sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O lado do Sínodo que não se pode perder

Há um grande desejo de uma nova Igreja. O Sínodo dos mais de 250 bispos de todo o mundo em Roma, em outubro, para discutir a "nova evangelização", abriu uma janela para o catolicismo do século XXI e indicou temas que estarão no centro do futuro conclave. Os meios de comunicação ocuparam-se pouco dele. Não é de se admirar: o Sínodo não tem poderes decisionais, e os seus documentos são genéricos e diluídos.

A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 07-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Mas é como durante a gravidez. As contrações revelam que o nascituro já está a caminho, mesmo que o parto não seja iminente. No Sínodo, as "contrações" se manifestaram na forma de demandas insistentes por uma Igreja humilde, crível, que, finalmente, dê um papel às mulheres, que esteja do lado dos pobres e combata as injustiças.

"A Igreja deve fazer, com toda a honestidade, um exame de consciência sobre o modo de viver a fé", declarou Dom Carlos Aguiar Retes, presidente do episcopado latino-americano. Deve saber conduzir um "diálogo sem arrogância" com a ciência, destacou o cardeal Ravasi, responsável vaticano pela Cultura. Deve se equipar para o confronto de ideias "não em termos de agressão ideológica", recomenda o bispo de Dublin, Martin. Que tenha a coragem de indagar "quais são as sombras ou às falhas as quais deve pôr fim", pediu o filipino Palma.

Outro filipino, Villegas, foi ainda mais explícito: "A hierarquia deve evitar a arrogância, a hipocrisia, o sectarismo". Nos grupos de trabalho de língua espanhola, pediu-se que toda a Igreja "faça um exame de consciência, reconhecendo os seus erros e pecados". "Onde está a nossa humildade?", questionou o bispo iraquiano Wardouni.

Se o relatório introdutório do bispo norte-americano Wuerl tinha tons alarmistas, evocando o "tsunami da secularização" que se abateu contra a Igreja, muitos bispos inverteram o tom. Talvez seria melhor se concentrar sobre a "nossa mediocridade de cristãos", sugeriu alguns prelados de língua inglesa. Não tem sentido lamentar ou abandonar-se ao vitimismo, muitos disseram. Fundamental é voltar-se ao mundo com amizade. "Não se trata de impor, mas sim de atrair".

O futuro cardeal Tagle, arcebispo de Manila, advertiu que o rosto de Jesus no mundo contemporâneo deve ser testemunhado com "a humildade, o respeito e o silêncio da Igreja". O queniano Njue lembrou que o anúncio do evangelho se baseia na "credibilidade dos fiéis". O croata Bozanic se dirigiu à assembleia proferindo: "Há uma questão inevitável: onde é que a nossa não credibilidade se torna não testemunho para os outros?". Ele foi ecoado pelo francês Rey, lembrando que padres e bispos devem adotar um novo estilo de vida pastoral. O nigeriano Badejo observou que a sociedade contemporânea – especialmente os jovens – quer uma relação de comunicação recíproca, e por isso a Igreja deve entender que não funcionar mais o "antiquado modelo docente-discente ou orador-ouvidor".

Às portas fechadas da grande assembleia de bispos, que geralmente se reúne a cada três anos, não se vota em propostas operativas e, por isso, é difícil dizer qual é a força final do fronte reformador. Mas, certamente, é generalizado o desejo de sair da estagnação do atual pontificado. Se não agora, no próximo conclave. Bento XVI, fraco como homem de governo, mas lúcido como intelectual, muitas vezes exortou os cristãos a serem na época contemporânea uma "minoria ativa".

Das intervenções de muitos padres sinodais, surgiu a disponibilidade de remodelar a Igreja para torná-la capaz de desempenhar o seu papel no terceiro milênio. Emergiram pistas de trabalho precisas. No plano social, o imperativo é estar ao lado dos pobres. Ouviu-se isso de todos os cantos do mundo católico. Para o indiano Thottunkal, a missão da Igreja é lutar pela dignidade humana e pela justiça. Para o mexicano Rabago, é "transformar as estruturas de pecado", combatendo "as desigualdades sociais, violência, injustiças". Para o canadense Lapierre, favorecer uma cultura da solidariedade.

No plano interno, vem à tona a questão de uma desclericalização. A Igreja de amanhã, adverte-se, se regerá sobretudo sobre a vitalidade de "pequenas comunidades". A paróquia não é mais suficiente (e não há nem padres suficientes). O futuro – como no início do cristianismo – é confiado a grupos de fiéis convictos e dinâmicos. O novo protagonista será o "catequista" ou o evangelizador: um leigo, uma leiga capazes de levar a palavra de Deus à sociedade globalizada. Muitos bispos pedem que esse seja um papel, um "ministério eclesial" preciso.

Ponto culminante do processo reformador indicado por muitos é a real valorização da mulher na missão eclesial. Nas palavras do bispo canadense Dunn: o "deliberado e sistemático envolvimento das mulheres em posições de liderança em todos os níveis da vida eclesial". Conferindo-lhes as chamadas "ordens menores", como o leitorado e o acolitado, mas também – propôs o alemão Bode – o diaconato. Nos bastidores, na Igreja, agitam-se muitos fermentos.

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