sábado, 8 de dezembro de 2012

Teologia do Natal


       A novidade do Natal não é ser a vinda de Deus até nós. Na verdade, Deus já veio. Toda a criação é obra sua. Cada ser e o “mistério” de tudo o que existe, em última análise é manifestação do seu amor. Deus, então, já esteve presente desde sempre nesse fascinante evento da criação. Nunca foi embora, nunca se esqueceu da gente. Nunca faria isso conosco. Por isso, a referência do Natal, mais do que confirmar onde Deus está presente, aqui entre nós.

       Qual é então a originalidade dos Evangelhos de Mateus e de Lucas, compartilhando com os primeiros discípulos e com toda a humanidade a narração natalina? Qual foi a intuição medieval de Francisco de Assis, inventando o chamado presépio?

       O Natal é o evento do próprio Deus, na pessoa do Filho Amado, acontecendo como ser humano, em tudo igual a nos, menos no pecado. Jesus é a única pessoa da Trindade, que uniu ser Deus e ser humano, por experiência assumida para sempre.

       A humanidade e toda a historia humana chegamos à plenitude, no Cristo Jesus, Senhor nosso. Ele continua presente entre aqueles que se reúnem no seu nome (Mt 18,20); em todo o que esta sofrendo (Mt 25,39); no acontecimento missionário (Mt 28,18-20); na Palavra Revelada (Jo 1, 1-34), na Eucaristia (Lc 22,19ss).

       Assim o tempo do Advento não é apenas um convite para a "conversão" dos indivíduos e particularmente dos batizados, um apelo piedoso de renovação espiritual individual e “individualista”.  É sempre a celebração e a tomada de consciência de que o sentido da vida e consequentemente a felicidade: de cada pessoa e da humanidade como conjunto (em toda época e lugar); a missão da Igreja e no exemplo dela, todas as religiões que tenham aparecido ao longo dos tempos,  estão vital e radicalmente ligadas à graça e compromisso de ser plenamente humanas. Comprometendo-se em respeitar e ajudar a cada ser humano, particularmente os mais vulneráveis e sofredores (enfermidades, solidão, velhice, oprimidos, segregações, econômico, sexo, cultura, cor da pele...), optando efetivamente pela causa dos pobres. Abracem a humanidade “qualquer”, não só os que o merecem (!). com a mesma solicitude e confiança do Filho de Deus que se tornou um de nós. Como dizia Agostinho: "No que é essencial, somos absolutamente iguais em dignidade... no que é relativo, como um cargo, um serviço, um diploma... somos diferentes, mas ninguém é inferior a ninguém"

            No final de um ano, não ficamos mais velhos, só teremos mais anos vividos.

É quando nos renovamos no Absoluto, que é permanente e eternamente jovem. O Evangelho é sempre jovem, são as estruturas que ficam velhas.             Ter vida não significa necessariamente viver os dias do calendário. É preciso amar a vida... não nos deixar arrastar por forças negativas.        Neste final de ano, deixemos claro para nos e para o nosso pais, e para o mundo, que o mal não se pode vencer na base da indiferença e da mediocridade, menos ainda pelo ódio e pela violência. Como dizia Gandhi, “olho por olho, dente por dente, só nos darão um mundo de caolhos e banguelas”.  Ou como dizia Paulo I, patriarca primaz da Igreja Ortodoxa Servia: “Se nos vivermos conforme a Lei do Senhor, haverá lugar na terra para todos os povos e culturas. Se nos comportamos como Caim, então ,mesmo se formos somente duas pessoas, acharemos que a terra é pequena demais para outros além de nós mesmos”.

        Enquanto não arrancamos radicalmente a violência da civilização, Cristo ainda está para nascer. O Mal não se detém com outro mal. O terrorismo também é um sintoma. Nasce da desesperação e do fanatismo, do medo e do ódio aos poderosos da terra, da impotência dos que queriam dominar aos povos. Não necessitamos organizar atos terroristas para semear fome e morte nas diferentes partes do mundo. Nos o estamos já fazendo a partir da nossa política injusta e não solidaria. A partir de uma sociedade centrada no ter, no prazer, na prepotência do poder e numa visão de consumismo, que coloca a felicidade nas coisas materiais e cria necessidades mentirosas, para que as pessoas não deixem de colocar suas vidas em torno a ídolos que cedo ou tarde vão devorar seus adoradores, porque todo ídolo exige sacrifícios humanos.

       A melhor maneira de crer no mistério de Deus entre nós não é tratar de entender as explicações dos teólogos ou os dogmas das Igrejas (que continuam válidos), senão continuar os passos de Jesus, que viveu como Filho querido de um Deus Pai e que, movido pelo Espírito, se dedicou a fazer um mundo melhor para todos. Deus Pai é amor que se dá. Jesus, amor que acolhe e devolve multiplicando. O Espírito Santo é amor desbordante. A festa do Natal não é ponto de chegada, mas de partida.

 

                     Jose Ferrari Marins

                           Teolide Maria Trevisan

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