IGREJA,
CEBs E NOVA SOCIEDADE (PAINEL ABERTO).
J.F.Marins e Teolide
M.Trevisan
1. A CRISE NUMÉRICA
O
modelo eclesial mantido pela Igreja Católica enfrenta tempos de crise numérica
e de não preferência, pela nova Sociedade. Não se trata de hostilidades, senão
de desinteresse, que na prática é recíproco.
# Em linguagem de futebol: - A Igreja
Católica é considerada, cada vez mais,
como uma equipe que continua jogando, mas já perdeu o campeonato e além disso, vai para a segunda divisão.
Até a metade do século XX,
90% dos brasileiros se diziam católicas. Agora só 65%, segundo o censo de 2010.
Quer dizer que houve decréscimo de 25%. Num pais de quase 200 milhões de
habitantes, isso significa que 50 milhões deixaram a Igreja nos últimos tempos.
E os estudiosos dessa matéria afirmam que em três décadas, os Muçulmanos serão
maioria na Europa, e no Brasil, os evangélicos[1].
2. DESGASTE INTERNO
+ Há
desconfiança recíproca entre os que militam na igreja:
- por causa de diferentes visões teológicas e pastorais;
- por falta de diálogo e desconhecimentos recíprocos entre
os diferentes movimentos, associações, grupos eclesiásticos, que se fecham ao
redor do próprio método e conteúdo··.
Estamos
divididos – toda diferença passa a ser ameaça e não graça. O ecumenismo cresceu entre as diferentes
confissões cristãs e diminuiu dentro da própria casa (família, paroquia,
diocese, CNBB, Igreja em geral). Entre nós, não se vê humildade grupal e
estrutural. Nem grandes esforços para unir forças. A autocrítica é praticamente
nula o ineficiente. A altero-crítica goza de níveis altos.
# O
nosso time não está entrosado, conta com bons jogadores, mas perde o jogo. Alguns têm medo de se machucar,
outros querem mostrar-se e se perdem em malabarismos que não concluem em gol.
A Igreja
tem que avaliar onde esta gastando seus recursos de pessoal, tempo e reservas
econômicas. - Onde coloca suas prioridades? Como identifica oportunidades
históricas para o Evangelho? Como ser a presença do apoio de Deus, onde o povo
está gastando a sua vida?
Os grupos evangélicos insistem na conversão e na pertença a
uma comunidade. A Igreja Católica, na pureza doutrinal e na prática dos
sacramentos. Nem eles, nem nós, estamos transformando o mundo, tomando em sério
a meta do Reino.
Com qual
“garra” os católicos, considerados como conjunto, se dispõem a enfrentar os
desafios contemporâneos? O que se vê, nos níveis de “comando” e de estratégia é
uma retirada para posições do passado, como se entrincheirados naqueles tempos
solucionariam problemas de hoje. Ao nível das lideranças católicas, há maior
medo de relativismo que de absolutismo[2] .
A sociedade vem trabalhando cada vez mais para encontrar formas mais participativas, a Igreja deu
poucos passos na direção de uma verdadeira sinodalidade.
Na base
multiplicam-se devoções e aparições com excessivo sentimentalismo melífluo. O
Jesus profeta de denúncias, sanando aos rejeitados... O crucificado é
substituído pelo menino Jesus
3. DESENCONTRO COM A
SOCIEDADE MODERNA
A IGREJA Católica não está em sintonia com a dimensão macro cultural da
modernidade secularizada, multicultural e multi-religiosa, experimental,
democrática, participativa, pluralista, valorizadora da pessoa humana (não
sangue ou da raça), respeitosa da subjetividade e da liberdade. Os instrumentos
de comunicação da fé se revelam inadequados (Homilias, encontros
multitudinários mais de celebração do que de formação) para escutar a voz de
Deus nos sinais dos tempos.
No anuncio
contemporâneo da fé não se costuma associar a ideia de Deus e do religioso com
a felicidade de viver, senão, com proibições de gozar do que gostamos (jejuns)
e que nos faz feliz (sacrifícios). Domina o sentimento de culpa, insegurança,
medo. Deus aparece como um juiz implacável que castiga sempre aos maus e também
aos bons, quando se descuidam.
As
pessoas de hoje não perguntam: - “Quem é Deus?”, mas sim, - “Quem é Ele ou Ela,
para mim?. Não pode ser Alguém que complica a vida. Nem uma dificuldade ou
conflito para a nossa felicidade.
4. HORA DE AVALIAÇÃO: A
Igreja tem que mudar muito para ser crível pelos nossos contemporâneos. Muitas
vezes é preciso sacrificar um modelo histórico para salvar a identidade da
missão eclesial que é uma graça de conversão, para que seja anúncio-denúncia e
convocação.
-O
Deus que Cristo nos apresentou coincide com os predicados divinos ensinados
pela educação religiosa; as prioridades do ministério de Jesus, são as que
aparecem não apenas nos discursos oficiais da Igreja, mas no seu cotidiano?
“De
outra parte, missas e ministros mediáticos, alinhados a padrões de marketing,
podem destruir o sagrado.. adaptações apressadas; modernizações meramente
técnicas; corrida atrás do sempre novo, sem consciência histórica” (Paulo
Suess)
5. HORA DO ESPÍRITO e DAS
CEBs – A GRANDE PROPOSTA EM CAMINHO
É certo que o Espírito de Deus continua trabalhando também
na nossa época.
O Vaticano II despertou uma imensa esperança: João XXIII o
via como “um passo adiante”, “Um novo Pentecostes[3]
Os grandes teólogos anunciaram grandes passos realizados:
“De uma Igreja ocidental a uma Universal” (Rahner); “Fim de um catolicismo de
contrarreforma” (Congar); “Conclusão do Catolicismo constantiniano” (Chenu)
A Igreja perde prestigio e poder, mas ganha em liberdade e
autenticidade evangélica, inspirado pelo Jesus histórico, ela se volta mais
para a vida.
A partir do Vaticano II e de Medellín, a Igreja latino
americano-caribenha decidi refazer o seu nível eclesial primeiro, a través das
CEBs, que são não só um acontecimento de reforma estrutural e de modelo na
Igreja, mas um acontecimento profético e missionário, uma vez que elas surgem
habitualmente aonde a estrutura eclesiástica no chega de maneira habitual e
significativa, são a presença da Igreja ao lado dos que sofrem, e os faz
sujeitos na perspectiva do Reino.
Retoma a meta do Reinado de Deus; a Igreja como Povo
Messiânico, profético, missionário, samaritano, ecumênico e dialogante.
Igreja dentro nesta nova sociedade será uma rede de
comunidades menores: samaritanas e pobres, proféticas e missionarias. Presença
e anúncio transformador
do Crucificado
definitivamente Ressuscitado (1Cor 3,15-28).
As Cebs
são sujeitos de transformação da sociedade,
- pela análise
estrutural da realidade e militância social,
- pelo seu
modo de viver a comunitariedade, que cria alternativas de relações humanas;
- pela relação
com a sacralidade da terra e da criação (ecologia);
- pelo
diálogo ecumênico e com outras tradições religiosas;
- pelo serviço
aos mais necessitados.
Este
conjunto de relações ganha força de convencimento, porque é antes de tudo, uma
atitude, um modo de ser. Vem a propósito das CEBs, a iniciativa da “Bandeira
Amarela”, que salva da fome e da sede a tantos indocumentados na fronteira
norte americana. Pessoas anônimas, ao redor de uma bandeira amarela, deixam
alimentos e galões de agua, nos caminhos seguidos pelos migrantes. A mensagem é
clara: Aqui nos importa a vida!
[1](Datos
en artículo; “Brasil, un país de evangélicos”, Julia Carvalho, Rev. Veja 4
Julio 2012, pág. 62).
[2] Nunca houve tanto
verticalismo e controle da opinião das iniciativas na Igreja, suscitando
submissão a tudo que seja da hierarquia...nos níveis médios da Igreja há medo
paralisante, triunfalismo pastoral de apoteoses mediáticas multitudinárias. De
algumas reuniões dos “escalões superiores” saem mensagens comedidas, com
argumentos tomados das últimas encíclicas. O magistério é exercido como um
saber absoluto e não como um saber sobre o Absoluto. Surge um episcopado muito
preocupado com as questões burocráticas, econômicas e com os temas da moral
católica. Há um processo cada vez mais exacerbado de clericalização e verticalização.
Enfatiza-se mais a obediência a rubricas e normas eclesiásticas do que a
comunhão de caminhos de evangelização. “Há reuniões de autoridades eclesiais
que se preocupam mais em não correr riscos que ser fiel ao testemunho a ser dado. Multiplicam palavras
mas estão dizendo o mesmo de sempre. Não percebem que pode estar acontecendo
que a exceção passa a ser um caminho comum, e o que era caminho comum passa a
ser exceção.
A
formação clerical insiste mais no culto e
no exercício do poder administrativo-burocrático-canônico, em detrimento
do evangelizador pastora. Formação estética, disciplinar e pouco
ético-pastoral. A unidade se entende
como uniformidade. Debates sem ação. Doutrina
sem testemunho. Ação sem reflexão Cada religião se apresenta como a verdadeira
e universal. Surge uma Igreja
alternativa, mais emocional, intimista, de movimentos, subserviente para evitar
conflitos.
Jose
Ratzinger no seu livro “Introdução ao cristianismo” escreveu “A igreja se torna
o principal obstáculo para a fé. Luta pelo poder humano, aparece o mesquinho
teatro dos que absolutizam o cristianismo oficial para paralisar o verdadeiro
espirito do Senhor.
[3] G.Alberigo, Fedelta y creatividtá
nella recepcione del Concilio Vaticano II. Cristianesimo en la historia, 21
(2000) 385ss
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