O atual prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Ludwig Müller (foto), apontou as potenciais heresias que as posturas tradicionalistas aninham. Ele fez isto durante a apresentação do sétimo volume da edição em alemão da “Opera omnia”, de Joseph Ratzinger, que reúne sistematicamente todos os textos do Papa-teólogo dedicados ao Concílio e seus documentos. A apresentação foi realizada num lugar muito propício: a biblioteca do “Collegio Teutonico di Santa Maria dell’Anima”, que foi a base logística para o experto teólogo Joseph Ratzinger durante as sessões conciliares.
O atual prefeito do dicastério doutrinal disse, sem deixar espaço para interpretações, que a única leitura ortodoxa do Concílio Vaticano II é a que o considera como uma ocasião de reforma e de renovação, na continuidade do único sujeito-Igreja. Esta hermenêutica é, segundo Müller, a única que respeita “o conjunto indissolúvel entre a Sagrada Escritura, a Tradição completa e integral e o Magistério, cuja maior expressão é o Concílio presidido pelo Sucessor de Pedro, como líder da Igreja visível”.
O arcebispo Müller advertiu que existe uma “interpretação herética” que se opõe à interpretação correta: “a hermenêutica da ruptura, tanto no grupo progressista como no grupo tradicionalista”. Os dois grupos, segundo o atual titular do ex-Santo Ofício, possuem em comum a rejeição do Concílio: “os progressistas porque querem deixá-lo para trás, como se fosse uma estação que é preciso abandonar para chegar numa outra Igreja; os tradicionalistas porque não querem chegar até ele, como se fosse o inverno da Catholica”.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
O primada Anglicano no Sinodo Nova Evang.
O pronunciamento de Rowan Williams no Sínodo para a Nova Evangelização
“Em nossas deliberações sobre como deve ser feito para que o
Evangelho de Cristo seja novamente
apaixonadamente atrativo para os homens e mulheres de nossos dias, espero que
nunca percamos de vista aquilo que o faz apaixonante para nós, para cada um de
nós em nossos diferentes ministérios”, diz Rowan Williams, arcebispo da Igreja
anglicana, em pronunciamento por ocasião do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização.
O texto é publicado no sítio Ameríndia. A tradução é do
Cepat.
Eis o pronunciamento.
Sua Santidade,
Reverendos Padres,
Irmãos e Irmãs em Cristo,
Queridos amigos, para mim é uma honra ter sido convidado pelo Santo Padre para falar nesta assembleia. Como diz o Salmista: “Ecce quam bonum et quam juncundum habitare fratres in unum”. A assembleia do Sínodo dos Bispos para o bem do povo de Cristo é uma dessas matérias que sustentam a saúde da Igreja de Cristo. Hoje, em especial, não podemos esquecer a grande assembleia de “frates in unum” que foi o Concílio Vaticano II, que tanto fez pela saúde da Igreja, ajudando a mesma a recuperar muito da energia necessária para a proclamação da Boa Nova de Jesus Cristo, de uma maneira eficaz em nosso tempo.
Para muita gente de minha geração, inclusive para além das fronteiras da Igreja católica romana, o Concílio foi um sinal de grande promessa, um sinal de que a Igreja era suficientemente forte para pensar questões difíceis em relação a sua cultura e estruturas, assim como se estas eram as adequadas para a tarefa de compartilhar o Evangelho com a complexa, muitas vezes rebelde e sempre inquieta mente do mundo moderno.
Em muitos aspectos, o Concílio foi uma redescoberta da inquietude e paixão evangélica, centrada não apenas na renovação da própria vida da Igreja, mas também em sua credibilidade no mundo. Textos como a “Lumen Gentium” e a “Gaudium et Spes” ofereceram uma visão fresca e prazerosa sobre como a imutável realidade de Cristo vivo em seu Corpo na terra, por meio do dom do Espírito Santo, pode falar com palavras novas à sociedade de nosso tempo e, inclusive, àqueles que pertencem a outros credos.
Não é surpresa que, cinquenta anos depois, continuemos debatendo sobre algumas das mesmas questões e implicações do Concílio. E penso que a preocupação deste Sínodo pela nova evangelização é parte dessa exploração contínua da herança do Concílio.
Um dos aspectos mais importantes da teologia, segundo o Vaticano II, foi a renovação da antropologia cristã. No lugar da narração neoescolástica, muitas vezes tergiversada e artificial, sobre como a graça e a natureza se relacionam na constituição do ser humano, o Concílio ampliou os elementos importantes de uma teologia que voltava às fontes mais precoces e ricas: a teologia de alguns gênios espirituais como Henri de Lubac, que nos recordou o que significava para o cristianismo primitivo e medieval falar da humanidade feita à imagem de Deus e da graça como a perfeição e transfiguração dessa imagem, durante muito tempo revestida de nossa habitual “desumanidade”. Sob esta luz, proclamar o Evangelho é proclamar que ao menos é possível ser adequadamente humano: a fé católica e cristã é um “verdadeiro humanismo”, adotando uma frase emprestada de outro gênio do século passado, Jacques Maritain.
Contudo, Lubac é muito claro sobre o que isto não significa. Nós não substituímos a tarefa evangélica por uma campanha de “humanização”. Ele pergunta: “Humanizar antes de cristianizar?” “Se isto obtém êxito, o cristianismo chegará muito tarde: tirar-lhe-ão o posto. E quem pensa que o cristianismo não humaniza?” Assim escreve Lubac em sua maravilhosa coleção de aforismos: “Paradoxos”. É a própria fé que configura o trabalho de humanização e a iniciativa de humanização estaria vazia sem a definição de humanidade dada no Segundo Adão. A evangelização, primitiva ou nova, dever estar enraizada na profunda confiança de que possuímos um destino humano inconfundível, para mostrar e compartilhar com o mundo. Há muitas maneiras de dizer isto, mas nestas breves observações quero me concentrar num único aspecto em particular.
Ser completamente humano é ser recriado na imagem da humanidade de Cristo; e esta humanidade é a perfeita “tradução” humana da relação entre o Filho eterno e o Pai eterno, uma relação de amor e de adorada entrega, um transbordamento de vida para o Outro. Assim, a humanidade na qual nos transformamos no Espírito, a humanidade que queremos compartilhar com o mundo, como fruto do trabalho redentor de Cristo, é uma humanidade contemplativa. Edith Stein observou que começamos a entender a teologia quando vemos Deus como o “Primeiro Teólogo”, o primeiro que fala acerca da realidade da vida divina, porque “todas as palavras sobre Deus pressupõem a própria palavra de Deus”. De forma análoga, poderíamos dizer que começamos a compreender a contemplação quando vemos Deus como o primeiro contemplativo, o paradigma eterno da desinteressada atenção ao outro que não traz a morte, mas a vida ao nosso eu. Toda contemplação de Deus pressupõe o próprio conhecimento prazeroso e absorto, em si mesmo, de Deus, olhando fixamente para a vida trinitária.
Ser contemplativo, assim como Cristo é contemplativo, é abrir-se para toda a plenitude que o Pai deseja derramar em nossos corações. Com nossas mentes serenas e preparadas para receber, com nossas autogeradas fantasias sobre Deus e sobre nós silenciadas, estamos por fim no ponto onde talvez possamos começar a crescer. E o rosto que precisamos mostrar ao nosso mundo é o rosto de uma humanidade em crescimento infinito para o amor, uma humanidade tão alegre e partícipe da glória para a qual nos dirigimos que nos disponibilizamos a embarcar numa viagem sem fim, para encontrar nosso caminho mais profundo nele, no coração da vida trinitária.
São Paulo fala de como “com o rosto descoberto, refletimos... a glória do Senhor” (2Co 3, 18), transfigurados por um resplendor cada vez maior. Este é o rosto que devemos nos esforçar para mostrar ao nosso próximo. E devemos nos esforçar não porque estejamos buscando alguma “experiência religiosa” particular que nos dê segurança e nos faça mais santos. Nós nos esforçamos porque neste esquecer-se de si mesmo, olhando fixamente para a luz de Deus em Cristo, aprendemos a como nos olharmos uns aos outros e toda a criação de Deus. Na Igreja primitiva havia uma clara compreensão da necessidade de avançar, a partir de uma autocompreeensão instigada pela disciplina de nossos ávidos instintos e anseios, para uma “natural contemplação” que percebia e venerava a sabedoria de Deus na ordem do mundo, permitindo-nos ver a realidade criada por aquilo que realmente era a visão de Deus – mais do que era no sentido de como podíamos usá-la ou dominá-la. E a partir disto, a graça nos guiaria para a verdadeira “teologia”, olhando fixa e silenciosamente para Deus, meta de todo nosso discipulado.
Nesta perspectiva, a contemplação está longe de ser apenas um tipo de coisa que os cristãos fazem. Ela é a chave para a oração, liturgia, arte e ética. A chave para a essência de uma humanidade renovada, capaz de ver o mundo e os outros sujeitos do mundo com liberdade – liberdade dos costumes egoístas e cobiçosos, e da compreensão distorcida que deles derivam. Para explicá-la com audácia, a contemplação é a única resposta ao mundo irreal e insano que nossos sistemas financeiros, nossa cultura da publicidade e nossas emoções caóticas e irreflexivas nos forçam a habitar. Aprender a prática contemplativa é aprender o que carecemos para viver de uma maneira verdadeira, honesta e amorosa. É uma questão profundamente revolucionária.
Em sua autobiografia, Thomas Merton descreve uma experiência que lhe aconteceu pouco depois de entrar no mosteiro, local em que passou o resto de sua vida (Silêncio escolhido). Teve gripe e ficou internado na enfermaria durante alguns dias, e disse que sentiu uma “alegria secreta” pela oportunidade que este fato lhe proporcionou para rezar e “fazer tudo o que queria fazer, sem ter que correr por todo o lugar atendendo a campainhas”. Assim, é obrigado a reconhecer que sua atitude revela que “todos os meus maus hábitos... tinham entrado sub-repticiamente comigo no mosteiro e tinham recebido os hábitos religiosos comigo: voracidade espiritual, sensualidade espiritual, orgulho espiritual”. Em outras palavras, ele tentava viver uma vida cristã com a bagagem emocional de alguém ainda profundamente comprometido com a busca da satisfação individual.
É um aviso poderoso: temos que ter cuidado para que nossa evangelização não sirva simplesmente como elemento de persuasão para que peçamos a Deus e à vida do espírito pelos fatos dramáticos, excitantes ou de autoadulação que muitas vezes satisfazem nossa vida diária. Isto foi expresso de forma mais contundente, há algumas décadas, pelo estadunidense estudante de religião Jacob Needleman, num livro controvertido e desafiante, intitulado “Cristianismo perdido”. As palavras do Evangelho, disse, estão dirigidas aos seres humanos que “já não existem”, ou seja, responder entregar-se àquilo que o Evangelho pede de nós significa transformar completamente nosso ser, nossos sentimentos e nossos pensamentos e imaginação. Converter-se à fé não significa simplesmente adotar um novo grupo de crenças, mas transformar-se numa nova pessoa, uma pessoa em comunhão com Deus e com outros através de Jesus Cristo.
A contemplação é um elemento intrínseco deste processo de transformação. Aprender a olhar Deus sem levar em conta a minha própria satisfação imediata, aprender a escrutinar e relativizar os anseios e fantasias que surgem dentro de mim, significa permitir a Deus ser Deus e, assim, permitir que a oração de Cristo, a própria relação de Deus com Deus, entre e viva dentro de mim. Invocar o Espírito Santo é pedir para que a terceira pessoa da Trindade entre em meu espírito e traga a claridade de que necessito para ver onde sou escravo de anseios e fantasias, para que me dê paciência e calma enquanto a luz e o amor de Deus penetram em minha vida interior. Somente se isto começar a acontecer é que não tratarei os dons de Deus como outro grupo de objetos que compro para ser feliz ou para dominar outros. E na medida em que este processo se desenvolve, sou mais livre – tomando emprestada uma frase de Santo Agostinho (Confissões IV. 7) – para “amar os seres humanos de uma maneira humana”, amar-lhes não pelo que me prometem, amar-lhes não porque me dão segurança e conforto duradouro, mas como meu próximo frágil, sustentado no amor de Deus. Descubro, então (como observamos anteriormente), como devo olhar as pessoas e as coisas que são em relação com Deus, não comigo. E é aqui onde a verdadeira justiça, como o verdadeiro amor, possui suas raízes.
O rosto humano que os cristãos querem oferecer ao mundo é um rosto marcado por esta justiça e este amor é, portanto, um rosto formado na contemplação, na disciplina do silêncio e na separação dos objetos que nos escravizam e dos instintos irracionais que nos decepcionam. Se a evangelização é uma questão de mostrar ao mundo o rosto humano “revelado” que reflita o rosto do Filho voltado ao Pai, deve levar nela o compromisso sério de fomentar e nutrir a oração e a prática. Não é necessário dizer que com isto não se pretende, em absoluto, discutir que esta transformação “interna” é mais importante que a ação pela justiça, mas sim se quer insistir no fato de que a clareza e a energia de que necessitamos para levar adiante a justiça requer que ofereçamos espaço à verdade, para que a realidade de Deus a atravesse. Do contrário, nossa busca pela justiça ou paz se converte em outro exercício de vontade humana, minada pela autodecepção humana. Os dois chamados são inseparáveis: o chamado à “oração e a reta ação”, como disse o mártir protestante Dietrich Bonhoeffer, escrevendo de sua cela na prisão, em 1944. A verdadeira oração purifica o motivo, a verdadeira justiça é o trabalho necessário para compartilhar e libertar em outros a humanidade que descobrimos em nosso encontro contemplativo.
Aqueles que pouco sabem e menos ainda se preocupam com as instituições e hierarquias da Igreja, nestes dias se encontram muitas vezes atraídos e desafiados por vidas que mostram algo disto. São as comunidades novas e renovadas aquelas que de maneira mais eficaz chegam àqueles que nunca creram ou que abandonaram a fé por ser vazia ou velha. Quando se escreve a história cristã de nosso tempo, especialmente em relação à Europa e América do Norte, mas não apenas, vemos o quão central e vital tem sido o testemunho de lugares como Taizé ou Bose, mas também o de outras comunidades mais tradicionais, transformadas em centros para a busca de uma humanidade mais ampla e profunda do que aquilo que os hábitos sociais fomentam. E as grandes redes de espiritualidade, como Santo Egídio, os Focolares, Comunhão e Libertação, mostram também o mesmo fenômeno: criam espaços para uma visão humana mais profunda, porque todos eles, de várias maneiras, oferecem uma disciplina de vida pessoal e comunitária que torna a realidade de Jesus viva em nós.
E, como mostram estes exemplos, a atração e o desafio daquilo que estamos falando podem criar compromissos e entusiasmos que cruzem as linhas confessionais históricas. Nestes dias, estamos acostumados a falar sobre a importância vital do “ecumenismo espiritual”, contudo, esta não dever ser uma questão que, de alguma maneira, oponha o espiritual e o institucional, e não deve substituir os compromissos específicos com um sentido geral de sentimento comum cristão. Se contarmos com uma descrição sólida e rica daquilo que a palavra “espiritual” em si mesma significa, enraizada nos conteúdos bíblicos como os da passagem da Segunda Epístola aos Coríntios, mencionada antes, entenderemos o ecumenismo espiritual como a busca compartilhada para nutrir e sustentar as matérias contemplativas, com a esperança de revelar o rosto de uma nova humanidade.
Quanto mais separados estivermos, como cristãos, de diferentes confissões, menos convincente será esse rosto. Eu mencionei o movimento dos Focolares: Vocês concordarão que o imperativo básico na espiritualidade de Chiara Lubich era “sejamos um” – um com Cristo Crucificado e abandonado, um por meio Dele com o Pai, um com todos os chamados a esta unidade e, portanto, um com os mais necessitados do mundo. “Os que vivem em unidade... vivem fazendo com que eles próprios penetrem mais em Deus. Crescem sempre mais próximos de Deus... e quanto mais próximos estão Dele, mais próximos estão dos corações de seus irmãos e irmãs” (Chiara Lubich: Escritos essenciais). O hábito contemplativo suprime uma desatenta superioridade em relação a outros crentes batizados e a suposição de que não tenho nada a aprender deles. Na medida em que o hábito da contemplação nos ajuda a nos aproximarmos desta experiência como um dom, sempre nos perguntaremos sobre o que o irmão ou irmã pode compartilhar conosco – inclusive, o irmão ou irmã que de alguma maneira está separado de nós ou daquilo que supomos que é a plenitude na comunhão. “Quam bonum et quam jucundum...”.
Na prática isto pode sugerir que ali onde são realizadas iniciativas para alcançar, com novos meios, um público cristão não praticante ou pós-cristão, deve ocorrer um trabalho sério sobre a forma como este alcance pode se enraizar numa prática contemplativa, compartilhada ecumenicamente. Além do modo surpreendente pelo qual Taizé desenvolveu uma “cultura” litúrgica internacional, acessível a uma grande variedade de pessoas, uma rede como a Comunidade Mundial para a Meditação Cristã, com suas fortes raízes e afiliações beneditinas, trouxe novas possibilidades. E mais, esta comunidade trabalhou com afinco para criar uma prática contemplativa acessível às crianças e jovens, e isso precisa contar com o maior incentivo possível. Tendo visto de perto – nas escolas anglicanas da Inglaterra – o modo caloroso como as crianças respondem ao convite oferecido pela meditação nesta tradição, acredito que seu potencial para introduzir as pessoas jovens na profundidade de nossa fé é verdadeiramente muito grande. E para aqueles que se distanciaram da prática regular da fé sacramental, os ritmos e as práticas de Taizé ou da CMMC (WCCM suas siglas em inglês) são muitas vezes um caminho de regresso ao coração e ao lar sacramental.
Gente de todas as idades reconhece nestas práticas a possibilidade, bastante simples, de viver mais humanamente – viver com uma cobiça menos frenética, viver com espaço para a serenidade, viver esperando aprender e, sobretudo, viver com a consciência de que há um gozo sólido e perdurável a ser descoberto nas matérias pelas quais esquecemos nosso próprio eu, bastante diferentes da gratificação que vem deste ou daquele impulso de momento. Caso nossa evangelização não abra a porta a tudo isto, corremos o risco de tentar sustentar a fé nos baseando numa série imutável de hábitos humanos – com o conseguinte resultado demasiado familiar para a Igreja, vista como uma mais das instituições puramente humanas, ansiosas, ocupadas, competitivas e controladoras. Num sentido muito importante, uma verdadeira tarefa evangelizadora será sempre também uma reevangelização de nós mesmos como cristãos, um redescobrir porque nossa fé é diferente, pois transfigura, e um recuperar nossa própria humanidade.
E, é claro, acontece de maneira mais eficaz quando não estamos planejando ou lutando por ela. Voltando novamente a Lubac: “Aquele que melhor responderá as necessidades de seu tempo será o que não fizer caso de responder a elas primeiramente” (op.cit.). E “o homem que busca sinceridade ao invés de buscar a verdade, no esquecimento de si mesmo, é como o homem que quer ficar distante ao invés de se abandonar completamente no amor” (op.cit.). O inimigo da proclamação do Evangelho é a autoconsciência e, por definição, não podemos superá-lo sendo mais conscientes de nós mesmos. Devemos voltar a São Paulo e nos perguntar: “O que buscamos?” Olhamos com ansiedade os problemas atuais, a variedade de infidelidades ou a ameaça à fé e a moralidade, a fragilidade da instituição? Ou buscamos Jesus, o rosto revelado da imagem de Deus, luz pela qual vemos a imagem do novo refletida em nós e em nossos vizinhos?
Isto simplesmente nos lembra de que a evangelização é sempre o transbordamento de outra coisa: a viagem do discípulo para a maturidade em Cristo; uma viagem que não está organizada por um ego ambicioso, mas que é o resultado da insistência e da atração do Espírito em nós. Em nossas deliberações sobre como deve ser feito para que o Evangelho de Cristo seja novamente apaixonadamente atrativo para os homens e mulheres de nossos dias, espero que nunca percamos de vista aquilo que o faz apaixonante para nós, para cada um de nós em nossos diferentes ministérios. Desejo-lhes regozijo nestes debates, nãos apenas clareza ou eficácia no planejamento, mas deleite na promessa da visão do rosto de Cristo e no anúncio dessa plenitude na alegria da comunhão um com o outro, aqui e agora.
Eis o pronunciamento.
Sua Santidade,
Reverendos Padres,
Irmãos e Irmãs em Cristo,
Queridos amigos, para mim é uma honra ter sido convidado pelo Santo Padre para falar nesta assembleia. Como diz o Salmista: “Ecce quam bonum et quam juncundum habitare fratres in unum”. A assembleia do Sínodo dos Bispos para o bem do povo de Cristo é uma dessas matérias que sustentam a saúde da Igreja de Cristo. Hoje, em especial, não podemos esquecer a grande assembleia de “frates in unum” que foi o Concílio Vaticano II, que tanto fez pela saúde da Igreja, ajudando a mesma a recuperar muito da energia necessária para a proclamação da Boa Nova de Jesus Cristo, de uma maneira eficaz em nosso tempo.
Para muita gente de minha geração, inclusive para além das fronteiras da Igreja católica romana, o Concílio foi um sinal de grande promessa, um sinal de que a Igreja era suficientemente forte para pensar questões difíceis em relação a sua cultura e estruturas, assim como se estas eram as adequadas para a tarefa de compartilhar o Evangelho com a complexa, muitas vezes rebelde e sempre inquieta mente do mundo moderno.
Em muitos aspectos, o Concílio foi uma redescoberta da inquietude e paixão evangélica, centrada não apenas na renovação da própria vida da Igreja, mas também em sua credibilidade no mundo. Textos como a “Lumen Gentium” e a “Gaudium et Spes” ofereceram uma visão fresca e prazerosa sobre como a imutável realidade de Cristo vivo em seu Corpo na terra, por meio do dom do Espírito Santo, pode falar com palavras novas à sociedade de nosso tempo e, inclusive, àqueles que pertencem a outros credos.
Não é surpresa que, cinquenta anos depois, continuemos debatendo sobre algumas das mesmas questões e implicações do Concílio. E penso que a preocupação deste Sínodo pela nova evangelização é parte dessa exploração contínua da herança do Concílio.
Um dos aspectos mais importantes da teologia, segundo o Vaticano II, foi a renovação da antropologia cristã. No lugar da narração neoescolástica, muitas vezes tergiversada e artificial, sobre como a graça e a natureza se relacionam na constituição do ser humano, o Concílio ampliou os elementos importantes de uma teologia que voltava às fontes mais precoces e ricas: a teologia de alguns gênios espirituais como Henri de Lubac, que nos recordou o que significava para o cristianismo primitivo e medieval falar da humanidade feita à imagem de Deus e da graça como a perfeição e transfiguração dessa imagem, durante muito tempo revestida de nossa habitual “desumanidade”. Sob esta luz, proclamar o Evangelho é proclamar que ao menos é possível ser adequadamente humano: a fé católica e cristã é um “verdadeiro humanismo”, adotando uma frase emprestada de outro gênio do século passado, Jacques Maritain.
Contudo, Lubac é muito claro sobre o que isto não significa. Nós não substituímos a tarefa evangélica por uma campanha de “humanização”. Ele pergunta: “Humanizar antes de cristianizar?” “Se isto obtém êxito, o cristianismo chegará muito tarde: tirar-lhe-ão o posto. E quem pensa que o cristianismo não humaniza?” Assim escreve Lubac em sua maravilhosa coleção de aforismos: “Paradoxos”. É a própria fé que configura o trabalho de humanização e a iniciativa de humanização estaria vazia sem a definição de humanidade dada no Segundo Adão. A evangelização, primitiva ou nova, dever estar enraizada na profunda confiança de que possuímos um destino humano inconfundível, para mostrar e compartilhar com o mundo. Há muitas maneiras de dizer isto, mas nestas breves observações quero me concentrar num único aspecto em particular.
Ser completamente humano é ser recriado na imagem da humanidade de Cristo; e esta humanidade é a perfeita “tradução” humana da relação entre o Filho eterno e o Pai eterno, uma relação de amor e de adorada entrega, um transbordamento de vida para o Outro. Assim, a humanidade na qual nos transformamos no Espírito, a humanidade que queremos compartilhar com o mundo, como fruto do trabalho redentor de Cristo, é uma humanidade contemplativa. Edith Stein observou que começamos a entender a teologia quando vemos Deus como o “Primeiro Teólogo”, o primeiro que fala acerca da realidade da vida divina, porque “todas as palavras sobre Deus pressupõem a própria palavra de Deus”. De forma análoga, poderíamos dizer que começamos a compreender a contemplação quando vemos Deus como o primeiro contemplativo, o paradigma eterno da desinteressada atenção ao outro que não traz a morte, mas a vida ao nosso eu. Toda contemplação de Deus pressupõe o próprio conhecimento prazeroso e absorto, em si mesmo, de Deus, olhando fixamente para a vida trinitária.
Ser contemplativo, assim como Cristo é contemplativo, é abrir-se para toda a plenitude que o Pai deseja derramar em nossos corações. Com nossas mentes serenas e preparadas para receber, com nossas autogeradas fantasias sobre Deus e sobre nós silenciadas, estamos por fim no ponto onde talvez possamos começar a crescer. E o rosto que precisamos mostrar ao nosso mundo é o rosto de uma humanidade em crescimento infinito para o amor, uma humanidade tão alegre e partícipe da glória para a qual nos dirigimos que nos disponibilizamos a embarcar numa viagem sem fim, para encontrar nosso caminho mais profundo nele, no coração da vida trinitária.
São Paulo fala de como “com o rosto descoberto, refletimos... a glória do Senhor” (2Co 3, 18), transfigurados por um resplendor cada vez maior. Este é o rosto que devemos nos esforçar para mostrar ao nosso próximo. E devemos nos esforçar não porque estejamos buscando alguma “experiência religiosa” particular que nos dê segurança e nos faça mais santos. Nós nos esforçamos porque neste esquecer-se de si mesmo, olhando fixamente para a luz de Deus em Cristo, aprendemos a como nos olharmos uns aos outros e toda a criação de Deus. Na Igreja primitiva havia uma clara compreensão da necessidade de avançar, a partir de uma autocompreeensão instigada pela disciplina de nossos ávidos instintos e anseios, para uma “natural contemplação” que percebia e venerava a sabedoria de Deus na ordem do mundo, permitindo-nos ver a realidade criada por aquilo que realmente era a visão de Deus – mais do que era no sentido de como podíamos usá-la ou dominá-la. E a partir disto, a graça nos guiaria para a verdadeira “teologia”, olhando fixa e silenciosamente para Deus, meta de todo nosso discipulado.
Nesta perspectiva, a contemplação está longe de ser apenas um tipo de coisa que os cristãos fazem. Ela é a chave para a oração, liturgia, arte e ética. A chave para a essência de uma humanidade renovada, capaz de ver o mundo e os outros sujeitos do mundo com liberdade – liberdade dos costumes egoístas e cobiçosos, e da compreensão distorcida que deles derivam. Para explicá-la com audácia, a contemplação é a única resposta ao mundo irreal e insano que nossos sistemas financeiros, nossa cultura da publicidade e nossas emoções caóticas e irreflexivas nos forçam a habitar. Aprender a prática contemplativa é aprender o que carecemos para viver de uma maneira verdadeira, honesta e amorosa. É uma questão profundamente revolucionária.
Em sua autobiografia, Thomas Merton descreve uma experiência que lhe aconteceu pouco depois de entrar no mosteiro, local em que passou o resto de sua vida (Silêncio escolhido). Teve gripe e ficou internado na enfermaria durante alguns dias, e disse que sentiu uma “alegria secreta” pela oportunidade que este fato lhe proporcionou para rezar e “fazer tudo o que queria fazer, sem ter que correr por todo o lugar atendendo a campainhas”. Assim, é obrigado a reconhecer que sua atitude revela que “todos os meus maus hábitos... tinham entrado sub-repticiamente comigo no mosteiro e tinham recebido os hábitos religiosos comigo: voracidade espiritual, sensualidade espiritual, orgulho espiritual”. Em outras palavras, ele tentava viver uma vida cristã com a bagagem emocional de alguém ainda profundamente comprometido com a busca da satisfação individual.
É um aviso poderoso: temos que ter cuidado para que nossa evangelização não sirva simplesmente como elemento de persuasão para que peçamos a Deus e à vida do espírito pelos fatos dramáticos, excitantes ou de autoadulação que muitas vezes satisfazem nossa vida diária. Isto foi expresso de forma mais contundente, há algumas décadas, pelo estadunidense estudante de religião Jacob Needleman, num livro controvertido e desafiante, intitulado “Cristianismo perdido”. As palavras do Evangelho, disse, estão dirigidas aos seres humanos que “já não existem”, ou seja, responder entregar-se àquilo que o Evangelho pede de nós significa transformar completamente nosso ser, nossos sentimentos e nossos pensamentos e imaginação. Converter-se à fé não significa simplesmente adotar um novo grupo de crenças, mas transformar-se numa nova pessoa, uma pessoa em comunhão com Deus e com outros através de Jesus Cristo.
A contemplação é um elemento intrínseco deste processo de transformação. Aprender a olhar Deus sem levar em conta a minha própria satisfação imediata, aprender a escrutinar e relativizar os anseios e fantasias que surgem dentro de mim, significa permitir a Deus ser Deus e, assim, permitir que a oração de Cristo, a própria relação de Deus com Deus, entre e viva dentro de mim. Invocar o Espírito Santo é pedir para que a terceira pessoa da Trindade entre em meu espírito e traga a claridade de que necessito para ver onde sou escravo de anseios e fantasias, para que me dê paciência e calma enquanto a luz e o amor de Deus penetram em minha vida interior. Somente se isto começar a acontecer é que não tratarei os dons de Deus como outro grupo de objetos que compro para ser feliz ou para dominar outros. E na medida em que este processo se desenvolve, sou mais livre – tomando emprestada uma frase de Santo Agostinho (Confissões IV. 7) – para “amar os seres humanos de uma maneira humana”, amar-lhes não pelo que me prometem, amar-lhes não porque me dão segurança e conforto duradouro, mas como meu próximo frágil, sustentado no amor de Deus. Descubro, então (como observamos anteriormente), como devo olhar as pessoas e as coisas que são em relação com Deus, não comigo. E é aqui onde a verdadeira justiça, como o verdadeiro amor, possui suas raízes.
O rosto humano que os cristãos querem oferecer ao mundo é um rosto marcado por esta justiça e este amor é, portanto, um rosto formado na contemplação, na disciplina do silêncio e na separação dos objetos que nos escravizam e dos instintos irracionais que nos decepcionam. Se a evangelização é uma questão de mostrar ao mundo o rosto humano “revelado” que reflita o rosto do Filho voltado ao Pai, deve levar nela o compromisso sério de fomentar e nutrir a oração e a prática. Não é necessário dizer que com isto não se pretende, em absoluto, discutir que esta transformação “interna” é mais importante que a ação pela justiça, mas sim se quer insistir no fato de que a clareza e a energia de que necessitamos para levar adiante a justiça requer que ofereçamos espaço à verdade, para que a realidade de Deus a atravesse. Do contrário, nossa busca pela justiça ou paz se converte em outro exercício de vontade humana, minada pela autodecepção humana. Os dois chamados são inseparáveis: o chamado à “oração e a reta ação”, como disse o mártir protestante Dietrich Bonhoeffer, escrevendo de sua cela na prisão, em 1944. A verdadeira oração purifica o motivo, a verdadeira justiça é o trabalho necessário para compartilhar e libertar em outros a humanidade que descobrimos em nosso encontro contemplativo.
Aqueles que pouco sabem e menos ainda se preocupam com as instituições e hierarquias da Igreja, nestes dias se encontram muitas vezes atraídos e desafiados por vidas que mostram algo disto. São as comunidades novas e renovadas aquelas que de maneira mais eficaz chegam àqueles que nunca creram ou que abandonaram a fé por ser vazia ou velha. Quando se escreve a história cristã de nosso tempo, especialmente em relação à Europa e América do Norte, mas não apenas, vemos o quão central e vital tem sido o testemunho de lugares como Taizé ou Bose, mas também o de outras comunidades mais tradicionais, transformadas em centros para a busca de uma humanidade mais ampla e profunda do que aquilo que os hábitos sociais fomentam. E as grandes redes de espiritualidade, como Santo Egídio, os Focolares, Comunhão e Libertação, mostram também o mesmo fenômeno: criam espaços para uma visão humana mais profunda, porque todos eles, de várias maneiras, oferecem uma disciplina de vida pessoal e comunitária que torna a realidade de Jesus viva em nós.
E, como mostram estes exemplos, a atração e o desafio daquilo que estamos falando podem criar compromissos e entusiasmos que cruzem as linhas confessionais históricas. Nestes dias, estamos acostumados a falar sobre a importância vital do “ecumenismo espiritual”, contudo, esta não dever ser uma questão que, de alguma maneira, oponha o espiritual e o institucional, e não deve substituir os compromissos específicos com um sentido geral de sentimento comum cristão. Se contarmos com uma descrição sólida e rica daquilo que a palavra “espiritual” em si mesma significa, enraizada nos conteúdos bíblicos como os da passagem da Segunda Epístola aos Coríntios, mencionada antes, entenderemos o ecumenismo espiritual como a busca compartilhada para nutrir e sustentar as matérias contemplativas, com a esperança de revelar o rosto de uma nova humanidade.
Quanto mais separados estivermos, como cristãos, de diferentes confissões, menos convincente será esse rosto. Eu mencionei o movimento dos Focolares: Vocês concordarão que o imperativo básico na espiritualidade de Chiara Lubich era “sejamos um” – um com Cristo Crucificado e abandonado, um por meio Dele com o Pai, um com todos os chamados a esta unidade e, portanto, um com os mais necessitados do mundo. “Os que vivem em unidade... vivem fazendo com que eles próprios penetrem mais em Deus. Crescem sempre mais próximos de Deus... e quanto mais próximos estão Dele, mais próximos estão dos corações de seus irmãos e irmãs” (Chiara Lubich: Escritos essenciais). O hábito contemplativo suprime uma desatenta superioridade em relação a outros crentes batizados e a suposição de que não tenho nada a aprender deles. Na medida em que o hábito da contemplação nos ajuda a nos aproximarmos desta experiência como um dom, sempre nos perguntaremos sobre o que o irmão ou irmã pode compartilhar conosco – inclusive, o irmão ou irmã que de alguma maneira está separado de nós ou daquilo que supomos que é a plenitude na comunhão. “Quam bonum et quam jucundum...”.
Na prática isto pode sugerir que ali onde são realizadas iniciativas para alcançar, com novos meios, um público cristão não praticante ou pós-cristão, deve ocorrer um trabalho sério sobre a forma como este alcance pode se enraizar numa prática contemplativa, compartilhada ecumenicamente. Além do modo surpreendente pelo qual Taizé desenvolveu uma “cultura” litúrgica internacional, acessível a uma grande variedade de pessoas, uma rede como a Comunidade Mundial para a Meditação Cristã, com suas fortes raízes e afiliações beneditinas, trouxe novas possibilidades. E mais, esta comunidade trabalhou com afinco para criar uma prática contemplativa acessível às crianças e jovens, e isso precisa contar com o maior incentivo possível. Tendo visto de perto – nas escolas anglicanas da Inglaterra – o modo caloroso como as crianças respondem ao convite oferecido pela meditação nesta tradição, acredito que seu potencial para introduzir as pessoas jovens na profundidade de nossa fé é verdadeiramente muito grande. E para aqueles que se distanciaram da prática regular da fé sacramental, os ritmos e as práticas de Taizé ou da CMMC (WCCM suas siglas em inglês) são muitas vezes um caminho de regresso ao coração e ao lar sacramental.
Gente de todas as idades reconhece nestas práticas a possibilidade, bastante simples, de viver mais humanamente – viver com uma cobiça menos frenética, viver com espaço para a serenidade, viver esperando aprender e, sobretudo, viver com a consciência de que há um gozo sólido e perdurável a ser descoberto nas matérias pelas quais esquecemos nosso próprio eu, bastante diferentes da gratificação que vem deste ou daquele impulso de momento. Caso nossa evangelização não abra a porta a tudo isto, corremos o risco de tentar sustentar a fé nos baseando numa série imutável de hábitos humanos – com o conseguinte resultado demasiado familiar para a Igreja, vista como uma mais das instituições puramente humanas, ansiosas, ocupadas, competitivas e controladoras. Num sentido muito importante, uma verdadeira tarefa evangelizadora será sempre também uma reevangelização de nós mesmos como cristãos, um redescobrir porque nossa fé é diferente, pois transfigura, e um recuperar nossa própria humanidade.
E, é claro, acontece de maneira mais eficaz quando não estamos planejando ou lutando por ela. Voltando novamente a Lubac: “Aquele que melhor responderá as necessidades de seu tempo será o que não fizer caso de responder a elas primeiramente” (op.cit.). E “o homem que busca sinceridade ao invés de buscar a verdade, no esquecimento de si mesmo, é como o homem que quer ficar distante ao invés de se abandonar completamente no amor” (op.cit.). O inimigo da proclamação do Evangelho é a autoconsciência e, por definição, não podemos superá-lo sendo mais conscientes de nós mesmos. Devemos voltar a São Paulo e nos perguntar: “O que buscamos?” Olhamos com ansiedade os problemas atuais, a variedade de infidelidades ou a ameaça à fé e a moralidade, a fragilidade da instituição? Ou buscamos Jesus, o rosto revelado da imagem de Deus, luz pela qual vemos a imagem do novo refletida em nós e em nossos vizinhos?
Isto simplesmente nos lembra de que a evangelização é sempre o transbordamento de outra coisa: a viagem do discípulo para a maturidade em Cristo; uma viagem que não está organizada por um ego ambicioso, mas que é o resultado da insistência e da atração do Espírito em nós. Em nossas deliberações sobre como deve ser feito para que o Evangelho de Cristo seja novamente apaixonadamente atrativo para os homens e mulheres de nossos dias, espero que nunca percamos de vista aquilo que o faz apaixonante para nós, para cada um de nós em nossos diferentes ministérios. Desejo-lhes regozijo nestes debates, nãos apenas clareza ou eficácia no planejamento, mas deleite na promessa da visão do rosto de Cristo e no anúncio dessa plenitude na alegria da comunhão um com o outro, aqui e agora.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
O violino Stradivarius e o maior violinista
Historia verdadeira e é também uma parábola:
Joshua Beel é dos maiores violinistas do mundo.
Ele tem um violino "Stradivarius" do ano 1713 que vale 2 milhões de
reais.
Ele fez apresentações nos lugares mais importantes do mundo. Para se ter
uma ideia, quando se apresentou em Boston, USA, no Symphony Hall, cada entrada
custava mil reais.
Pois bem, esse homem assim famoso um dia foi com o seu violino vestido de
camiseta e jeans e entrou no metro de Nova YOrk, desceu numa estão central e num
canto e por 45 minutos tocou a sua maravilhosa música e ninguém parou para ouvír
aquela maravilha do século.
INTERPRETAÇÃO
1) Estamos tão preocupado com nossas próprias agendas que podemos estar com
pressa sem perceber que algo extraordinario e maravilhoso está ali no nosso
caminho
2) Quando alguém não está com roupas especiais, num lugar especial,
interpretamos a pessoa pelo lugar onde se encontra agora e pelas roupas que esta
vestido... e não recebemos uma surpresa tão importante que não haverá outra
oportunidade em toda nossa vida para tal.
3) O dom gratuito da missão não só o que dizemos, senão o que acontece com
a maravilha da fe que está acontecendo por nosso intermedio em lugares que não
se esperam - algo tão incrível que compararíamos ao stradivarius, permitindo a
melhor interpretação da música, numa estação de metro e não no Hall de Boston. O
artistia principal, o Espírito Santo está "tocando" e precisamos crear espaço e
condições para identifica-lo e acolhe-lo.
Curran, Häring
No dia 29 de julho de 1968, a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, que reiterava a condenação da contracepção artificial para os cônjuges, foi divulgada ao público. Eu era o líder e depois porta-voz do que começou como um grupo de 10 de nós, principalmente da Universidade Católica dos Estados Unidos, que leram a encíclica naquela noite e elaboraram uma resposta a ela. Nossa declaração de apenas 10 parágrafos concluía que os católicos poderiam responsavelmente decidir a usar o controle de natalidade se fosse para o bem do seu casamento.
Depois de terminar a declaração, telefonamos para uma diversos outros teólogos do país em busca de mais assinaturas. Contatei Häring na Califórnia, li para ele a declaração e fiquei em êxtase quando ele concordou em assinar. Na manhã do dia 30 de julho, eu atuei como porta-voz para os então 86 estudiosos católicos, incluindo Häring, que assinaram a declaração. No fim, mais de 600 assinaram.
Essa resposta direta e rápida à encíclica despertou a atenção mundial. O próprio Häring, à época e depois, sem dúvida, tornou-se o proponente mais proeminente e público no mundo católico da discordância com relação à conclusão da encíclica.
No verão de 1979, fui informado de que eu estava sob investigação da congregação vaticana para a Doutrina da Fé pela minha discordância sobre diversas questões morais. Naquele outono, eu fui para Roma para consultar Häring e outros. Durante todo o processo, eu fiquei em contato próximo com Bernard.
Depois de muitas correspondências, ficou claro no fim de 1985 que a Congregação para a Doutrina da Fé iria tomar medidas contra mim, o que acabaram fizeram ao declarar que eu não era nem adequado nem elegível para ser um teólogo católico. No entanto, eles concordaram, sim, para que eu tivesse um encontro informal com o cardeal Joseph Ratzinger e algumas autoridades da Congregação em março de 1986. Eu podia levar um assessor. Ao longo de todo o tempo, Häring concordou que, se tal encontro ocorresse, ele iria me acompanhar.
A presença de Häring foi uma fonte de grande força e consolo para mim. Ele começou a sessão lendo um artigo de duas páginas intitulado "O frequente e duradouro dissenso da Inquisição/Santo Ofício/Congregação para a Doutrina da Fé". O texto era o melhor de Häring em sua fala franca com o poder. No fim, ele instou Ratzinger fortemente a aceitar um compromisso de que eu não iria lecionar ética sexual na Universidade Católica e de que não haveria condenação. O encontro terminou sem qualquer solução ou ação.
No dia seguinte, o quarto Domingo da Quaresma, seis de nós fomos à casa religiosa de Häring para celebrar uma liturgia que ele presidiu. O Evangelho era a parábola do filho pródigo. Häring, na homilia, olhou para mim e disse que a Igreja era o filho pródigo que havia tomado todo o meu tesouro e meu trabalho pela teologia moral e alimentado os porcos. Mas o Espírito Santo estava chamando a mim e aos demais presentes para assumir o papel do Pai e perdoar a Igreja. Só com um espírito de perdão e de esperança podemos continuar celebrando a Eucaristia. Ele terminou a homilia repetindo duas vezes que os cristãos são pessoas que têm esperança.
Nos últimos anos, muitas vezes eu fui encorajado pelo testemunho de Bernard Häring. Uma centralização defensiva continua marcando a atitude do Vaticano diante de quaisquer tentativas para trazer a mudança. João Paulo II reconheceu que houve uma crise na teologia moral, porque muitos teólogos morais hoje discordam do ensinamento papal. Mas os papas combateram veementemente essa mudança e até mesmo tomaram medidas punitivas contra os que discordavam acerca de assuntos que não são essenciais para a fé católica.
Enquanto isso, todos nós temos visto famílias e amigos abandonarem a Igreja Católica por causa da sua intransigência. Muitas pessoas têm me perguntado se eu vejo quaisquer sinais de esperança na Igreja hoje. Eu lembro a eles e a mim mesmo que a esperança não é esperança se você a vê na sua frente. São Paulo nos diz que a esperança está esperar contra toda esperança. A esperança é acreditar na luz no meio da escuridão e na vida no meio da morte.
Bernard Häring foi verdadeiramente uma pessoa de esperança. Ele enfrentou a morte muitas vezes na Segunda Guerra Mundial. Ele quase morreu nas operações para tentar curar o seu câncer de garganta. A pessoa que falou em mais línguas para mais pessoas em todas as partes do mundo do que qualquer outro teólogo, pregador ou missionário depois teve as suas cordas vocais removidas e teve que aprender a falar com o esôfago, o que não era fácil nem para ele nem para os seus ouvintes. Nos últimos anos de sua vida, ele experimentou o retorno de uma centralização e autoritarismo que ele achava que haviam sido derrotados pelo Concílio Vaticano II.
Depois de terminar a declaração, telefonamos para uma diversos outros teólogos do país em busca de mais assinaturas. Contatei Häring na Califórnia, li para ele a declaração e fiquei em êxtase quando ele concordou em assinar. Na manhã do dia 30 de julho, eu atuei como porta-voz para os então 86 estudiosos católicos, incluindo Häring, que assinaram a declaração. No fim, mais de 600 assinaram.
Essa resposta direta e rápida à encíclica despertou a atenção mundial. O próprio Häring, à época e depois, sem dúvida, tornou-se o proponente mais proeminente e público no mundo católico da discordância com relação à conclusão da encíclica.
No verão de 1979, fui informado de que eu estava sob investigação da congregação vaticana para a Doutrina da Fé pela minha discordância sobre diversas questões morais. Naquele outono, eu fui para Roma para consultar Häring e outros. Durante todo o processo, eu fiquei em contato próximo com Bernard.
Depois de muitas correspondências, ficou claro no fim de 1985 que a Congregação para a Doutrina da Fé iria tomar medidas contra mim, o que acabaram fizeram ao declarar que eu não era nem adequado nem elegível para ser um teólogo católico. No entanto, eles concordaram, sim, para que eu tivesse um encontro informal com o cardeal Joseph Ratzinger e algumas autoridades da Congregação em março de 1986. Eu podia levar um assessor. Ao longo de todo o tempo, Häring concordou que, se tal encontro ocorresse, ele iria me acompanhar.
A presença de Häring foi uma fonte de grande força e consolo para mim. Ele começou a sessão lendo um artigo de duas páginas intitulado "O frequente e duradouro dissenso da Inquisição/Santo Ofício/Congregação para a Doutrina da Fé". O texto era o melhor de Häring em sua fala franca com o poder. No fim, ele instou Ratzinger fortemente a aceitar um compromisso de que eu não iria lecionar ética sexual na Universidade Católica e de que não haveria condenação. O encontro terminou sem qualquer solução ou ação.
No dia seguinte, o quarto Domingo da Quaresma, seis de nós fomos à casa religiosa de Häring para celebrar uma liturgia que ele presidiu. O Evangelho era a parábola do filho pródigo. Häring, na homilia, olhou para mim e disse que a Igreja era o filho pródigo que havia tomado todo o meu tesouro e meu trabalho pela teologia moral e alimentado os porcos. Mas o Espírito Santo estava chamando a mim e aos demais presentes para assumir o papel do Pai e perdoar a Igreja. Só com um espírito de perdão e de esperança podemos continuar celebrando a Eucaristia. Ele terminou a homilia repetindo duas vezes que os cristãos são pessoas que têm esperança.
Nos últimos anos, muitas vezes eu fui encorajado pelo testemunho de Bernard Häring. Uma centralização defensiva continua marcando a atitude do Vaticano diante de quaisquer tentativas para trazer a mudança. João Paulo II reconheceu que houve uma crise na teologia moral, porque muitos teólogos morais hoje discordam do ensinamento papal. Mas os papas combateram veementemente essa mudança e até mesmo tomaram medidas punitivas contra os que discordavam acerca de assuntos que não são essenciais para a fé católica.
Enquanto isso, todos nós temos visto famílias e amigos abandonarem a Igreja Católica por causa da sua intransigência. Muitas pessoas têm me perguntado se eu vejo quaisquer sinais de esperança na Igreja hoje. Eu lembro a eles e a mim mesmo que a esperança não é esperança se você a vê na sua frente. São Paulo nos diz que a esperança está esperar contra toda esperança. A esperança é acreditar na luz no meio da escuridão e na vida no meio da morte.
Bernard Häring foi verdadeiramente uma pessoa de esperança. Ele enfrentou a morte muitas vezes na Segunda Guerra Mundial. Ele quase morreu nas operações para tentar curar o seu câncer de garganta. A pessoa que falou em mais línguas para mais pessoas em todas as partes do mundo do que qualquer outro teólogo, pregador ou missionário depois teve as suas cordas vocais removidas e teve que aprender a falar com o esôfago, o que não era fácil nem para ele nem para os seus ouvintes. Nos últimos anos de sua vida, ele experimentou o retorno de uma centralização e autoritarismo que ele achava que haviam sido derrotados pelo Concílio Vaticano II.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
As caudas cardinalicias
A nota é de Andrea Tornielli, publicada no blog Sacri Palazzi, 24-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A ocasião das novas púrpuras me faz lembrar de um breve documento de Pio XII, publicado há 60 anos, no dia 30 de novembro de 1952. Trata-se do motu proprio Valde solliciti, com o qual o Papa Pacelli simplificava as vestes cardinalícias e, sobretudo, pedia que os purpurados cortassem pela metade a cauda da capa magna cardinalícia (que, então, tinha cerca de 12 metros), estabelecendo também que, a partir daquele momento, ela não fosse mais desenrolada, mas fosse sempre mantida enrolada no braço.
"O papa corta a cauda dos cardeais", intitularam-se os jornais. É interessante notar as motivações postas claramente pelo pontífice para justificar a redução da pompa e do luxo nas vestes. O papa pedia que, mais do que pelas caudas desmedidas, os padres cardeais fossem admirados pela sua solicitude para com as necessidades das pessoas.
Essas regras nunca foram abolidos, mesmo que o sucessor de Pio XII, o beato João XXIII, concedeu aos purpurados que desenrolassem de novo a cauda, sem, porém, fazê-la voltar às dimensões anteriores. Portanto, chama a atenção que, em um certo revival tradicionalista, não tenham se limitado a desenterrar as capas magnas com exibições de toda a cauda, mas também fabricaram novas caudas, sem levar em conta as observações de bom senso estabelecidas pelo Papa Pacelli, como demonstram estas imagens nas quais se vê um cardeal da Cúria Romana fazendo o seu ingresso em uma igreja de Washington, onde estava para celebrar a missa exibindo uma capa magna fora dos padrões, que lhe foi posta por cima, de um comprimento dobrado, ou seja, como era admitido antes do corte decidido por Pio XII.
Não tenho nada contra as capas magnas nem contra aqueles que gostam de usá-las com freqüência, embora, pessoalmente, não as considere tão indispensáveis para a nova evangelização, ainda mais que não se trata de vestes litúrgicas (mas essa é apenas uma opinião pessoal). Já prevejo algumas objeções por parte daqueles que me lembrarão dos abusos litúrgicos e do desleixo dos hábitos do clero pós-conciliar, considerando as capas magnas como uma reação.
Apenas me pergunta por qual motivo há tradicionalistas mais tradicionalistas do que a tradição, que não se contentam em desenterrar as vestes de sabor renascentista, mas também parecem ignorar as leis estabelecidas nessa matéria pela autoridade eclesiástica
A ocasião das novas púrpuras me faz lembrar de um breve documento de Pio XII, publicado há 60 anos, no dia 30 de novembro de 1952. Trata-se do motu proprio Valde solliciti, com o qual o Papa Pacelli simplificava as vestes cardinalícias e, sobretudo, pedia que os purpurados cortassem pela metade a cauda da capa magna cardinalícia (que, então, tinha cerca de 12 metros), estabelecendo também que, a partir daquele momento, ela não fosse mais desenrolada, mas fosse sempre mantida enrolada no braço.
"O papa corta a cauda dos cardeais", intitularam-se os jornais. É interessante notar as motivações postas claramente pelo pontífice para justificar a redução da pompa e do luxo nas vestes. O papa pedia que, mais do que pelas caudas desmedidas, os padres cardeais fossem admirados pela sua solicitude para com as necessidades das pessoas.
Essas regras nunca foram abolidos, mesmo que o sucessor de Pio XII, o beato João XXIII, concedeu aos purpurados que desenrolassem de novo a cauda, sem, porém, fazê-la voltar às dimensões anteriores. Portanto, chama a atenção que, em um certo revival tradicionalista, não tenham se limitado a desenterrar as capas magnas com exibições de toda a cauda, mas também fabricaram novas caudas, sem levar em conta as observações de bom senso estabelecidas pelo Papa Pacelli, como demonstram estas imagens nas quais se vê um cardeal da Cúria Romana fazendo o seu ingresso em uma igreja de Washington, onde estava para celebrar a missa exibindo uma capa magna fora dos padrões, que lhe foi posta por cima, de um comprimento dobrado, ou seja, como era admitido antes do corte decidido por Pio XII.
Não tenho nada contra as capas magnas nem contra aqueles que gostam de usá-las com freqüência, embora, pessoalmente, não as considere tão indispensáveis para a nova evangelização, ainda mais que não se trata de vestes litúrgicas (mas essa é apenas uma opinião pessoal). Já prevejo algumas objeções por parte daqueles que me lembrarão dos abusos litúrgicos e do desleixo dos hábitos do clero pós-conciliar, considerando as capas magnas como uma reação.
Apenas me pergunta por qual motivo há tradicionalistas mais tradicionalistas do que a tradição, que não se contentam em desenterrar as vestes de sabor renascentista, mas também parecem ignorar as leis estabelecidas nessa matéria pela autoridade eclesiástica
Preço das vestes cardinalicias
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 22-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os novos cardeais são o prefeito da Casa Pontifícia, o norte-americano James Harvey; o patriarca maronita libanês Bechara Raï Béchara; o indiano Baselios Thottunkal, arcebispo maior da Igreja siro-malancarese; o nigeriano John Onaiyekan, arcebispo de Abuja; o colombiano Ruben Salazar, arcebispo de Bogotá; o filipino Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila.
Mesmo que apenas pra seis novos "príncipes" da Igreja, as alfaiatarias eclesiásticas romanas se colocaram imediatamente em ação com as vestimentas para os neopurpurados. No momento da criação cardinalícia, um bispo deixa de usar as vestes de cor violácea e passa às vermelhas. E as alfaiatarias preparam para cada cardeal uma lista de vestes e de acessórios, à qual podem aderir aqueles que querem prestar uma homenagem ao novo cardeal.
Estes são os preços em circulação, calibrados na lista da alfaiataria eclesiástica mais famosa de Roma, a Gammarelli, que, por tradição, também veste o papa. A mozeta vermelha, que os cardeais usam quando vestem o hábito coral, custa cerca de 200 euros, mas o seu preço sobe se, em vez de botões de tecido, pedem-se aqueles – mais procurados e feitos à mão – de corda trançada (custam cerca de 20 euros cada).
A veste vermelha custa cerca de 800 euros, enquanto o chapéu de três bicos sem borla típico dos cardeais pode custar de 80 a 120 euros. Cerca de 80 euros pode custar o cordão para a cruz peitoral, trançado de vermelho e de ouro. O preço varia dependendo da sofisticação e da grandeza da borla que fica nas costas.
A faixa vermelha, a ser usada tanto com a veste vermelha quanto sobre a veste talar preta filetada de vermelho, custa cerca de 200 euros. Uma veste talar preta filetada custa cerca de 600 euros, enquanto o solidéu vermelho cardinalício tem um preço que gira em torno dos 40 euros. Por fim, as meias vermelhas custam cerca de 15 euros por par.
Considerando-se que, normalmente, o cardeal se mune de duas peças de cada uma dessas indumentárias, pode-se calcular que um conjunto cardinalício completo pode custar cerca de 4.000 a 5.000 euros. O anel cardinalício é dado pelo papa aos novos purpurados.
Os novos cardeais são o prefeito da Casa Pontifícia, o norte-americano James Harvey; o patriarca maronita libanês Bechara Raï Béchara; o indiano Baselios Thottunkal, arcebispo maior da Igreja siro-malancarese; o nigeriano John Onaiyekan, arcebispo de Abuja; o colombiano Ruben Salazar, arcebispo de Bogotá; o filipino Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila.
Mesmo que apenas pra seis novos "príncipes" da Igreja, as alfaiatarias eclesiásticas romanas se colocaram imediatamente em ação com as vestimentas para os neopurpurados. No momento da criação cardinalícia, um bispo deixa de usar as vestes de cor violácea e passa às vermelhas. E as alfaiatarias preparam para cada cardeal uma lista de vestes e de acessórios, à qual podem aderir aqueles que querem prestar uma homenagem ao novo cardeal.
Estes são os preços em circulação, calibrados na lista da alfaiataria eclesiástica mais famosa de Roma, a Gammarelli, que, por tradição, também veste o papa. A mozeta vermelha, que os cardeais usam quando vestem o hábito coral, custa cerca de 200 euros, mas o seu preço sobe se, em vez de botões de tecido, pedem-se aqueles – mais procurados e feitos à mão – de corda trançada (custam cerca de 20 euros cada).
A veste vermelha custa cerca de 800 euros, enquanto o chapéu de três bicos sem borla típico dos cardeais pode custar de 80 a 120 euros. Cerca de 80 euros pode custar o cordão para a cruz peitoral, trançado de vermelho e de ouro. O preço varia dependendo da sofisticação e da grandeza da borla que fica nas costas.
A faixa vermelha, a ser usada tanto com a veste vermelha quanto sobre a veste talar preta filetada de vermelho, custa cerca de 200 euros. Uma veste talar preta filetada custa cerca de 600 euros, enquanto o solidéu vermelho cardinalício tem um preço que gira em torno dos 40 euros. Por fim, as meias vermelhas custam cerca de 15 euros por par.
Considerando-se que, normalmente, o cardeal se mune de duas peças de cada uma dessas indumentárias, pode-se calcular que um conjunto cardinalício completo pode custar cerca de 4.000 a 5.000 euros. O anel cardinalício é dado pelo papa aos novos purpurados.
sábado, 24 de novembro de 2012
Festa Cristo Rei, 2012. HomiliaCatedral Botucatu
CRISTO REI.
INTRODUÇÃO – Aos domingos nos reunimos para ativar três referências
que orientam nossa vida: A COMUNIDADE, A PALAVRA A EUCARISTIA
+ A Comunidade: fomos o Povo de Deus, o Corpo
de Cristo. Viemos não para um descumprimento que atrairia castigos de Deus; mas
para celebrar o gozo e a graça da fé que nos faz ver o que outros não vêm.
+ A Palavra que nos esclarece e dá
segurança.
+ A Eucaristia, pela qual participamos, do
dinamismo de Jesus Ressuscitado
ESSES DINAMISMOS
APONTAM A META: O REINO DE DEUS
VER - Como está o mundo: desafios e oportunidades
@ Gaza, Cuba, Iran Afagnist. Japão-China...massacres em
S.Paulo...
JULGAR
- Armas, revanches, violências não
solucionam, são o problema
- Lucro, consumo... deixam um
vazio cada vez maior
+ Necessitamos referências decisivas para o mundo: herança e herdeiros
AGIR
1. Não haverá paz no mundo se não houver paz entre as
religiões. Isto só acontecerá se conseguirmos entender-nos entre nós.
2. Buscar aliados... bandeiras certas embora em manos erradas
3. Olhar juntos para a meta, não para saber quem é o melhor. Isso é perigosamente conflitivo. ("Viva Cristo Rei", último grito do P.Pró, ao ser fusilado)
4. Fazer propostas e não lamentações
5. Identificar, valorizar, ampliar o que já existe de bom.
@ O Reino de Deus anunciado e começado por Jesus é o
presente mais decisivo para toda a Humanidade. Por isso não é indiferente ter
uma fé, ela transforma o mundo (1 Jo 5,5).
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Mudanças na Igreja, Teol.França Miranda,sj
O teólogo
França Miranda,sj desenvolve três ideias básicas: 1) o papel do Espírito Santo
numa configuração eclesial adequada; 2) a problemática da fé em nossos dias e a
importância de um laicato adulto para vivê-la, expressá-la e irradiá-la; e 3) a
urgência e o valor do testemunho na crítica situação da atual sociedade.
O
cristianismo está expresso em linguagens ultrapassadas e modelado em padrões
mais próprios do passado. Trata-se de uma realidade em que a mensagem da Igreja
é desvalorizada e, por conseguinte, não é recepcionada como significativa para
os desafios que implicam a humanidade contemporânea.
A Igreja
não deixa transparecer para nossos contemporâneos o que ela é realmente.” Esse
fato é “sumamente grave para uma instituição que se compreende como sinal,
sacramento, visibilidade histórica, referência inequívoca da nova comunidade
humana construída pela ação salvadora de Deus, já presente na história a
caminho de sua realização perfeita na eternidade, e antecipadamente celebrada
na ceia eucarística”.
É preciso abrir
a possibilidade de uma nova configuração histórica da Igreja adequada aos
nossos dias.
Em muitas regiões do planeta, graças ao
devotamento generoso e, por vezes, heroico de seus membros a comunidade de
fiéis irradia sua verdade e sua força para a sociedade, mesmo carecendo do
apoio das autoridades competentes”.
Buscar
caminhos e respostas para os desafios contemporâneos ainda não significa
“apresentar um modelo pronto de Igreja que solucionasse como num passe de
mágica as dificuldades que hoje experimentamos”. Do mesmo modo, não basta
constatar a problemática como meros observadores. “Como membros desta Igreja,
nós somos atores que, queira ou não, influenciam a atual situação eclesial.”
A mudança
da Igreja implica a participação de todos os fiéis nas expressões da fé cristã.
O Concílio “marca o início de um processo que busca recuperar não só uma
eclesiologia de comunhão, mas também a fundamental igualdade, dignidade e
vocação de todos os membros da Igreja, sua participação no tríplice múnus de
Cristo, a missão comum de todos na Igreja.”
“Nasce a consciência de que todos são
responsáveis pela missão, consciência esta que retroage urgindo a criação de
instituições adequadas.” E nessa percepção de responsabilidade comum, a primeira característica da
Igreja é a sinodalidade e não a hierarquia. O relacional “deveria
prevalecer sobre o jurídico, o vivido em comunidade sobre a opção individual.
Pois todos são Igreja, todos são necessários, todos estão a serviço da mesma
missão.”
A
comunidade humana que constitui a Igreja não está situada fora do tempo e do
espaço. É no mundo que os cristãos são interpelados para testemunhar a fé que
vivem. Poderíamos dizer que a fé traz Deus ao mundo. [...] A transmissão da fé
não significa passar um pacote de verdades a outras gerações, mas transmitir o
próprio Deus vivo, entregando-se a nós no Filho e no Espírito, agindo em nós
para nos salvar”.
O Menino Jesus do Papa, Vito Mancuso
O novo livro do Papa Ratzinger é dedicado à infância de Jesus. O seu alvo é a exegese contemporânea, aquela que, privilegiando a filologia e a historiografia, evidencia o problema da historicidade das muitas narrações evangélicas. Mas a tentativa de Bento XVI está fadada ao fracasso, porque as contradições dos relatos não pode ser remediadas.
A opinião é do teólogo italiano Vito Mancuso, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 21-11-2012.
Eis o texto.
Com o livro intitulado A infância de Jesus que chega às livrarias dos principais países do mundo, conclui-se a obra total de quase mil páginas em três volumes dedicada por Joseph Ratzinger a Jesus de Nazaré. Com ela, ele pretende fazer com que os católicos voltem a identificar narração evangélica e história real como ocorria até algumas décadas atrás, antes do desenvolvimento da moderna exegese histórico-crítica. O autor atinge o seu objetivo? A meu ver, não, porque se trata de uma mission impossible.
Todos amamos o Natal com a sua atmosfera de alegria e de paz, e esse novo livro do papa é uma grande ajuda para viver a sua espiritualidade. O objeto são os dois primeiros capítulos do Evangelho de Mateus e do Evangelho de Lucas, os chamados "evangelhos da infância". Por séculos, eles foram lidos como relatos históricos reais, mas hoje a exegese bíblica histórico-crítica é quase unânime em declarar o contrário. O objetivo do papa é de que os evangelhos da infância possam voltar a ser lidos como historicamente fundados.
O seu adversário de consequência não pode ser senão a exegese que, privilegiando a filologia e a historiografia, evidencia a problemática historicidade de muitas narrações evangélicas. Com isso, os exegetas não querem dizer que os Evangelhos são falsos, mas só que, com base neles, não se pode reconstruir com certeza a história de Jesus, muito menos a do seu nascimento, e que é preciso lê-los sabendo que a finalidade é teológico-espiritual e não historiográfica.
Nos Evangelhos, há dados historicamente certos ao lado de elaborações simbólicas historicamente não confiáveis, e a tarefa da exegese histórico-crítica consiste em distinguir as duas dimensões. A consequência inevitável, porém, é que o Jesus dos Evangelhos não coincide com o Jesus da história, isto é, o exato oposto da intenção programática de Ratzinger declarado no primeiro volume: "Apresentar o Jesus dos Evangelhos como o Jesus real, como o Jesus histórico em sentido propriamente dito". E, precisamente por isso, também no novo livro assim como nos anteriores, o papa dirige ataques recorrentes à exegese histórico-crítica (cf., por exemplo, as páginas 25, 60, 62, 78, 123).
Mas, como todos aqueles que, antes dele, tentaram harmonizar os relatos evangélicos, Ratzinger também sobrevoa sobre as contradições entre os relatos de Mateus e de Lucas. São eles que tornam impossível uma história da infância de Jesus digna desse nome, como consideram estudiosos do calibre de Brown, Sanders, Meier, Dunn, Barbaglio, Fabris, Maggioni, Jossa, Ortensio da Spinetoli, Pesce e muitos outros.
Certamente, entre Mateus e Lucas, há elementos comuns: a identidade dos pais, o anúncio evangélico, a concepção de Maria sem relações sexuais com o marido, o nascimento em Belém sob o reinado de Herodes, a transferência para Nazaré. Mas também há discordâncias que não podem ser harmonizadas: antes do nascimento de Jesus, Maria e José ou residiam em Nazaré (Lucas) ou residiam em Belém (Mateus); a sua viagem de Nazaré a Belém ou aconteceu (Lc) ou não aconteceu (Mt); Jesus nasceu ou na casa dos pais (Mt) ou em uma manjedoura (Lc); o massacre das crianças de Belém ou aconteceu (Mt) ou não aconteceu (Lc); os pais ou fugiram para o Egito para salvar o menino dos soldados de Herodes (Mt) ou foram ao templo de Jerusalém para a circuncisão sem que os soldados de Herodes se preocupassem com o menino (Lc); a família de Belém ou voltou logo para casa em Nazaré da Galileia (Lc) ou foi para Nazaré só depois de ter estado no Egito e pela primeira vez (Mt).
Além disso, é oposta a atmosfera abrangente que envolve o nascimento de Jesus, real e trágica em Mateus, simples e bucólica em Lucas: a quem dar crédito? Na mente dos fiéis, os dois relatos se misturam sem distinguir os elementos de um e de outro, e o papa promove essa tradicional mistura acrítica, mas a exigência historiográfica não o permite; os dados são ou como Mateus os apresenta ou como Lucas os apresenta, ou nem de um modo nem de outro; em todo caso, não são harmonizáveis. Portanto, se fosse verdade, como escreve Ratzinger, que Mateus e Lucas "queriam escrever história, história real, acontecida" (p. 26), encontraríamos realmente diante de um belo problema, porque um dos dois evangelistas seguramente estaria errado.
Além disso, está a questão de como a notícia da concepção virginal chegou aos evangelistas. O papa se inclina pela "tradição familiar" (p. 65), no sentido de que teria sido Maria que comunicou aos discípulos o extraordinário evento de ter concebido o filho sem relações sexuais. Mas, se realmente tivesse sido assim, não se explicaria a escassa atenção do Novo Testamento a Maria, incluindo o livro dos Atos dos Apóstolos escrito justamente por Lucas, que a menciona somente uma vez e quase de passagem, enquanto dá muito mais espaço não só a Pedro e a Paulo, mas até mesmo a personagens secundários como Lídia, a comerciante de púrpura.
É crível, talvez, que Lucas, sabendo diretamente de Maria sobre a concepção extraordinária de Jesus, a ignore completamente nos Atos, sem escrever nada sobre onde ela vivia, o que fazia, como terminou a sua vida terrena e sem nunca ter lhe dado a palavra sequer uma vez? Tudo isso leva a duvidar muito do que o papa sustenta.
A realidade é que os Evangelhos da infância apresentam um perfil histórico geral bastante improvável. O dado histórico seguro (o nascimento de Jesus) é circundado por uma série de particulares incertos, senão improváveis, começando pelo lugar do nascimento, que para o papa é, obviamente, a tradicional Belém, enquanto "a maioria dos estudiosos duvida que Jesus nasceu em Belém" (The Cambridge Companion to Jesus, p. 22), e um exegeta católico Raymond Brown chegou a falar de "provas positivas em favor de Nazaré".
Os Evangelhos, portanto, não são confiáveis? Não, são dignos de confiança, mas contanto que se diferenciem neles diversos níveis de historicidade, isto é, de dados historicamente seguros, dados prováveis e dados improváveis. Em particular, os evangelhos da infância são uma interpretação do significado existencial de Jesus, para cuja manifestação o relato do seu nascimento foi enriquecido por uma série de elementos simbólicos, como era normal na antiguidade para os grandes personagens. Tudo isso ao longo dos séculos serviu para atrair a atenção sobre Jesus, porque no passado a humanidade identificava a presença do divino com os milagres e o extraordinário. Hoje, no entanto, ocorre o contrário. Hoje, os milagres e o extraordinário são mais de dano do que de ajuda para a autêntica comunicação espiritual. Chegamos a uma visão de mundo mais pacata, mais desencantada, mais realista; aos frisos do barroco, prefere-se a austera simplicidade do romantismo.
Essa maior maturidade se reflete no trabalho da exegese bíblica mediante o método histórico-crítico, um trabalho sério e altamente qualificado, como nunca antes havia acontecido na história, um trabalho de porte internacional e interconfessional cujos resultados se oferecem à consciência sem forçações dogmáticas.
Ratzinger, porém, não gosta do método histórico-crítico; considera-o prejudicial para a fé e, talvez por isso, no seu livro, ele nem menciona o autor do estudo mais importante sobre os evangelhos da infância, o já citado Raymond Brown, sacerdote católico, por muito tempo membro da Pontifícia Comissão Bíblica.
Brown conclui assim a sua obra monumental sobre os evangelhos da infância: "Qualquer tentativa de harmonizar as narrações a ponto de fazer delas uma história coerente está fadada ao fracasso" (La nascita del Messia [O Nascimento do Messias], Assis, 1981, p. 677).
Ratzinger nem menciona Brown, mas justamente por isso a sua obra, apesar de algumas belas páginas de corte espiritual, vai ao encontro do destino prefigurado pelo grande biblista norte-americano.
A opinião é do teólogo italiano Vito Mancuso, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 21-11-2012.
Eis o texto.
Com o livro intitulado A infância de Jesus que chega às livrarias dos principais países do mundo, conclui-se a obra total de quase mil páginas em três volumes dedicada por Joseph Ratzinger a Jesus de Nazaré. Com ela, ele pretende fazer com que os católicos voltem a identificar narração evangélica e história real como ocorria até algumas décadas atrás, antes do desenvolvimento da moderna exegese histórico-crítica. O autor atinge o seu objetivo? A meu ver, não, porque se trata de uma mission impossible.
Todos amamos o Natal com a sua atmosfera de alegria e de paz, e esse novo livro do papa é uma grande ajuda para viver a sua espiritualidade. O objeto são os dois primeiros capítulos do Evangelho de Mateus e do Evangelho de Lucas, os chamados "evangelhos da infância". Por séculos, eles foram lidos como relatos históricos reais, mas hoje a exegese bíblica histórico-crítica é quase unânime em declarar o contrário. O objetivo do papa é de que os evangelhos da infância possam voltar a ser lidos como historicamente fundados.
O seu adversário de consequência não pode ser senão a exegese que, privilegiando a filologia e a historiografia, evidencia a problemática historicidade de muitas narrações evangélicas. Com isso, os exegetas não querem dizer que os Evangelhos são falsos, mas só que, com base neles, não se pode reconstruir com certeza a história de Jesus, muito menos a do seu nascimento, e que é preciso lê-los sabendo que a finalidade é teológico-espiritual e não historiográfica.
Nos Evangelhos, há dados historicamente certos ao lado de elaborações simbólicas historicamente não confiáveis, e a tarefa da exegese histórico-crítica consiste em distinguir as duas dimensões. A consequência inevitável, porém, é que o Jesus dos Evangelhos não coincide com o Jesus da história, isto é, o exato oposto da intenção programática de Ratzinger declarado no primeiro volume: "Apresentar o Jesus dos Evangelhos como o Jesus real, como o Jesus histórico em sentido propriamente dito". E, precisamente por isso, também no novo livro assim como nos anteriores, o papa dirige ataques recorrentes à exegese histórico-crítica (cf., por exemplo, as páginas 25, 60, 62, 78, 123).
Mas, como todos aqueles que, antes dele, tentaram harmonizar os relatos evangélicos, Ratzinger também sobrevoa sobre as contradições entre os relatos de Mateus e de Lucas. São eles que tornam impossível uma história da infância de Jesus digna desse nome, como consideram estudiosos do calibre de Brown, Sanders, Meier, Dunn, Barbaglio, Fabris, Maggioni, Jossa, Ortensio da Spinetoli, Pesce e muitos outros.
Certamente, entre Mateus e Lucas, há elementos comuns: a identidade dos pais, o anúncio evangélico, a concepção de Maria sem relações sexuais com o marido, o nascimento em Belém sob o reinado de Herodes, a transferência para Nazaré. Mas também há discordâncias que não podem ser harmonizadas: antes do nascimento de Jesus, Maria e José ou residiam em Nazaré (Lucas) ou residiam em Belém (Mateus); a sua viagem de Nazaré a Belém ou aconteceu (Lc) ou não aconteceu (Mt); Jesus nasceu ou na casa dos pais (Mt) ou em uma manjedoura (Lc); o massacre das crianças de Belém ou aconteceu (Mt) ou não aconteceu (Lc); os pais ou fugiram para o Egito para salvar o menino dos soldados de Herodes (Mt) ou foram ao templo de Jerusalém para a circuncisão sem que os soldados de Herodes se preocupassem com o menino (Lc); a família de Belém ou voltou logo para casa em Nazaré da Galileia (Lc) ou foi para Nazaré só depois de ter estado no Egito e pela primeira vez (Mt).
Além disso, é oposta a atmosfera abrangente que envolve o nascimento de Jesus, real e trágica em Mateus, simples e bucólica em Lucas: a quem dar crédito? Na mente dos fiéis, os dois relatos se misturam sem distinguir os elementos de um e de outro, e o papa promove essa tradicional mistura acrítica, mas a exigência historiográfica não o permite; os dados são ou como Mateus os apresenta ou como Lucas os apresenta, ou nem de um modo nem de outro; em todo caso, não são harmonizáveis. Portanto, se fosse verdade, como escreve Ratzinger, que Mateus e Lucas "queriam escrever história, história real, acontecida" (p. 26), encontraríamos realmente diante de um belo problema, porque um dos dois evangelistas seguramente estaria errado.
Além disso, está a questão de como a notícia da concepção virginal chegou aos evangelistas. O papa se inclina pela "tradição familiar" (p. 65), no sentido de que teria sido Maria que comunicou aos discípulos o extraordinário evento de ter concebido o filho sem relações sexuais. Mas, se realmente tivesse sido assim, não se explicaria a escassa atenção do Novo Testamento a Maria, incluindo o livro dos Atos dos Apóstolos escrito justamente por Lucas, que a menciona somente uma vez e quase de passagem, enquanto dá muito mais espaço não só a Pedro e a Paulo, mas até mesmo a personagens secundários como Lídia, a comerciante de púrpura.
É crível, talvez, que Lucas, sabendo diretamente de Maria sobre a concepção extraordinária de Jesus, a ignore completamente nos Atos, sem escrever nada sobre onde ela vivia, o que fazia, como terminou a sua vida terrena e sem nunca ter lhe dado a palavra sequer uma vez? Tudo isso leva a duvidar muito do que o papa sustenta.
A realidade é que os Evangelhos da infância apresentam um perfil histórico geral bastante improvável. O dado histórico seguro (o nascimento de Jesus) é circundado por uma série de particulares incertos, senão improváveis, começando pelo lugar do nascimento, que para o papa é, obviamente, a tradicional Belém, enquanto "a maioria dos estudiosos duvida que Jesus nasceu em Belém" (The Cambridge Companion to Jesus, p. 22), e um exegeta católico Raymond Brown chegou a falar de "provas positivas em favor de Nazaré".
Os Evangelhos, portanto, não são confiáveis? Não, são dignos de confiança, mas contanto que se diferenciem neles diversos níveis de historicidade, isto é, de dados historicamente seguros, dados prováveis e dados improváveis. Em particular, os evangelhos da infância são uma interpretação do significado existencial de Jesus, para cuja manifestação o relato do seu nascimento foi enriquecido por uma série de elementos simbólicos, como era normal na antiguidade para os grandes personagens. Tudo isso ao longo dos séculos serviu para atrair a atenção sobre Jesus, porque no passado a humanidade identificava a presença do divino com os milagres e o extraordinário. Hoje, no entanto, ocorre o contrário. Hoje, os milagres e o extraordinário são mais de dano do que de ajuda para a autêntica comunicação espiritual. Chegamos a uma visão de mundo mais pacata, mais desencantada, mais realista; aos frisos do barroco, prefere-se a austera simplicidade do romantismo.
Essa maior maturidade se reflete no trabalho da exegese bíblica mediante o método histórico-crítico, um trabalho sério e altamente qualificado, como nunca antes havia acontecido na história, um trabalho de porte internacional e interconfessional cujos resultados se oferecem à consciência sem forçações dogmáticas.
Ratzinger, porém, não gosta do método histórico-crítico; considera-o prejudicial para a fé e, talvez por isso, no seu livro, ele nem menciona o autor do estudo mais importante sobre os evangelhos da infância, o já citado Raymond Brown, sacerdote católico, por muito tempo membro da Pontifícia Comissão Bíblica.
Brown conclui assim a sua obra monumental sobre os evangelhos da infância: "Qualquer tentativa de harmonizar as narrações a ponto de fazer delas uma história coerente está fadada ao fracasso" (La nascita del Messia [O Nascimento do Messias], Assis, 1981, p. 677).
Ratzinger nem menciona Brown, mas justamente por isso a sua obra, apesar de algumas belas páginas de corte espiritual, vai ao encontro do destino prefigurado pelo grande biblista norte-americano.
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
Estrategias pastorales hoy
[1]
- Los “ateos” y agnósticos contemporáneos no se interesan por cuestiones
estructurales internas a la Iglesia – ordenación de las mujeres, celibato del
clero, falta de vocaciones…
[1] Escuchar no solo a la jerarquía, sino
también a los destinatarios (Los “jefes” sin la gente se anulan)
[1] La causa no es nuestra, es de Dios. Trabajos en equipo
con el Espíritu.
[1] La eclesiología no puede ser
jerarcología. Tiene que estar en el horizonte del mensaje escatológico del
Reino. La Iglesia es sacramento do
Reino, ya lo hace presente.
[1] Véase que el documento de
Aparecida mucho de la teología de la liberación. El cristianismo se torno la
religión oficial del Imperio Romano. Los Padres del desierto, fueron los
orientadores del cristianismo medieval.
[1] De tanto esperar los cambios que
otros deben hacer, dejamos de realizar los que están a nuestro alcance. De
tanto sacrificar lo esencial en función de lo urgente, acabamos por no
considerar la urgencia de lo esencial. Lo superado se resiste a ceder, lo nuevo no alcanza a
nacer.
Casamento Tati-Cristian, Porto Alegre
A celebração
de um matrimônio é mais que um evento social ou cultural. é uma experiência do
sagrado na vida. Não se trata de algo complicado e inacessível. Ao contrário,
está presente no mais profundo e dinâmica do nosso ser, o amor. E a Escritura hebraica
(assumidas também pelos cristãos), no livro do Cântico dos Cânticos, acolhe o
íntimo da relação conjugal, como metáfora da comunhão com Deus. Essa relação, quanto mais total,
mais simples se manifesta, entre os que se amam, basta um olhar e tudo está
dito e entendido. Três palavras, explicitam e ampliam o universo do amor, seja
na expressão da fé religiosa,
como na vida
matrimonial. Não significam três momentos distintos, mas três facetas de uma
totalidade.
# OBRIGADO: 0
Olá!, sinto a sua presença em todos momentos da minha vida e de tantas
maneiras. Desde a última vez que conversamos, naquela viagem, no entardecer do
domingo... “Eras tu!”
E o obrigado do casal será: “Dou-te graças,
Pai Santo, pela Tatiana que criastes com tanto carinho”. – “Obrigado pelo Cristian, a grande surpresa,
que para mim guardastes...”
# PERDÃO, pelo
que não fomos capazes de entender; pelo que sim, entendemos, mas não
correspondemos, ou não o retomamos ao longo da vida!
# POR FAVOR.
–“Às vezes temos muito o que pedir e noutras nem sabemos como dizer-lhe porque
andamos ocupados em mil coisas quando o urgente sacrifica o essencial.
O Deus da vida, nosso Pai e Mãe,
aquele nos ama, repete para você Tatiana e Cristian e para os padrinhos e
madrinhas que aceitaram ser os seus “anjos protetores” algumas orientações que
não são mandamentos mas oportunidades que a gente não deveria perder:
# O casamento
não significa dois seres humanos olhando eternamente um para o outro. Senão
ambos, de mãos dadas, olhando na direção que querem dar às suas vidas. Sonhar
juntos é começo de uma nova realidade. O amor sobrevive se tem ainda algo a ser
conquistado” (Marcel Proust). Nos amores
passageiros o que se procura são coisas excepcionais: nos amores profundos, o
que se quer é tempo para compartir as coisas de todos os dias, porque as coisas
de todos os dias se tornam excepcionais.
# Não existe
“amor à primeira vista” e sim uma atração que vai se transformando na conquista
constante de toda a vida. Amar não é gostar, mas comprometer-se. É conhecer e
assumir. Gostar é usar (comer uma laranja, saciar-se do outro, mesmo que fique
bagaço no lixo). Amar é entregar-se a si mesmo. Conhecer é reduzir o outro a
uma imagem que cabe no nosso conhecimento. Amar é sair de si mesmo, para que o
outro seja feliz. O verdadeiro amor não se conhece pelo que exige, mas pelo que
oferece.
# Casamento
não é solidão a dois. Nem é “liquidificadora” que transforma as pessoas em
sucos anômalos. O casamento vive e age na base de ser equipe. As pessoas não se
anulam, nem se somam, mas mantendo sua própria identidade, crescem em
progressão geométrica e não aritmética. O casal é formado por parceiros que
continuam sendo diferentes. Não perdem a própria identidade (não há cronagem,
não se fazem fotocopias). Nem deve haver dominação (intelectual, econômica,
afetiva) de um parceiro sobre
outro. Perder a própria identidade é
comprometer a vida em comum, transformando-a em constante fonte de frustrações. Mantendo as diferenças podem
complementar-se, o que significa constantes ajustes, esforços de mutuo
entendimento, autonomia com comunhão. – “O amor consiste em deixar que as
pessoas a quem amamos sejam absolutamente elas mesmas e não em pressioná-las
para que se amoldem à nossa imagem”. Thomas Merton
# Os parceiros
não procurem em mundos distantes as oportunidades que perderam. Descubram as
que existem onde moram agora. Então o habitual se transforma em surpresa.
# O contrario do amor não é o ódio, mas outro
amor incompatível. A agonia do amor é a indiferença.
# O casal que sucumbe
ao consumismo, acaba comprometendo o futuro.
# Os
Padrinhos-madrinhas, os amigos/as são, em primeiro lugar, modelos que sinalizam
o rumo, os que mais ajudam não são os que dão sábios conselhos, mas os que são
coerentes com os valores da fé que professam.
# “Quero amar-te sem oprimir-te; apreciar-te
sem julgar-te; unir-me a ti, sem invadir-te; invitar-te sem exigir; desejar-te
sem impor-me...
Cresceremos constantemente na amizade e
comunhão recíproca, serás feliz e eu também, por causa da tua felicidade”; foi
um bilhete entregue no dia do casamento e lido novamente 47 anos depois, nos
últimos momentos de vida, com um só comentário: + SIM TATIANA, SIM CRISTIAN: VALEU !
Porto Alegre,rs. 16 Novembro 2012.
Encuentro asesores Argentina,em Quilmes
I.
CONJUNTURA ECLESIAL
1. El Papa proclama el año de la fe, el
Sínodo de los obispos debate sobre la
nueva evangelización.
2. Hace 25 años, en Santiago del
Estero, tuvo lugar el Primer Encuentro Nacional de las CEBs de Argentina y
formación de un equipo nacional de articulación, con obispo delegado por la
Conferencia episcopal para acompañar las CEBs.
3. El lema de aquel encuentro ha sido:
CEB UN ROSTRO NUEVO DE LA EVANGELIZACIÓN.
II. PROPUESTA
Nosotros
entramos con una propuesta (“ganarse la interpretación”):
-La
Nueva Evangelización busca que la gente
tenga una vida digna con Jesús de Nazaret. Eso lo formulamos con un objetivo
general:
“ CREAR UN NIVEL ECLESIAL DE BASE (CEBs),
SEGÚN EL MODELO DEL VATICANO II,
CON UN NUEVO PROCESO MISIONERO”
III. SUJETOS
-
“NOSOTROS
CON OTROS”
En se tratando de la
Iglesia, todos los bautizados están llamados a participar.
(Esta es una perspectiva
que no hemos trabajado suficientemente. Ya sabemos que las CEBs son formadas
por bautizados que pueden venir de diferentes movimientos y estructuras
pastorales; en la práctica puede haber quedado la impresión de que se trata de
entrar en una decisión y programación hecha por la articulación de las CEBs,
que ya existe)
Entre los sujetos, vamos a concentrarnos
particularmente, no exclusivamente, en los jóvenes (Jóvenes en las CEBs y no
CEBs de jóvenes); diáconos permanentes; obispos) # Asunto a ser explicado.
IV. MÉTODO
1. No “esperar por”, sino “irse a”
2. Los bautizados dispersos, que
perdieron el contacto sistematico con la estructura eclesial son buscados y
contactados
3. Valorar los encuentros criados por
la misma vida (calendário civil, litúrgico…) y visiteo del equipo “promotor” de CEBs
4. Crear relaciones mas estables con
los bautizados de un área, con la posibilidad de que comiencen a participar de
encuentros, espacios de las CEBs existentes en su área y que lleguen a
quererlas con “su Iglesia” local.
5. Las CEBs que vayan surgiendo, se
orientan por la responsabilidad de una autonomía en comunión (con la gran
Iglesia parroquial, diocesana)
6. Buscarse aliados (ecuménicos,
movimientos, instituciones…) de la causa común (Reino de Dios), y de tareas
específicas locales (superación de la violencia, drogas, apoyo para la salud,
la ciudadanía, la ecología)
V.ESTRATÉGIAS
1.Prioridad en torno a la cuestión de Dios. No sacrificar lo esencial en
función de lo urgente, para nos desconsiderar la urgencia de lo esencial.
2.Aceptar diferentes puntos de partida, pero con una meta común
3.Ver mas lejos: las causas mas que los efectos; los agentes escondidos,
las consecuencias a medio y largo plazo. Los que crearon las crisis no serón
los que van a solucionarlas
4.Ganarse la interpretación.
5.Hacer propuestas. Quien nadie propone, nada alcanza (Mt 25,25). La
mística da sentido a las propuestas. La causa es de Dios.
6.Identificar y hacer aliados. No renunciar a la bandera…
7.Capacitar a los escogidos
8.Minorías abrahámicas, medios pobres encuentran una salida
9.Ser y actuar como equipo
10.Comenzar con lo que está a nuestro alcance. No esta prohibido,
tampoco mandado…
Assinar:
Postagens (Atom)