, mas que começam a sonhar com um novo mundo possível, do qual decidem ser sujeitos em comunidade.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário