terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pate VII. Justiça.Profecia.CEBs

OS ROMEIROS
As CEBs concretizam um novo estilo de romeiros.
1. Não ficam esperando: - Toda romaria é uma saída... da casa, do trabalho, deixando a casa, o ambiente dos amigos, do trabalho dos animais de estimação, até mesmo à família... fica tudo para trás esperando pelas bênçãos que se vai buscar e trazer.
2. Não se trata de ter alguém na CEB que tem um “carisma missionário”, mas toda ela um acontecimento missionário.
- Na tradição latino americana, os romeiros não vão sozinhos. Ir com os outros é parte integral da romaria, mas sem ser levado. Já se tomou a decisão de ir até o fim, é sujeito, sabe onde vai e por que vai... não é levado (a não ser pelo transporte coletivo).
Os membros das CEBs nunca vão sozinhos visitar as famílias. Não importa quem fala, é a expressão de uma comunidade que se manifesta por diferentes vozes (homem, mulher, jovem, adulto, idosos)
3.Os romeiros se ligam a símbolos que se levam ou que se visitam extasiados, são abundantes (os “ex-votos”, sementes, um pouco de terra, bandeiras, fotografias de acidentes, de pessoas doentes, até de funerais... As paradas previstas no caminho, os cânticos e orações tradicionais (cantadas, rezadas), a “caminhada” de joelhos... Não formam uma liturgia oficial, mas fazem parte da liturgia criadora da religiosidade popular. Os acontecimentos da vida são onde Deus se manifesta, são sua “Palavra” (O sagrado da vida).
+ As CEBs levam bandeiras, faixas com frases convocadoras, imagens dos mártires da caminhada, dos santos e santas nossos contemporâneos, e que na maioria dos casos não estão canonizados nem são da Igreja Católica.
4. A romaria tem também algo de penitencial, de oferecer o próprio sofrimento, agora sintetizado num caminha de joelhos, no cansaço da viagem, no incômodo das noites mal dormidas, etc.
+ As CEBs têm a incomodidade das esperas para falar com as autoridades, as greves de fome, as vigílias de serviço aos doentes...
5. - A militância das CEBs e a religiosidade popular católica que elas muitas vezes encarnam, têm muito de contemplação. Os romeiros, não discursivos, repetem tradições, dizem orações repetitivas, litânicas... não importam muito as palavras, mas sim o ritmo... porque não exige concentrar-se em pensamentos sistemáticos, mas deixam a mente aberta para focalizar-se na grandeza e bondade de Deus. A vida é entregada a Deus por meio dos santos. (Nas paroquias, muitas vezes as devoções oficiais não tocam a vida)
5. Os romeiros, na devoção ao crucificado, ao “Bom” Jesus, ao Senhor coroado de espinhos e ensanguentado, humilhado e torturado, encontram o sentido dos seus próprios sofrimentos e privações... também vivem humilhados, incapazes de ter uma vida humana, esmagados no sofrimento dos inocentes. Na devoção mariana, brota a ressurreição, a gloria, muitas vezes primeiro o planto e depois a alegria: “o Senhor é contigo”, bendito sois...
As CEBs não levantam a imagem de heróis de outros tempos, mas têm até as roupas com sangue dos seus mártires, as cruzes dos que foram caindo pelo caminho, sem ter voltado atrás.
6.- A romaria é chegar até onde está a graça de Deus, onde está concentrada a ajuda do santo... é CHEGAR AO ESPAÇO DA GRAÇA, DO PERDÃO, DA ESPERANÇA, a FONTE de VIDA. Chegar ao santo é como visitar um velho amigo, não um desconhecido.
+ O sagrado da comunidade é a sua rua, a sua praça, o seu transporte público, o local do trabalho, a terra que se está preparando para plantar ou a área da colheita... a prisão, o hospital, a sala de espera do atendimento de saúde...
7. - Ninguém vai ficar para sempre no santuário visitado.. Volta-se com o coração em festa... mas é bom levar uma recordação (laço de fita, fotografia, imagem...) não é só uma recordação, é quase um amuleto, um comprovante de que “o santo” ficou comprometido... há uma pertença de fé e um compromisso de atendimento divino que para sempre vai recair sobre o romeiro
+ O local da reunião da CEB é o ponto de encontra quando se volta da presença junto ao povo sofrido, é o espaço para a avaliação, ação de graças, pedidos por tudo que ainda falta fazer, onde se busca entre todos e com Deus, a força para perseverar, mesmo contra toda esperança.
8. Há também uma contra-partida da religiosidade tradicional católica:
Apela para mitos sobre o futuro de condenação e salvação, para manter a consciência dos fieis. O clero é aceito como uma autoridade sem discussão. As pessoas se tornam submissas às deliberações normativas (de fora do sujeito), sem questionamentos profundos.
Um setor da religiosidade tradicional se envereda pelo “carismatismo - pentecostalista de índole mais conservadora. Manifesta então uma efervescência religiosa com aparecimento de paganismos. Contentam-se com respostas imediatas. Há uma expressão livre de religiosidade, com autonomia do sujeito religioso. Negação da institucionalidade religiosa. Esconde-se o caráter ético e solidário do Evangelho”

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