sábado, 8 de setembro de 2012

MQRTINI E OUTRO CONCILIO


Martini, no dia seguinte à morte do papa polonês, quando já estava doente da mesma doença, parecia o perfeito candidato de bandeira, útil para tornar visível aquela parte do colégio que considerava escorregadia para a Igreja uma agenda curta, feita de luta contra o relativismo e de concessões aos lefebvrianos. Ele rejeitou obviamente o papel de "fantoche": mas foi um protagonista do conclave. Nas primeiras três votações, enquanto a candidatura de Ratzinger manifestava a sua consistência, o cardeal argentino Bergoglio, jesuíta, viu subir os seus próprios votos, até ultrapassar na terça-feira ao meio-dia a cota de dois terços. Isto é, aquele limite que de norma esbarra a via para um candidato e obriga a maioria a mudar de nome.

Mas, nesse ponto, na pausa do almoço, foi Martini quem trouxe os votos com os quais, no primeiro escrutínio do dia 19 à tarde, Ratzinger superou o quórum e se tornou papa. Na nunca escondida diferença de posições, Martini fez valer a estima intelectual, esperou as "belas surpresas" (como disse em uma entrevista) que não vieram e esbarrou a via às medíocres soluções que ele via se perfilar por trás da desistência de Ratzinger. Uma escolha que decidiu o selo de um catolicismo que, talvez, deve voltar a refletir sobre as expectativas de Martini e sobre o seu estilo.

Mas não foi de menor importância, e será ainda mais em um futuro próximo, o discurso que Martini pronunciou no dia 7 de outubro de 1999, diante do sínodo de bispos: então, ele expressou o "sonho" de um concílio e de uma forma de expressão conciliar da colegialidade na Igreja Católica. Com relação às prerrogativas do pontífice, usou paráfrases: pediu um "debate colegial e de autoridade entre todos os bispos sobre alguns dos temas nodais".

Mas era evidente que o "sonho" era um pulo para a frente, rumo a uma colegialidade franca e rumo a um concílio que não era o Vaticano III de quem queria demolir o Vaticano II: mas sim um concílio visto com aquela confiança (no sentido de pistís) típica do cristianismo que confia os problemas urgentes à disciplina, os normais à misericórdia, e os imensos à comunhão.

O tempo permitiu que Martini visse o valor da sua posição no conclave. Não a aurora da colegialidade que o catolicismo espera pacientemente há quase meio século. E nem de um concílio ao qual se possa confiar a agenda cada vez mais desgastada da Igreja: mas quando o concílio vier, se falará dele como o seu profeta

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