A novidade do Natal não é
ser a vinda de Deus até nós. Na verdade, Deus já veio. Toda a criação é obra
sua. Cada ser e o “mistério” de tudo o que existe, em última análise é
manifestação do seu amor. Deus, então, já esteve presente desde sempre nesse
fascinante evento da criação. Nunca foi embora, nunca se esqueceu da gente. Nunca
faria isso conosco. Por isso, a referência do Natal, mais do que confirmar onde
Deus está presente, aqui entre nós.
Qual é então a
originalidade dos Evangelhos de Mateus e de Lucas, compartilhando com os
primeiros discípulos e com toda a humanidade a narração natalina? Qual foi a
intuição medieval de Francisco de Assis, inventando o chamado presépio?
O Natal é o evento do próprio
Deus, na pessoa do Filho Amado, acontecendo como ser humano, em tudo igual a
nos, menos no pecado. Jesus é a única pessoa da Trindade, que uniu ser Deus e
ser humano, por experiência assumida para sempre.
A humanidade e toda a
historia humana chegamos à plenitude, no Cristo Jesus, Senhor nosso. Ele
continua presente entre aqueles que se reúnem no seu nome (Mt 18,20); em todo o
que esta sofrendo (Mt 25,39); no acontecimento missionário (Mt 28,18-20); na
Palavra Revelada (Jo 1, 1-34), na Eucaristia (Lc 22,19ss).
Assim o tempo do Advento
não é apenas um convite para a "conversão" dos indivíduos e
particularmente dos batizados, um apelo piedoso de renovação espiritual
individual e “individualista”. É sempre
a celebração e a tomada de consciência de que o sentido da vida e
consequentemente a felicidade: de cada pessoa e da humanidade como conjunto (em
toda época e lugar); a missão da Igreja e no exemplo dela, todas as religiões
que tenham aparecido ao longo dos tempos,
estão vital e radicalmente ligadas à graça e compromisso de ser
plenamente humanas. Comprometendo-se em respeitar e ajudar a cada ser humano,
particularmente os mais vulneráveis e sofredores (enfermidades, solidão,
velhice, oprimidos, segregações, econômico, sexo, cultura, cor da pele...),
optando efetivamente pela causa dos pobres. Abracem a humanidade “qualquer”,
não só os que o merecem (!). com a mesma solicitude e confiança do Filho de
Deus que se tornou um de nós. Como dizia Agostinho: "No que é essencial,
somos absolutamente iguais em dignidade... no que é relativo, como um cargo, um
serviço, um diploma... somos diferentes, mas ninguém é inferior a ninguém"
No final de um ano, não ficamos mais
velhos, só teremos mais anos vividos.
É quando nos
renovamos no Absoluto, que é permanente e eternamente jovem. O Evangelho é
sempre jovem, são as estruturas que ficam velhas. Ter vida não
significa necessariamente viver os dias do calendário. É preciso amar a vida...
não nos deixar arrastar por forças negativas. Neste
final de ano, deixemos claro para nos e para o nosso pais, e para o mundo, que
o mal não se pode vencer na base da indiferença e da mediocridade, menos ainda
pelo ódio e pela violência. Como dizia Gandhi, “olho por olho, dente por dente,
só nos darão um mundo de caolhos e banguelas”. Ou como dizia Paulo I, patriarca primaz da Igreja Ortodoxa
Servia: “Se nos vivermos conforme a Lei do Senhor, haverá lugar na terra para
todos os povos e culturas. Se nos comportamos como Caim, então ,mesmo se formos
somente duas pessoas, acharemos que a terra é pequena demais para outros além
de nós mesmos”.
Enquanto não arrancamos
radicalmente a violência da civilização, Cristo ainda está para nascer. O Mal
não se detém com outro mal. O terrorismo também é um sintoma. Nasce da
desesperação e do fanatismo, do medo e do ódio aos poderosos da terra, da impotência
dos que queriam dominar aos povos. Não necessitamos organizar atos terroristas
para semear fome e morte nas diferentes partes do mundo. Nos o estamos já
fazendo a partir da nossa política injusta e não solidaria. A partir de uma
sociedade centrada no ter, no prazer, na prepotência do poder e numa visão de
consumismo, que coloca a felicidade nas coisas materiais e cria necessidades
mentirosas, para que as pessoas não deixem de colocar suas vidas em torno a
ídolos que cedo ou tarde vão devorar seus adoradores, porque todo ídolo exige
sacrifícios humanos.
A melhor maneira de crer no
mistério de Deus entre nós não é tratar de entender as explicações dos teólogos
ou os dogmas das Igrejas (que continuam válidos), senão continuar os passos de
Jesus, que viveu como Filho querido de um Deus Pai e que, movido pelo Espírito,
se dedicou a fazer um mundo melhor para todos. Deus Pai é amor que se dá.
Jesus, amor que acolhe e devolve multiplicando. O Espírito Santo é amor
desbordante. A festa do Natal não é ponto de chegada, mas de partida.
Jose Ferrari
Marins
Teolide Maria Trevisan
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