O
BI-campeonato mundial de clubes conquistado pelo Corintians ocupou semanas nos
noticiários de radio e televisão. Mobilizou milhões de pessoas dentro e fora do
Brasil: viagens ao outro lado do mundo, passeatas, reuniões em estádios,
avenidas, aeroportos. Uma apoteose internacional que envolveu não só os
torcedores da mencionada equipe vencedora, mas, de diferentes maneiras, a muito
mais gente, de todas as idades, em todas as cidades do nosso pais e um pouco,
mundo afora, onde havia brasileiros turistas, estudantes ou residentes.
Diferentes comentários já foram feitos. Vamos
restringir-nos a identificar algumas significativas lições pastorais, que o
mencionado evento nos deixa.
1. Globalmente, sentimos que nos
envolveu uma multifacética liturgia que despertou nossa atenção, revelando como
se pode amar loucamente a uma instituição esportiva, acima da própria família e
da própria pátria.
2. Façamos uma lista do que foi sendo
possível notar e acolher como um fenômeno que explodiu de baixo para cima, com
milhões de protagonistas: abundancia de símbolos como faixas, bandeiras,
danças, camisas, cores, desfiles, hinos, a taça sendo tocada com reverencia
“religiosa”.
3. Não se mediram sacrifícios para
estar junto com o time, nas disputas finais, realizadas no Japão: + viagem de
quase duas dezenas de horas de voo, deixando atrás família, esposa com crianças
pequenas ou a ponto de dar à luz, buscando hospedagem em famílias ou
instituições beneficentes, por não se poder pagar a diária dos hotéis; + tempo
retirada das próprias férias, ou dos dias de trabalho com o risco de perder o
emprego, + incomodidades de longas viagens, de estar longas horas nos
estádios...
4. Nenhum sacrifício foi demasiado grande... Para
quem foi ao Japão, se pode até denominar uma “viagem missionaria”, por uma
causa importante, comunicando o quanto o Clube era digno de tanto apreço e
dedicação.
5. Em muitos momentos era evidente a mutua
ajuda, tomando dinheiro emprestado para viagens e hotéis, apoiando os que não
tinham onde ficar hospedados, compartilhando comida e informações, estando lado
a lado na hora da angustia da partida... esperando que terminasse logo o tempo
regulamentar, para garantir a vitória de 1 a 0... principalmente quando o
adversário estava atacando com insistência.
6. Alegria contagiante, esperança que
se transformava em certeza. Manifestação de uma religiosidade popular que supõe
poder ganhar a intercessão dos santos facilitando as boas jogadas do Corinthians
e dificultando o sucesso do Chelsea.
7. Todos se sentiram sujeito, não só os
jogadores... os torcedores, com sua presença organizada, ovações, persistência
de entusiasmo, tinham convicção de estar influindo na vitória que se buscava
8. Sentido de pertença, não se tratava
de acompanhar curiosa e até interessadamente o desenlace da partida, pela TV...
era preciso estar ao lado do time, com uma presença que não se pode negar à própria
família num momento de grandes decisões
9. Uma dura ascese teve lugar, primeiro
para os próprios jogadores: treinamentos constantes, conhecimento do campo onde
se desenvolveria a partida, avaliação de como jogavam os adversários, quais suas
táticas, capacidades, debilidades, técnicas e possíveis surpresas.
10.
Interpretando
aspectos do evento, com termos pastorais, se poderia dizer que os “santos” capazes
de gestos “sobrenaturais” são os jogadores, que representam o elemento
carismático do evento, realizando passes “milagrosos”. O treinador é como o pároco e
assessor. A multidão, são os fieis e a diretoria com o seu Presidente, são,
respectivamente os cardeais e o Papa.
DE OUTRA PARTE, uma comparação, mesmo superficial com os acontecimentos
religiosos da tradição católica, desperta muitas interrogações:
1. A nossa liturgia não é popular, é de
outro tempo e como se apresenta atualmente é mais fruto do trabalho de
especialistas e técnicos, do que do povo. Não está carregada de moções, não
desperta entusiasmo. As diferentes culturas já não podem elaborar uma liturgia
adequada, tem que usar a “oficial”, que surgiu em outros tempos e foi sendo
constantemente “guiada, purificada, intelectualizada”.
2. Ninguém cita documentos e palavras do
Presidente do time. A maioria dos torcedores nem sabem que é o atual presente,
como se chama, talvez nunca viu sua fotografia.
3. O técnico de futebol conhece
pessoalmente a cada um dos jogadores, fala diretamente com eles. Isso é
impossível na realidade contemporânea da paroquia. Cada pároco tem o seu feudo medieval
e não tem que importar-se muito com os párocos vizinhos, que também dispõe de
seu próprio território e fieis.
4. Os torcedores conhecem todas as
regras dos jogos, não porque a estudaram, senão porque desde criança já tiveram
prática de jogar bola e acompanham com considerável frequência, as partidas e
campeonatos, discutindo sobre a atuação do time e dos adversários. Não há uma
ignorância generalizada sobre o assunto futebol.
Não é preciso explicitar mais o que foi revelado
por um campeonato esportivo em relação à maneira como procede a pastoral
popular das nossas paroquias e dioceses.
P.José F. Marins
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