Em 1971, o teólogo Joseph Ratzinger, escreveu sua obra
Fé e Futuro, e fez a seguinte pergunta: Como
será a Igreja no 2.000? Assim afirma:
“Da
crise de hoje, também desta vez surgirá no futuro uma Igreja que terá mudado
muito. Ela será pequena e, em grande
parte, deverá começar a partir do inicio. Ela não terá tantos fiéis para ocupar
os espaços de muitas das construções que
foram feitas no período de grande esplendor, devido ao número pequeno de seus
adeptos. Ela perderá muito
de seus privilégios que havia conquistado na sociedade. Ao contrário do
ocorrido até agora ela se apresentará muito mais fortificada como comunidade de voluntários,
que somente se faz acessível pela decisão livre e pessoal de seus membros. Como
comunidade pequena, ela pedirá muito mais da iniciativa de seus membros e
conhecerá também, certamente, novas maneiras dos ministérios ordenados e elevará os leigos
profissionais ao sacerdócio ministerial. Em muitas comunidades pequenas, e em
outros grupos sociais semelhantes, a evangelização será feita dessa maneira.
Claro é que o sacerdócio oficial será indispensável!
Más não obstante, em todas estas
mudanças que podemos supor que hão de acontecer na Igreja, eu penso que ela
encontrará nova e decididamente seu lugar essencial no que sempre tem sido seu núcleo central: a fé em Deus Uno e Trino, em Jesus Cristo , o Filho
de Deus feito homem, e na assistência do Espírito que chega até o fim. Na fé e
na oração ela reencontrará seu próprio núcleo central vivendo os sacramentos como culto divino e não como problema de
configuração litúrgica.
Emergirá uma Igreja interiorizada
que não prevalece de mandato político e tão pouco se compromete com a esquerda
ou a direita. Ela conseguirá isto com muito esforço, porque o processo de cristalização e de esclerosamento vão lhe
custar também muitas forças. Ela se fará uma Igreja dos pobres e dos pequenos. O
processo será muito difícil devido aos enredos da estupidez sectária daqueles
que conservam sua arrogância.
É claro que tudo isso demanda tempo. O processo será longo e penoso, como muito difícil
tem sido o caminho feito pela Igreja desde os falsos progressismos às vésperas
da Revolução Francesa, nos quais, também muitos dos bispos falavam elegante
sobre dogmas e talvez deixando transparecer que até mesmo a existência de Deus
não era dada por certa, isto somente terminou com a renovação da Igreja no
século dezenove.
Ademais, depois disto, terá que sair do seio de uma igreja
interiorizada e simplificada uma grande força. Pois as pessoas, vivendo em um
mundo inteiramente planificado, estarão inevitavelmente na solidão. Quando,
para elas, Deus estiver completamente desaparecido, elas experimentarão sua
pobreza completa e horrível em suas frustrações. E encontrarão na pequena comunidade dos que creem
algo inteiramente novo, como uma esperança que será uma resposta a todo aquilo
que ocultamente sempre perguntaram.
Desse modo, me parece certo que, para a Igreja estes tempos iminentes
são muito difíceis. Sua crise verdadeira está apenas começando, teremos que
contar com grandes abalos. Porém, é também certo aquilo que afinal vai
permanecer: não uma Igreja do culto político,... , mas a igreja da fé.
Certamente ela não será a força dominante da sociedade,
como foi até agora, porém, dela ressurgirá e florescerá a humanidade como
pátria que oferece vida e esperança a quem queira até para além da morte.
O segundo texto ao qual me refiro
é o do Cardeal Joseph Ratzinger, em entrevista publicada em 1997, O sal da terra:
o cristianismo e a Igreja católica no limiar do terceiro milênio. Assim se expressa sobre a leitura popular da
bíblia, que, ao meu ver, é um dos melhores caminhos que o Espírito apontou
neste último século como o lugar de edificação da Igreja. Isso está tão claro
que foi assumido pelo conjunto do episcopado brasileiro como uma das urgências
pastorais, a animação bíblica de toda a
ação pastoral. Vamos ao texto:
Às vezes parece ser tão complicado (ler a Bíblia) que
se julga que só os estudiosos podem ter uma visão de conjunto. A exegese
deu-nos muitos elementos positivos, mas também fez com que surgisse a impressão
de que uma pessoa normal não é capaz de ler a Bíblia, porque tudo é tão
complicado. Temos de voltar a aprender que a Bíblia diz alguma coisa a cada um
e que é oferecida precisamente aos simples. Nesse caso dou
razão a um movimento que surgiu no seio da teologia da libertação que fala da
interpretação popular. De acordo com essa interpretação, o povo é o verdadeiro
proprietário da Bíblia e, por isso, o seu verdadeiro intérprete. Não
precisam conhecer todas as nuances críticas; compreendem o essencial. A
teologia, com os seus grandes conhecimentos, não se tornará supérflua, até se
tornará mais necessária no diálogo mundial das culturas. Mas não pode
obscurecer a suprema simplicidade da fé que nos põe simplesmente diante de
Deus, e diante de um Deus que se tornou próximo de mim ao fazer-se homem[1].
[1] RATZINGER, Cardeal Joseph, O
sal da terra: o cristianismo e a Igreja católica no limiar do terceiro milênio.
Rio de Janeiro, Imago, 1997, p210-211.
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