segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Papa Ratzinger sobre o futuro da Igreja


 

Em 1971, o teólogo Joseph Ratzinger, escreveu sua obra Fé e Futuro, e fez a seguinte pergunta: Como será a Igreja no 2.000? Assim afirma:

“Da crise de hoje, também desta vez surgirá no futuro uma Igreja que terá mudado muito. Ela será pequena e, em grande parte, deverá começar a partir do inicio. Ela não terá tantos fiéis para ocupar os espaços de muitas das construções que foram feitas no período de grande esplendor, devido ao número pequeno de seus adeptos. Ela perderá muito de seus privilégios que havia conquistado na sociedade. Ao contrário do ocorrido até agora ela se apresentará muito mais fortificada como comunidade de voluntários, que somente se faz acessível pela decisão livre e pessoal de seus membros. Como comunidade pequena, ela pedirá muito mais da iniciativa de seus membros e conhecerá também, certamente, novas maneiras dos ministérios ordenados e elevará os leigos profissionais ao sacerdócio ministerial. Em muitas comunidades pequenas, e em outros grupos sociais semelhantes, a evangelização será feita dessa maneira. Claro é que o sacerdócio oficial será indispensável!

            Más não obstante, em todas estas mudanças que podemos supor que hão de acontecer na Igreja, eu penso que ela encontrará nova e decididamente seu lugar essencial no que sempre tem sido seu núcleo central: a fé em Deus Uno e Trino, em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, e na assistência do Espírito que chega até o fim. Na fé e na oração ela reencontrará seu próprio núcleo central vivendo os sacramentos como culto divino e não como problema de configuração litúrgica.

 

            Emergirá uma Igreja interiorizada que não prevalece de mandato político e tão pouco se compromete com a esquerda ou a direita. Ela conseguirá isto com muito esforço, porque o processo de cristalização e de esclerosamento vão lhe custar também muitas forças. Ela se fará uma Igreja dos pobres e dos pequenos. O processo será muito difícil devido aos enredos da estupidez sectária daqueles que conservam sua arrogância.

           

É claro que tudo isso demanda tempo. O processo será longo e penoso, como muito difícil tem sido o caminho feito pela Igreja desde os falsos progressismos às vésperas da Revolução Francesa, nos quais, também muitos dos bispos falavam elegante sobre dogmas e talvez deixando transparecer que até mesmo a existência de Deus não era dada por certa, isto somente terminou com a renovação da Igreja no século dezenove.

           

Ademais, depois disto, terá que sair do seio de uma igreja interiorizada e simplificada uma grande força. Pois as pessoas, vivendo em um mundo inteiramente planificado, estarão inevitavelmente na solidão. Quando, para elas, Deus estiver completamente desaparecido, elas experimentarão sua pobreza completa e horrível em suas frustrações. E encontrarão na pequena comunidade dos que creem algo inteiramente novo, como uma esperança que será uma resposta a todo aquilo que ocultamente sempre perguntaram.

           

Desse modo, me parece certo que, para a Igreja estes tempos iminentes são muito difíceis. Sua crise verdadeira está apenas começando, teremos que contar com grandes abalos. Porém, é também certo aquilo que afinal vai permanecer: não uma Igreja do culto político,... , mas a igreja da fé. Certamente ela não será a força dominante da sociedade, como foi até agora, porém, dela ressurgirá e florescerá a humanidade como pátria que oferece vida e esperança a quem queira até para além da morte.

 

 

O segundo texto ao qual me refiro é o do Cardeal Joseph Ratzinger, em entrevista publicada em 1997, O sal da terra: o cristianismo e a Igreja católica no limiar do terceiro milênio. Assim se expressa sobre a leitura popular da bíblia, que, ao meu ver, é um dos melhores caminhos que o Espírito apontou neste último século como o lugar de edificação da Igreja. Isso está tão claro que foi assumido pelo conjunto do episcopado brasileiro como uma das urgências pastorais, a animação bíblica de toda a ação pastoral. Vamos ao texto:

Às vezes parece ser tão complicado (ler a Bíblia) que se julga que só os estudiosos podem ter uma visão de conjunto. A exegese deu-nos muitos elementos positivos, mas também fez com que surgisse a impressão de que uma pessoa normal não é capaz de ler a Bíblia, porque tudo é tão complicado. Temos de voltar a aprender que a Bíblia diz alguma coisa a cada um e que é oferecida precisamente aos simples. Nesse caso dou razão a um movimento que surgiu no seio da teologia da libertação que fala da interpretação popular. De acordo com essa interpretação, o povo é o verdadeiro proprietário da Bíblia e, por isso, o seu verdadeiro intérprete. Não precisam conhecer todas as nuances críticas; compreendem o essencial. A teologia, com os seus grandes conhecimentos, não se tornará supérflua, até se tornará mais necessária no diálogo mundial das culturas. Mas não pode obscurecer a suprema simplicidade da fé que nos põe simplesmente diante de Deus, e diante de um Deus que se tornou próximo de mim ao fazer-se homem[1].



[1]  RATZINGER, Cardeal Joseph, O sal da terra: o cristianismo e a Igreja católica no limiar do terceiro milênio. Rio de Janeiro, Imago, 1997, p210-211.
 

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