"A Igreja realmente mudou nesses últimos 50 anos: não mais hostilidade contra os 'infiéis', mas sim diálogo, responsabilidade comum pelo bem da sociedade, busca da paz entre as religiões, liberdade de consciência, afirmação da necessária 'razão humana' em toda doutrina religiosa.
"A Igreja não quer promover um proselitismo que imponha o evangelho ou seduza os homens, mas quer que a boa notícia possa ser ouvida por todos, porque todo o ser humano tem direito a isso. Por isso, ela se empenha a evangelizar acima de tudo a si mesma e, portanto, a oferecer uma vida que tenha sentido, uma mensagem que afirme que o amor vivido pode vencer a morte. Mas a Igreja na sua obra evangelizadora está ciente de que o mundo não é um deserto, um vazio sem bem e sem valores, mas sim um mundo à espera de respostas adequadas, um mundo habitado e moldado a cada dia pelo ser humano que é sempre um filho de Deus, uma criatura feita à imagem e semelhança de Deus, capaz, portanto, do bem, mesmo se às vezes o mal a fira e a torne desumana. Para anunciar o Evangelho, os cristãos devem então ouvir o mundo, conhecê-lo, ler as suas alegrias e os sofrimentos e, acima de tudo, discernir nele os 'pobres', os últimos, as vítimas do poder e daqueles que dispõem da riqueza e não se importam com os outros. Se Jesus declarou que veio para trazer a boa notícia do Evangelho aos pobres, a Igreja não pode fazer o contrário, porque, no seguimento do seu Senhor, é chamada a ser, principalmente, Igreja pobre e de pobres.
"Se alguém esperava do Sínodo palavras de esperança e de bondade para as histórias cotidianas de amor que hoje parecem cansativas, contraditas e nem sempre adequadas ao ideal de fidelidade e de união proposto pelo Evangelho, essas palavras foram ditas e ouvidas: reiterou-se diversas vezes que o amor do Senhor permanece fiel, mesmo quando há situações de infidelidade, porque a Igreja é a casa de todos os batizados, também daqueles que vivem situações de contradição com o Evangelho". (Leia aqui o texto na íntegra do artigo de Enzo Bianchi sobre o Sínodo.)
Os padres sinodais sintetizaram os trabalhos em 58 propostas enviadas ao papa, cujo texto está disponível de forma oficiosa somente em inglês (de fato, o "novo latim" da Igreja Católica).
As propostas atribuem uma importância fundamental à inculturação do Evangelho, que deve se encarnar na cultura de todo povo (n. 5). No anúncio do Evangelho, deve ser sublinhada a necessidade de escuta constante da Palavra de Deus através da lectio divina (n. 11) e a vitalidade dos ensinamentos do Vaticano II (n. 12). A missão cristã é indissociável da promoção dos direitos humanos (n. 15), da liberdade religiosa (n. 16), do desenvolvimento (n. 19), da acolhida dos migrantes (n. 21).
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Sinodo.Adolfo Nicolas sj
Sínodo sobre a nova evangelização, luzes e sombras. Entrevista com Adolfo Nicolás
O padre geral dos jesuítas participou do Sínodo dos Bispos sobre "A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã", que terminou no dia 28 de outubro. Publicamos a entrevista que o padre Adolfo Nicolás concedeu, às margens do evento, à Sala de Imprensa da Cúria Generalícia da Companhia de Jesus.
A entrevista foi reproduzida pela revista Popoli, 29-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Uma análise geral do Sínodo.
Devo confessar que eu tinha alguns temores sobre o Sínodo antes do seu início. Eu me perguntava: moveremo-nos na direção de falar sempre das mesmas coisas ou seremos capazes de seguir em frente com coragem e criatividade?
A realidade do Sínodo foi nas duas direções. Posso indicar: 1) alguns aspectos positivos, inspiradores e encorajadores, e 2) algumas insuficiências que indicam campos em que a Igreja, ou ao menos a consciência dos bispos e dos outros padres sinodais, incluindo eu, ainda tem caminho a percorrer.
Podemos dividir os aspectos positivos em três categorias:
a) Contribuições geográficas. Esse aspecto refere-se à apresentação que nos deu o justo sentido da situação, dos argumentos e, muitas vezes, dos sofrimentos de alguns países, em particular o Oriente Médio, a África ou a Ásia. Um dos melhores aspectos do Sínodo é o próprio fato de que os bispos de tantas nações têm a possibilidade de se comunicar e de trocar livremente as experiências e o pensamento.
b) Iniciativas originais em andamento, especialmente as baseadas nos projetos de cooperação, de trabalho em rede e de intercâmbio em nível internacional, nos quais os leigos e os movimentos estão envolvidos a fundo e comprometidos. E isso não apenas através das intervenções nas sessões plenárias, mas sobretudo nas trocas informais e nos comentários sobre as próprias iniciativas fora das sessões.
c) Reflexões sobre os fundamentos, o significado e as dimensões da Nova Evangelização. Aqui podemos constatar uma grande convergência em alguns pontos, incluindo:
a) A voz do "Povo de Deus" não tem espaço para ser escutada. É um Sínodo de bispos e, portanto, não há muito espaço para a participação dos leigos, mesmo que tenha sido convidado um certo número de "especialistas" e de "observadores" (auditores). Isso me fez pensar na afirmação de Steve Jobs que dizia estar interessado em ouvir mais a voz dos clientes, em vez da dos produtores. E no Sínodo todos éramos "produtores".
b) E assim foi difícil não pensar que essa era uma reunião de "homens da Igreja, que reafirmavam a Igreja", o que é bom em si mesmo, mas que não reflete o que precisamos em tempos de Nova Evangelização. Há o perigo real de produzir sempre a mesma coisa.
c) Falta de reflexão sobre a Primeira Evangelização e, consequentemente, uma escassa consideração para saber se e o que aprendemos com a longa história passada e com os aspectos positivos dela, assim como com os erros que cometemos. Essa omissão poderia ter consequências muito negativas.
d) Pouca consciência e/ou conhecimento da história da evangelização e do papel que nela tiveram os religiosos e as religiosas. Em certos momentos, a vida religiosa foi ignorada ou foi lembrada apenas de passagem. Não que nós, religiosos, precisamos de afirmações adicionais, mas quero expressar a minha preocupação com o fato de que a Igreja corre o risco de perder a sua própria memória.
e) Talvez o ponto mais fraco do Sínodo foi a metodologia que foi seguida, muito semelhante ao modo pelo qual nós também levávamos adiante as nossas Congregações Gerais. Eu espero, no entanto, que a complexa realidade e as necessidades do futuro ajudem a Igreja a reorganizar os seus modos de proceder em vista de maiores frutos apostólicos.
Vocês podem entender que foi um tempo de muita reflexão, de aprendizado e de desafios. O convite a aprofundar a nossa fé, proposto pelo Santo Padre, pode nos ajudar a levar adiante uma dimensão mais profunda da Nova Evangelização. A realidade que nos circunda se tornou muito mais complexa, porque podemos abordá-la individualmente, e o desafio original da nossa missão de servir as almas e a Igreja continua e se desenvolve intensamente.
Espero que os jesuítas enfrentem os novos desafios com a profundidade que provém da nossa apropriação da espiritualidade inaciana e da análise séria do nosso tempo.
Eu rezo para que a reflexão sobre o Ano da Fé nas nossas comunidades e formas de apostolado nos ajude a renovar o nosso espírito e a nossa missão.
Na sua intervenção ao Sínodo, o senhor falou dos "sinais de santidade europeus". O que quis dizer? Não são esses, talvez, sinais cristãos universais?
Naturalmente. Os sinais que descobrimos em um Santo são valores universais e expressam diversas dimensões da vida divina assim como ela se torna visível entre nós. Falamos aqui da caridade, da compaixão, do serviço aos que sofrem, que estão em necessidade, que estão solitários e aflitos. O que eu quis dizer é que nos acostumamos com esses sinais e estamos inclinados a pensar que não há outros. Se esse for o caso, não tornaremos Deus muito limitado, previsível e até mesmo reduzido à capacidade europeia de "ver" sinais familiares da sua presença e ação? Sem dúvida alguma, eu defendo que esses sinais são bons, críveis e sólidos. A minha interrogação refere-se ao que podemos ter perdido não descobrindo outros sinais, por não estarmos surpresos e em admiração pela ação criadora de Deus em "outros", em pessoas de diferentes culturas, tradições e filiação étnica. Pouco antes do Vaticano II, o padre Jean Daniélou escreveu um livro intitulado Santos Pagãos, um livro que era um desafio e uma inspiração, e talvez aqueles santos não eram tão pagãos, no fim das contas.
Pode nos indicar alguns sinais do que o senhor considera como uma santidade "asiática"?
Com prazer. Como dado de fato, antecipando essa pergunta, eu consultei alguns especialistas asiáticos sobre esse tema e posso dizer que a consulta foi muito frutífera. Gostaria de dar alguns exemplos: a piedade filial, que às vezes alcança níveis heroicos, a intensa busca do Absoluto e o grande respeito por aqueles que estão envolvidos nessa busca, a compaixão como estilo de vida, enraizada na consciência da fraqueza e fragilidade humana, o desprendimento e a renúncia, a tolerância, a generosidade, a aceitação dos outros, a magnanimidade, o respeito, a cortesia, a atenção pelas necessidades dos outros etc. Resumindo, podemos dizer talvez que se os nossos olhos estivessem abertos para ver o que Deus faz no povo (nos povos) seríamos capazes de ver muito mais Santidade ao nosso redor, e muitos de nós seriam levados a viver a Vida de Deus de modos novos que talvez seriam mais adequados ao nosso modo de ser ou ao modo pelo qual Deus quer que sejamos.
Por que os missionários ou a própria Igreja não foram capazes de "ver" esses maravilhosos sinais como obra de Deus?
É muito difícil interpretar por que uma coisa não ocorre. Seríamos tentados a introduzir explicações que poderiam ser precisas, mas também teorias que perdem de vista o objetivo específico. Talvez não estejamos confortáveis com um Deus das surpresas, um Deus que não segue necessariamente a lógica humana, um Deus que sempre sabe tirar o melhor do coração humano, sem fazer violência à tradição cultural, à religiosidade do povo simples. Quem pode dizê-lo? Nós, entusiasticamente, afirmamos a liberdade de Deus, mas não lhe deixamos muito espaço para influenciar nas nossas vidas... ou talvez "vimos" esses sinais com respeito e talvez até mesmo com estupor, mas não estávamos certos do seu significado ou não o aprofundamos.
O senhor, portanto, diz que há "Santidade" fora da Igreja. Mas, se há "Santidade", não devemos dizer que também há Salvação?
Naturalmente. Nós sempre soubemos disso. Faz parte da Liberdade de Deus. Deus é livre para fazer o que quiser com as pessoas (homens e mulheres) em cada situação e em cada contexto. Jesus não teve dificuldades para reconhecer em um soldado pagão ou em uma mulher estrangeira a profundidade da fé que não encontrou, ao invés, entre os seus discípulos. Mas eu não tenho uma teoria da salvação e, portanto, posso poupar a próxima pergunta. A minha preocupação mais profunda é descobrir de que modo Deus está trabalhando no ser humano e como este coopera com a ação de Deus. E aqui não posso errar. Com as teorias, ao contrário, sim.
Na sua opinião, o que e de que modo devemos ressaltar a responsabilidade da Igreja para levar paz e harmonia à luz da Nova Evangelização ao nosso mundo cada vez mais violento?
Estou convencido de que qualquer coisa que dizermos vem do mais profundo, do interior de nós mesmos. É o resultado da nossa fé, das nossas relações (incluindo a com Deus), dos nossos afetos e das nossas esperanças. Se o mais profundo estiver em comunhão com o Deus da paz, da justiça e da compaixão, em quem acreditamos, então viveremos, agiremos e falaremos de paz, de justiça e de compaixão. Se o mundo ao nosso redor se torna cada vez mais violento não significa que nós também devemos nos tornar, mas, ao contrário, que o nosso empenho, que vem do coração, pela paz e pelo diálogo se tornará muito mais relevante e será uma proclamação ainda melhor do Evangelho em que acreditamos. Naturalmente, isso assumirá formas diferentes quando pensamos na Igreja e nas muitas atividades e iniciativas que serão promovidas por cristãos comprometidos.
A entrevista foi reproduzida pela revista Popoli, 29-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Uma análise geral do Sínodo.
Devo confessar que eu tinha alguns temores sobre o Sínodo antes do seu início. Eu me perguntava: moveremo-nos na direção de falar sempre das mesmas coisas ou seremos capazes de seguir em frente com coragem e criatividade?
A realidade do Sínodo foi nas duas direções. Posso indicar: 1) alguns aspectos positivos, inspiradores e encorajadores, e 2) algumas insuficiências que indicam campos em que a Igreja, ou ao menos a consciência dos bispos e dos outros padres sinodais, incluindo eu, ainda tem caminho a percorrer.
Podemos dividir os aspectos positivos em três categorias:
a) Contribuições geográficas. Esse aspecto refere-se à apresentação que nos deu o justo sentido da situação, dos argumentos e, muitas vezes, dos sofrimentos de alguns países, em particular o Oriente Médio, a África ou a Ásia. Um dos melhores aspectos do Sínodo é o próprio fato de que os bispos de tantas nações têm a possibilidade de se comunicar e de trocar livremente as experiências e o pensamento.
b) Iniciativas originais em andamento, especialmente as baseadas nos projetos de cooperação, de trabalho em rede e de intercâmbio em nível internacional, nos quais os leigos e os movimentos estão envolvidos a fundo e comprometidos. E isso não apenas através das intervenções nas sessões plenárias, mas sobretudo nas trocas informais e nos comentários sobre as próprias iniciativas fora das sessões.
c) Reflexões sobre os fundamentos, o significado e as dimensões da Nova Evangelização. Aqui podemos constatar uma grande convergência em alguns pontos, incluindo:
- A importância e a necessidade da experiência religiosa (o encontro com Cristo);
- A urgência de uma boa formação espiritual e intelectual dos novos missionários;
- O papel central da família (Igreja doméstica) como lugar privilegiado para o crescimento na fé;
- A importância da paróquia e das suas estruturas que precisam ser renovadas para se tornarem cada vez mais abertas a um compromisso e ministério dos leigos mais amplo;
- A prioridade à evangelização, em vez da expressão sacramental, como afirma São Paulo de si mesmo: "Enviado a evangelizar e não a batizar". E assim por diante.
a) A voz do "Povo de Deus" não tem espaço para ser escutada. É um Sínodo de bispos e, portanto, não há muito espaço para a participação dos leigos, mesmo que tenha sido convidado um certo número de "especialistas" e de "observadores" (auditores). Isso me fez pensar na afirmação de Steve Jobs que dizia estar interessado em ouvir mais a voz dos clientes, em vez da dos produtores. E no Sínodo todos éramos "produtores".
b) E assim foi difícil não pensar que essa era uma reunião de "homens da Igreja, que reafirmavam a Igreja", o que é bom em si mesmo, mas que não reflete o que precisamos em tempos de Nova Evangelização. Há o perigo real de produzir sempre a mesma coisa.
c) Falta de reflexão sobre a Primeira Evangelização e, consequentemente, uma escassa consideração para saber se e o que aprendemos com a longa história passada e com os aspectos positivos dela, assim como com os erros que cometemos. Essa omissão poderia ter consequências muito negativas.
d) Pouca consciência e/ou conhecimento da história da evangelização e do papel que nela tiveram os religiosos e as religiosas. Em certos momentos, a vida religiosa foi ignorada ou foi lembrada apenas de passagem. Não que nós, religiosos, precisamos de afirmações adicionais, mas quero expressar a minha preocupação com o fato de que a Igreja corre o risco de perder a sua própria memória.
e) Talvez o ponto mais fraco do Sínodo foi a metodologia que foi seguida, muito semelhante ao modo pelo qual nós também levávamos adiante as nossas Congregações Gerais. Eu espero, no entanto, que a complexa realidade e as necessidades do futuro ajudem a Igreja a reorganizar os seus modos de proceder em vista de maiores frutos apostólicos.
Vocês podem entender que foi um tempo de muita reflexão, de aprendizado e de desafios. O convite a aprofundar a nossa fé, proposto pelo Santo Padre, pode nos ajudar a levar adiante uma dimensão mais profunda da Nova Evangelização. A realidade que nos circunda se tornou muito mais complexa, porque podemos abordá-la individualmente, e o desafio original da nossa missão de servir as almas e a Igreja continua e se desenvolve intensamente.
Espero que os jesuítas enfrentem os novos desafios com a profundidade que provém da nossa apropriação da espiritualidade inaciana e da análise séria do nosso tempo.
Eu rezo para que a reflexão sobre o Ano da Fé nas nossas comunidades e formas de apostolado nos ajude a renovar o nosso espírito e a nossa missão.
Na sua intervenção ao Sínodo, o senhor falou dos "sinais de santidade europeus". O que quis dizer? Não são esses, talvez, sinais cristãos universais?
Naturalmente. Os sinais que descobrimos em um Santo são valores universais e expressam diversas dimensões da vida divina assim como ela se torna visível entre nós. Falamos aqui da caridade, da compaixão, do serviço aos que sofrem, que estão em necessidade, que estão solitários e aflitos. O que eu quis dizer é que nos acostumamos com esses sinais e estamos inclinados a pensar que não há outros. Se esse for o caso, não tornaremos Deus muito limitado, previsível e até mesmo reduzido à capacidade europeia de "ver" sinais familiares da sua presença e ação? Sem dúvida alguma, eu defendo que esses sinais são bons, críveis e sólidos. A minha interrogação refere-se ao que podemos ter perdido não descobrindo outros sinais, por não estarmos surpresos e em admiração pela ação criadora de Deus em "outros", em pessoas de diferentes culturas, tradições e filiação étnica. Pouco antes do Vaticano II, o padre Jean Daniélou escreveu um livro intitulado Santos Pagãos, um livro que era um desafio e uma inspiração, e talvez aqueles santos não eram tão pagãos, no fim das contas.
Pode nos indicar alguns sinais do que o senhor considera como uma santidade "asiática"?
Com prazer. Como dado de fato, antecipando essa pergunta, eu consultei alguns especialistas asiáticos sobre esse tema e posso dizer que a consulta foi muito frutífera. Gostaria de dar alguns exemplos: a piedade filial, que às vezes alcança níveis heroicos, a intensa busca do Absoluto e o grande respeito por aqueles que estão envolvidos nessa busca, a compaixão como estilo de vida, enraizada na consciência da fraqueza e fragilidade humana, o desprendimento e a renúncia, a tolerância, a generosidade, a aceitação dos outros, a magnanimidade, o respeito, a cortesia, a atenção pelas necessidades dos outros etc. Resumindo, podemos dizer talvez que se os nossos olhos estivessem abertos para ver o que Deus faz no povo (nos povos) seríamos capazes de ver muito mais Santidade ao nosso redor, e muitos de nós seriam levados a viver a Vida de Deus de modos novos que talvez seriam mais adequados ao nosso modo de ser ou ao modo pelo qual Deus quer que sejamos.
Por que os missionários ou a própria Igreja não foram capazes de "ver" esses maravilhosos sinais como obra de Deus?
É muito difícil interpretar por que uma coisa não ocorre. Seríamos tentados a introduzir explicações que poderiam ser precisas, mas também teorias que perdem de vista o objetivo específico. Talvez não estejamos confortáveis com um Deus das surpresas, um Deus que não segue necessariamente a lógica humana, um Deus que sempre sabe tirar o melhor do coração humano, sem fazer violência à tradição cultural, à religiosidade do povo simples. Quem pode dizê-lo? Nós, entusiasticamente, afirmamos a liberdade de Deus, mas não lhe deixamos muito espaço para influenciar nas nossas vidas... ou talvez "vimos" esses sinais com respeito e talvez até mesmo com estupor, mas não estávamos certos do seu significado ou não o aprofundamos.
O senhor, portanto, diz que há "Santidade" fora da Igreja. Mas, se há "Santidade", não devemos dizer que também há Salvação?
Naturalmente. Nós sempre soubemos disso. Faz parte da Liberdade de Deus. Deus é livre para fazer o que quiser com as pessoas (homens e mulheres) em cada situação e em cada contexto. Jesus não teve dificuldades para reconhecer em um soldado pagão ou em uma mulher estrangeira a profundidade da fé que não encontrou, ao invés, entre os seus discípulos. Mas eu não tenho uma teoria da salvação e, portanto, posso poupar a próxima pergunta. A minha preocupação mais profunda é descobrir de que modo Deus está trabalhando no ser humano e como este coopera com a ação de Deus. E aqui não posso errar. Com as teorias, ao contrário, sim.
Na sua opinião, o que e de que modo devemos ressaltar a responsabilidade da Igreja para levar paz e harmonia à luz da Nova Evangelização ao nosso mundo cada vez mais violento?
Estou convencido de que qualquer coisa que dizermos vem do mais profundo, do interior de nós mesmos. É o resultado da nossa fé, das nossas relações (incluindo a com Deus), dos nossos afetos e das nossas esperanças. Se o mais profundo estiver em comunhão com o Deus da paz, da justiça e da compaixão, em quem acreditamos, então viveremos, agiremos e falaremos de paz, de justiça e de compaixão. Se o mundo ao nosso redor se torna cada vez mais violento não significa que nós também devemos nos tornar, mas, ao contrário, que o nosso empenho, que vem do coração, pela paz e pelo diálogo se tornará muito mais relevante e será uma proclamação ainda melhor do Evangelho em que acreditamos. Naturalmente, isso assumirá formas diferentes quando pensamos na Igreja e nas muitas atividades e iniciativas que serão promovidas por cristãos comprometidos.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
L.Boff. Un Sínodo do Povo de Deus
"La
Iglesia tiene que ser el icono de la Santísima Trinidad en la cual las Personas
divinas son diversas pero unidas en el amor y en la mutua entrega.
Entre ellas no hay ninguna que sea superior o inferior a la otra. Todas son iguales en eternidad, en infinidad y en el amor. Lo que es verdad en la doctrina de la Trinidad no puede ser un error en la doctrina de la Iglesia. En esa hay los que se entienden superiores a los demás. Y se reúnen solo entre ellos como ahora en el Sínodo de los Obispos. Ellos se entienden como representantes del Padre pero se olvidan del Hijo y del Espíritu. Por eso tenemos que ayudar a la Jerarquía a superar su patología y encontrar su lugar en el seno del Pueblo de Dios. Entonces, al revés da haber un Sínodo de Obispos habría y habrá un día el Sínodo del Pueblo de Dios."
Entre ellas no hay ninguna que sea superior o inferior a la otra. Todas son iguales en eternidad, en infinidad y en el amor. Lo que es verdad en la doctrina de la Trinidad no puede ser un error en la doctrina de la Iglesia. En esa hay los que se entienden superiores a los demás. Y se reúnen solo entre ellos como ahora en el Sínodo de los Obispos. Ellos se entienden como representantes del Padre pero se olvidan del Hijo y del Espíritu. Por eso tenemos que ayudar a la Jerarquía a superar su patología y encontrar su lugar en el seno del Pueblo de Dios. Entonces, al revés da haber un Sínodo de Obispos habría y habrá un día el Sínodo del Pueblo de Dios."
La no comunion. Eduardo Galeano
Al
toque de diana, se levantaron todos.
Nadie
había pegado los ojos en aquel inmenso barracón. Los presos habían estado de
plantón hasta la madrugada, después de una jornada de palizas y amenazas de
fusilamiento, y corrían rumores de exterminio.
Un
preso recién llegado de Montevideo, que todavía no había perdido la cuenta del
almanaque, informó:
--Hoy
es domingo de Pascua.
Los
cristianos se pasaron la voz. Había que celebrar. Estaba prohibido juntarse, no
se permitía ninguna clase de reunión, fuese para lo que fuese, y en carne
propia los presos habían aprendido que la prohibición no era ningún chiste.
Pero había que hacerlo.
Los
demás presos, los que no eran cristianos, ayudaron. Algunos, sentados en las
cuchetas, vigilaban las puertas de rejas. Otros formaron un anillo de gente que
iba y venía, caminando como al descuido, alrededor de los celebrantes. Y al
centro, ocurrió la ceremonia.
Miguel
Brun susurró algunas palabras. Evocó la resurrección de Jesús, que anunciaba la
redención de todos los cautivos. Jesús había sido perseguido, encarcelado,
atormentado y asesinado, pero un domingo como éste había hecho crujir los
muros, y los había volteado, para que toda prisión tuviera libertad y toda
soledad tuviera encuentro.
En
el barracón, no había nada. Ni pan, ni vino, ni vasos siquiera. Fue la comunión
de las manos vacías. Miguel ofreció al que se había ofrecido:
--Comamos
-susurró-. Este es su cuerpo.
Y
los cristianos se llevaron la mano a la boca, y comieron el pan invisible.
--Bebamos.
Esta es su sangre.
Y
alzaron la ninguna copa, y bebieron el vino invisible. Después, se abrazaron.
Eduardo
Galeano
Congreso Continental de Teolog.Sao Leopoldo
Alder Júlio Ferreira
Calado
Sociólogo e educador
popular Diácono
Adital
O Congreso
Continental de Teología foi encerrado quinta-feira, dia 11/10/2012, em São
Leopoldo – RS. Após toda uma densa sementeira de reflexões e relatos de
experiências de uma teologia testemunhal, assim se fez nesses cinco dias de sua
realização, num ambiente de confraternização entre centenas de pessoas (em torno
de 750 participantes!), vindas de diferentes regiões da América Latina e do
Caribe, outras da América do Norte e distintos países de outros continentes.
Gente envolvendo-se em vários espaços - conferências, painéis, oficinas,
comunicações científicas, celebrações, numa bem articulada tessitura de
exercícios de memória e de ousadia prospectiva, que se quer alimentadas pelo
esforço da práxis do cotidiano à luz da fé que brota da força do
Espírito.
Nesse sentido, as
próprias celebrações, aí vividas como fonte de inspiração – inclusive a
celebração de encerramento! – ajudam a confirmar tal percepção, até (como é o
caso) para quem só pôde acompanhar "de longe” esse acontecimento de reconhecida
referência, na caminhada da Teologia da Libertação e das comunidades cristãs de
base.
Não tendo dele
participado fisicamente, empenhei-me vivamente em acompanhá-lo como pude: pela
internet, assistindo a um número considerável de conferências e intervenções (de
Agenor Brighenti, de Geraldina Céspedes, de Jon Sobrino, de Pedro Ribeiro de
Oliveira, de Jung Mo Sung, de Victor Codina, de João Batista Libanio, de Maria
Clara Bingemer, de Francisco Witaker, de Socorro Martinez e de José Sanchez y
Sanchez, de Leonardo Boff, de Frei Betto, de Gustavo Gutiérrez, de Andrés Torres
Queiruga, de Peter Phen, de Luiz Carlos Susin, de Eleazar López Hernández
(texto), de Sebastião Armando, de Marilú Rojas e Carlos Mendoza Álvarez, da
jovem teóloga salvadorenha Mercedes Amador (cf. áudio: http://www.ivoox.com/mercedesamador-audios-mp3_rf_1488788_1.html),
além do belo relato feito pela teóloga Socorro Martinez e pelo teólogo José
Sánchez y Sánchez, das Jornadas Teológicas preparatórias do Congresso, assim
como das saudações iniciais (Dom Demétrio Valentini, das palavras de boas-vindas
dadas aos presentes, inclusive diversos bispos (católicos, anglicanos) que lá
estiveram, inclusive o nosso querido Dom José Maria Pires (testemunha
emblemática dessa caminhada, antes, durante e depois do Concílio Vaticano II, e
de figuras históricas como o Pe. José Marins, presente; Sérgio Torres, lembrado
também na fala de seu amigo fraterno Gustavo Gutiérrez), de algumas celebrações,
da síntese lida em grupo, ao final do Congresso. Estou consciente de quantas
coisas me escaparam: as oficinas, as comunicações, as conversas calorosas nos
corredores daquele ambiente...
Trato, aqui, de
destacar alguns pontos que mais me impactaram, bem como alguns desafios, sem
deixar de levantar, de passagem, um ou outro questionamento, fazendo-o com o
propósito de seguir dialogando para além desse marcante acontecimento, afinal
esse Congresso não se quer um "evento”, mas antes um momento de um processo,
como lembrava, a justo título, a teóloga Geraldina
Céspedes.
Num congresso com
características tão complexas e vastas – geográficas (com traços de distintas
regiões da América Latina e do Caribe, além de representações da América do
Norte, da Europa, da Ásia...); culturais, de gênero, de etnia, geracionais, de
intensa diversidade temática, trabalhada por diferentes teólogos e teólogas
palestrantes (quase todos católicos...), participantes de paineis, oficinas, com
participantes dos mais distintos segmentos da Igreja Católica e de outras
Igrejas Cristãs, etc. -, resulta difícil – mesmo a quem "de dentro” tenha
participado - pretender-se uma síntese que dê conta satisfatoriamente da imensa
diversidade de fios aí tecidos. Não tendo participado fisicamente dessa
experiência, o que mal está ao meu alcance propor, é um breve registro de alguns
pontos que mais me impactaram, a partir dos quais destacar alguns
questionamentos ou provocações fraternas.
1. Das intervenções
de abertura
Num contexto
intraeclesial de notórias adversidades enfrentadas pela "Igreja na Base” –
convindo assinalar que, a certa altura, graças a pressões em contrário, até
dúvida se teve da realização do Congresso (lembrar carta-alerta do Pe. José
Marins) -, resulta confortadora a presença, não apenas de Dom Demétrio
Valentini, como de diversos bispos, cuja presença seria assinalada, não só por
Dom Demétrio, como em outras falas, inclusive na de Leonardo Boff. Daí a
importância das palavras iniciais de saudação de Dom Demétrio, expressando
solidariedade ao Congresso e fazendo memória do Concílio Vaticano II, a começar
pela sua figura mais lembrada, o Papa João XXIII.
Há de se destacar,
ainda por ocasião da abertura, a palavra encorajadora do Reitor da UNISINOS,
anfitriã do Congresso. Foi muito feliz ao definir aquele Congresso como uma
"experiência de discernimento eclesial”, a suscitar, à luz do profetismo, o
exercício da hermenêutica tanto do Concílio Vaticano II quanto das narrativas de
inúmeras experiências eclesiais protagonizadas por distintos sujeitos, dentre os
quais as mulheres.
Coube ao teólogo
Agenor Brighenti explicitar as grandes linhas e os objetivos do Congreso
Continental de Teología. Num breve exercício retrospectivo dessa caminhada
eclesial desde o Concílio Vaticano II, passando pela sua recepção na América
Latina, chamou a atenção para o legado dos nossos padres da América Latina
(Manuel Larraín, Leonidas Proaño, Helder Câmara, Sergio Arceo, Samuel Ruiz,
dentre outros), bem como o de nossos teólogos da Libertação tanto os da primeira
geração (G. Gutiérrez, H. Assmann, Juan Luiz Segundo, J. Comblin, Carlos
Mesters, Leonardo Boff, Ronaldo Muñóz, Milton Schwantes, entre outros) quanto os
das gerações seguintes. Ressaltou a expectativa de, a partir do exercício da
memória profética e martirial, na América Latina e Caribe, também a de um
esforço prospectivo em face dos desafios cruciais hoje enfrentados. A propósito
de José Comblin, especificamente, lhe foi dedicado um momento de homenagem
especial, por parte de Pablo Richard, Eduardo Hoornaert e Luiz Carlos
Susin.
2. Retalhos das
conferências e intervenções acompanhadas: três destaques
2.1. Ideias-força
recolhidas das conferências e intervenções - Do dia 7 ao dia
11, foram pronunciadas dezenas de exposições, entre conferências, painéis,
oficinas, comunicações. Não me sendo possível fazer um passeio, ainda que
rápido, sobre tantas exposições, trato de, primeiro, sublinhar algumas
ideias-força que recolho em distintas intervenções; em seguida, elejo três casos
que considero mais ilustrativos das inquietações mais fortes que me têm
alimentado – estou certo, de tantas e tantos mais.
- A recepção
criativa do Concílio Vaticano II, na América Latina - Eis, com efeito,
uma ideia-força bem presente em várias conferências e paineis (Sobrino, Codina,
Gutiérrez, para mencionar apenas esses nomes). Não se tratou de uma implantação
ou de uma implementação do legado do Vaticano II na América Latina. Cuidou-se,
antes - isto sim – de se receber a herança do Concílio com notável
inventividade. Nesse ponto (também aqui), a reconhecida fecundidade do método
Ver-Julgar-Agir cumpriu um papel decisivo. Urgia partir do contexto concreto dos
povos da América Latina e do Caribe, de suas respectivas culturas, de seus
desafios, de seus dramas, de suas esperanças, de suas alegrias. Aí ressoava
criativamente o apelo de João XXIII e do Concílio ao
"aggiornamento”.
De modo semelhante,
deu-se em outros aspectos, como, por exemplo, na renovação litúrgica, no apelo
de refontização, de volta às fontes. Aqui foi enfatizado por vários
conferencistas, a justo título, a relevante contribuição de Carlos Mesters junto
às CEBs, nos abençoados Círculos Bíblicos, para o que foi decisiva a
reapropriação pelo Povo de Deus, no caso pelo povo dos pobres latino-americanos,
da Palavra de Deus, que, durante séculos, havia sido indevidamente privatizada
pela hierarquia. Em sua intervenção, Frei Betto falou de uma "eclesiofagia” que
se teria operado, na América Latina e no Caribe, do legado do Concílio Vaticano
II... Inclusive no modo como os pobres passaram a vivenciar uma intimidade mais
forte com a Sagrada Escritura, dela exercitando uma releitura, a partir dos
desafios do seu contexto.
- A centralidade
nos pobres da mensagem evangélica – Eis um ponto
sublinhado em quase todas as falas relativas às características fundamentais da
Teologia da Libertação (de Gutiérrez a Geraldina Céspedes, passando por Sobrino,
Codina, Boff, Jung Mo Sung, Queiruga, Libanio e outros e outras). Sobretudo a
partir da Conferência de Medellín (1968), o Povo de Deus na América Latina e no
Caribe, animado pelos seus pastores e profetas, passa a protagonizar uma
história nova, inspirada no que estava anunciado, inclusive, no n. 8 da Lumen
Gentium, do que resultou uma mudança considerável, inspirada no que passou a
chamar-se "opção pelos pobres”. Também aqui restará forte a contribuição da
Teologia da Libertação, desde a formulação de teólogos da primeira geração (José
Comblin, Rubem Alves, Gustavo Gutiérrez, Hugo Assmann, Juan Luis Segundo,
Ronaldo Muñóz...). Caberia à geração sucessora, a partir das balizas oferecidas
pela geração precedente, potencializar a contribuição de caráter mais
diretamente metodológico, à luz do método Ver-Julgar-Agir, do que resultarão
melhor trabalhadas as chamadas mediações, não sem uma forte incursão por
categorias mais próximas do Marxismo ou em franco diálogo com as ciências
sociais, sempre partindo da situação social, econômica, política e cultural da
América Latina e do Caribe (mediação sócio-analítica, nos termos da formulação
de Clodovis Boff), à luz da Palavra de Deus cujo Espírito continua a soprar na
história e nos sinais dos tempos (mediação hermenêutica), e inspirando e
suscitando novas práticas, seja no âmbito social, seja no âmbito pastoral
(mediação práxica). Graças a esse exercício articulado dessas mediações, vai-se
observar, na América Latina, uma crescente efervescência dos movimentos e das
pastorais sociais, ancorados no que se passou a chamar de "Igreja na Base” ou,
na expressão de João XXIII, "Igreja dos Pobres”, de modo a protagonizar
processos significativos de organização, de mobilização e de formação de
distintos sujeitos coletivos, a exercerem uma crescente influência em sociedades
latino-americanas, nomeadamente no Brasil e na América
Central.
- O extraordinário
impacto do novo modo de se ler a Bíblia - Não se dá por
acaso a frequente remissão dos distintos grupos de participantes do Congresso
(dos conferencistas aos painelistas, passando pelas celebrações) à força da
Palavra de Deus, ao lugar privilegiado da Bíblia, não apenas para teólogos e
teólogas. Tampouco se deu por acaso a frequência com que era citada uma figura
emblemática, na animação desse processo: Carlos Mesters, trabalho especialmente
potencializado pelo amplo apoio de órgãos como a CLAR (Conferência
Latino-Americana dos Religiosos e Religiosas), o DEI (Departamento Ecuménico de
Investigaciones, de San José da Costa Rica, do CEBI (Centro de Estudos
Bíblicos), de Servicios Koinonía, para mencionar apenas
esses.
É, com efeito,
bastante amplo e reiterado o reconhecimento da força transformadora da Sagrada
Escritura, trabalhada sob a ótica dos pobres: das CEBs, das religiosas inseridas
no meio popular, das pastorais e movimentos e serviços eclesiais (CIMI, CPT,
CPO, PJMP, Comissão de Justiça e Paz, CDDHs, MER, ACR, entre outros). A esse
respeito, colecionam-se belas histórias, inclusive, no combate à Ditadura
Militar, por parte dessas comunidades, tantas vezes interrogadas pela polícia da
Ditadura para apontar "quem era o cabeça desse movimento”, obtendo como
resposta: "O Evangelho!” ou algo similar, como, ainda há pouco, num Seminário
Teológico, em João Pessoa, recordava Dom José Maria Pires.
- Não se trata
apenas de uma teologia da libertação, mas de uma Igreja da
Libertação - Eis um outro
enfoque recorrente em distintas falas. Como amplamente lembrado por tantos
teólogos e teólogas da Libertação, a produção teológica é "ato segundo”, o mais
importante é priorizar o processo de libertação (dos pobres, com os pobres,
pelos pobres) – ato primeiro. Para isto deve servir a produção teológica. E isto
não se dá sem consequências. Uma delas é a necessária implicação de quem faz
esse tipo de teologia, em assumir as lutas dos pobres pela sua libertação. Aí
subjaz o compromisso de sua prática política, não apenas de uma compreensão
intelectual. Mas, aqui há de se reconhecer que os avanços foram bem aquém, à
exceção de algumas experiências mais densas como, por exemplo, a que se
vivenciou em Crateús – CE, com a animação de Dom Fragoso e toda uma equipe de
agentes pastorais (leigas, leigos, religiosas, religiososo e ministros
ordenados).
- A diversificação
temática da Teologia da Libertação– Os pobres seguem
sendo os grandes protagonistas da TdL. Sucede que os perfis dos pobres têm
passado por uma crescente diversificação, para bem além do espectro estritamente
econômico. Até mesmo esta dimensão se acha densamente implicada nas demais
esferas da realidade (política, cultural, ecológica, religiosa, ideológica...).
A exemplo do que já havia feito o Documento de Puebla (nn. 31-39), onde se estão
bem descritos os diversos rostos dos pobres latino-americanos e caribenhos,
naquele contexto histórico, a TdL também passou a reconhecer novas expressões de
pobres: as mulheres, os povos indígenas, as comunidades quilombolas, os
migrantes, os povos de rua, o movimento em defesa da dignidade da Terra como
sujeito de direitos, a necessidade de se lutar pelos pobres como expressão de
transculturalidade religiosa, as relações homoafetivas, entre outros desafios.
Um exemplo ilustrativo, nesse terreno, tem sido a vasta produção do teólogo
Leonardo Boff, entre outros, no campo da Ecoteologia, tal como a teólogo Ivone
Gebara tem pontificado na área da Teologia Ecofeminista.
2.2. Três recortes
ilustrativos das falas do Congreso Continental de Teología - Reconhecendo, desde
logo, o grau de arbitrariedade da escolha desses recortes, cuido de destacar
três figuras que reputo representativas de três dentre os que estimo grandes
aportes do Congreso: um primeiro caso, que situo na continuidade mais fiel do
legado da primeira geração de teólogos da Libertação: Victor Codina; uma outra
figura representativa da mais nova geração da Teologia da Libertação: a teóloga
Geraldina Céspedes; e uma terceira figura a acenar mais diretamente para o plano
do ecumenismo: o teólogo Sebastião Armando, da Igreja Anglicana. Isto, para
dizer o mínimo, pois outras figuras deveriam ser igualmente contempladas, como,
por exemplo, a fala (tive acesso apenas em áudio, que escutei três vezes) da
jovem teóloga salvadorenha Mercedes Amador e o texto do teólogo mexicano Eleazar
López Hernández, refletindo sobre o denso aporte da teologia
índia.
Geraldina Céspedes
-
Ainda na primeira noite, após a abertura do Congresso, foi anunciada a
conferência da teóloga Geraldina Céspedes, religiosa dominicana, nascida na
República Dominica e atualmente missionando na Guatemala. Uma jovem teóloga da
terceira geração da TdL. Eis os pontos de sua fala que mais me
tocaram:
-grato
reconhecimento do legado dos teólogos da primeira geração, fazendo-o com
humildade, gratidão, alegria e, ao mesmo tempo, com liberdade e autonomia,
dizendo-se disposta também a ensaiar uma "mirada para el futuro”;
- ensaia seu olhar para o futuro, a partir dos "de baixo”, em meio a quem vive, como missionária dominicana, num bairro pobre da Guatemala: "aonde ninguém quer ir”, dada a situação de militarização e de violência aí presente; mas é também aí que a gente encontra uma gente alegre, bem-humorada, solidária;
- em nossa experiência, podemos encontrar dois tipos de espiritualidade: uma que reforça os valores do Mercado e outra que resiste aos mesmos;
- é preciso que tomemos o exemplo da criatividade das mulheres tecelãs, seu jeito de trabalhar distintos fios de suas histórias e de sua beleza, tecendo-os para transformá-los em algo distinto;
- a religião de mercado constitui um desfio para a nossa espiritualidade libertadora, à medida que o Mercado tudo transforma em mercadoria: o todo cambia en mercancia;
- A diversidade constitui outro fio a tecer. em nossa vivência: se somos uma aldeia global, também somos uma plural;
- A TdL deve ser instância crítica, no sentido libertador, de modo a favorecer o diálogo da diversidade, da autocrítica, o que nos deve levar à revisão, à autocrítica, pois também introjetamos valores colonialistas;
- o fazer teologia requer a capacidade de transgredir/transcender (termos que têm etimologia similar), de se desprogramar, de se desdomesticar, com liberdade: "salir de esta domesticación en la que muchas veces se convierten nuestras teologías”;
- para tanto, importa que empreendamos uma "desprogramação”, uma transgressão, que tem a mesma raiz de transcendência, no sentido de sermos capazes de ousar coisas novas, não seguir só o que está dado;
- empenhar-nos, com liberdade, por uma teologia e por uma pastoral que nos libertem, sem o que podemos transformar-nos naqueles passarinhos enjaulados, e a Bíblia nos dá muito embasamento nessa direção, a partir da pedagogia do samaritano;
- Geraldina propõe um fazer teológico que se inspire em três valores fundamentais: a ludicidade, a criatividade e a liberdade;
- fazer teologia com ludicidade, com gratuidade: diferentemente do espírito do Mercado, em que tudo se vende;
- fazer teologia como uma prática gozosa, na perspectiva da busca da felicidade, do bom viver entre as pessoas e com o Cosmo. Não raro, nós, teólogos e teólogas, com nosso discurso formal, ao modo de um falar "ex cathedra”, somos pessoas muito sisudas. Exercitar a ludicidade no fazer teológico pode ajudar-nos a combater nossas intolerâncias, a pretensão "à” verdade; essa mesma chave da ludicidade do fazer teológico ajuda-nos a exercer o nosso ofício com humildade, com simplicidade, com mais consciência da provisoriedade, de que nos dão exemplo as crianças quando brincam;
- propõe, como síntese, quanto à diversidade dos novos sujeitos, capazes de tecer uma história nova, três questões para dialogar, em busca de um fazer teológico mais significativo: levar em conta a biografia dos sujeitos, os corpos dos sujeitos; o tema do poder dos sujeitos;
- isto vai implicar um diálogo intergeracional, um diálogo intercultural, um diálogo de gênero, um diálogo ecológico, de modo a perceber-nos como um fio da trama da vida;
- outro fio destacado foi o da comunicação simbolizada sobremaneira pelas novas mídias alternativas, que emerge como um novo areópago, em nossos dias;
- reitera sua expectativa de que este Congresso seja, não um evento, mas um momento forte de um processo de uma caminhada pastoral e teológica capaz de responder aos novos desafios, por meio do nosso empenho em "vincular-nos”, em fazer comunidade, em não nos isolarmos nem fugirmos dos desafios, mas tornando nossa a escolha de Maria ao visitar Isabel: vinculou-se!
- ensaia seu olhar para o futuro, a partir dos "de baixo”, em meio a quem vive, como missionária dominicana, num bairro pobre da Guatemala: "aonde ninguém quer ir”, dada a situação de militarização e de violência aí presente; mas é também aí que a gente encontra uma gente alegre, bem-humorada, solidária;
- em nossa experiência, podemos encontrar dois tipos de espiritualidade: uma que reforça os valores do Mercado e outra que resiste aos mesmos;
- é preciso que tomemos o exemplo da criatividade das mulheres tecelãs, seu jeito de trabalhar distintos fios de suas histórias e de sua beleza, tecendo-os para transformá-los em algo distinto;
- a religião de mercado constitui um desfio para a nossa espiritualidade libertadora, à medida que o Mercado tudo transforma em mercadoria: o todo cambia en mercancia;
- A diversidade constitui outro fio a tecer. em nossa vivência: se somos uma aldeia global, também somos uma plural;
- A TdL deve ser instância crítica, no sentido libertador, de modo a favorecer o diálogo da diversidade, da autocrítica, o que nos deve levar à revisão, à autocrítica, pois também introjetamos valores colonialistas;
- o fazer teologia requer a capacidade de transgredir/transcender (termos que têm etimologia similar), de se desprogramar, de se desdomesticar, com liberdade: "salir de esta domesticación en la que muchas veces se convierten nuestras teologías”;
- para tanto, importa que empreendamos uma "desprogramação”, uma transgressão, que tem a mesma raiz de transcendência, no sentido de sermos capazes de ousar coisas novas, não seguir só o que está dado;
- empenhar-nos, com liberdade, por uma teologia e por uma pastoral que nos libertem, sem o que podemos transformar-nos naqueles passarinhos enjaulados, e a Bíblia nos dá muito embasamento nessa direção, a partir da pedagogia do samaritano;
- Geraldina propõe um fazer teológico que se inspire em três valores fundamentais: a ludicidade, a criatividade e a liberdade;
- fazer teologia com ludicidade, com gratuidade: diferentemente do espírito do Mercado, em que tudo se vende;
- fazer teologia como uma prática gozosa, na perspectiva da busca da felicidade, do bom viver entre as pessoas e com o Cosmo. Não raro, nós, teólogos e teólogas, com nosso discurso formal, ao modo de um falar "ex cathedra”, somos pessoas muito sisudas. Exercitar a ludicidade no fazer teológico pode ajudar-nos a combater nossas intolerâncias, a pretensão "à” verdade; essa mesma chave da ludicidade do fazer teológico ajuda-nos a exercer o nosso ofício com humildade, com simplicidade, com mais consciência da provisoriedade, de que nos dão exemplo as crianças quando brincam;
- propõe, como síntese, quanto à diversidade dos novos sujeitos, capazes de tecer uma história nova, três questões para dialogar, em busca de um fazer teológico mais significativo: levar em conta a biografia dos sujeitos, os corpos dos sujeitos; o tema do poder dos sujeitos;
- isto vai implicar um diálogo intergeracional, um diálogo intercultural, um diálogo de gênero, um diálogo ecológico, de modo a perceber-nos como um fio da trama da vida;
- outro fio destacado foi o da comunicação simbolizada sobremaneira pelas novas mídias alternativas, que emerge como um novo areópago, em nossos dias;
- reitera sua expectativa de que este Congresso seja, não um evento, mas um momento forte de um processo de uma caminhada pastoral e teológica capaz de responder aos novos desafios, por meio do nosso empenho em "vincular-nos”, em fazer comunidade, em não nos isolarmos nem fugirmos dos desafios, mas tornando nossa a escolha de Maria ao visitar Isabel: vinculou-se!
Víctor Codina
–
Partindo do tema que lhe foi proposto, o de refletir a caminhada da Igreja
latino-americano, nesses cinquenta anos pós-Vaticano II, de modo a destacar,
sobretudo as pendências, tratou Codina de ser reconhecidamente didático, claro,
crítico, propositivo. Situou as condições históricas sócio-eclesiais que
desembocaram no Concílio Vaticano II, aí tendo destacado a singularidade do Papa
João XXIII, bem como vários textos do Concílio Vaticano
II.
Partindo
didaticamente da definição do conceito de "recepção”, passa, então, a sublinhar
a forma criativa como o legado do Concílio Vaticano II recebido, na Igreja
latino-americana, nas comunidades cristãs de base. Diferentemente do que se ouve
dizer sobre uma pretensa "implementação” do Concílio Vaticano II na América
Latina, o que, de fato, se deu foi uma recepção crítica, contextualizada e
criativa do legado do Vaticano II.
É sob tal impulso
que se dará a Conferência de Medellín, em 1968, quando se celebra o compromisso
com a causa dos pobres, a "opção pelos pobres”, que muito deve ao método
Ver-Julgar-Agir, inspirador da Ação Católica especializada. Nesse denso esforço
de recepção criativa do legado do Concílio, as igrejas locais cumpriram
importante papel, ao exercitarem sua condição de sujeitos dispostos ao diálogo,
com autonomia e com abertura, sempre a partir do aprofundamento de seu contexto
histórico concreto: o de um continente marcado pela pobreza, pela miséria, pela
marginalização de enormes parcelas do seu povo. O grande diferencial que aí se
deu, tem a ver com um cenário de martírio que aí se agudizaria, para o que muito
contribuiu o aprofundamento da Sagrada Escritura, quando dela se apropria o povo
dos pobres, fazendo uma leitura orante, contextualizada e comprometida da
Sagrada Escritura. Altamente relevante a perspectiva da qual se parte, desde
então, para se fazer Teologia da Libertação. Leitura orante, criticamente atenta
aos sinais dos tempos, solícita aos apelos do Espírito, aberta às demandas e
aspirações dos novos sujeitos emergentes.
Codina foi dos mais
enfáticos, ao chamar a atenção para a relevância e oportunidade de se trabalhar
melhor uma Pneumatologia, dando assim seguimento ao enorme esforço de alguns
teólogos, inclusive José Comblin, nessa direção.
Perguntado sobre a
eventual oportunidade da convocação de um novo concílio, sinalizou, antes, para
sua preferência, antes, por um Jerusalém II, com a participação do conjunto das
igrejas cristãs.
Em breve, Codina
mostrou-se bastante convincente em sua análise, sempre a fazê-lo com notável
discernimento e, sobretudo, trazendo questionamentos heurísticos como desafios e
tarefas ao alcance da Teologia da Libertação, nas próximas décadas, sobretudo
por meio da nova geração de teólogos e teólogas.
Sebastião Armando
Soares - De sua fala
prefiro recolher em pequenos tópicos, como parecia dar a entender, em sua
concisa e densa intervenção.
- Comunhão de
igrejas locais, com autonomia e abertas à unidade com as demais igrejas
espelhadas pelo mundo, inclusive a que goza de uma posição de fraterna de;
- Respeito ao "sensus fidelium” como princípio de toda elaboração doutrinal da Comunhão Anglicana. Isto implica incessante empenho na construção do consenso em meio a situações de conflitos;
- a inclusividade: atitude de acolhimento das pessoas em suas situações específicas concretas, em sua vasta diversidade;
- tentativa de combinar episcopado e o conjunto dos fiéis nas tomadas de decisão;
- exercício do espírito sinodal (bispos, clero, leigos e leigas);
- autonomia das igrejas locais e interdependência em relação à Igreja Mundial;
- Inculturação;
- Cinco marcas de eclesialidade:
* o anúncio do Evangelho como fonte de conversão;
* A "koinonía” – convivência, comunidade fundada na convivência;
* formação para a convivência;
* formação pelos sacramentos;
* formação para uma Igreja que sirva para três coisas:
+ servir aos mais necessitados;
+ servir para ajudar a transformar as estruturas injustas;
+ servir para cuidar dos bens da criação, o que implica o cuidado da Terra como sujeito de dignidade e de direitos.
- Respeito ao "sensus fidelium” como princípio de toda elaboração doutrinal da Comunhão Anglicana. Isto implica incessante empenho na construção do consenso em meio a situações de conflitos;
- a inclusividade: atitude de acolhimento das pessoas em suas situações específicas concretas, em sua vasta diversidade;
- tentativa de combinar episcopado e o conjunto dos fiéis nas tomadas de decisão;
- exercício do espírito sinodal (bispos, clero, leigos e leigas);
- autonomia das igrejas locais e interdependência em relação à Igreja Mundial;
- Inculturação;
- Cinco marcas de eclesialidade:
* o anúncio do Evangelho como fonte de conversão;
* A "koinonía” – convivência, comunidade fundada na convivência;
* formação para a convivência;
* formação pelos sacramentos;
* formação para uma Igreja que sirva para três coisas:
+ servir aos mais necessitados;
+ servir para ajudar a transformar as estruturas injustas;
+ servir para cuidar dos bens da criação, o que implica o cuidado da Terra como sujeito de dignidade e de direitos.
3. Pontos das
conferências que recolho com mais entusiasmo e esperança
- A recepção
criativa do Concílio Vaticano II na América Latina e no Caribe – Chama a atenção
a força criativa com que foi acolhida a mensagem do Vaticano II, em nosso
continente. Aqui se preferiu investir bem mais no espírito do Vaticano II
(refontização, Povo de Deus, "aggiornamento”, ecumenismo, diálogo
inter-religioso, colegialidade, justiça social, direitos humanos...) do que
restringir-se à letra. É dessa releitura do apreço do Concílio justiça e pela
paz, por ex., em Gaudium et Spes , ou a partir do n. 8 de Lumen Gentium, que se
vai, na América Latina, desembocar na opção pelos pobres (sobretudo em Medellín
e Puebla). O apelo à refontização, por sua vez, vai dar ensejo a toda uma
belíssima caminhada de aprofundamento da familiaridade com a Sagrada Escritura,
especialmente por meio da leitura orante da Bíblia, tão apreciada e tão
vivenciada nos círculos bíblicos. Não foram à toa as frequentes referências a
Carlos Mesters, nesse sentido. Em breve, um exemplo bastante ilustrativo dessa
recepção criativa pode-se observar na própria Mensagem final do Congresso
Continental de Teología, ao referir-se ao bom Papa João, em sua conhecida
expressão de Igreja como "mãe e mestra”, os e as participantes lembram que a
comunidade eclesial caminha nesse rumo, medida que, primeiro, vá se tornando
"filha e discípula” do Seguimento de Jesus.
- A força da
memória histórica do legado dos teólogos da primeira geração – E aqui, me vinha
à lembrança, em conversas com Comblin, do enorme esforço que representou – para
ele e para os demais colegas teólogos – dar conta da enciclopédica coletânea
"Teologia e Libertação”, que visava a desenvolver os diferentes temas refletidos
pela Teologia da Libertação. Projeto que, como lembrava Codina, implicava
dezenas de obras (em torno de cinquenta), contando com uns quarenta teólogos,
atuando em dupla, em grande parte. Dessa coletânea, apoiada por dezenas de
bispos latino-americanos, José Comblin contribuiu com umas três, na área da
Pneumatologia, no campo da Antropologia Cristã e no domínio da realidade social
(sobre o Neoliberalismo, analisado sob a ótica cristã).
- A coragem
profética do exercício do dissenso, na fidelidade à causa dos
pobres – Mesmo durante o
Concílio, a unidade desejada não se tornou uniformidade. Aí se observava a
coexistência de posições, não apenas distintas, mas também por vezes
antagônicas. Dentre as correntes ali presentes, como não lembrar a que foi
protagonizada por algumas dezenas de bispos comprometidos com a causa dos
pobres, como se mostrou tão bem no "Pacto das Catacumbas”, bem evocado por Jon
Sobrino, durante esse Congreso Continental de Teología? Também aqui, a par de
grandes espaços de entusiasmo e afinidades, fez-se presente o dissenso,
principalmente entre representantes da nova geração de teólogos e teólogas, a
clamarem por espaços mais amplos de interlocução, da qual participem mais
ativamente distintos sujeitos emergentes, expressando correntes novas afins da
TdL, tais como as/os jovens teólogos e teólogas, a teologia indígena, a teologia
negra, a teologia que trabalha a diversidade humana, também no campo da
homoafetividade, entre outras. Há de se trilhar aqui, quem sabe, veredas
semelhantes às já percorridas no domínio da Ecoteologia, que ainda pode avançar
consideravelmente, sobretudo no item acolhimento criativo.
4. Um
questionamento con/provocativo
É de se saudar e
acolher, com firmeza, o esforço prospectivo externado em algumas falas, tanto de
teólogos da primeira geração (a exemplo do próprio Gutiérrez, a instigar os
teólogos e teólogas da nova geração a seguirem estrada, com o desejável rigor
teórico-metodológico (O próprio Codina também acena nessa direção). Nesse
sentido, é que encerro essas linhas com um questionamento marcado pela
esperança: Que atitudes e iniciativas concretas podemos esperar daquelas e
daqueles teólogos (da primeira e das novas gerações) quanto ao esforço também
combliniano (como o reconheceu e sublinhou Victor Codina) na perspectiva de se
seguir aprofundando e ampliando as pesquisas no campo da Pneumatologia, sob a
perspectiva da TdL?
Aqui importa
registrar que a essas trilhas José Comblin dedicou mais de três décadas de
trabalhos, culminando com uma meia dúzia de densos textos (seu livro-esboço O
Espírito no Mundo data, como se sabe, de 1978!), de modo tal que seu livro
póstumo (que está sendo lançado nesses dias) também é dedicado a essa mesma
inquietação.
João Pessoa, 20 de
outubro de 2012.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Presbiterio Arq.BOTUCATU,SP
Nós presbíteros da Arquidiocese de Botucatu, participantes deste
curso de atualização, após reflexão em grupos, elaboramos as seguintes
considerações:
Os sinais dos tempos em
Botucatu:
Diminuição da religiosidade popular; fé em Cristo sem compromisso
com a Igreja; houve uma inadequada
compreensão da reforma litúrgica com mudanças externas sem uma conversão
interior e com pouca formação para o clero e o povo; houve também extremismos
na aplicação da reforma litúrgica.
Alguns movimentos apresentam dificuldades em viverem a comunhão
eclesial mesmo após e com o Concílio Vaticano II e como consequência disso, não
se sentem Igreja em comunhão.
Com relação ao aspecto vocacional não há abertura, por parte de
alguns seminaristas, ao processo formativo e há um descompromisso com a Igreja.
Houve um aumento quantitativo nem sempre acompanhado de um aumento qualitativo.
Por outro lado, há dificuldades no processo formativo, nas cinco
dimensões (Comunitária, Humano-afetiva, Espiritual, Intelectual e Pastoral),
assim como também a própria abertura dos presbíteros para uma formação
permanente.
Outro desafio de nosso tempo são os jovens; há um lento despertar
para o trabalho com os jovens. Estes por outro lado, apresentam uma distorção
de valores mas, um anseio pelo divino.
Outro desafio é que nossas paróquias não têm vivência comunitária e
mesmo onde já há vivência em pequenas comunidades, elas não cobrem toda a
circunscrição territorial. Há um despreparo na formação do leigo e muitos não
assumem ministérios na comunidade.
Sente-se uma verdadeira timidez profética que se cala diante de
realidade em que vivemos como em questões de sexualidade, justiça social, saúde
pública, tráfico de drogas, entre outros.
O PROPAMI está dentro daquilo que pede o Concílio, centraliza na
pessoa de Jesus Cristo, visa o protagonismo
leigo, sendo que este é agente de missão. O PROPAMI também tem como aspecto
positivo a abertura à adaptação a nossa realidade.
Outro aspecto positivo é abertura missionária com o projeto de
Igreja irmã com a diocese de Ipameri, a presença de padres em Portugal; USA e
do próprio assessor padre Marins que está no momento a serviço da Igreja desde
os tempos de Dom Henrique.
A PASCOM é uma realidade nova e ousada, porém falta uma
sistematização.
A profissionalização da administração é outro ponto positivo, porém
talvez seja necessário um maior aprofundamento com os padres.
Do ponto de vista da Pastoral Ecumênica há um trabalho tímido que se
desenvolve, porém, este só abrange a cidade de Botucatu e por ocasião da semana
da unidade dos cristãos.
Partindo agora do Concílio Vaticano II onde a Igreja é concebida
como povo de Deus e Sacramento Universal de Salvação e elo de união entre os
seres humanos, acreditando que ela deva se manifestar nas suas cinco dimensões:
Igreja Comunidade, Igreja Samaritana (servidora), Igreja Profética, Igreja
Missionária e Igreja Ecumênica, apresentamos as seguintes propostas de ação que
serão assumidas como compromisso dos presbíteros presentes:
a. Incentivar a escola Bíblico-Catequética.
b. Despertar o espírito missionário em todos os arquidiocesanos.
Começando pelos presbíteros num processo de igreja irmã, passando pelos
seminaristas trabalhando a questão missionária já no período formativo, incluindo
também os leigos e aqueles que pertencem a movimentos, evitando o
individualismo, intimismo e subjetivismo.
c. Formar os presbíteros e os
leigos para a pastoral de conjunto, numa realidade pluralista.
d. Implantar uma evangelização como experiência de comunidade
inculturada no diálogo, num mundo pluralista.
e. Incentivar o diálogo ecumênico e inter-religioso.
f. Disponibilizar meios formativos para os leigos, como por exemplo, a
Escola da Fé.
g. Criar parcerias com o poder público e ONGS, diante da realidade de
nossos jovens frente à dependência química.
h. Incentivar o funcionamento dos organismos de Comunhão e Participação
na Arquidiocese e nas Paróquias tais como: CAPRE, CAMP, CAMPEX, CAP e CMPP.
Enfim, cremos que o Propami é o nosso aggiornamento da ação pastoral de nossa arquidiocese. Ele visa o
Encontro com Jesus Cristo, o seguimento e a missionariedade, proporcionando a
renovação do Batismo e da Confirmação, e proporciona a adesão a Jesus e aos
valores do Reino, tornando-nos discípulos e missionários na Igreja de Botucatu.
Com a intercessão de Sant’ Ana, assinamos este compromisso e
esperamos que o mesmo se torne realidade.
Agudos, 18 de Outubro de 2012 na Festa de São Lucas, Evangelista.
Teologico,tierno,profundo
A LOS CINCUENTA AÑOS
DEL CONCILIO
JOSEP GORNELLÀ, cornella@comg.cat
GIRONA.
ECLESALIA,
23/10/12.-
Jueves 11 de
octubre de 19 62. Llovía a cántaros en Girona
cuando salíamos de la escuela. Era el presagio de las graves inundaciones de
aquella noche del Pilar. Mientras, las campanas de la catedral no paraban de
repicar: en Roma empezaba un Concilio. Con doce años, sabíamos poco de aquel
acontecimiento. Hoy, cincuenta años después de aquel día, también jueves, quiero
evocar algunas pinceladas en forma de pensamientos y sentimientos relativos a un
hecho que marcaría profundamente mi vida de creyente. Lejos de una aproximación
teológica o de un análisis histórico, quiero aportar más una experiencia
personal vivida y revivida lo largo de esta cincuentena.
¿Quien convocaba el
concilio? El papa
Juan XXIII había cautivado mi atención de preadolescente. Tras la anquilosada
figura de Pío XII, llegaba un papa rechoncho, con un lenguaje que se hacía
entender. Era un papa diferente. Era el Papa de la sencillez y de los gestos de
proximidad. Con los años, he entendido que Roncalli fue un hombre de fidelidad
extrema al Evangelio que predicaba. ¡Se lo creía! Y lo vivía con profundidad.
Dicen que había hecho suya una frase "Dios lo es todo, yo no soy nada" y que la
repetía a menudo. Y esta frase, lejos de anihilar-lo, le espoleaba a hacer
aquello que entendía como voluntad de Dios por encima de formalismos y
tradiciones. Él se sintió un instrumento en manos de la Providencia para acercar
la iglesia, curvada por tantos años de inmovilismo, a sus raíces. No era fácil.
Pero tenía el coraje de la fe.
Abrir las ventanas, ventilar el
polvo. Fue una de
las primeras expresiones de Juan XXIII al convocar el concilio. La comparación
era muy casera: durante muchos siglos, decía el Papa, se ha ido depositando
mucho polvo sobre el Evangelio, y el polvo dificulta su lectura. Había que abrir
bien las ventanas sin miedo, era necesario que entrara el viento de fuera y
ventilara todo aquel polvo. Había que encontrar de nuevo la sencillez del
Evangelio. Había que prescindir de todo aquello que era superfluo. Los fieles
tendrían acceso directo a la biblia. Y, sin miedo, se aplicarían las ciencias de
la exégesis histórica sobre los textos sagrados para dar una respuesta a la
interpretación. Nada se puede comprender si no se sitúa dentro del contexto en
que fue escrito ni se conocen los objetivos que tenía el autor en redactarlo. No
había nada que temer si se tenía confianza. No había que tener miedo al iniciar
un diálogo entre la iglesia y el mundo si sabíamos de donde partíamos. No se
podía tener miedo.
Contra los profetas de
calamidades. Juan
XXIII advirtió seriamente de los peligros que suponen los profetas de
calamidades, aquellos que, desde el más reciente pasado hasta el presente, sólo
saben ver inconvenientes y errores; aquellos que no anuncian más que desgracias
como si estuviera ya a punto de llegar la destrucción del mundo. Este mensaje
gana actualidad hoy, cuando, inmersos en una grave crisis que, más allá de la
economía es también crisis de valores, surgen tantos profetas de calamidades que
infunden miedos sin fundamentos a la población. No hace demasiados días, la
conferencia episcopal española advertía sobre una retahíla de calamidades, muy
lejos de aquel espíritu de confianza que tenía el Papa Juan en las palabras de
Jesús cuando dijo que no nos abandonaría nunca.
Los signos de los
tiempos. Es una de
las grana aportaciones de Juan XXIII. Durante muchos años se había creído que,
desde la muerte del último de los apóstoles, Dios ya no dirigía la palabra a la
humanidad. Pero Juan XXIII apuesta por una revelación que sigue vigente: Dios
sigue manifestándose a través de los signos del tiempo. De hecho, no es ningún
invento: la advertencia sobre que hay que prestar atención a los signos del
tiempo ya se encuentra en el mismo evangelio, cuando Jesús critica a los de su
tiempo que, sabiendo como saben predecir si lloverá o si hará calor, no son
capaces de entender su mensaje liberador. Sin embargo, seguimos sin entender los
signos del tiempo. Y así nos va.
Aggiornamento. Fue un neologismo que adquirió
carta de identidad. Había que ponerse al día. Había que dejar las viejas
estructuras y actualizar el mensaje. Había que tener en cuenta que el mundo va a
una velocidad y que la iglesia debe estar a la altura de las circunstancias para
poder dar testimonio de su mensaje valioso. Si no, todo queda
devaluado.
Y después... Juan XXIII murió al cabo de ocho
meses de inaugurar el concilio. Su espíritu juvenil se ha ido diluyendo y
perdiendo. El Concilio queda como un recuerdo histórico, pero no como un estilo
de vida. La tradición vuelve tener primacía sobre el frescor del Evangelio, se
han vuelto a cerrar ventanas, y vuelven los miedos. Proliferan los profetas de
calamidades que, dentro de la iglesia, velan para no perder poder, y hay miopía
para ver los signos de los tiempos de un mundo que pide una palabra de paz y de
amor, de justicia y de esperanza, y de compromiso firme. Lejos del
aggiornamento, siguen las ceremonias anacrónicas, y vuelven los ornamentos y el
latín.... Como decía el malogrado cardenal Martini, doscientos años separan la
realidad de la iglesia de la realidad del mundo. Pero agradezco, desde el fondo
del corazón, haber vivido aquellos años de esperanzas y de utopías. Agradezco
que, pese a la actual involución, el espíritu de aquel 11 de octubre, todavía me
da fuerza para intentar seguir la utopía del Evangelio. ¡Gracias, querido Papa
Juan XXIII por haber sido un profeta de buena voluntad! (Eclesalia Informativo autoriza y
recomienda la difusión de sus artículos, indicando su procedencia).
domingo, 21 de outubro de 2012
Intervención clave en el Sinodo
Esta intervencion si movio el piso del Sinodo:
S. E. R. Mons. John WONG SOO
KAU
Arzobispo Coadjutor de Kota Kinabalu
(Malasia)
Lunes, 15 de octubre de
2012
La llamada a una
nueva evangelización presupone darse cuenta de que nuestros actuales métodos y
expresiones ya no son atractivos o interesantes para el mundo, sin rumbo, inmerso e incluso impulsado por cambios acelerados por
los progresos científicos y tecnológicos, así como por la avidez de los
hombres.
Después del
Concilio Vaticano II se han organizado numerosas reflexiones y conferencias a
varios niveles, para tratar de leer y comprender los signos de los tiempos.
Asimismo, se han emitido muchas declaraciones y exhortaciones a fin de que las
Iglesias locales respondiesen a las situaciones cambiantes con valentía y
esperanza.
Pero estos
mensajes no se han logrado transmitir de modo suficientemente rápido y amplio.
Tenemos que admitir con humildad que en el pasado nuestras respuestas iban
rezagadas respecto a los cambios del mundo. Simplemente no somos capaces de
ofrecer soluciones a las personas y las sociedades atrapadas en estructuras y
ocasiones de pecado. Las leyes nacionales o las poderosas fuerzas que controlan
los medios de comunicación suprimen nuestras voces.
Deseo
mencionar también la dimensión de un movimiento hacia el fanatismo y el
extremismo (cf. Instrumentum Laboris nº 63-67). Por tanto, existe una necesidad
urgente de revisar nuestros métodos para transmitir las enseñanzas de la Iglesia
en términos de léxico, formato, expresiones y medios.
En un mundo en el que crecen los
conflictos entre creencias e ideologías, debemos preparar a nuestros laicos,
minoritarios en algunas regiones, como Asia, para que puedan responder a las
situaciones críticas, en las que su fe se ve amenazada. El diálogo
interreligioso tiene que ser un elemento crucial en sus programas para una nueva
evangelización. Al mismo tiempo, tenemos que asegurarnos de que ante todo se
protejan los derechos fundamentales de los cristianos en cuanto minorías en
determinadas regiones y se fortalezca su fe.
Si los
líderes de la Iglesia no son capaces de reaccionar ante los cambios del
mundo, ¿cómo podrán ayudar a los demás? Escándalos,
malos líderes, estilos de vida materialistas y la pérdida del celo pastoral son
algunas de las dificultades de nuestra misión evangelizadora. En vista de la condición especial de los ministros
ordenados, es preciso reconsiderar seriamente la formación en los seminarios. La
vida casi monástica, intelectual, fácil y cómoda (aislada del mundo) ha
fracasado a la hora de formar pastores competentes y que respondan a las
necesidades de las personas hoy y en el futuro.Por último, otra cuestión
es cómo ayudar a nuestro pueblo a seguir siendo testigos creíbles del Evangelio
en el mundo contemporáneo. Propongo que la Doctrina Social sea un elemento
esencial e indispensable de nuestra catequesis y homilías. La Buena Nueva
explicada a la luz de la Doctrina Social puede resultar más aceptable para la
mente inquisitiva del hombre moderno.
21 de Outubro, homilia Cat.Botucatu
Domingo das Missões:
+ A missão é para anunciar e comunicar o Reino de Deus.
Tínham nos ensina que a Missão era para ir aos pagãos e traze-los para a Igreja... A missão é muito mais do que isso. É a propósito do Reino: transformar o mundo, buscar a unidade do gênero humano, a comunhão com Deus e com os seus filhos e filhas, a responsabilidade pela criação. É conhecer a Igreja como sinal e começo do que Deus quer para todos. É encontrar na vida e missão de Jesus (sua morte e ressurreição), a presença viva do Pai, pelo Espírito.
Nesta perspectiva, refletios sobre o texto de Marcos que a liturgia hoje nos brinda.
+ A missão é para anunciar e comunicar o Reino de Deus.
Tínham nos ensina que a Missão era para ir aos pagãos e traze-los para a Igreja... A missão é muito mais do que isso. É a propósito do Reino: transformar o mundo, buscar a unidade do gênero humano, a comunhão com Deus e com os seus filhos e filhas, a responsabilidade pela criação. É conhecer a Igreja como sinal e começo do que Deus quer para todos. É encontrar na vida e missão de Jesus (sua morte e ressurreição), a presença viva do Pai, pelo Espírito.
Nesta perspectiva, refletios sobre o texto de Marcos que a liturgia hoje nos brinda.
Vamos a
Jerusalém:
O Evangelho
de hoje nos proporciona aproximar-nos de Jesus e vê-lo a caminho da capital, preocupado com o
sucesso ou fracasso dessa tentativa final de propor o Reino de Deus, ao centro
do poder religioso do seu povo.
Jesus havia
começado na base, de pessoa a pessoa, de povoado em povoado, dentro do seu pais
e para além das fronteiras: Sidon, Síria, Fenícia, Decápolis... Seguiu uma
estratégia ascendente da periferia ao centro. E agora, ia finalmente enfrentar
os principais líderes religiosos do pais, lá na Capital e no Templo (Não mais
os seus emissários).
A tensão
não era pequena: Poderia ser que se
abriria uma brecha na compacta muralha de um sistema religioso corrupto,
opressor do povo e abusador do nome de Deus... Mas também, e talvez seria o
mais provável, encontraria rechaço, revanche vingativa e violência. Uma
execução sumária, não seria impossível.
Jesus
caminhava debaixo dessa crucial pressão. E seus companheiros se encarregaram de
decepciona-lo aumentando o seu sofrimento. Aqueles em quem havia colocado suas
esperanças, revelaram estar exatamente
noutra posição: dois deles se adiantaram para assegurar-se dois ministérios
claves no futuro Reino. E os outros dez, captando a manobra política dos irmãos
Zebedeu (João e Tiago) se queimaram e o projeto de Jesus parecia esboroar-se
antes mesmo de chegarem a Jerusalém.
Os que se
esperaria que estiveram mais próximos, se revelavam os mais distantes das
propostas centrais do Mestre. Queriam valer-se do prestigio de Jesus para seus
próprios interesses políticos e porque não, também econômicos!
Também conosco algo semelhante acontece: os
que estão perto, na verdade estão longe. Podem estar ao nosso lado, mas não
estão conosco. Não entendem nossos planos e prioridades
. A comunidade eclesial aprende então, importantes lições a caminho de
Jerusalém.
1. Estar dentro da Igreja, mas fora do
sonho de Jesus.
2. Assumir a terra esgotando seus
recursos
3. Pensar que suprime a violência usando
meios violentos
4. Castigar os efeitos, sem eliminar
suas causas (Veja-se o desastre dos pedófilos)
5. Alimentar simpatia pelos “heróis” do
futebol, do cinema, da música e da passarela, sem questionar radicalmente a
imoralidade dos seus salários e do sistema de propaganda que os utiliza
6. Manter paternalismos que tornam as
pessoas incapazes de assumir
responsabilidades
7. Conviver ingenuamente numa sociedade
com abundancia de ofertas e escassez de metas.
- Como está Deus diante disso. Ele nunca
fará por nos o que podemos fazer. Mas dará a ajuda que necessitamos, se não as recebemos
irresponsavelmente: A epístola aos hebreus disse que Deus “Não fica
indiferente ante
nossas debilidades, porque já esteve nas mesmas provações que enfrentamos. Por
isso, vamos com confiança a Deus, que nos espera ... com sua graça e nos dará a
ajuda que necessitamos” (Heb 4,15-16)
HOMILIA AO CLERO DE BOTUCATU
HOMILIA
FINAL ENCONTRO CLERO DOCUTUCATU, 18 OUTUBRO 2012
Contexto: Jesus tomo o
caminho a Jerusalém. Uma questão decisiva. Depois de haver desenvolvido seu ministério
nas periferias, agora vai enfrentar o centro do sistema religioso, social do
mundo judeu.
Texto: O texto de Lucas 12,1-7,está
inspirado no de Marcos 3,13-15.
Jesus havia configurado a
referencia do novo Povo de Deus, a referência das 12 tribos, por isso escolhe a
12 apóstolos. No texto de Lucas amplia o número de discípulos para 72, mas
agindo em equipe de 2, o que é certamente uma novidade na tradição de profetas,
que podiam levar um companheiro como Elias e Eliseu, mas se mantinha o agente
principal e às vezes único.
Jesus
chama: 1) Para estar com ele; 2) Anunciar e ser boa Noticia, (até os confins da
terra, vai sublinhar Mateus 24,16-20); livrar-se do mal, arrancando sus raízes
(possessões, enfermidades).
Nas circunstâncias em que nos encontramos
nesta Eucaristia, concluindo um curso intensivo para o clero da Arquidiocese de
Botucatu, na perspectiva do Vaticano II, vamos concentrar-nos na erradicação
dos males que podem estar presentes, pelo menos como tentação:
a) Narcisismo de pessoas, grupos, movimentos, paroquias e
regiões pastorais... Não se aprendeu a trabalhar como equipe e portanto não se
transmite essa característica da pastoral que procuramos desenvolver. É o que
acontece em diferentes níveis. No futebol é comum escutar: - O Brasil tem os
melhores jogadores do mundo, mas perdem
os campeonatos porque estão preocupados com exibicionismos individuais!
b) Carreirismo eclesiástico que não só nos divide, mas
pode também corresponder nossas agendas e intenções eclesiais. Títulos e a meta
de “subir” no esquema da estrutura eclesiástica têm revelado, séculos a fora, a
sua venenosa ambiguidade.
c) Os projetos de lançar cantores como modelos “genéricos”
de Roberto Carlos...
d) Descuidar-se da absoluta limpidez no manejo dos bens
eclesiásticos, abrindo caminho para sementes de futuros “mensalões”,
e) Transformação da vocação de pastores do povo de Deus,
em sargentos de milícia
f) Atração pelo brilho de cargos, roupas, que podem
revelar situações de bipolaridade e de “bisexualidade”...
Os
companheiros escolhidos por Jesus, são convocados para uma missão de ser sinal
e primícia do Reino de Deus. Isso exige um quadro de referencia teológico,
pastoral... uma espiritualidade cristológica na docilidade ao Espírito. Supõe
trabalhar com prioridades, para não desviar-se das metas fundamentais, pela
tentação de ocupar-se em muitas tarefas sem discerni-las em relação aos
objetivos fundamentais.
O texto
da 2Tim 4,10-17 que tivemos como primeira leitura nos deixa certamente a grande
insistência: Os apóstolos devem ser amigos entre eles. Com uma amizade no
estilo de Jesus que se refere à meta e à coerência dos meios. Assim
terminaremos considerando a lista dos amigos que Paulo coloca no final do texto
ao companheiro Timóteo: DEMAS, CRECENTE, TITO, MARCOS, ERASTO, TÍQUICO,
TRÓFIMO, CARPOS, CLAUDIO, LINO, ÊMBULO, PUDENTE.
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