terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O processo das CEBS na AL e Caribe

0 PROCESSO DAS CEBS NA A.L. E CARIBE.
1. A REFERENCIA DO VATICANO II
O importante para o catolicismo era olhar os sinais da Igreja (devoções, sacramentos, documentos magistério, problemas litúrgicos, bíblicos, administrativos, vocações vida religiosa e sacerdotal, disciplina, ataques à Igreja, etc.) e procurar interpretá-los segundo as autoridades competentes (Quanto mais altas, mais seguro), e agir segundo o que as legítimas autoridades orientassem.
Jesus, e o Vaticano II, mudaram totalmente a direção para onde olhar: - Olhem os sinais dos tempos! Interpretados na perspectiva da proposta do reinado de Deus!
O evento conciliar: - lançou e desenvolveu uma pastoral programática, diferente da preocupação de dogmas e anátemas que absorveram os concílios anteriores;
- Não se restringiu aos fiéis católicos. Foram convidados os demais cristãos , as outras religiões e a sociedade inteira, para um diálogo amplo e não só ocasional.

América Latina, participando por primeira vez na historia num concilio universal da Igreja, viveu-o a partir da sua realidade, já que não se havia habituado a tradições anteriores

2. O PROCESSO ECLESIAL RECOLHIDO E AMPLIADO POR MEDELLIN
A assembleia de Medellín fez a ‘recepção’ conciliar, dinamizada por uma geração episcopal e de assessores, que comprometidos nas realidades pastorais se haviam educado no ver, julgar, agir da Ação Católica e na metodologia libertadora de Paulo Freire.
O Movimento de Natal, o Plano de Emergência, as Escolas Radiofônicas, os pronunciamentos dos bispos do nordeste e do centro-oeste, promovendo a educação de base, acompanharam experiências originais como a de São Paulo do Potengi (Rio Grande do Norte); Pirambu (Ce); Cravinhos, Osasco, Itaim (SP), Vitória, ES. E fora do Brasil, a atenção teológica-pastoral se voltou às iniciativas originais de San Miguelito (Panamá); Riobamba e Sucumbios (Equador), “los presidentes de Assembleia” em Santiago de los Caballeros (República Dominicana), “Delegados da Palavra”, Choluteca, Honduras, o caminhar da diocese mexicana de Ciudad Guzmán; os cursos de Verão em Lima (nos tempos do Card. Landazuri, P. Gustavo Gutierrez e companheiros).
Todo este novo horizonte Eclesial permitiu escrever os Documentos de Medellín, e sublinhar três fortes realidades conflitivas: 1) Estruturas de pecado; 2) Injustiça institucional; 3) Clamor do povo pobre e sofredor que olha para a Igreja como a confiança de nela encontrar a presença salvadora de Deus.
A partir do lançamento das CEBs, seus membros, mesmo sem o domínio de terminologias filosóficas e de militância sistemática, faziam análises estruturais e conjunturais. Apresentavam diagnósticos objetivos da realidade onde estavam e se uniam para realizar pequenos passos possíveis (reconstruir uma ponte, começar uma cooperativa, valorizar a cultura popular criando cânticos e procedimentos de protesto (como jejuns e orações...).
@ Neste período, o caminhar pastoral se alimenta num encontro com os profetas: Isaias, Jeremias, Amós e um estudo constante sobre o livro do Êxodo (sofrimento do povo, libertação, a caminho da terra sem males...)
Importante recorda:
+ Miguel Arrais e as ligas camponesas, no Brasil; movimentos rurais na Argentina e Paraguai; os indigenistas no México, Bolívia, Equador.
+ Grupos sacerdotais: os 80 (Chile), Terceiro Mundo (Argentina), Golconda (Colombia) e participação de membros das CEBs em movimentos populares de esquerda (El Salvador, Chile, Brasil, Equador, Nicaragua, Paraguai, México..)
+ Institutos Pastorais: IPLA (Quito), Catequese (Chile)
+ Documentos Magisterio: “Ouvi os clamores do meu povo”, Brasil 1973, Nordeste; O Indio, aquele que deve morrer”, Amazonas, 1973; Marginalização de um povo, 1974, Centro Oeste, O grito das Igrejas, Igreja e problema da terra, e S. Felix do Araguaya: “Uma Igreja em conflito com latifúndio e marginalização”
+ cardeais e bispos: Silva Enriquez (Chile), Arns (Brasil), Landazuri (Peru), Partelli (Uruguai), Romero (El Salvador), Angelelli (Argentina), Helder, Waldir Calheiros, Thomas Balduino, Angelico Bernardino, Casaldaliga, Padim. Fernando Gomes, Avelar Vilela (Brasil), Mendes Arceo, Carrasco, Lona, Jose Yaguno (México), Proaño (Equador), La Paz...Bispo de Boaventura (Colombia)
+ Surgimento da Teologia da Libertação
+ MARTIRIO: de 3 BISPOS, 72 sacerdotes, 17 religiosas, 1000 membros de CEBs, 3 Pastores evangélicos.
# De outro lado aumenta a reação da imprensa capitalista: o contra ataque dos proprietários rurais, principalmente na linha do movimento de Tradição, Familia, Propriedade (TFP)
# as ditaduras do Caribe (Batista, Trujillo, Papa “Doc”), e latino americanas (Somoza, Strossner, Vargas, PRI-México, Militares no Uruguai, Argentina, Panamá, El Salvador, Guatemala, Honduras, Chile, Brasil...)

@ REFLEXÃO BÍBLICA centrou-se bastante em torno à PAIXÃO, CRUCIFICAÇÃO DE JESUS, e dos MARTIRES da IGREJA de ontem (ATA DOS MÁRTIRES) e de “hoje”.

3. A VERTENTE DA RELIGIOSIDADE POPULAR CATOLICA
A pastoral latino americana procurou acolher as maiorias do Continente e Caribe, formada por pobres e católicos, reconhecendo e respeitando a sua fé tradicional mesmo que em algumas realidades, incluísse sincretismos.
Foi o que se chamou de religiosidade católica popular:
- romarias que chegam para tratar com Deus e o santo muito familiarmente, como sendo conhecidos pessoal ente; trazem causas imediatas ou consideradas perdidas, buscando sobrevivência e integridade humana, saúde, futuro... Têm gestos talvez desproporcionais (Como o da viúva do templo que deu tudo ou da mulher que gastou todo o seu dote esvaziando o frasco de perfume...).
A aproximação da religiosidade popular evita um elitismo das CEBS...O chamado “povão” não se incorpora na organização dominante. Faz parte da Igreja, mas não esta recrutado. Vive valores evangélicos: solidariedade, penitencia, fé, esperança... proximidade do crucificado; Maria das dores e da glória, fala de ressurreição. Oram com os lábios, mas muito mais com sua presença, com gestos talvez não comuns... representam uma entrega absoluta, sem respeito humano... uma oração sem distrações... certamente incompleta, cheia de elementos duvidosos que é o que esta ao alcance deles. Sincretismo?
Os que se tornam “evangélicos” se manifestam com um perigoso PURITANISMO E “SUPERIORIDADE” ELITISTA, condenando precipitadamente tudo o que é diferente de seus padrões e costumes. Propondo uma teologia do sucesso e bem estar econômico, bem nos moldes da sociedade de consumo contemporânea.
4. DÚVIDAS, TENSÕES
- Membros das CEBs não tomam armas. Apostam nas mudanças sociais possíveis e na não violência ativa (Direitos humanos, Helder Câmara).
As CEBs deram apoio aos movimentos sociais, ecológicos, culturais e de cidadania... Nunca se organizou um partido representativo dos católico
- Não se conhece casos em que comunidades Eclesiais de Base, como tal, tenham deixado a Igreja Católica, como aconteceu com grupos da renovação carismática na Guatemala, nos Estados Unidos e mesmo no Brasil
- Houve constante pressão do Vaticano e mesmo intervenções “punitivas” sobre teólogos, biblistas, sem mencionar o que foi atingindo bispos como Mendes Arceo, Pedro Casaldáliga, Romero, Leonidas Proaño, Samuel Ruiz, Gonzalo Marañon e a CNBB do Brasil. O CELAM tomou a decisão de “unificar” em Bogota, os Institutos Pastorais que se haviam desenvolvido no Chile, no Equador e na mesma Colombia (Manisales)... Teólogos como Leonardo Boff, Ion Sobrino, Sociólogos como Jose Oscar Beozzo, Historiadores como Henrique Dussel, Biblistas como Carlos Mesters, sofreram também advertências.
- Aumentando a repressão militar e de grupos econômicos, as Igrejas locais mais atingidas e CEBs, (denúncias, missionários estrangeiros expulsos, martirizados: padre, religiosas, mulheres norte americanas mártires em El Salvador, e Brasil (Dorothy); e outros mártires de nacionalidade canadense, espanhola, filipina, francesa, italiana, alemã...) procuram apoio internacional
- Os cardeais Lorscheider, Arns, os presidentes da CNBB de turno (Ivo Lorscheiter, Luciano Mendes... ) não pouparam viagens ao Vaticano para esclarecer suspeitas e responder a denúncias.
@+ A reflexão bíblica-teológica se concentra especialmente no conhecimento das primeiras comunidades cristãs do novo testamento; trabalha a dimensão bíblica orante; a cristologia- Jesus histórico e a pneumatologia e reinado de Deus.

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