sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Igreja, Cebs e Nova Sociedad. Marins


IGREJA, CEBs E NOVA SOCIEDADE (PAINEL ABERTO).

                           J.F.Marins e Teolide M.Trevisan

 

       1. A CRISE NUMÉRICA

O modelo eclesial mantido pela Igreja Católica enfrenta tempos de crise numérica e de não preferência, pela nova Sociedade. Não se trata de hostilidades, senão de desinteresse, que na prática é recíproco.

 

       # Em linguagem de futebol: - A Igreja Católica é considerada, cada vez       mais, como uma equipe que continua jogando, mas já perdeu o campeonato e     além disso, vai para a segunda divisão.

 

Até a metade do século XX, 90% dos brasileiros se diziam católicas. Agora só 65%, segundo o censo de 2010. Quer dizer que houve decréscimo de 25%. Num pais de quase 200 milhões de habitantes, isso significa que 50 milhões deixaram a Igreja nos últimos tempos. E os estudiosos dessa matéria afirmam que em três décadas, os Muçulmanos serão maioria na Europa, e no Brasil, os evangélicos[1].

      

       2. DESGASTE  INTERNO

       + Há desconfiança recíproca entre os que militam na igreja:

- por causa de diferentes visões teológicas e pastorais;

- por falta de diálogo e desconhecimentos recíprocos entre os diferentes movimentos, associações, grupos eclesiásticos, que se fecham ao redor do próprio método e conteúdo··.

       Estamos divididos – toda diferença passa a ser ameaça e não graça.  O ecumenismo cresceu entre as diferentes confissões cristãs e diminuiu dentro da própria casa (família, paroquia, diocese, CNBB, Igreja em geral). Entre nós, não se vê humildade grupal e estrutural. Nem grandes esforços para unir forças. A autocrítica é praticamente nula o ineficiente. A altero-crítica goza de níveis altos.

      

       # O nosso time não está entrosado, conta com bons jogadores, mas perde      o jogo. Alguns têm medo de se machucar, outros querem mostrar-se e se perdem em malabarismos que não concluem em gol.

      

       A Igreja tem que avaliar onde esta gastando seus recursos de pessoal, tempo e reservas econômicas. - Onde coloca suas prioridades? Como identifica oportunidades históricas para o Evangelho? Como ser a presença do apoio de Deus, onde o povo está gastando a sua vida?

Os grupos evangélicos insistem na conversão e na pertença a uma comunidade. A Igreja Católica, na pureza doutrinal e na prática dos sacramentos. Nem eles, nem nós, estamos transformando o mundo, tomando em sério a meta do Reino.

        Com qual “garra” os católicos, considerados como conjunto, se dispõem a enfrentar os desafios contemporâneos? O que se vê, nos níveis de “comando” e de estratégia é uma retirada para posições do passado, como se entrincheirados naqueles tempos solucionariam problemas de hoje. Ao nível das lideranças católicas, há maior medo de relativismo que de absolutismo[2] . A sociedade vem trabalhando cada vez mais para encontrar  formas mais participativas, a Igreja deu poucos passos na direção de uma verdadeira sinodalidade.

 Na base multiplicam-se devoções e aparições com excessivo sentimentalismo melífluo. O Jesus profeta de denúncias, sanando aos rejeitados... O crucificado é substituído pelo menino Jesus

 

       3. DESENCONTRO COM A SOCIEDADE MODERNA

A IGREJA Católica não está em sintonia com a dimensão macro cultural da modernidade secularizada, multicultural e multi-religiosa, experimental, democrática, participativa, pluralista, valorizadora da pessoa humana (não sangue ou da raça), respeitosa da subjetividade e da liberdade. Os instrumentos de comunicação da fé se revelam inadequados (Homilias, encontros multitudinários mais de celebração do que de formação) para escutar a voz de Deus nos sinais dos tempos.

   No anuncio contemporâneo da fé não se costuma associar a ideia de Deus e do religioso com a felicidade de viver, senão, com proibições de gozar do que gostamos (jejuns) e que nos faz feliz (sacrifícios). Domina o sentimento de culpa, insegurança, medo. Deus aparece como um juiz implacável que castiga sempre aos maus e também aos bons, quando se descuidam.

   As pessoas de hoje não perguntam: - “Quem é Deus?”, mas sim, - “Quem é Ele ou Ela, para mim?. Não pode ser Alguém que complica a vida. Nem uma dificuldade ou conflito para a nossa felicidade.

 

          4. HORA DE AVALIAÇÃO: A Igreja tem que mudar muito para ser crível pelos nossos contemporâneos. Muitas vezes é preciso sacrificar um modelo histórico para salvar a identidade da missão eclesial que é uma graça de conversão, para que seja anúncio-denúncia e convocação.

   -O Deus que Cristo nos apresentou coincide com os predicados divinos ensinados pela educação religiosa; as prioridades do ministério de Jesus, são as que aparecem não apenas nos discursos oficiais da Igreja, mas no seu cotidiano?

    “De outra parte, missas e ministros mediáticos, alinhados a padrões de marketing, podem destruir o sagrado.. adaptações apressadas; modernizações meramente técnicas; corrida atrás do sempre novo, sem consciência histórica” (Paulo Suess)

       

 

       5. HORA DO ESPÍRITO e DAS CEBs – A GRANDE PROPOSTA EM CAMINHO

*      É certo que o Espírito de Deus continua trabalhando também na nossa época.

*      O Vaticano II despertou uma imensa esperança: João XXIII o via como “um passo adiante”, “Um novo Pentecostes[3]

*      Os grandes teólogos anunciaram grandes passos realizados: “De uma Igreja ocidental a uma Universal” (Rahner); “Fim de um catolicismo de contrarreforma” (Congar); “Conclusão do Catolicismo constantiniano” (Chenu)

*      A Igreja perde prestigio e poder, mas ganha em liberdade e autenticidade evangélica, inspirado pelo Jesus histórico, ela se volta mais para a vida.

*      A partir do Vaticano II e de Medellín, a Igreja latino americano-caribenha decidi refazer o seu nível eclesial primeiro, a través das CEBs, que são não só um acontecimento de reforma estrutural e de modelo na Igreja, mas um acontecimento profético e missionário, uma vez que elas surgem habitualmente aonde a estrutura eclesiástica no chega de maneira habitual e significativa, são a presença da Igreja ao lado dos que sofrem, e os faz sujeitos na perspectiva do Reino.

*      Retoma a meta do Reinado de Deus; a Igreja como Povo Messiânico, profético, missionário, samaritano, ecumênico e dialogante.

*      Igreja dentro nesta nova sociedade será uma rede de comunidades menores: samaritanas e pobres, proféticas e missionarias. Presença e anúncio transformador do Crucificado definitivamente Ressuscitado (1Cor 3,15-28).

 

As Cebs são sujeitos de transformação da sociedade,

- pela análise estrutural da realidade e militância social,

- pelo seu modo de viver a comunitariedade, que cria alternativas de relações humanas;

- pela relação com a sacralidade da terra e da criação (ecologia);

- pelo diálogo ecumênico e com outras tradições religiosas;

- pelo serviço aos mais necessitados.

 

Este conjunto de relações ganha força de convencimento, porque é antes de tudo, uma atitude, um modo de ser. Vem a propósito das CEBs, a iniciativa da “Bandeira Amarela”, que salva da fome e da sede a tantos indocumentados na fronteira norte americana. Pessoas anônimas, ao redor de uma bandeira amarela, deixam alimentos e galões de agua, nos caminhos seguidos pelos migrantes. A mensagem é clara: Aqui nos importa a vida!

 



[1](Datos en artículo; “Brasil, un país de evangélicos”, Julia Carvalho, Rev. Veja 4 Julio 2012, pág. 62).
[2] Nunca houve tanto verticalismo e controle da opinião das iniciativas na Igreja, suscitando submissão a tudo que seja da hierarquia...nos níveis médios da Igreja há medo paralisante, triunfalismo pastoral de apoteoses mediáticas multitudinárias. De algumas reuniões dos “escalões superiores” saem mensagens comedidas, com argumentos tomados das últimas encíclicas. O magistério é exercido como um saber absoluto e não como um saber sobre o Absoluto. Surge um episcopado muito preocupado com as questões burocráticas, econômicas e com os temas da moral católica. Há um processo  cada vez mais exacerbado  de clericalização e verticalização. Enfatiza-se mais a obediência a rubricas e normas eclesiásticas do que a comunhão de caminhos de evangelização. “Há reuniões de autoridades eclesiais que se preocupam mais em não correr riscos que ser fiel  ao testemunho a ser dado. Multiplicam palavras mas estão dizendo o mesmo de sempre. Não percebem que pode estar acontecendo que a exceção passa a ser um caminho comum, e o que era caminho comum passa a ser exceção.
A formação clerical insiste mais no culto e  no exercício do poder administrativo-burocrático-canônico, em detrimento do evangelizador pastora. Formação estética, disciplinar e pouco ético-pastoral.  A unidade se entende como uniformidade.  Debates sem ação. Doutrina sem testemunho. Ação sem reflexão Cada religião se apresenta como a verdadeira e universal.  Surge uma Igreja alternativa, mais emocional, intimista, de movimentos, subserviente para evitar conflitos.
Jose Ratzinger no seu livro “Introdução ao cristianismo” escreveu “A igreja se torna o principal obstáculo para a fé. Luta pelo poder humano, aparece o mesquinho teatro dos que absolutizam o cristianismo oficial para paralisar o verdadeiro espirito do Senhor.
[3] G.Alberigo, Fedelta y creatividtá nella recepcione del Concilio Vaticano II. Cristianesimo en la historia, 21 (2000) 385ss

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