No Vaticano II, dois tipos de
católicos se confrontavam, tentando entender uns as razões dos outros. Para
aqueles que estavam fixados à Igreja dos freios, era uma surpresa: pela
primeira vez desde o Concílio de Pio IX no fim do
século XIX, a Igreja saía da uniformidade. Não era nada óbvio que esses dois
"partidos" pudessem se entender. Uns viam na Igreja sobretudo o
depósito que lhe foi confiado por Cristo, a verdade fixada nas definições
dogmáticas e nos ritos, e defendiam que era necessário que cada geração a
transmitisse intacta e inalterada àqueles que vinham depois.
Para os outros, o que importava acima de tudo era a evangelização do mundo e, particularmente, dos pobres. Estes se interessavam menos pela instituição como tal, pelo dogma, pela moral do que pela "boa notícia", que era preciso levar aos povos que ainda não a haviam recebido ou a haviam conhecido mal, ou também àquelas sociedades pós-cristãs que o processo de secularização estava agredindo, desmantelando vertiginosamente os aparatos arcaicos, mas obsoletos e agora cada vez menos eficazes do regime de cristandade dentro de cujos privilégios concordatários a Igreja se sentia garantida, muito mais do que envergonhada.
Sem dúvida, o Papa João XXIII queria o Concílio, não para definir pontos doutrinais ou formular novas condenações, mas precisamente para oferecer em uma linguagem nova e com um magistério predominantemente pastoral a antiga doutrina. Um dia, na audiência habitual com o diretor da Civiltà Cattolica, padre Tucci, hoje cardeal, ele lhe mostrou um dos esquemas preparatórios: "Este texto, veja, contém 14 condenações. Eu as contei. E sabe-se lá quantas outras os outros têm. Podemos continuar assim?".
Uma teologia dinâmica emergia na cultura católica, sob o impulso da Théologie Nouvelle, elaborada especialmente pelos mestres da escola francesa, e da renovação bíblica, catequética, litúrgica: lembro muito bem a impressão que me causou o bispo de Vittorio Veneto, Dom Albino Luciani, um amigo de família para mim, quando eu o ia encontrar no quarto que ele ocupava em um instituto de irmãs em Roma. Ele passava as tardes estudando, porque, me dizia, "tudo o que eu aprendi na Gregoriana agora não serve mais; tenho que me tornar estudante de novo e, por sorte, tenho como colega de banco na sala conciliar um bispo africano que me passa os textos dos peritos do episcopado alemão. Assim, posso me preparar melhor".
Podemos entrever nesse episódio os misteriosos slabons do Espírito: o futuro Papa João Paulo I se fazia humilde aluno de uma renovação teológica que transitava pela África, fazia escala na Europa e concluía a sua viagem em um pequeno bispo de Belluno.
A informação religiosa durante o Concílio teve uma influência libertadora para acelerar o progresso geral da Igreja romana rumo à apreciação das instituições democráticas e à conquista conciliar da liberdade religiosa.
A assembleia do Vaticano II era formada por 7 patriarcas, 80 cardeais, 1.619 arcebispos e bispos residenciais, 975 bispos titulares, 97 superiores gerais de ordens e congregações religiosas, 42 auditores leigos, 400 teólogos. Pela primeira vez, dela participaram em papéis até interativos os observadores delegados das Igrejas e comunidades cristãs separadas da comunhão com a Igreja de Roma.
Para os outros, o que importava acima de tudo era a evangelização do mundo e, particularmente, dos pobres. Estes se interessavam menos pela instituição como tal, pelo dogma, pela moral do que pela "boa notícia", que era preciso levar aos povos que ainda não a haviam recebido ou a haviam conhecido mal, ou também àquelas sociedades pós-cristãs que o processo de secularização estava agredindo, desmantelando vertiginosamente os aparatos arcaicos, mas obsoletos e agora cada vez menos eficazes do regime de cristandade dentro de cujos privilégios concordatários a Igreja se sentia garantida, muito mais do que envergonhada.
Sem dúvida, o Papa João XXIII queria o Concílio, não para definir pontos doutrinais ou formular novas condenações, mas precisamente para oferecer em uma linguagem nova e com um magistério predominantemente pastoral a antiga doutrina. Um dia, na audiência habitual com o diretor da Civiltà Cattolica, padre Tucci, hoje cardeal, ele lhe mostrou um dos esquemas preparatórios: "Este texto, veja, contém 14 condenações. Eu as contei. E sabe-se lá quantas outras os outros têm. Podemos continuar assim?".
Uma teologia dinâmica emergia na cultura católica, sob o impulso da Théologie Nouvelle, elaborada especialmente pelos mestres da escola francesa, e da renovação bíblica, catequética, litúrgica: lembro muito bem a impressão que me causou o bispo de Vittorio Veneto, Dom Albino Luciani, um amigo de família para mim, quando eu o ia encontrar no quarto que ele ocupava em um instituto de irmãs em Roma. Ele passava as tardes estudando, porque, me dizia, "tudo o que eu aprendi na Gregoriana agora não serve mais; tenho que me tornar estudante de novo e, por sorte, tenho como colega de banco na sala conciliar um bispo africano que me passa os textos dos peritos do episcopado alemão. Assim, posso me preparar melhor".
Podemos entrever nesse episódio os misteriosos slabons do Espírito: o futuro Papa João Paulo I se fazia humilde aluno de uma renovação teológica que transitava pela África, fazia escala na Europa e concluía a sua viagem em um pequeno bispo de Belluno.
A informação religiosa durante o Concílio teve uma influência libertadora para acelerar o progresso geral da Igreja romana rumo à apreciação das instituições democráticas e à conquista conciliar da liberdade religiosa.
A assembleia do Vaticano II era formada por 7 patriarcas, 80 cardeais, 1.619 arcebispos e bispos residenciais, 975 bispos titulares, 97 superiores gerais de ordens e congregações religiosas, 42 auditores leigos, 400 teólogos. Pela primeira vez, dela participaram em papéis até interativos os observadores delegados das Igrejas e comunidades cristãs separadas da comunhão com a Igreja de Roma.
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