Não estávamos em uma free-way,
mas numa estrada do interior e de terra. Por algumas horas, tivemos que seguir
atrás de um caminhão muito grande e lento, que nos enchia de pó. Ele na parte
de trás tinha a frase: "Freios
poderosos". Forçado a uma marcha tão baixa, tive a liberdade de
refletir sobre o fato de que a minha Igreja também era muito grande e lenta, e
tinha freios poderosos. Eu não tinha dúvida de que eles eram necessários. Mas o
meu jovem motorista de caminhão me fez notar que, quando se tenta viajar com os
freios pressionados, eles se superaquecem e se corre o risco de uma catástrofe.
Então eu pensei que a Igreja também, que continuava vivendo com os freios
pressionados ao menos pela infeliz repressão da crise modernista no início do
século XX, estava à beira do superaquecimento, e que o Papa João XXIII tivera uma inspiração ao oferecê-la a
possibilidade de mudar de marcha.
A Igreja, que vivia freando, começou a entender, na sua máxima instância de autoridade (João XXIII) e abertamente, que há emergências da Graça para as quais o uso desmedido do freio poderia se tornar temível, pois poderia impedir ou conter as exigências da missão no caminho da Igreja no século.
Os 8 primeiros concílios foram na Turquia, onde as dioceses eram miríades e que foi, por 12 séculos, não só sede do império cristão do Oriente, mas também a terra de origem do Credo Niceno-Constantinopolitano que todos os cristãos, de Oriente e de Ocidente, recitam durante a celebração eucarística.
O "espírito do Concílio" não era uma vaga atmosfera utópica e romântica. Tocou o sentido da fé cristã, na qual haviamos sido educado.
As brasas fumegavam debaixo das cinzas, e só basta um sopro para surgir o fogo. Existiam no corpo da Igreja Católica correntes de ideias, aspirações, problemas e pedidos que o predomínio dos órgãos centrais não deixava emergir e até mesmo ignorava ou tentava impedir. O que era necessário para a fé de um jovem era ver que o Papa João XXIII tomava a iniciativa de soprar sobre as cinzas para impulsionar a Igreja no caminho da renovação, em um mundo de imensas transformações, com o processo de descolonização que fazia emergir à história as jovens nações da Ásia e da África, os primeiros sinais da distensão internacional entre Leste e Oeste, depois da morte de Stalin e do XX Congresso do PCUS, o primeiro Sputnik que circulava pelo cosmos, a conscientização incipiente da unidade de destino do gênero humano.
Essa ideia de uma Igreja que, de pilar da ordem estabelecida e símbolo da imobilidade, decidia se cingir à própria mudança, encorajava os católicos não só a permanecer na fé, mas também a mudar na fé, a assumir uma ideia evolutiva, em vez de estática, da Tradição da Igreja.
"A mudança de hoje é a tradição de amanhã", lembrava Charles Péguy aos cristãos muito tímidos.
Não há Tradição que não implique em um movimento constante de retorno às fontes e de atualização. Por isso, o Papa João XXIII gostava de repetir que a Igreja é comparável não a um museu, mas sim à fonte viva do vilarejo, a uma primavera.
O que a Igreja tem o dever de proteger não é uma espécie de pepita de ouro a ser fechada em um cofre, mas sim um talento que deve ser negociado na dinâmica viva da sociedade, da cultura, da história
A Igreja, que vivia freando, começou a entender, na sua máxima instância de autoridade (João XXIII) e abertamente, que há emergências da Graça para as quais o uso desmedido do freio poderia se tornar temível, pois poderia impedir ou conter as exigências da missão no caminho da Igreja no século.
Os 8 primeiros concílios foram na Turquia, onde as dioceses eram miríades e que foi, por 12 séculos, não só sede do império cristão do Oriente, mas também a terra de origem do Credo Niceno-Constantinopolitano que todos os cristãos, de Oriente e de Ocidente, recitam durante a celebração eucarística.
O "espírito do Concílio" não era uma vaga atmosfera utópica e romântica. Tocou o sentido da fé cristã, na qual haviamos sido educado.
As brasas fumegavam debaixo das cinzas, e só basta um sopro para surgir o fogo. Existiam no corpo da Igreja Católica correntes de ideias, aspirações, problemas e pedidos que o predomínio dos órgãos centrais não deixava emergir e até mesmo ignorava ou tentava impedir. O que era necessário para a fé de um jovem era ver que o Papa João XXIII tomava a iniciativa de soprar sobre as cinzas para impulsionar a Igreja no caminho da renovação, em um mundo de imensas transformações, com o processo de descolonização que fazia emergir à história as jovens nações da Ásia e da África, os primeiros sinais da distensão internacional entre Leste e Oeste, depois da morte de Stalin e do XX Congresso do PCUS, o primeiro Sputnik que circulava pelo cosmos, a conscientização incipiente da unidade de destino do gênero humano.
Essa ideia de uma Igreja que, de pilar da ordem estabelecida e símbolo da imobilidade, decidia se cingir à própria mudança, encorajava os católicos não só a permanecer na fé, mas também a mudar na fé, a assumir uma ideia evolutiva, em vez de estática, da Tradição da Igreja.
"A mudança de hoje é a tradição de amanhã", lembrava Charles Péguy aos cristãos muito tímidos.
Não há Tradição que não implique em um movimento constante de retorno às fontes e de atualização. Por isso, o Papa João XXIII gostava de repetir que a Igreja é comparável não a um museu, mas sim à fonte viva do vilarejo, a uma primavera.
O que a Igreja tem o dever de proteger não é uma espécie de pepita de ouro a ser fechada em um cofre, mas sim um talento que deve ser negociado na dinâmica viva da sociedade, da cultura, da história
Nenhum comentário:
Postar um comentário