sábado, 8 de setembro de 2012

Sequestradores de Sacramentos

Quase pedindo perdão pelo impacto tão forte da imagem que usou (a de uma jovem mãe, uma “pobre moça” que talvez venceu a tentação que insinuou em seu interior de abortar, que teve a coragem de trazer ao mundo o seu filho e que depois “vai peregrinando de paróquia em paróquia para seja batizado”), Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, denunciou as razões mais recorrentes nos casos de batismo “negado”. “Digo isso com dor, e se parece uma denúncia ou uma ofensa, perdoem-me, mas em nossa região eclesiástica há presbíteros que não batizam as crianças de mães solteiras porque não foram concebidos na santidade do casamento”.

A reportagem é de Gianni Valente e está publicada no sítio Vatican Insider, 05-09-2012. A tradução é do Cepat.

O singular pedido de não humilhar com chantagens sacramentais as expectativas daqueles que pedem o batismo para os próprios filhos foi pronunciado no domingo passado por Bergoglio em sua homilia na missa de encerramento do Congresso da região eclesiástica de Buenos Aires, dedicado à Pastoral Urbana.

O cardeal jesuíta considera que o “sequestro” do sacramento que marca o início da vida cristã é a expressão de um neoclericalismo rigoroso e hipócrita, que trata os sacramentos como instrumentos para afirmar a própria supremacia. Talvez reprovando nos fiéis suas fragilidades e feridas, ou mortificando as aberturas e as expectativas daqueles que não se encaixam nos requisitos de preparação doutrinal e de status moral. Não se trata apenas de modelos de pastoral sem sentido: segundo Bergoglio, este “modus operandi” prejudica e renega a própria dinâmica da encarnação de Cristo, que se reduz a mero slogan doutrinal para operações de poder religioso. “Jesus”, explicou o cardeal, “não fez proselitismo: Ele acompanhava. E as conversões que provocava aconteciam precisamente por sua solicitude de acompanhar que nos faz irmãos, nos faz filhos, e não sócios de uma ONG ou prosélitos de uma multinacional”.

Uma dinâmica de proximidade e de libertação que tem sua expressão objetiva e duradoura no dom dos sacramentos. Ao contrário, segundo Bergoglio, os hipócritas de hoje, clericalizando a Igreja, “afastam o povo de Deus da salvação”. Eles são os epígonos do “gnosticismo hipócrita dos fariseus”.

As palavras de Bergoglio expressam a preocupação que a Igreja de Buenos Aires tem há algum tempo. Anos atrás, ao refletir sobre as intuições do padre Rafael Tello (o teólogo dos pobres, da devoção popular e que faleceu em 2002), a arquidiocese sugeriu algumas linhas pastorais para facilitar o batismo daqueles que (crianças, jovens e adultos) que, por diferentes circunstâncias da vida, no novo contexto da secularização, não se haviam batizado. E não exigia condições previstas no Código de Direito Canônico, ou seja, que fossem os pais que pedem o batismo para os filhos menores. O objetivo: fazer com que nenhum pai, começando pelos que vivem condições familiares irregulares, saia da paróquia com a ideia de que alguém, por algum motivo, se arrogue o poder de negar o batismo aos seus filhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário