quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Giancarlo Zizola, ultimo artigo, avaliação

Se eu fosse chamado a resumir do modo mais cursivo os resultados obtidos pelo Concílio na vida da Igreja – um empreendimento cognitivo arriscado pelo seu caráter irremediavelmente simplificatório – eu diria: não há dúvida de que os sucessos do Concílio na reforma litúrgica, no ecumenismo, no diálogo com o mundo, na adoção da liberdade religiosa, na abertura ao judaísmo, ao Islã e às outras grandes religiões parecem bastante integrados, mais do que eram antes e durante o próprio Concílio, na consciência eclesial e na própria linha de doutrina e de ação da Santa Sé.

Ao mesmo tempo, a equidade cognitiva exige que se admita o fracasso daquelas tentativas frustradas de avanço que deveriam desencadear crises e contradições até os nossos dias: por exemplo, sobre as questões de ética econômica (pela timidez do Concílio sobre o princípio da destinação universal dos bens), sobre a reorganização colegial da monarquia pontifícia, sobre a inculturação da mensagem evangélica nos novos contextos das tradições espirituais e religiosas da África e da Ásia, em particular da Índia e da China: um processo fortemente inibido pelas intervenções de sinal hegemônico da Congregação para a Doutrina, justamente na fase histórica em que a parceria entre esses gigantes asiáticos e as potências mundiais, particularmente com os Estados Unidos, poderia se tornar a única relação bilateral de importância mundial no planeta.

Vou mencionar apenas a questão levantada por Karl Rahner ainda em 1984, quando, na última entrevista da sua vida, o maior mestre da teologia católica do século XXI me declarava: "É absolutamente urgente uma efetiva e legítima descentralização da Igreja, com todas as consequências". Entre as aplicações com caráter de urgência, o jesuíta, que havia sido um dos maiores peritos teológicos do Vaticano II, incluía "um modo diferente de selecionar os candidatos ao episcopado e modos alternativos de ordenar os bispos". "É preciso que nos perguntemos – continuava – se a moral matrimonial africana deve continuar se baseando na europeia; precisamos abordar o problema da concepção do futuro do matrimônio, juntamente com outra questão, isto é, se todas as formas de poligamia africana realmente são incompatíveis com o cristianismo" (1).

Acima de tudo, a questão de Jacques Maritain, sobre a pertinência do modelo de uma Igreja que tenta se repropor como sujeito política, mesmo que atualizado, ainda não atraiu uma resposta exauriente, a única que poderia cortar as pernas dos integralismos recorrentes.

A questão-chave permanece com toda a sua gravidade e talvez se tornou com o tempo ainda mais pesada: o fracasso visível da tentativa, levada adiante pela cúpula eclesiástica, de restaurar o regime de cristandade, em formas atualizadas, rompendo no seu ponto de viragem o arco projetual da reforma espiritual do Concílio Vaticano II, com o objetivo de recuperar e de reafirmar, mesmo que em formas atualizadas, o papel temporal da Igreja na sociedade globalizada, coberto pela preocupação, embora fundamentada, de obter as prerrogativas públicas da religião em uma sociedade pluralista.

O resultado final desse impulso restaurador, que foi definida com autoridade de "uma catástrofe espiritual", ainda continua além do horizonte atual dos diagnósticos historiográficos. E, no entanto, dos indícios já perceptíveis, pode-se, desde já, legitimar com os fatos os motivos de uma perplexidade, senão de um sofrimento para os crentes, diante da retomada de papéis políticos da Igreja, nos modos de uma restaurada religio societatis, da estagnação burocrática do regime eclesiástico, sob a aparência de um movimentismo ativista, da demonstração penosa da natureza patológica do verticismo hierárquico, que subverteu o programa conciliar do governo colegial da Igreja e do reforço do papel das Igrejas locais com processos pesados de concentração e de sujeição clerical, em parte devidos à carência de uma séria reforma da Cúria Romana.

O resultado dessa marcha à ré, se não for invertida por prudentes medidas inovadoras, foi indicado por vozes eminentes (Koenig, Danneels, Pellegrino, o arcebispo norte-americano Quinn), sobretudo na interrupção dos processos de descentralização, com o resultado de um retorno à ideologia degenerativa do Solus Pontifex, com os Sínodos trienais dos bispos, estes também penetrados, contudo, pelo poder pontifício supremo e reduzidos a redis: o próprio papa lamentou na carta Tertio Millennio Ineunte os déficits de participação na realidade eclesial, que levaram a uma inadimplência das diretrizes conciliares em ordem ao estatuto da Igreja como povo de Deus e como comunhão. Sem falar da paralisia intelectual na Igreja, decorada pela reprodução de um obstinado entusiasmo acrítico dos meios de comunicação que abundam em reconhecimentos e elogios, sacrificando ao culto da personalidade um mínimo de tarefa crítica elementar.

O debate na Igreja em torno do difundido modelo interpretativo de tipo continuísta sobre a reforma conciliar trouxe à superfície uma consciência generalizada na Igreja Católica, até em níveis hierárquicos, de que o triunfalismo das massas organizadas não pode servir à causa do Evangelho. A mesma estratégia das viagens, que, contudo, é retomada embora com as limitações impostas pela invalidez física do papa, foi observada como algo que talvez não era o que a Igreja exigia com prioridade, especialmente considerando uma forma e uma gestão que transformaram as visitas pastorais em uma nuvem de poeira tão exuberante quanto efêmera.

Emergiu uma área "silenciosa" de catolicismo cuja convicção continua sendo, apesar da enorme pressão da política da "bolha especulativa", de que o programa do cristianismo jamais poderia ignorar a cruz: razão pela qual, quando as coisas vão aparentemente bem, é a hora de temer que não se esteja na estrada erigida pelo sentido cristão; e vice-versa, quando as coisas parecem hostis ou adversas, é a hora em que a Igreja pode se sentir menos longe da verdade da Cruz.

A análise final, no entanto, desemboca em um otimismo contido, assumindo a hipótese de uma fecundidade do processo conciliar como evento de comunhão, de debate e de troca que deve circunscrever o peso dos compromissos. A função do Concílio foi a de virar a página mais do que de oferecer um quadro ou um modelo de reforma, de valer pelo impulso mais do que pelos conteúdos.

Mas, se as lógicas autorreferenciais do sistema trabalharam para conter aquele impulso (universalista e espiritual) em um quadro (eclesiocêntrico e diplomático) prudencial demais, pode-se compreender bem o fato de se ampliar a fileira daqueles que consideram que, para relançá-lo para levar a cumprimento a reforma espiritual do Vaticano II, só um Vaticano III pode prover.

Nos tempos mais próximos de nós, não faltaram as intervenções de eminentes expoentes da hierarquia eclesiástica que, ao indicar com franqueza evangélica as consequências da carência de reformas na vivência eclesial, ao mesmo tempo, apresentaram algumas propostas de mudança para destravar o atraso da Igreja diante das exigências da fidelidade à inspiração das origens, de um lado, e aos apelos das novas, precipitadas e inapreensíveis transformações históricas, de outro.

Não foi silenciado pelo próprio pontífice no cargo que um novo sopro de renovação deve brotar do coração profundo da comunidade cristã para limpar tudo o que torna novamente pesado e lento o caminho da Igreja. Ela vê o papa girar o mundo de avião, mas ao mesmo tempo ela ainda viaja com os freios pressionados.

E os incensos da mídia correm o risco de envolvê-la em uma bolha especulativa, onde os dados da crise da fé sejam facilmente ignorados, justamente na hora em que a globalização oferece ao Evangelho as melhores oportunidades da história para refazer hoje a operação de São Paulo: isto é, de sair da concha do Ocidente ao encontro das "novas linguagens", assim como ele havia levado a primeira comunidade dos discípulos para fora da concha mosaica.

Conclusão

Gostaria de concluir dizendo que o Concílio foi uma etapa decisiva, mas deve conhecer um desenvolvimento ou um futuro. Isso havia ocorrido na cultura católica ocidental, mas ela já não domina mais a sociedade. A história mostra que os concílios agiram, senão lentamente, ao menos longamente e por muito tempo, com fases de recepção difíceis, mas também com rejeições. O caso do Vaticano II é particular: ele foi seguido por uma mutação da sociedade, pelo 1968, sem precedentes na história, ao menos não com iguais radicalidade, velocidade, universalidade. Essa reviravolta antropológica deslocou a linguagem e as categorias filosóficas em que o Concílio havia se expressado.

Precisamos nos perguntar, portanto, se ele ainda pode "falar" à Igreja ou se ele precisa de uma nova escavação em profundidade. Em alguns campos, o processo de renovação, lançado à época, foi além dos resultados do Concílio: por exemplo, no diálogo com os judeus, na liberdade religiosa, na paz, no diálogo inter-religioso. Está no melhor espírito do Concílio o desenvolvimento impresso por João Paulo II na consciência autocrítica da Igreja com os mea culpa durante o Jubileu.

Mas isso não bastou para derrotar a velha tentação da Igreja de se fechar na pretensão de uma própria autossuficiência, de competir com o século, aproveitando-se da crise da razão moderna, de se tornar novamente poderosa no meio do mundo. Mesmo em outras frentes, é preciso reconhecer que poderosos grupos conseguiram manter em xeque a esperança de uma Igreja de comunhão, com um governo colegial, um Sínodo deliberativo, um laicato protagonista, a reforma do papado, uma maior confiança e descentralização às Igrejas locais, um esforço coerente para sair da monoaculturação ocidental da fé para ir ao encontro das culturas asiáticas e africanas.

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