ENVIO MISSIONÁRIO – IZALENE TIENE
Endereço: Casa do Bispo - Rua Marechal Roldon, No.1.885 - Bairro São Francisco CEP. 69.640.000 TABATINGA AM (telefone: 97-34122464)
RELATO DA PRIMEIRA SEMANA EM TABATINGA - AMAZONAS
Saída de Campinas SP, no dia 02 de fevereiro de 2012, pela companhia GOL, às 19:25 horas - Foram me acompanhar: Ir. Conceição, Ir. Marceline, Emilio (motorista). No aeroporto estavam a Ir. Inês (Jd. Lago II), Lise e Zilda.
Chegando à Brasília o vôo para Manaus já estava aberto para o embarque imediato, 21:45 horas, pela diferença de fuso horário de 2 horas a menos, cheguei a Manaus às 22:35 horas, sendo acolhida por Dom Alcimar Caldas Magalhães e sua sobrinha Sígrid. A casa da Diocese do Alto Solimões em Manaus fica bem no centro da cidade ao lado do Teatro Municipal, onde passei a noite tendo bom descanso.
No dia 03 de fevereiro, bom café em companhia de D. Alcimar, Cídia (secretária da casa) e Prof. Waldir Barros (leigo). Soube nesta conversa que Dom Alcimar completou 72 anos, no dia anterior, continuamos celebrando seu aniversário e conhecendo um pouco de sua família: descendente de portugueses, 12 irmãos/ãs, mais 8 que foram adotados pelos seus pais (são 20 ao todo). Ele é o 6º na família. Foi muito acolhedor ao dizer que estava recebendo mais uma irmã com a minha chegada. Aqui no Norte do país é período de inverno. Muita chuva e temperatura mais amena.
Conversamos sobre o PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL - PTDRS - MESORREGIÃO ALTO SOLIMÕES – AMAZONAS 2011. Recebi a publicação do diagnóstico (preparado pela consultoria técnica, sob a responsabilidade do Dr. Acilino do Carmo Canto). Eu já havia recebido em Brasília, no Ministério da Integração Nacional, o Caderno Edição Especial sobre o Fórum de Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Mesorregião do Alto Solimões, denominado “Uma nova era” – 2003-2006.
Saída de Manaus no vôo da TRIP, às 10:25 horas, chegando à Tabatinga AM às 13 horas, onde fui acolhida pela Ir. Patrizia, italiana, da Congregação das Ursulinas. Tem uma comunidade em Tabatinga (Ir. Mercedes; Ir. Sirlene e a postulante Elisa). Ela está coordenando a equipe da Diocese, juntamente com o Pe. Gonçalo, colombiano, responsáveis pelo acolhimento dos/as haitianos/as. No mesmo vôo que cheguei, chegou a equipe do Ministério do Desenvolvimento Social – MDS - para o planejamento das ações junto aos/as haitianos/as, com os representantes locais e equipe “Médicos sem Fronteiras”. Ir. Patrizia voltou no final do dia informando que a reunião foi muito proveitosa constatando que os dados sobre a realidade, apenas a Igreja possui e colocou em comum, o que favoreceu muito os encaminhamentos, para fornecimento de alimentação, passagens e pagamento dos alugueis para os que não possuem nenhum recurso. Atualmente permanecem, em Tabatinga, 600 haitianos/as, menos da metade dos 1.500 que estavam no final de dezembro 2011. As perspectivas de permanência no Brasil e de chegada de novos, após o decreto da Presidente Dilma, no dia 12/01/2012, que limita em 100 permissões mensais, de entrada legalizada de haitianos no Brasil (1.200 ao ano), são de melhor planejamento das ações da Diocese, juntamente com os governos da União, Estado e Município.
A casa onde fui acolhida (casa do Bispo), está localizada no Bairro São Francisco, na Rua Marechal Roldon, No.1.885, (telefone: 97-34122464), um bairro na periferia (próximo ao centro) de Tabatinga. Uma casa bem ampla, portas diretas na rua, sempre abertas. Atrás ficam os quartos, o jardim-quintal com muitas plantas típicas, um quiosque de onde observamos o Rio Solimões, fazendo divisa com o Peru, Ilha de Santa Rosa. A Av. da Amizade, que utilizamos para chegar do aeroporto até a casa, também é marco da fronteira com a Colômbia, cidade de Letícia. Tabatinga e Letícia são duas cidades conurbadas com fronteiras entre Brasil e Colômbia. A fronteira com o Peru é demarcada pelo Rio Solimões. Tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
Vivem aqui na casa com o Dom Alcimar, sua irmã Marcy e seu esposo Carlos, a secretária Mariele, Ney, Cacau e Abelha (três jovens trabalhadores e estudantes), e agora eu, que estou hospede não sei por quanto tempo (?). Bernadeth é a mulher que prepara a alimentação. Cuida da cozinha e do grande espaço onde se faz as refeições. É mãe de 5 filhos e vive com o esposo que é comandante de barcos.
A Região de Alto Solimões está situada na parte oeste do Estado do Amazonas, nas imediações da Bacia do Rio Amazonas. A Diocese é composta por sete Municípios: Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antonio do Iça e Tonantins. Da mesorregião, além dos municípios citados acrescentam Jutaí e Fonte Boa que pertencem a Prelazia de Tefé AM. A população total da região, segundo censo IBGE 2010, totaliza 224.068 habitantes, correspondendo a 6,7% da população do Estado do Amazonas que é de 3.350.773 habitantes. A densidade demográfica da Região é bastante baixa (1,05 hab./km2). Há um equilíbrio entre a população urbana e rural (a população rural é formada por tradicionais, ribeirinhos, extrativistas, e povos indígenas) O rio Solimões é o principal meio de conexão e acessibilidade aos municípios, com linha regulares de transporte fluvial tanto de cargas como de pessoas. Mesmo assim, sua localização, deslocada das redes de infra-estrutura que servem o Estado do Amazonas, cria para a região uma situação de isolamento e de carência de infra-estrutura necessária para o desenvolvimento econômico e social. Tabatinga, com aproximadamente 52.000 habitantes, está cerca de 1.150 km (em linha reta) e 1.600 km (linha fluvial), distante da capital do Estado. Conta com um aeroporto internacional. A companhia aérea nacional que atende a região é a TRIP, com vôos diários.
Dia 04, sábado, muito chuvoso, dedico mais às leituras do diagnóstico da Mesorregião, conversas com o pessoal da casa, descanso e à tarde acompanhei Marcy e Carlos às compras de verduras em Letícia (os produtos da Colômbia são melhores). No mercado encontramos a Ir. Catarina, Congregação das Franciscanas. Atualmente elas estão residindo na Casa de Encontros da Diocese, porque a residência das irmãs está em reforma. Na volta das compras, passeamos um pouco para conhecer Letícia e depois Tabatinga. O comércio, escolas, universidade estadual, serviços, estão centralizados na Av. da Amizade no território brasileiro e Av. Internacional no território colombiano (é a mesma avenida). Passamos pelo IFAM, Instituto Federal do Amazonas, responsável pelo ensino técnico profissionalizante; pelos prédios da Diocese, Casa dos Imigrantes (ainda não está pronta para o atendimento), Casa de Encontros de Formação, voltando para casa, jantar e descanso. A alimentação é bem natural, muitas frutas e carnes (frango, boi, porco, anta...). Muitos sucos e pouco doces. As refeições são sempre nos mesmos horários (6:30 café, 11:30 almoço, 18 jantar), numa grande mesa todos/as que vivem na casa devem estar juntos/as nos horários determinados. Estou entrando na rotina da casa e sendo introduzida aos poucos. Há problemas na comunicação por internet e telefones (fixo e celular), devido às chuvas o sistema está com problemas.
Dia 05, domingo (5º do tempo comum). Após o café, Ir. Patrizia e Elisa passaram para me buscar e fui à celebração da palavra na comunidade de São Sebastião, no bairro COMARA. Para chegarmos ao bairro passamos pelos Quartéis das Forças Armadas, da Aeronáutica e também da Marinha.
A celebração foi realizada por um ministro e Ir. Patrizia foi animadora dos cantos, fez a homilia e os avisos sobre a construção da sala de catequese. Como as leituras e o tema do domingo fazem referência à saúde, as intenções e a benção final foram lembradas e abençoadas as pessoas doentes. Na homilia Ir. Patrizia fez referência às provações que passou Jó e as provações que passamos quando enfrentamos uma doença. Fez relação sobre as condições de vida que favorecem as doenças. Sobre o Evangelho destacou a atenção de Jesus às pessoas e a sua capacidade de curar e enviar os que estão curados para fazer o mesmo. Quanto a Paulo, em Corinto, falou sobre a gratuidade na pregação do Evangelho. “Pregar o evangelho não é para mim motivo de glória...” Ao ser apresentada à comunidade fui acolhida e convidada a voltar. Esta é a diferença dos/as cristãos/as que se encontram na amizade e solidariedade. A chuva continua muito forte neste domingo. O almoço foi uma deliciosa costela de porco assada na churrasqueira. À tarde irmã Patrizia veio me buscar para eu usar a internet em sua casa.
Às 19h30min, fomos à missa na Catedral celebrada pelo Pe. Valdemir. Chamaram-me atenção os/as participantes: muitas famílias com crianças e muitos jovens. Cânticos alegres, Pai-Nosso cantado e rezado. O folheto usado é “O Domingo”. Na homilia o padre fez as interpretações norteadas pelo folheto que é rezado no país inteiro. Eu esperava uma referência à realidade local. Poucos haitianos dentro da igreja, muitos na Praça em frente (segundo informações a grande maioria é evangélica).
Buscando dados populacionais e demográficos da mesorregião do Alto Solimões, segundo IBGE, em 2007, a estrutura populacional é formada principalmente por crianças e jovens na faixa etária de 0 a 14 anos (42,7%) e pessoas na faixa etária de 15 a 39 anos (40,2%), o que soma 82,9% da população. São apenas 17,1% na faixa etária de 40 a 80 ou mais.
Dia 06, o tempo melhorou um pouco. Pela manhã Pe. Valdemir passou para me buscar. Acompanhei-o na aula de abertura dos cursos do IFAM. Foi interessante conhecer os/as jovens e os/as professores na apresentação. Alunos de toda região e professores a maioria de Manaus.
Passamos pela Casa de Encontros, pelo Seminário (está alugado para escola municipal) e pela Casa dos/as Imigrantes. São construções ainda inacabadas e subutilizadas. Conversamos sobre os projetos do exterior (escassos nos últimos anos) e as dificuldades para auto sustentação da Diocese. Pe. Valdemir, atualmente, é o único padre na cidade e acumula a função de administrador e coordenador pastoral. Pe. Diego, capelão militar, está sendo transferido da cidade. Pe. Gonçalo, que reside na Comunidade Divino Espírito Santo, onde os/as haitianos/as são atendidos/as; atende também a Comunidade São Pedro. Está sendo enviado para estudar em Roma. Viaja no final do mês. Estão aguardando Pe. Isaias, diocese de Limeira SP, que deverá chegar no inicio de março.
Fui conhecer o atendimento aos haitianos, onde estava Ir. Patrizia. Eram mais de 200 pessoas entre homens e mulheres, são jovens, bonitos, bem vestidos, profissionais, alguns falam espanhol o que favorece a comunicação. Mesmo os que falam frances-criolo também conseguem se comunicar. Os que permanecem em Tabatinga são aqueles/las que já estão com documentos, mas não conseguem dinheiro para passagem ou os que chegaram depois do dia 12 de janeiro (+ ou – 300), ameaçados de serem deportados para o Haiti. Uma situação de insegurança e aflição constante. Essa população está alojada em casas de famílias que alugam quartos (um para até dez pessoas), com alimentação coletiva café da manhã e almoço, oferecidos na Igreja do Divino Espírito Santo. As refeições são preparadas pelos/as haitianos/as. Ainda não entendi porque a prefeitura e o estado não participam do atendimento?
Após o almoço (hoje serviram carne de anta), conversamos Marcy e eu sobre as visitas que eu havia feito para conhecer as possíveis moradias que Dom Alcimar está sugerindo (Casa de Encontro ou Casa dos Imigrantes). Falei com ela sobre minha necessidade de viver na companhia de outras pessoas e ela reafirmou que devo ficar na casa com a sua família até quando eu quiser (a irmã do bispo cuida da administração dos imóveis da Diocese juntamente com Pe. Valdemir). Preciso começar a sair mais sozinha para conhecer os serviços que a cidade oferece.
Após o jantar sai para caminhar nas ruas próxima a casa chegando até Av. da Amizade. Foi muito bom poder observar as pessoas voltando para casa, outros também fazendo caminhada na avenida! Os rostos são na sua maioria de indígenas, principalmente os de etnia Tikuna, mas os peruanos e colombianos também tem rostos muito parecidos. Segundo Pe. Valdemir, a miscigenação na cidade de Tabatinga, não dá para ser comparada com nenhuma outra cidade da região. O Município foi instalado em 1º de janeiro de 1983. Antes era subdistrito de Benjamin Constant, onde estavam instaladas as forças militares de fronteiras. Tabatinga é uma palavra de origem indígena que, no Tupi, significa “barro branco”, encontrado no fundo dos rios e, no Tupi Guarani, quer dizer “casa pequena”. A extensão geográfica do município é baixa, 3.225,1 km2, área territorial menor entre os nove municípios da mesorregião, não tendo como ser expandida. A taxa de urbanização é de 69,57%, o mais urbanizado de todos os municípios. A maior parte das terras urbanas pertencem à União (Forças Armadas, Marinha e Aeronáutica). A Diocese ainda possui áreas desocupadas que estão sendo cedidas ao município para construção do Hospital, Escola-creche... (o que observei até agora).
Segundo dados do PTDRS (pg. 21), o processo de colonização foi efetuado pelos portugueses, mas a Amazônia sempre foi alvo de cobiça estrangeira de franceses, portugueses, holandeses e ingleses, tendo em vista ideal mercantilista. Mais recentemente os americanos buscaram incorporar a Amazônia, tendo como caso mais expressivo as plantações de seringueiras no Pará e Amapá. Até meados do XVIII, os colonizadores escravizaram vários povos indígenas da região, pela prática das “guerras justas”, que estimulavam as guerras intertribais, com a finalidade de comprar os escravos aprisionados pela tribo vencedora. Muitos povos que se recusavam a se submeter aos impostores do Estado Português foram massacrados e exterminados. Historicamente são evidentes os impactos causados aos povos indígenas pelo processo de colonização.
Nas últimas duas décadas do século XIX, com a exploração da borracha, a Amazônia se tornou palco de uma intensa exploração do trabalho seringueiro. O Alto Solimões. Apesar de não contar com seringais tão produtivos quanto os do Acre, não ficou fora da corrida pelo “ouro branco” como era chamada a borracha. Através do sistema de barracão, o “patrão” tinha exclusividade no comércio com os índios. Os patrões, conseguidos por poucas famílias, vindas em sua maioria do nordeste, instalavam-se nas bocas dos principais igarapés.
Em 1910, capuchinhos vinda da província da Úmbria, na Itália, instalaram a Prefeitura Apostólica do Alto Solimões, gerando uma infra estrutura de saúde e educação significativa, que segundo informações, até hoje a aldeia Belém do Solimões, é uma das maiores do povo Tikuna.
Em meados da década de 1960, uma nova situação histórica: a Amazônia e sua faixa de fronteira são transformadas em área de segurança nacional para o exército brasileiro. A guarnição militar de Tabatinga é transformada no Comando de Fronteira do Solimões – CFSOL.
No final de 1981, as principais lideranças tikuna, na aldeia de Campo Alegre, discutiram a proposta de demarcação de suas terras e encaminhada a FUNAI. Uma comissão foi à Brasília e como resultado dessa pressão dos Tikuna, em 1982, foi criado um grupo de trabalho para identificar as áreas tikuna nos municípios de Fonte Boa, Japurá, Maraã, Jutaí, Juruá, Santo Antonio do Iça e São Paulo de Olivença. A demarcação aconteceu em 1993, cerca de um milhão de hectares de terras naquela região. Desde 1982, os tikuna criaram o Conselho Geral da Tribo Tikuna (CGTT), que ainda está atuando. A sociedade civil se faz presente nas terras indígenas, através das ordens religiosas, das organizações não governamentais, dos comerciantes e do Estado pela FUNAI e Ministério da Defesa, segundo o diagnóstico (pg. 24), “impondo novos valores e símbolos, distintos da organização social destas sociedades, explicitados nos problemas sociais e nas transformações culturais”. Considera ainda que a região demonstra a grande influência que recebeu dos grupos religiosos, principalmente da Igreja Católica, durante o período de sua formação.
Dia 07, hoje já consegui acordar no horário da casa, estando pronta para o café às 6:30 horas. Após o café fui caminhando até a Igreja onde são atendidos os haitianos (+ ou – 30’). Encontrei-me na rua com Ir. Irene (que chegou ontem da Itália, estava em férias) e Elisa. Chegando a casa do Pe. Gonçalo (localizada ao lado da igreja), o encontrei junto com Ir. Patrizia e Dada (senhora que trabalha na casa), tomando café. Já havia haitianos/as no local e o almoço já estava sendo preparado por uma equipe. Conversamos sobre os encaminhamentos que o MDS deveria providenciar e nada foi feito ainda. A Irmã estava selecionando as pessoas que deverão viajar amanhã para Manaus com passagens pagas pela Igreja (+ ou – 20), considerando que ainda não receberam nenhuma ajuda do estado e do governo federal. Uma preocupação manifestada na equipe é que está sendo falado entre os haitianos que vários dos que estão para ser deportados, estão saindo em barcos pequenos para outras cidades com objetivo de embarcarem depois no barco maior para chegar a Manaus (sem documentos legalizados).
Chegaram duas pessoas da equipe “Médicos sem Fronteiras”, são três que estão na cidade. Duas moças (enfermeira Paula e a psicóloga Debora) e um rapaz (Marcos – administrador empresa) este residente em Americana SP. Conversamos rapidamente sobre o processo de seleção para escolha das pessoas. Segundo Ir. Patrizia eles estão fazendo um bom trabalho na organização do atendimento e na relação com o governo federal. Ouvi o relato que a chefe da equipe fez sobre as providencias quanto ao levantamento que agentes de saúde da Prefeitura local mais cinco haitianas contratadas pelo projeto, deverão realizar para conhecimento da situação dessa população na cidade.
Tive oportunidade de conversar um pouco com Pe. Gonçalo sobre seu trabalho pastoral e sua saída para estudar em Roma. Há uma expectativa que Pe. Isaias assuma as comunidades (12) que ele atende. Faz 6 anos que está na diocese. Sai para estudar a nível de pós graduação, Teologia-Pastoral. Durante 2 ou 3 anos ele vai dedicar-se ao estudo, mas pretende voltar e continuar o trabalho. Ele e a Ir. Patrizia atendem os refugiados colombianos, os imigrantes (desde 2010 atendendo haitianos) e são responsáveis pela pastoral carcerária na cidade. Fui convidada para a visita ao presídio, amanhã, quarta-feira e para a reunião da equipe após a visita.
De volta para o almoço tinha combinado ajudar a irmã no levantamento dos que vão viajar amanhã, mas choveu muito forte o que me impossibilitou o deslocamento até a sua casa. Aproveitei à tarde para dormir, ler o diagnóstico da mesorregião e fazer anotações sobre a realidade local. Fui à missa na matriz às 19 horas. Antecedeu a reza do terço e após a benção do Santíssimo. Foi Pe. Gonçalo quem celebrou e comentou o Evangelho do dia que fazia referência aos fariseus que consideravam os diferentes como impuros. Ressaltou que “o mais importante na vida é a prática do amor”! Os/as haitianos/as estavam na praça da matriz, alguns participaram na missa, mas assim que terminou a celebração, todos entraram rapidamente na igreja (+ ou – 400 pessoas). Pe. Gonçalo falou em espanhol (um haitiano traduziu em criolo), acreditava que o governo brasileiro estava tomando as providências e que a situação de todos seria resolvida em breve. Cumprimentou-os pela união e pela união de todos/as. Quando o padre saiu a reunião continuou, ficando a frente a pessoa que estava fazendo a tradução.
Antes da celebração passei por mais de 10 telefones públicos e no cyber para me comunicar, mas não consegui. Na casa desde o dia que cheguei está sem internet e sem telefone.
Dia 08 – Hoje deveria visitar o presídio com Ir. Patrizia, mas como não consegui me comunicar com ela, passei o dia todo na casa continuando a leitura do diagnóstico da mesorregião. Da leitura o que me chamou mais atenção foi sobre o processo migratório da tríplice fronteira. Com relação a migração peruana mais recente é decorrente da crise e recessão econômica que o país vem atravessando (pg.32). Muitos estão estabelecidos em Tabatinga e na região. Características comuns entre peruanos: são originários da selva; passaram por um processo de migração interna no Peru; não têm qualificação profissional; nível de estudo baixo; pertencem a etnias indígenas; migram com toda família (média de 3 filhos); buscam melhores condições de vida e, por sua condição de clandestinidade, se submetem a qualquer tipo de trabalho. São muito explorados pelos nacionais, porque sabem que não vão ser denunciados pela situação da informalidade e clandestinidade. A rotina de vida dessas pessoas está marcada pelo medo constante da Polícia Federal, quando são autuadas, multadas e deportadas.
Não observei nenhuma pessoa e nem crianças na rua pedindo ajuda. Mesmo na casa do bispo não notei pessoas pedindo ajuda. O movimento na casa consiste na rotina dos trabalhadores dos projetos, dos barcos, dos sítios, que passam pela manhã para saber sobre o trabalho e tomar café juntos. É Marcy que administra todos os serviços dos projetos e também junto com Pe. Valdemir cuida da administração da diocese.
A migração colombiana está demarcada pela violência interna que ainda passa a Colômbia, mesmo com o novo governo que, segundo Pe. Gonçalo “está mais flexível com a organização das guerrilhas” que já dura mais de meio século. Essa violência institucionalizada vem promovendo “o desplazamiento”, são refugiados que, para escapar da morte e das ameaças, ora do Exército Nacional, ou dos paramilitares, e dos guerrilheiros das FARC, o chamado Exercito do Povo, fogem do país e ficam em condição do provisório. Na região não existe nenhum suporte governamental para dar suporte a migrantes nessas condições de desalojados. São problemas que desafiam os governos dos três países e a Igreja faz o atendimento com os recursos que recebe de outras Igrejas solidárias.
Caminhei pela Av. da Amizade, onde concentram o comércio e os serviços, em busca de informações sobre um melhor plano da vivo (instalei o vivo sempre com ligações para qualquer vivo do Brasil a R$0,50 por minuto). Nos telefones fixos apenas a OI que atende mas está complicado realizar ligações interurbanas.
À tarde Dom Alcimar ligou de Manaus para falar comigo sobre um documento que havia recebido do Ministério da Reforma Agrária. Era sobre o fechamento da sede do INCRA em Benjamin Constant. Solicitou que eu fizesse um contato com o Engenheiro Agrônomo Mauricio, um jovem, que presta serviços a Diocese, há cinco anos, no projeto junto aos agricultores que cultivam dendê. Marcy o chamou, ele chegou e fez uma rápida exposição do trabalho que realiza. Convidou-me a acompanhá-lo, no dia seguinte, para Benjamin Constant. Vamos sair de barco, às 8:30 horas.
Depois que ele saiu Marcy foi mostrar o terreno (próximo da casa) onde a diocese prepara as mudas de plantas frutíferas, para vender e/ou oferecer às comunidades. São frutas regionais, mas tal foi minha surpresa que até mudas de figo roxo eles possuem. Continuamos conversando sobre os projetos que a diocese desenvolveu e os que ainda desenvolvem, mas não consegui entender bem... São muitos projetos e muitas pessoas envolvidas? Soube através dela que D. Alcimar não voltará a Tabatinga antes do carnaval!
Dia 09 – Saímos às 8:30 horas. No barco pilotado pelo Sr.Cosmo (Gaguinho) tendo como auxiliar o Lampião. Maurício estava acompanhado pela técnico agrícola Aurelio (o barco comporta 12 pessoas), mas foi carregado de mudas de abacate e outras plantas frutíferas. Em 30 min’ atravessamos o rio Solimões e entramos no rio Javari chegando ao porto de Benjamin Constant, cidade fundada pelos jesuítas em 1750. Há 102 anos são os Capuchinhos que atuam na região. Do outro lado do rio Javari está o território do Peru.
Enquanto Mauricio, Aurélio e eu ficamos na cidade, o barco continuou a viagem agregando mais cinco trabalhadores, para distribuir as mudas nas comunidades ribeirinhas mais distantes. Dirigimo-nos a sede do INCRA onde encontramos o Gilvimar (Gereca), superintendente regional. Conversamos o que Dom Alcimar havia alertado “fechamento da unidade de Benjamin”, mas a resposta foi de que já estava resolvido porque houve muitas interferências em Brasília a favor da manutenção.
Após a conversa no INCRA, Maurício foi encontrar-se com o Flavio, presidente do sindicato rural. A preocupação do sindicalista é com relação ao contrato dos produtores de dendê com a empresa paulista que deverá ser instalada no Município no próximo ano. Toda produção deverá ser destinada com exclusividade a esta empresa (?). Mauricio está como assessor da empresa depois que a diocese não pode renovar seu contrato, mas continua orientando os produtores que ainda não estão organizados em cooperativa.
Em seguida, fomos com o pessoal do INCRA conhecer Atalaia do Norte (26 km por rodovia asfaltada), apenas passando de carro fomos ate o mercado onde são os peruanos que comercializam a maior parte dos produtos.
Voltamos para almoçar em Benjamin, no Hotel e Restaurante Cabanas. Um local muito bonito, às margens do Rio Javari. Foi sérvido um peixe surubim, temperado com canela. Muito bom e saudável! Descansamos nas redes e fomos à sede dos projetos da diocese para reunião com os técnicos agrícolas (sete ao todo). Para chegar até o porto pegamos carona na garupa das motos. Já fui batizada no barco e na moto. De volta para Tabatinga pegamos uma boa chuva enquanto atravessávamos o rio Solimões. O barco é seguro e o condutor muito competente. Cheguei à casa do bispo bem disposta a descansar. Aqui dormimos cedo (21 horas cada um já vai para o seu quarto) e 6 horas todos/as já estão levantados. Na casa as tarefas são bem divididas entre os homens e mulheres, cada semana é um/a que prepara o café da manhã. Em todas as refeições todos/as ajudam a lavar as louças e panelas. Cada um cuida da limpeza de seu quarto e lava suas roupas (menos o bispo).
Hoje Maria Soares escreveu sugerindo que eu faça o curso sobre a Realidade Amazônica do dia 2 a 28 de março, em Manaus. Vou consultar algumas pessoas antes de falar com D. Alcimar.
Dia 10 – sexta feira - hoje faz uma semana que cheguei, o tempo passa devagar quando não temos muitas atividades! Logo cedo fui caminhar até a loja da vivo e em seguida fui até a Comunidade do Divino onde encontrei os/as haitianos/as. Conversei com Tatá (senhora que dá toda assistência à equipe que prepara as refeições). Ontem foram apenas 110 que almoçaram. Fui à casa da Ir. Patrizia, onde a encontrei em reunião providenciando as passagens para os que vão viajar no barco que sai no sábado, amanhã às 14 horas. Ela confirmou que perdeu o controle dos haitianos que estão deixando Tabatinga em barcos pequenos, fugindo da possível deportação para o Haiti. Esta é uma preocupação da equipe, além do perigo do barco tem a incerteza da clandestinidade.
Peguei uma carona com a irmã que foi ao dentista em Letícia e aproveitei para uma consulta. No dia que cheguei a Tabatinga, caiu uma obturação (que azar o meu!) de um dente bem tratado em Campinas! Agora vou fazer a restauração na Colômbia. Já deixei marcado para segunda feira. Continua chovendo muito!
Pe. Valdemir convidou-me a participar da reunião de planejamento paroquial que acontece amanhã, no prédio do seminário. Amanhã vou encontrar as Irmãs Franciscanas que estão vivendo provisoriamente, no seminário, enquanto termina a reforma da casa onde elas residem.
Hoje voltou a funcionar o telefone na casa e Marcy solicitou a ligação de mais um ponto de internet. Já estou com meu computador conectado, devagar, mas já estamos com melhor comunicação.
Dia 11 – O pessoal da casa foi me levar até o seminário de carro. Tomei café com as Irmãs Franciscanas: Catarina, Sebastiana, mais duas irmãs e uma aspirante. Constatei que não dá para viver no seminário como uma das possibilidades sugerida por Dom Alcimar. As irmãs devem voltar para a residência delas até o final de março e o local é muito isolado, tendo apenas a família do caseiro e os encontros nos finais de semana que movimentam a casa.
A reunião de Planejamento da Paróquia Santos Anjos (apenas uma paróquia em Tabatinga com 10 comunidades) iniciou às 8:30 e terminou às 12 horas. Tinha representantes de todas as comunidades, mais ou menos 60 pessoas, maioria mulheres. O Pe. Valdemir coordenou a reunião, apresentando-me no inicio. Primeiro ponto foi o calendário do ano, mês a mês. Foi apresentado o balancete do mês de janeiro.e orientado as comunidades como devem proceder com relação a prestação de contas. Aconteceu também a apresentação da nova coordenação de Pastoral da Juventude com a programação do ano 2012. Irmã Irene, Ursulina, vai acompanhar o grupo. Houve a leitura da ata sobre a Assembléia Paroquial realizada em 10/dezembro/11 para rever os itens pendentes e um deles é a formação do Conselho Diocesano do Laicato e também a Escola de Fé e Política. Antonio Jorge e William Bergaman, os dois leigos que participaram no Seminário em Manaus, quando Geraldo Aguiar apresentou a proposta, estavam presentes e reforçaram a necessidade de organização. As pessoas interessadas se apresentaram e o padre encaminhou marcando uma reunião para o próximo sábado dia 18, às 8 horas no mesmo local. Quando terminou a reunião falei com os dois leigos e marcamos a preparação da reunião para 5ª. feira às 18:30 horas. Também conversei com Ivanilde sobre a organização da comunidade no Bairro Paraíso onde está sendo construída a Capela de São José. Amanhã irei à sua casa para conversarmos sobre as visitas já realizadas no bairro. Para voltar até a casa do bispo peguei carona com o militar diácono Paulo que está a um mês na cidade procedente do Rio de Janeiro, e ajuda nas celebrações da Palavra e da Eucaristia.
À tarde, fui com Pe. Valdemir e Ir. Catarina a Benjamin Constant. Fomos recebidos na casa dos Freis Capuchinhos, em seguida viajamos de carro para Atalaia do Norte onde nos encontramos com as Irmãs Filhas de Santana que estão abrindo uma comunidade no local. Irmãs Maria do Carmo e Anita são as que ficarão na comunidade São Sebastião. As Irmãs provinciais Rita Maria e Tereza Maria acompanharam as irmãs, participaram da celebração de acolhimento e voltaram conosco para Benjamin e no outro dia para Tabatinga. Foi uma liturgia bem animada com participação de muitos jovens e adultos que manifestaram sua alegria ao receber as irmãs.
Domingo 12 – voltando de Tabatinga passei a manhã organizando meu quarto e minhas roupas. Ajudei na preparação do almoço. Deveria almoçar com as Irmãs Ursulinas, mas justifiquei ausência. No final da tarde fui à casa de Ivanilde e com ela à celebração na Comunidade São Pedro onde Pe. Gonçalo celebrou. Boa participação dos jovens nas equipes de liturgia e na assembléia. Nos avisos finais Eliana me apresentou convidando a todos/as para a reunião no próximo sábado. Após a missa conversamos Ivanilde, Joãozinho e eu (Ir. Patrizia também ouviu e apoiou), sobre o trabalho que já foi realizado no bairro Paraíso para formação da comunidade. De 2007 a 2009, um grupo, do qual ela e ele foram partes, visitaram as famílias, realizaram cultos, preparação batismo e também mutirão para iniciar a construção da Igreja São José. Foi deixado, quando o terreno onde estava sendo construído a capela, foi cedido pela diocese para construção do Hospital e a Prefeitura ficou responsável de refazer a construção em outro terreno o que vem sendo feito muito lentamente. Houve boa disposição de ambos para reiniciar o trabalho e eu me coloquei a disposição de colaborar. Marcamos para o próximo sábado após a reunião com o laicato uma visita rápida no bairro para contatos com os moradores onde já se reuniam. Foi um bom inicio para recomeçarmos a segunda semana em Tabatinga.