terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Parte segunda- Justiça e Profecia. CEBs

1. A humanidade é a nossa família. Tudo o que acontece é do nosso interesse, principalmente o que toca direta ou indiretamente aos mais vulneráveis. O arcebispo Oscar Romeiro repetia: - “Numa das mãos a Bíblia e na outra, o jornal, para poder falar de Deus hoje!”; Henrique Angelelli que dizia: “Um ouvido no evangelho e outro no povo”.
O Padre .Ricardo Lombardi rezava diariamente diante do Mapa do mundo, colocando diante de si e de Deus, a situação da humanidade: guerras, fome, migrações, luxo, poder militar e igrejas imponentes, muitas vezes ocupadas com liturgias imponentes e prolongadas.
2. A comunidade de base, sem anular a importância da visão global, deve começar seu compromisso profético concentrando-se nos mais próximos a quem podemos chegar diretamente e comprovar os fatos, privilegiando contatos diretos. Tratar sempre dos problemas mais universais, fora, do alcance dos presentes, deixa um sabor de incapacidade e inutilidade dos esforços de transformação da realidade. A anciã abandonada; o moribundo na sua lenta agonia; com sofrimento intolerável... O jovem, antes forte e decidido, agora embrutecido pela droga e pelo álcool... antes era uma inteligência brilhante e agora farrapos sem rumo nem destino... A mocinha, que deveria sonhar, agora arrasta sua existência e no seu rosto se reflete já o fastio de viver, agora pinta os lábios e encurta o vestido saindo para vender seu corpo... O garotinho, no calor do dia, tendo como companheiro um cachorro vira-latas, me oferecia seu jornal e carregava sua miserável caixinha de doces sem vender, dormia na porta da rodoviária, tiritando de frio, sobre uns cartões, coberto por jornais velhos.... Por todo lado, a injustiça, a corrupção, a exploração dos mais frágeis... os prepotentes enriquecendo-se a custa dos ignorantes e dos pobres, dos carentes de recursos para defender seus direitos...
3. De tudo o que se vai recebendo: filmes, novelas, acontecimentos, propostas, se deve discernir: a) Em que estamos de acordo, b) que não está claro, c) que decididamente não podemos aceitar. Por quê? d) Quais atitudes, propostas, ideias, frases que se chocaram com a nossa fé. e) Diante disso tudo, que atitudes devemos tomar, quando, onde, quem, que, como, com que meios, com qual estratégia?
É importante estabelecer qual o eixo de valores que perpassa todos estes espaços.
4. Apoiar iniciativas positivas, que existem em todos os ramos de atividades humanas. Identificar processos alternativos, mesmo que ainda estejam dando só os seus primeiros passos. Frei Betto, em “Típicos tipos”, pag. 223 declara: “O Brasil não conhece o Brasil . Nenhum outro país da América Latina, a exceção de Cuba, alcançou o nível de organização popular que existe hoje no Brasil. Uma imensa malha de movimentos sociais espalha-se pelo território nacional. A Central de movimentos populares articula centenas deles. A Central única dos Trabalhadores representa vinte milhões de trabalhadores. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, gira a roda da vida em 1.500 assentamentos”.
5. Atribuir à intervenções diabólicas as dificuldades e desastres, é fazer propaganda gratuita aos espíritos do mal (ficam muito agradecido pela consideração).
6. Evitar comentar ingenuamente os problemas ou crises, sem um conhecimento mais completo do assunto, ou sem uma documentação competente da matéria.
7. Ainda é importante resgatar a teoria e a prática de Paulo Freire, para arrancar o povo brasileiro da ilusão das elites, do medo do poder, da indolência frente a um futuro que pode e deve ser transformado, já que o presente só é muito bom para aqueles que têm pavor de Paulo Freire .
8. A Igreja católica, no seu conjunto, não é profética. As CEBs não vivem no ritmo profético dos encontros nacionais e regionais. Não se trata de insistir só no específico político da luta pela justiça, mas no conjunto da presença cristã de uma comunidade na base. Ela tem que ser profética nas horas de oração, de encontro com a Palavra de Deus, nas reuniões pastorais, nas celebrações litúrgicas... Profética, quer dizer: anuncia, denuncia, convoca, transforma, persevera. Deve-se perguntar se a vida das CEBs, ao longo dos anos, tem convocado para um modo profético de ser Igreja, de ser pessoa no seu ambiente, não somente nas denuncias de alcance internacional?
9. Se a proposta profética é valida, como é viável e perseverante, na realidade onde se vive? Uma pergunta de atualidade comprova o que estamos buscando questionar: - As CEBs estão sendo evangelicamente atrativas aos jovens (não tanto aos adolescentes)? Quais jovens?
O profetismo hoje aparece mais fora das estruturas religiosas e também das CEBs. Pode acontecer que tudo que está fora do nosso âmbito específico, nem sempre identificamos como profético e de Deus, porque se expressa com linguagem e ações diferentes das que estamos acostumados.
10. Reconhecer, valorizar, divulgar heróis da humanidade e particularmente do próprio ambiente. Todos necessitam de exemplos estimulantes no campo da justiça, da paz e do bem comum. Existem muitos mártires, não só nas Igrejas, como na sociedade humana.

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