I - REINADO DE DEUS
- Toda a vida e pregação de Jesus, foi em torno ao Reino. Os evangelhos mencionam mais de 120 vezes o tema do Reino. Trata-se de um projeto que não deixa nada, nem ninguém de fora. Não tem o ritmo de um paternalismo divino ou ditadura trinitária. É relação com Deus. Redescobre o Pai de Jesus como centro de toda vida. Convoca a todos os povos de todos os tempos. Nenhuma cultura, nenhum momento histórico estariam descartados.
Jesus, enviado à humanidade e não só aos católicos, mudou o centro da atenção do reino como acontecimento futuro a uma realidade do aqui e agora. Nem por isso o Reino vai irromper graças a intervenções milagrosas de Deus. Também não vai permitir ingenuidades de aceitar aliados irresponsáveis ou incompetentes, para abrir caminho ao proclamado por Jesus (Lc 4,16-22).
Não se trata de um Reino territorial ou geográfico, circunscrito a um lugar sagrado. Trata-se de um nível de vida, de uma intensidade nova, em comunhão com Deus e toda a criação. É de natureza e caráter universal, sem deixar de ser realidade local. Já começou, mas não é transitório. Nem terá fim. É dinâmico. Nenhuma das experiências históricas já o realizou totalmente. Não é continuação ou restabelecimento do reinado de Davi. Não se reduz à Igreja Católica, mesmo que ela seja sinal, primícias e mediação do mesmo. É dinâmico, vai se completando em nós, não em Deus. (Pode-se resumi-lo nesta frase: “Sim, mas ainda não!”). O Reino conhece retrocessos históricos. É sumamente conflitivo.
Três perguntas bastam para revelar como é perigoso:
- Que disse Jesus sobre Deus para que o poder religioso do seu tempo o excomungasse?
- Que disse sobre a pessoa humana para que o poder político o condenasse à pena capital?
- Que disse sobre os bens materiais para que os ricos de todos os tempos se sentissem gravemente ameaçados?
Já se esclareceu que o Reino é universal e não exclui a ninguém, mas da prioridade aos mais necessitados. Não vai aos pobres em razão dos merecimentos deles, senão dos seus sofrimentos. Deus não quer que os mais vulneráveis de seus filhos e filhas sejam massacrados. Providenciou o necessário para uma vida digna de todos. Sobre os bens individuais e coletivos, profanos e religiosos, pesa então, uma hipoteca social.
A comunidade de Jesus tem que ser pioneira do compromisso libertador. Ela se preocupa não só em baixar da cruz os martirizados pela injustiça humana, mas principalmente se compromete a fim de que outras cruzes não sejam levantadas, e outras criaturas de Deus venham a ser torturadas.
O Espírito suscita vozes proféticas de minorias “abraâmicas”, como dizia D.Helder, em linha não só de denúncias, mas principalmente de propostas comunitárias , de novos projetos de vida.
As CEBs fazem parte dessas minorias, ao colocar-se do lado dos injustiçados, capacitando-os para que sejam sujeitos de um processo perseverante de libertação e construção de um novo mundo possível.
Uma Igreja que é comunidade profética, por índole e graça, não deve negociar com a profecia nem sacrificar aos seus profetas. As verdadeiras reformas não ficam apenas na dimensão individual e interior. Inspiram novas estruturas e modelos tanto eclesiais como sociais. Todo profetismo revela divisões e debilidades e ao mesmo tempo sofre repressões.
As estruturas, os sistemas, as ideologias sócio-políticas-econômicas, ao apoiar a Igreja, podem estar buscando o próprio proveito. O sinal disso é quando se sacrificam as pessoas em função do lucro, do prestígio e do poder (também dentro das religiões).
Até os profetas de um tempo podem transformar-se em opressores da época seguinte, quando perdem a coerência ou propõe como um absoluto as suas propostas, auto-consideradas proféticas.
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